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No país do palhaço

days.jpgNo país do palhaço há que sair, fugir.
No país do palhaço as gargalhadas são de despedida amarga.
No país do palhaço os motivos continuam os mesmos de sempre.
No país do palhaço volta-se no Natal para matar o mesmo bicho da saudade.
No país do palhaço vai-se pelas mesmas razões de há 30 anos mas salta-se a fronteira em low cost.
No país do palhaço a dor de não poder criar os filhos na terra dos avós continua a mesma.
Movimento emigratório actual comparado ao da década de 60
O presidente da Comissão de Especialidade de Fluxos Migratórios, Manuel Beja, julga que é preciso recuar até à década de 1960 para encontrar uma vaga de emigração tão grande em Portugal.
“É plausível”, admite João Peixoto, da Universidade Técnica de Lisboa. Jorge Malheiros, do Centro de Estudos Geográficos, acha que não.
Ninguém sabe ao certo quantas pessoas estão a virar as costas. Portugal, como quase todos os membros da UE, não faz inquérito de saída. A única hipótese é coligir a estatística dos países de destino, tarefa que o recém-criado Observatório de Emigração já iniciou. Mesmo assim, João Peixoto faz três ressalvas: as estatísticas tendem a não ser comparáveis; a recolha não distingue movimentos temporários de permanentes; e a oferta de emprego não é a que era antes da crise. Muito por força da livre circulação, a nova vaga está concentrada na UE, ou em territórios muito próximos, como a Suíça ou Andorra, nota a coordenadora do observatório, Filipa Pinho. Embora se desbrave caminho na Ásia e em África – com Angola à cabeça.
Manuel Beja dá o exemplo da Suíça. O contingente de cidadãos de nacionalidade portuguesa passou de 173.278 em 2004 para 196.186 em 2008. E, “no ano passado, entravam em média mil por mês”. Paradigmático, para Filipa Pinho, é o caso de Espanha: o número de pessoas nascidas em Portugal a residir no país vizinho passou de 71 mil para 136 mil entre 2004 e 2008. Manter-se-á? A taxa de desemprego entre trabalhadores portugueses a residir em Espanha subiu de 4,7 por cento no final de 2007 para 21,89 por cento no final de 2009, revelou o INE espanhol. O exemplo do Reino Unido mostra outro aspecto: o número de nascidos em Portugal passou de 68 mil para 83 mil entre 2004 e 2008. A comunidade ultrapassa os 300 mil nas estimativas consulares de residentes de nacionalidade portuguesa. O que incluirá, atalha Jorge Malheiros, portugueses lusos, descendentes de emigrantes, ex-imigrantes e descendentes de ex-imigrantes.
A culpa não é só do desemprego, que já ultrapassa os 10 por cento, sublinha João Peixoto, que é também membro do Conselho Científico do Observatório da Emigração. Nos anos 90, Portugal vivia um período de crescimento e nem por isso deixou de ter emigração. A culpa é também do diferencial de rendimento entre os portugueses e os outros europeus. E de uma cultura de emigração.
Na década de 60 e na primeira metade de 70, chegavam a sair mais de 100 mil por ano. Por maior que seja a dimensão actual, para Malheiros, não faz sentido comparar. Não só por a geografia da mobilidade ser outra. Também pela forma. As emigrações já não são longas ou definitivas, mas temporárias – por vezes mesmo pendulares: “Nos anos 60, na teoria, a emigração era muito regulada. Agora, as pessoas têm direito a procurar trabalho noutros países da UE. Muitas vezes, saem para prestar serviços específicos e de duração limitada – na construção civil, no turismo, na agricultura. O mercado é muito flexível.”
Ana Cristina Pereira, Público, 3 de Fevereiro de 2010
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(Outro) Palhaço

clown_erwin_olaf.jpgTranscrevo o belo artigo de Mário Crespo sobre a palhaçada que é viver em Portugal.
“O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.
O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.
Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.
E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.
Ou nós, ou o palhaço.
Mário Crespo, JN, 14 de Dezembro de 2009
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Paleontólogos – José Luís Sanz

Um excelente cientista.
Um excelente paleontólogo.
Reproduzo aqui as palavras de agradecimento que lhe escrevi na minha tese:
“José Luis Sanz – por ter sido o primeiro que me aceitou no curso de Doctorado em Madrid, mesmo quando não me conhecia e tudo o levava a não o fazer. Por ter sido meu professor. Por ser um prazer ouvi-lo falar de tudo. Por ser um cinéfilo.”

