Ciência Pop

(Este é o primeiro texto da colaboração com o jornal “Sul Informação”, novo diário da região sul. O texto foi publicado aqui)

 A palavra dinossauro é vastamente utilizada no discurso informal, e quase sempre com sentido pejorativo. Basta apenas um pouco de observação para identificar outros conceitos científicos presentes na cultura popular.

A Teoria da Relatividade Geral, bem como as recentes novas quanto à velocidade da luz ter sido ultrapassada pelos neutrinos, fascinam-nos a todos. As implicações de algo conseguir ultrapassar a velocidade da luz são enormes em termos de imaginário: a capacidade de fintar a barreira do tempo, viajarmos através dele como se fosse uma auto-estrada, torna-nos aparentemente livres.

Filmes como “Regresso ao Futuro” ou mesmo “A Guerra das Estrelas”, materializam essa alteração do real, libertando o ser humano das amarras do Tempo. O ultrapassar das leis da Física contribui assim para que as condicionantes sociais, económicas e até éticas, possam ser ultrapassadas tudo assente na capacidade de se viajar mais rápido que a luz. O ultrapassar dessa fronteira faz-nos não só donos do tempo, mas oferece-nos igualmente a possibilidade de recriarmos o nosso presente – aquilo que fizermos na viagem ao passado obviamente influirá no presente. Quantos de nós não desejámos alguma vez modificamos algo no nosso passado?

“Para baixo todos os Santos ajudam”, diz o povo. Este dito popular não revela o carácter altruísta dos objectos da Hagiologia, antes é uma conhecida redundância de que a Gravidade existe, existiu e existirá, originando que o esforço envolvido em subir seja completamente distinto do de descer. O Mito de Sísifo não existiria se a força gravítica não se exercesse sobre este filho de Éolo. Sísifo, condenado a empurrar uma pedra encosta acima, vê-la-ia regressar à base, sobre a acção da gravidade, vez após vez, numa condenação eterna.

A mitologia revela-nos que a astúcia de Sísifo, que enganou a Morte por duas vezes, não foi capaz de vencer a Física. Que me desculpem Albert Camus, bem como todos aqueles que cuidam a condição humana como sendo desprovidas de sentido: não é a labuta diária que empurra a pedra pela encosta baixo, antes é a Gravidade a ser mais forte que Sísifo.

Ser verdadeiro não implica qualquer indicação da matéria física de que somos feitos. Ainda assim, a cultura popular associa a Física e a Ética. “A verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima”, sempre ouvimos dizer. As distintas densidades (a massa a dividir pelo seu volume) da água e do azeite, que originam a sua imiscibilidade, são remetidas para uma moral de comportamento: azeite e verdade são duas realidades que acabarão por flutuar: o azeite, pela sua menor densidade relativamente à água; a verdade, sabe-se lá por que caminhos, espero que venha sempre à tona dos dias e dos acontecimentos.

Esta correcta sabedoria é mais acertada na sua componente física uma vez que na vertente moral a sua eficácia revela graves lacunas. Pelo menos no que vou observando nos dias que correm.

Outros exemplos existem da relação sabedoria popular vs. Ciência, mas a tarde está soalheira…

Referência:

Van Riper, A. B. 2002. Science in Popular Culture: A Reference Guide. Greenwood Press. ISBN 0-313-31822-0.

Imagens: daqui e daqui

Ciência Pop

Depois de uma adolescência a admirar o som punk dos Bad Religion, que vim a descobrir mais tarde serem liderados pelo biólogo evolutivo Greg Graffin, os They Might Be Giants lançam agora o tema “I Am a Paleontologist”.
Apesar de estar cheio de lugares comuns sobre a Paleontologia, é um tema saltitante e, acima de tudo, fala de uma profissão que me diz muito…

Apesar de não ter ouvido o álbum, parece-me ser só sobre a Ciência.