O regresso da tipa

bill,brandt,black,white,classic,miners,photography,south,wales-71269b11297e5b74c3e7f0ca3dd876cf_h.jpgA tipa iniciou o seu degredo quando eu ouvi um dia “O Inferno são os outros”.
Exagero, sempre me pareceu, embora com os anos uma patine de verdade lhe tenha assentado. E ela começou a ir-se.
Cada vez a vejo menos. Há dias que se foi de vez, penso.
Bancos, governos corruptos e/ou incompetentes, entre muitas outras inerências à condição humana, originaram que a frase de Sartre se tornasse um mantra para o mundo. Mantra a que resisto, é certo, mas persistente.
A crise gerada por homens que comem homens, outrora apelidados de canibais mas hoje em dia baptismo de especuladores financeiros, lançou o mundo na confusão e no caos. Estados que foram em auxílio da banca, à custa dos seus cidadão, pagam agora aquela ajuda com juros muito superiores.
Como há-de ela voltar?
A tipa tem razão, melhor que não a vejam.
O Inferno são os bancos?
Talvez.
O cinismo existencialista de Sartre não foi, nem é capaz de atrofiar a alegria quando vi o último mineiro chileno sair da cova.
A tipa, cada vez mais solitária nos dias que voam, insiste em regressar-me.
Gosto dela sempre que me visita, mesmo que à saída de uma mina chilena. E ainda que a tentem afastar com Sartrices do tipo “Só se safaram porque as TV’s quiseram” ou “Havia de ser na China que iam ver o que lhes tinha acontecido”, a verdade é que ela voltou-me.
Por quanto tempo?
Não sei.
Há dias em que a tipa me volta a aparecer.
Ainda bem que voltaste, esperança.
Imagem: Bill Brandt – Miners Returning to Daylight, South Wales (1931-35)

Embeiçamentos

01drawin.jpgNo meio de discussões esporádicas (graças a Deus…) que tenho no Twitter com os que designo de PS-boys, saliento a confusão que grassa naquelas cabeças.
Não me importaria um folículo se as ideias arreigadas naquelas vazias cabeças não fossem as mesmas do actual governo.
A questão passa pelo deslumbramento vigente pelas novas tecnologias, vulgo Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s).
Para os iluminados com quem discuto, o futuro do país passa, sem qualquer margem para dúvida, pela generalização massiva entre os jovens de Magalhães e outros derivados. Salientam, ainda, que as excelências desse novo mundo civilizacional só se farão sentir dentro de décadas.
Esta linha de raciocínio carece de sustento racional, revelando antes que estes senhores, e o governo por analogia de pensamento, confundem dois conceitos: Educação e TIC’s.
Enquanto a Educação poderá passar, com dificuldade é certo nos tempos que correm, sem as TIC’s, estas não servirão para nada sem uma formação educativa. Seguro como a gravidade.
Pensar e expressar o que se pensa é garante de que se poderá utilizar minimamente qualquer ferramenta tecnológica. Mais difícil, se não impossível, será quem não amestrou o seu raciocínio ou calcorreou os caminhos da expressão do seu intelecto, fazê-lo apenas com as TIC’s.
Reconheço vantagens nas tecnologia de informação e comunicação num contexto educativo, mas é um erro sobrepô-las às ferramentas básicas: ler, escrever e contar.
Esta inversão de prioridades é análoga à que vigorou há anos, onde o deslumbramento pelas auto-estradas asfaltou outras prioridades. Agora, temos o deslumbramento pelas novas tecnologias.
Ambos os embeiçamentos se esqueceram do essencial, ou seja, para quem se dirigem a Política e as políticas: para as pessoas.
Imagem – Pieter (the Elder) Bruegel “The Ass in the School” , 1556
Pen and Indian ink, 232 x 302 mm
Staatliche Museen, Berlin

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Imagem: Alexey Sukhopar, daqui

Janelas que Vêem

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Os olhos são a porta para a alma, sempre ouvi dizer.
O senso mais que comum sempre arriscou o erro.
Até que descobri que a alma está lá trás, mesmo atrás das janelas que vêm.
O consenso popular é agora racional.
“Capacidade de introspecção localiza-se atrás dos olhos
Capacidade de introspecção foi localizada
O processo de pensar sobre o próprio pensamento, de reflectir sobre as próprias decisões, ou seja, a capacidade de introspecção, parece estar localizada numa região específica do cérebro – no córtex pré-frontal, situado atrás dos olhos.
Nos indivíduos que têm maior capacidade de introspecção, a massa cinzenta é maior, segundo um estudo realizado no Reino Unido com 32 pessoas. Contudo, os cientistas ainda não sabem se estas características cerebrais reflectem diferenças anatómicas inatas ou se são resultado da aprendizagem.
(…)”

Imagem – Susan Manvelyan

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Imagem – daqui

Professora a Bordo

Informação recebida do Centro de Ciência Viva de Lagos.
asfaser (Large).jpg“Beatriz Tomás Oliveira conta-nos como foi a experiência da sua participação, a bordo da Caravela Vera Cruz, na recente Campanha científica EMEPC às Ilhas Selvagens.
25 de Setembro de 2010, 15h30, Centro de Ciência Viva de Lagos.”