Fonte original do vídeo:
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Toda a Diferença

market.jpgNão sei se constituirá um indicador económico credível ou universal.
Ou que possa ser mesmo um índice de preços daquele hipermercado.
O que vi, após uma primeira reacção de impaciência, foi apenas um pai e um filho.
Jovem o progenitor; a cria pelos seus dez anos.
Eu e eles ambos na fila da caixa de uma grande superfície.
Eu, aborrecido porque uma compra de última hora me havia obrigado a esperar sob as luzes brancas.
A eles, desconhecia-lhes uma motivação maior que não a de se abastecerem.
Mas tardavam em finalizar a arrumação das compras.
Eu, saía do limbo que as luzes hipnóticas me provocam sempre nas mega hortas modernas.
Pai e filho já haviam terminado, agarrados a dois sacos.
Mas por que estavam parados?
Como se de um ensaio se tratasse, o pai vasculha os sacos.
Pega em algo e devolve-o, lentamente.
Outro ainda é recebido pela empregada, que tecla com a mão livre.
Mas que raio…
Na minha resmunguice interna faz-se luz.
Inverteram-se as contas.
O que antes era um somar passara agora a subtrair.
O abate deveria atingir a subtracção desejada.
Entregue a nota e todas as moedas, já poderiam sair.
Somar e subtrair, em Portugal.
Toda a diferença.
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Poder Simples

Como gostava de transmitir informação desta forma.
Clara e directa.

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Tamborilar

Keyboard.jpgSe bem que é perfeitamente dispensável o uso de computador para o acto de escrever um qualquer banal texto, também é certo que já me afeiçoei ao dedilhar no teclado da máquina.
Mais do que servir de mero prolongamento das palavras que no cérebro pululam, é a coreografia de dedos que muitas vezes me serve de iniciador de um texto, despudoradamente comparável aos movimentos de um pianista.
Uma mera mecânica catalisadora.
Mexo e remexo os dedos à procura de uma ordem para as palavras, para as ideias.
Que façam sentido. Que nesse tamborilar digital elas se organizem sob as teclas.
E elas lá vêm, quais notas.
Desafinadas, umas; no tom e ritmo certos, outras.
A caneta, por muito que a criatividade romântica seja maltratada, não me oferece o mesmo prazer. Preciso desse ataque múltiplo ao inexistente papel oferecido pelas teclas, que o escopro individual da caneta não oferece.
Não esculpo.
Tento tamborilar.

Referências:
Haueisen, J. and Knösche, T. R. 2001. Involuntary Motor Activity in Pianists Evoked by Music Perception. Journal of Cognitive Neuroscience 13:6, pp. 786-792.

Abstract
“Pianists often report that pure listening to a well-trained piece of music can involuntarily trigger the respective finger movements. We designed a magnetoencephalography (MEG) experiment to compare the motor activation in pianists and nonpianists while listening to piano pieces. For pianists, we found a statistically significant increase of activity above the region of the contralateral motor cortex. Brain surface current density (BSCD) reconstructions revealed a spatial dissociation of this activity between notes preferably played by the thumb and the little finger according to the motor homunculus. Hence, we could demonstrate that pianists, when listening to well-trained piano music, exhibit involuntary motor activity involving the contralateral primary motor cortex (M1).”

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Velhadas

É o que dá ter andado nisto.
Só ontem soube que estes “velhadas” tinham disco novo.
Continuam no seu melhor: em atitude e musicalmente.
Nada melhor para começar 2010.