Flora Tristán
Flora Tristán foi uma escritora e ativista social francesa que nasceu em 1803 em Paris. Filha de mãe francesa e de um coronel peruano, sua vida foi marcada por desafios desde cedo por conta da morte de seu pai e a subsequente perda de herança, o que a levou a viver em condições modestas com a mãe e os irmãos. Recebeu educação informal, tendo provavelmente aprendido a ler e escrever com a mãe e desenvolvido uma educação autodidata. Casou-se aos dezessete anos de idade com um pintor francês que, após a separação e anos mais tarde, comete uma tentativa de feminicídio contra ela, que sobrevive com sequelas que debilitam sua saúde.
Ao longo de sua vida, Tristán realizou diversas viagens que foram importantes fontes de experiências e inspiração para seu pensamento e sua escrita. Em 1833, aos trinta anos, viajou para o Peru com o objetivo de reivindicar herança e obter o reconhecimento de paternidade, além de querer escapar das perseguições de seu marido. É após o retorno de sua viagem ao Peru que Tristán inicia sua atuação política e sua carreira literária.
Entre suas obras, estão: Necessidade de acolher bem as mulheres estrangeiras (1835), onde aborda a situação das mulheres estrangeiras que transitavam sozinhas pelas grandes cidades; Peregrinações de uma Pária (1837), mistura de autobiografia, relato de viagem e manifesto político; o romance Méphis (1838); Passeios em Londres (1840), onde pensa sobre as se voltou para as condições de vida e de trabalho do proletariado inglês a partir de informações colhidas em viagens à Inglaterra; União Operária (1843), onde estabelece uma reflexão mais detalhada acerca do proletariado pensando o entrelaçamento das opressões de classe e gênero; Tour pela França. Estado atual da classe operária sob o aspecto moral, intelectual e material, um diário de viagem que trata da longa viagem por vinte e duas províncias francesas realizada por Tristán para fazer sessões de leitura e apresentar suas ideias a operários e operárias (1973).
Influenciada por teóricos socialistas como Saint-Simon, Fourier e Owen, uma das mais importantes defesas de Tristán era a emancipação das mulheres e da classe trabalhadora. Ela defendia que a educação das mulheres era essencial para o progresso social. Como nos mostra Luana Campos, autora do verbete desta semana, a emancipação das mulheres e da classe trabalhadora é o foco central de sua obra, isso porque ela acreditava que a educação das mulheres comuns era indispensável para o progresso material, moral e intelectual da classe operária, uma vez que essas mulheres desempenhavam papéis cruciais tanto na educação de crianças quanto na administração do lar dos trabalhadores. Ao garantir igualdade de direitos às mulheres, elas deixariam de ser vistas como meras donas de casa ou rivais no mercado de trabalho, passando a ser parceiras na vida cotidiana e aliadas em projetos de transformação social.
Sobre a autora do verbete: Luna Ribeiro Campos é professora de Sociologia do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ). Atualmente é doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na linha de Estudos de Gênero. É coorganizadora do livro “Pioneiras da Sociologia: mulheres intelectuais nos séculos XVIII e XIX”, publicado pela EdUFF em 2022. Suas áreas de interesse e pesquisa incluem teoria feminista, teoria social, trajetórias intelectuais, pensamento social brasileiro, literatura de viagens.
Quer conhecer a vida e a obra de Flora Tristán? Então leia o verbete aqui e acesse a entrevista com a autora aqui!