Ciência e os Media (com um dinossauro pelo meio)

cranio620.jpgO caso é simples (parecia).
Um titanossauro, que é um dinossauro saurópode e como eu (não) me canso de explicar em palestras e visitas “aqueles de cauda e pescoço compridos, herbívoros e quadrúpedes, os maiores entre os maiores…”, foi descoberto no Brasil.
Até aqui nada de extraordinariamente interessante.
O cozinhado mediático começa a apurar quando os paleontólogos afirmam, e ilustram, que este titanossauro apresenta um crânio muito bem conservado, facto que é muito raro neste grupo de saurópodes.
Mesmo raro.
Já babaria se a história não tivesse algo de emblemático dos tempos que correm nas relações entre media e cientistas.
Explico.
Até ser publicado numa revista científica, uma nova espécie de dinossauro está sujeita a um embargo noticioso, aparecendo ao mundo depois de ter visto a luz dos juízes científicos que avaliam a sua importância.
asdear.jpgNo caso deste novo dinossauro, o Tapuisaurus macedoi, o processo foi invertido – o jornal O Estado de São Paulo publicou a notícia (e uma foto, que também ilustra este post) mesmo antes de se saber em que revista iria ser publicada a sua história paleontológica.
Este “sacrilégio” resultou de conversas informais entre os paleontólogos Hussam Zaher e Alberto Carvalho e o jornalista Herton Escobar, tendo este último assegurado seguir os habituais procedimentos: publicar no jornal apenas depois de a publicação científica ter visto a luza do dia e o nome científico ter sido validado.
Mas, ainda falta perceber porquê, a notícia apareceu num canal televisivo brasileiro. E despoletou a publicação pelo jornal, que não queria perder o “furo” noticioso.
sdfgsdf.jpgDepois vieram inúmeros mails públicos para o grupo de discussão de paleontologia de vertebrados, onde recolhi e acompanhei este “drama”, tentando explicar todo o imbróglio.
Resumindo a situação em que nos encontramos:
– os paleontólogos, em geral, e os que trabalham com saurópodes, em particular como é o meu caso, estão a salivar literalmente pelo publicação da descrição científica;
– os investigadores brasileiros devem estar a rezar para que a revista científica, sabe-se agora que será a PLoS One, não cancele a sua publicação, e algo danados com o jornalista;
– o jornalista deverá estar a rezar para que a história acabe bem caso contrário as suas fontes não o contactarão no futuro.
Enfim, uma história paleontológica, com muitos milhões de anos mas que revela também os dramas actuais das relações ciência e media…
Referências:
DINOSAUR Mailing List

Notícia de O Estado de São Paulo

Imagens:
O Estado de São Paulo
e daqui
Update 16/09/2010:
Entrevista de Alberto Carvalho.

Entrevista ao Diário de Aveiro e visitas às pegadas de dinossauro da Salema

A entrevista que dei ao jornal da minha cidade…Aveiro.

E algumas fotos de mais uma visita que orientei às pegadas de dinossauro da praia da Salema, organizada pelo Centro Ciência Viva de Lagos.
Imagens de Beatriz Tomás Oliveira.
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Algarve Grátis

Para quem ainda estiver no Algarve ou por lá viver, mais uma visita guiada às pegadas de dinossauro da praia da Salema.
Eu oriento, a organização é do Centro de Ciência Viva de Lagos.
Aqui algumas imagens da última visita em Julho.
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No dia 11 de Setembro às 10h, Geologia no Verão: “As pegadas do passado”, com a orientação de Luís Azevedo Rodrigues.
Trata-se de uma visita às pegadas de dinossauro da Praia da Salema, local com interesse geológico e paleontológico, o que constitui um modo de promover o respeito pelo património natural em geral e de despertar para a necessidade de o conservar.
Ponto de encontro: Salema, estacionamento em frente à praia.
Inscrição obrigatória.

Para se inscrever clique aqui.
Informações através do telefone 282 770 000 ou através do email: info@lagos.cienciaviva.pt”

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Imagem – Luís Azevedo Rodrigues