Tamborilar
Se bem que é perfeitamente dispensável o uso de computador para o acto de escrever um qualquer banal texto, também é certo que já me afeiçoei ao dedilhar no teclado da máquina.
Mais do que servir de mero prolongamento das palavras que no cérebro pululam, é a coreografia de dedos que muitas vezes me serve de iniciador de um texto, despudoradamente comparável aos movimentos de um pianista.
Uma mera mecânica catalisadora.
Mexo e remexo os dedos à procura de uma ordem para as palavras, para as ideias.
Que façam sentido. Que nesse tamborilar digital elas se organizem sob as teclas.
E elas lá vêm, quais notas.
Desafinadas, umas; no tom e ritmo certos, outras.
A caneta, por muito que a criatividade romântica seja maltratada, não me oferece o mesmo prazer. Preciso desse ataque múltiplo ao inexistente papel oferecido pelas teclas, que o escopro individual da caneta não oferece.
Não esculpo.
Tento tamborilar.
Referências:
Haueisen, J. and Knösche, T. R. 2001. Involuntary Motor Activity in Pianists Evoked by Music Perception. Journal of Cognitive Neuroscience 13:6, pp. 786-792.
Abstract
“Pianists often report that pure listening to a well-trained piece of music can involuntarily trigger the respective finger movements. We designed a magnetoencephalography (MEG) experiment to compare the motor activation in pianists and nonpianists while listening to piano pieces. For pianists, we found a statistically significant increase of activity above the region of the contralateral motor cortex. Brain surface current density (BSCD) reconstructions revealed a spatial dissociation of this activity between notes preferably played by the thumb and the little finger according to the motor homunculus. Hence, we could demonstrate that pianists, when listening to well-trained piano music, exhibit involuntary motor activity involving the contralateral primary motor cortex (M1).”
Imagem:
daqui
What’s Up, Doc?
Uma prenda de Natal que recebi e ofereci, na 6ª feira dia 18 de Dezembro de 2009, na Universidad Autónoma de Madrid.
O doutoramento.
Foram anos de trabalho, milhares de quilómetros percorridos, bastantes tristezas, e muitas alegrias.
Agora vou descansar…
Para quem estiver interessado no abstract da minha tese (PDF).
Referências:
“Sauropodomorpha (Dinosauria, Saurischia) appendicular skeleton disparity: theoretical morphology and Compositional Data Analysis”, Luis Azevedo Rodrigues
Dissertation presented for the PhD degree in Sciences with the Doctor Europaeus Mention
Unidad de Paleontología, Departamento de Biología.
UNIVERSIDAD AUTÓNOMA DE MADRID
Madrid, December 18, 2009
Supervised by Dr.
Ángela D. Buscalioni
Departamento de Biología
Unidad de Paleontología
Universidad Autónoma de Madrid
Co-Supervised by Dr.
Jeffrey A. Wilson
Department of Geological Sciences
Museum of Paleontology
University of Michigan
A Natureza do Amor
Provavelmente estarão desactualizadas as interpretações psicológicas.
Ainda assim, é uma daquelas experiências que atestam o reservatório de metáforas e analogias com que enriquecemos ou anestesiamos o dia-a-dia.
Em breves palavras: alguns macacos-bebés foram colocados num ambiente experimental, afastados das suas progenitoras. Como substituto existencial daquelas, os macacos tinham à disposição duas mães artificiais:
-uma, feita de rede metálica, que fornece alimento;
-outra, que não alimenta, mas que é quente e tem uma textura suave.
Este estudo clássico revelou que os juvenis passavam a maior parte do tempo junto da mãe suave e quente, deslocando-se apenas para a fria e metálica mãe-substituta para se alimentarem.
Qual o significado existencial para o ser humano?
Não me atrevo a dissertar.
Refiro apenas que me recordei desta experiência quando li um artigo no jornal Público que relatava diversas opiniões de emigrantes que vivem em Portugal.
Um deles dizia ” Em Portugal não há dinheiro, mas há sentimentos.”
Rash Aher Jalal, é a graça do desterrado que declarou o seu amor à jangada de pedra onde habitamos.
