O céu de Plínio
Plínio, o Velho, morreu a olhar Pompeia.
Em 79 d.C., este naturalista encontrava-se a bordo de um navio, assistindo à erupção do Vesúvio que viria a destruir as cidades de Pompeia e Herculano.
Durante estes dias, em que os pós da Terra dirigem os céus desertos da Europa, é impossível não me lembrar de Plínio, o Velho.
Tal como há quase dois mil anos atrás, as cinzas mudam vidas, alteram rumos, marcam e desmarcam destinos.
Tal como Plínio, assisto, impotente, aos desígnios telúricos.
Olho para os céus da Europa, incrédulo.
“Nuvem vulcânica cancela 17 mil voos, 147 milhões de prejuízos por dia”
Imagem:
Karl Pavlovich Bryullov, “O Último Dia de Pompeia” (1830-1833)
O Moura dos robôs
Impulsionado pela criatividade do Moura dos robôs, o Jornal de Letras lançou-se num debitar letrado sobre um futurismo.
Não me parece mal.
Eu já havia louvado o dito Moura em palavreado que me deu muito prazer intitulado “O Artista”.
O JL refere que o Moura dos robôs simula não pintores, mas actores.
Explico.
Desta feita, o Moura suga robôs, encena uma peça teatral, interpretada maquinalmente pelos seus escravos.
Embalados por mais esta “Estética do Futuro”, o JL disserta, em várias páginas de referências literárias, sobre um futuro mais pleno do que este presente vazio, à moda do Moura.
De estética nada sei; apenas sinto que, tal como o robótico Moura, o JL deslumbra-se perante o pincel, apaixona-se pela caneta, arde de paixão perante a máquina que regista imagens, e tudo mais que não seja a mera veneração do meio.
Ao Moura dos robôs: como já antes opinei, julgo que nem os terabytes dos robôs se lembrarão desta sua nova façanha.
Imagem:
daqui
A Natureza dos Números
As pessoas não são números.
A Natureza também não.
Mas eles, os números, estão por todo o lado.
E fazem a Natureza como ela é.
Sugestão de Vitorino Ramos, a partir do seu magnífico blog, num post que também apresenta excelentes sugestões de leitura.
Fim da Infância
Da primeira vez que folheei a revista não percebi o drama.
Só numa segunda abordagem involuntária, talvez ampliada pela luz do meio-dia, me despertou para a aberração.
Ao contrário do que Peter Pan explicitamente apregoava, as crianças de hoje não se querem crianças.
Adultos precoces ou, mais pavoroso, adolescentes cool, com laivos de sexualidade à la MTV.
Não sei que pensar.
Talvez os tempos actuais impliquem uma precocialidade de aparência.
Talvez.
O desfasamento é tanto maior quanto é do senso comum que as crianças de hoje em dia revelam uma altricialidade pouco vulgar noutros tempos, dependentes dos pais para tudo, mesmo para brincar.
Velhas nas roupas; crias dependentes nos comportamentos.
P.S. – a revista do El País de hoje revela pelo menos cinco anúncios de roupa para criança nos quais se vê tudo menos crianças.
Precocial – “Cria independente e activa pouco tempo depois de ter eclodido”
Altricial – “Cria muito dependente dos pais quando eclode”
Imagens – revista do jornal El País de 28 de Março de 2010.
Faça a Legenda
…nos comentários.
Imagem:
digitalizada da revista “El País Semanal”, de 21 de Março de 2010, do filme “City Of Life And Death”, de Lu Chuan.
III Congresso Ibérico de Paleontologia
III Congresso Ibérico de Paleontologia
XXVI Jornadas da Sociedad Española de Paleontología
“A Ibéria no centro das relações atlanto-mediterrânicas”
7 a 10 de Julho de 2010
2ª Circular, Inscrições e Resumos de Comunicações
Já está disponível a segunda circular do III CIP
Ficha de inscrição e dados para o pagamento da inscrição.
Podem ser consultadas as normas para a elaboração dos resumos, bem como o escantilhão para a sua elaboração.
Site do Congresso
FedEx
Encomenda informativa urgente:
Novo anfíbio.
