GEOLOGIA MÓRBIDA

Depois de ignorarem as linhas de água como locais ideais para lares anfíbios.
Depois de não evitarem a erosão costeira.

Numa das aulas de geologia de campo foi-me dito, não me recordo por quem, que quando os geólogos tentam descobrir zonas de falha em terrenos menos familiares, normalmente procuram saber onde está o cemitério da vila ou aldeia.
Isto não se deve a uma tendência científico-mórbido deste profissionais. Deve-se antes à observação do conhecimento ancestral do chamado Povo. Esta entidade abstracta, mas com um conhecimento real, sempre soube onde devia fundar os seus cemitérios; e quase sempre o fez em zonas de falha.

As zonas de falha (zonas de descontinuidade dos blocos rochosos) proporcionam uma maior infiltração de águas, bem como uma maior movimentação dos solos.
Estas condicionantes geológicas fomentam a necessária decomposição dos corpos dos entes queridos, o imprescindível deixar da corporalidade para que o luto seja devidamente feito.

Mas os patos-bravos que constroem as nossas cidades não falam com o Povo. Apenas o enterram em terrenos enfastiados…

“Cemitério de Carnide sem capacidade
Terrenos muito argilosos e níveis freáticos elevados atrasam decomposição dos corpos Empreiteiro não aceita assumir responsabilidades
Autarquia pede ao LNEC para estudar solução”

JN, 20/02/2008

Imagem – Ilkka Uimonen,Magnum Photos