“Num hospital de um país grande pedem a identificação e se uma pessoa não tem, não a tratam, mesmo que esteja a morrer.”
Em Portugal não é assim, constatou, depois de ter sido assistido num hospital público português.
Pelos vistos há qualquer coisa que tapa e olvida as muitas que não funcionam no nosso país. Esse indizível será idêntico à opção do macaco, que prefere a mãe-artificial quente e suave à generosa mas metálica concorrente artificial?
Uma vez mais não sei.
Tão pouco tenho a certeza de que a analogia seja apropriada.
Mas que um indizível me fez associá-las, ninguém o pode negar.
P.S. – para além de ser um estudo clássico não posso deixar de referir a beleza, ainda que um pouco pretensiosa, do título do artigo original: “The Nature of Love”.
Referências:
Harlow, Harry. 1958. The Nature of Love. American Psychologist, 13, 673-685.
Público, 8 de Novembro de 2009, p.7.
Imagens:
Daqui
Força, Força, companheiro Vasco
“Psicólogo?”, perguntou sem levantar os olhos do papel que preenchia.
“Não. Paleontólogo”, retorquiu de forma lenta.
“Sociólogo?”, perguntou, desta vez já com os olhos na criança.
“Não”, de forma seca e decidida. “P-a-l-e-o-n-t-ó-l-o-g-o”, disse pausadamente e como se soubesse soletrar.
A ignorância percorreu a enfermeira. “Que raio era aquele tólogo que o catraio lhe insistia em atirar à cara?”, deve ter pensado.
“Então é isso que queres ser quando fores grande?”
“Sim. Ir descobrir dinossauros.”
Assim respondeu Vasco, há dois anos, à enfermeira que o tratava num hospital.
São histórias destas que por vezes se escutam quando fazemos acções de divulgação do património paleontológico português. Esta foi-me contada pela mãe, logo depois de o Vasco se me ter apresentado da seguinte forma:
“Olá. Eu sou o Vasco, tenho seis anos e quero ser paleontólogo.”
A apresentação foi feita enquanto caminhávamos com o resto do grupo numa ação gratuita do Ciência Viva no Verão pela praia da Salema. Eu e ele falámos uns minutos, sobre dinossauros e as pegadas que estávamos a ver.
Após a breve conversa, dirigi-me à mãe de Vasco e disse-lhe:
“O Vasco é um miúdo esperto e despachado mas quer ser paleontólogo. Não lhe põe juízo na cabeça?”, gracejei eu, convencido que tinha piada.
Foi então que a mãe me contou a história da enfermeira que não sabia o que era um paleontólogo, e do antigo desejo de Vasco, que ainda com 4 anos de idade já queria ser paleontólogo.
Corei de vergonha.
Já há pelo menos dois anos que o Vasco quer descobrir e estudar dinossauros.
Um terço da sua vida.
Quem sou eu para brincar com os desejos de alguém que, proporcionalmente, deseja há mais tempo que eu ser paleontólogo?
Imagem:
Caderno de campo do Vasco, 6 anos. Desenho feito logo após a visita que guiei às pegadas de dinossauro da Salema. 7 de Novembro de 2009.
Ibéria
Dennis Slice colocou-me uma pergunta pertinente:
“Por que é que Portugal existe, na Península Ibérica?”
A questão, assim colocada, poderia soar mais a provocação do que a um mero desfazer de uma dúvida.
Estávamos no I Iberian Symposium on Geometric Morphometrics, ele como Invited speaker, e ambos como membros do Comité Científico.
A pergunta deixou-me sem reacção.
Geograficamente não fazíamos muito sentido, pois éramos uma perturbação na geometria quase perfeita do rectângulo peninsular.
A questão linguística poderia ser a solução para o aparente dilema existencial, mas também existiam os catalães, galegos ou bascos, com línguas próprias.
Por que raio, então, existia Portugal?
Repesquei da memória as lições da história, os dramas edipianos de Afonso Henriques, o beneplácito papal, entre outros justificativos.
Ainda assim não fiquei satisfeito.
Por que existia Portugal?
