Escamas

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Dona Lurdes lamenta a reforma, mas para o marido é pior, desculpa-se.
“O homem não consegue ficar quieto.”
Também ela não pára, e prova-o o que seguro nas mãos.
Trabalha na Graça, não da capital continental, mas o de São Miguel, Açores. O Mercado da Graça.
“As da Juliana ou da Veja são as melhores”, diz-me, regalada com as suas meninas.
“De Abrótea também são muito boas, mas têm que ser de Abrótea velha!”, acrescenta, rindo-se, matreira.
A ictiologia artística não teria melhor taxonomia do que a feita por Dona Lurdes.
Fala das peças que produz, artesanato.
Quadros, apeliques, todos manuseados com material inusitado e pouco fidalgo.
A carne foi-se, ficaram as escamas, sendo elas parte do ganha-pão da Lurdes do Mercado.
No da graça também elas se vendem, que ninguém perdoa, nem mesmo as escamas.
Amanhadas por Dona Lurdes, as escamas ficam lindas.
Antes cobriam peixes dos Açores; hoje enfeitam vários pontos do mundo, carregados por turistas de outros mares.
Pena as fotos de telemóvel não lhe fazerem jus.
Nem à simpatia da Dona Lurdes.
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Imagens – Luís Azevedo Rodrigues, com telemóvel.