Fóssil.
Descoberto em terrenos do aeroporto de Pittsburgh.
Que pertencem à FedEx.
Em 2004.
Com aproximadamente 300 milhões de primaveras.
Agora descrito e baptizado.
O seu nome?
Fedexia striegeli.
Entregue.
P.S. – sobre nomes científicos patrocinados por vários assuntos ver “Todos os Nomes”
Resto do pacote informativo:
Aqui e aqui.
Imagens:
Mark A. Klingler/Carnegie Museum of Natural History
Horror ao Ensinar
Uma excelente visão sobre o que é e o que deveria ser a Escola, pelo Professor Carlos Fiolhais.
Alguns excertos que me pareceram muito relevantes.
Gostei particularmente da parte do horror a que o Ministério da Educação votou o verbo ensinar, de há anos a esta parte.
Revista Notícias Magazine, 14/03/2010
” (…)
O que é que está mal? Está tudo mal?
Não, temos bons professores, que fazem, a maioria deles, por cumprir a sua obrigação profissional num ambiente que não é nada fácil.
Se me pergunta o que está mal, dou-lhe um exemplo: o Ministério da Educação é – vou usar uma palavra brutal para fazer jus à minha fama de crítico – um monstro.
É um aparelho criado pelo Estado, que está por todo o lado em demasia, retirando liberdade aos bons professores. Há regulamentos para tudo e mais alguma coisa, os programas não são bons, os livros têm de se ater aos programas, os horários são o que se sabe, há disciplinas que não são disciplinas nenhumas. Enfim, não tenho dúvidas de que é possível fazer melhor e que isso passa por uma menor intervenção do Estado. Será precisa toda aquela burocracia? Será preciso aquela linguagem em que se exprime o monstro e que eu e outras pessoas designamos por «eduquês»? Não se pode falar claro? A actual ministra domina bem o português, é uma boa escritora, não poderá pôr aquele Ministério a falar claro?
(…)
A máquina ministerial condiciona a criatividade de alunos e de professores?
Condiciona a criatividade dos professores, que são a chave do sucesso da escola. Diminuir o papel dos professores foi o pior que se podia ter feito. Portanto, tudo o que possamos fazer para valorizar este papel, para lhes dar importância e autoridade, é útil.
Há uma palavra que não se tem usado muito em Portugal e que se devia usar mais (o Ministério da Educação, então, foge dela como o diabo da cruz), que é ensinar. A escola é um sítio onde se ensina. Claro que também é um sítio onde se aprende, mas para aprender é preciso que se ensine. Quase tudo aquilo que sei foi porque alguém me ensinou. A partir de certa altura já fui capaz de aprender por mim próprio, mas devo muito à escola e aos meus professores. Porque é que os jovens de agora não hão-de poder dizer o mesmo? Estamos a desviar-nos do essencial e o essencial é preparar para a vida. Não estaremos a alienar os nossos jovens da capacidade de saber mais, de decidir, que não devia ser apenas de alguns, mas de todos?
Esse sistema é a razão pela qual Portugal não tem sido um país de Ciência?
A nossa educação científica é uma área em que podemos progredir. A ciência devia estar presente mais cedo na escola, e não se trata tanto de falar de ciência, mas mais de ver como ela se faz. A ciência devia estar presente no jardim-escola e no ensino básico. A palavra ciência quase não aparece nos programas, aparece uma coisa chamada «estudo do meio».
O que é isso? Um cientista é um estudioso do meio?
Percebo a ideia de que o meio não é só o meio material, é também o meio social. Muito bem, é evidente que vivemos num meio social, mas antes disso pisamos um planeta que nos puxa para baixo, respiramos ar, bebemos água, e é bom que no básico façamos experiências que nos permitam compreender o que é o planeta, o que é o ar, e o que é a água. A descoberta do mundo pela criança tem de começar por aí. A junta de freguesia e outras construções sociais, por muito importantes que sejam, vêm depois do ar e da água.”
Imagem:
Jean-Auguste-Dominique Ingres, “Roger Freeing Angelica”
daqui