P.S.1- curiosamente, hoje, é publicado um artigo no El Pais onde é detalhadamente analisado uma sondagem, feita em Portugal e Espanha, e na qual 40% dos portugueses afirmam serem favoráveis a uma união com Espanha.
P.S.2- antes de Setembro, e tão breve quanto possível, publicarei entrevistas a biólogos e antropólogos, que já havia conhecido anteriormente, e que de algum modo utilizam as técnicas de Morfometria Geométrica como ferramenta de estudo.
Tão breve quanto possível teremos pequenas conversas sobre a ciência com:
Paul O’ Higgins (Functional Morphology and Evolution Research Unit, Medical School Hull)
Jesus Marugán (Universidad Autónoma de Madrid/Natural History Museum of Los Angeles)
Dennis Slice (Department of Scientific Computing, Florida State University)
Diego Rasskin-Gutman (Universidad de Valencia)
Christian Klingenberg (Biological School of Sciences, University of Manchester)
Imagem:
daqui
Califorgalhães
Impossível não pensar em muito do que se passa actualmente em termos de políticas educativas em Portugal…
Fonte – cartoon publicado no jornal Público, 15/06/2009
Imagem – foto do jornal
Uns e outros
Uns gastam mais do que podem, endividando filhos e netos: Dívida pública pode atingir 85,9% do PIB.
Outros poupam para netos e filhos: Economizando a riqueza do petróleo para gerações futuras
Os outros são a Noruega; nós, bem… nós somos bons a gastar.
Referências – nos links
Imagem – daqui
Ciência? Decida você mesmo…
Na secção Ciência do DN é relatado que o Ministério da Defesa britânico decidiu revelar os segredos de OVNIS que as mentes castrenses de Sua Majestade andaram a ocultar ao mundo.
Apenas um trecho da secção Ciência do DN de hoje:
“Uma dos casos que consta nos dossiês do DI55, e que foi contado pela imprensa britânica, é o de uma mulher que disse ter encontrado um extraterrestre louro e com sotaque escandinavo quando andava a passear o cão.
Esta história(…), ocorreu em Norwich, em Novembro de 1989. A mulher que a protagonizou explicou ter conversado durante dez minutos com um homem louro que lhe explicou que as formas circulares traçadas em alguns campos de cereais eram obra de seres extraterrestres como ele e que o propósito da sua visita era amigável. “
Sugiro outros casos a serem analisados pela referida secção de Ciência:
Freeport Legalizado Por Hordas de Advogados Voadores
ou
200 mil Pessoas Imaginárias
Estes cidadãos surgem esporadicamente e apenas nas mentes de sindicalistas, segundo especialistas. Os delirantes sindicalistas afirmaram, segundo as mesmas fontes, que foram “abduzidos” e regressaram ao convívio dos comuns com ordens precisas de “provocarem ajuntamentos populares”. A Comissão de Festas de Cavernães, declarou à secção de Ciência, vir a contar, num futuro próximo, com estes profissionais da imaginação, vulgo, sindicalistas.
ou
Contentores de Reeducação
Uma especialista do norte do país em fenómenos para-educativos, referiu à secção de Ciência, que estas construções de “último grito tecnológico” facilitam a “lavagem civilizadora de mentes”, uma vez que permitem “aos imberbes nómadas” um contacto privilegiado com “estruturas focalizadoras de energias pedagógicas”.
Notícias de Ciência que poderiam muito bem aparecerem em qualquer jornal diário nacional…
Ou não.
Ver ainda: “Qualquer dia prefiro os Criacionistas”
Imagem – daqui
Crise FAQ
Já havia tentado minorar a minha ignorância económica em “Subprime natural”.
Mas ver este vídeo é…como dizê-lo?, fazer de qualquer pessoa um Medina Carreira.
Claro…como a água.
http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=3261363&server=vimeo.com&show_title=1&show_byline=1&show_portrait=0&color=&fullscreen=1
The Crisis of Credit Visualized from Jonathan Jarvis on Vimeo.
Mudança de paradigma…
Não sei se foi mudança de paradigma científico mas hoje, no café de esquina, um cão chamado Newton foi convidado a sair…
Imagem – Luís Azevedo Rodrigues, Vouga.