Faxina termonuclear: um esfregão contra 50 megatons

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A imagem  é curiosa por si mesma, mas quando você descobre que a bomba em questão não é qualquer bomba, mas a “Tsar Bomba”, que precisa ser sempre escrita em negrito, ela se torna motivo de perplexidade. O objeto que as senhoras limpam com tranqüilidade foi e permanece sendo o mais poderoso dispositivo já criado pelo ser humano, com uma potência estimada em 50 megatons, equivalente a 50 milhões de toneladas de TNT.

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Claro que o que as senhoras limpam é apenas uma réplica em exposição no Museu de Bombas Atômicas de Sarov, mas em sua versão original a RDS-220, com menos de dez metros de comprimento, foi o ápice da corrida nuclear em termos muito brutos.

Desenvolvida em início dos anos 1960 na União Soviética, seus 50 megatons efetivos foram uma versão modificada do projeto original que atingiria a potência apocalíptica de 100 megatons, com uma gigantesca emissão de elementos radioativos. Caso o projeto original tivesse sido detonado, essa única explosão responderia por um quarto de toda a radiação lançada na atmosfera desde o início da corrida nuclear.

Felizmente mesmo a insanidade da corrida armamentista não chegou a tal ponto. Em sua versão “limpa”, contudo, em 30 de outubro de 1961 a única “Tsar Bomba” criada foi testada no que foi acima de tudo uma exibição de força. E que força. Seu brilho pôde ser visto a 1.000 quilômetros de distância, o calor foi notado a 270 km. Em uma área de 25 km abaixo da detonação a destruição foi total. Os americanos estimaram a potência da detonação em 57 megatons, cifra que os soviéticos acataram felizes, embora 50 seja provavelmente mais correto.

Por incrível que pareça, estas armas foram e continuam sendo testadas sem uma compreensão completa de seus mecanismos, motivo pelo qual estimar precisamente a potência delas não é uma ciência exata, e razão por que potências nucleares insistem tanto em realizar testes nucleares – é apenas através deles que dados valiosos do funcionamento de tais dispositivos podem ser coletados.

Somando-se a tal temerosidade, vale notar que a Tsar Bomba foi desenvolvida em 112 dias, ou 16 semanas. Quatro meses. Nunca teve muita utilidade prática como arma, sendo demasiadamente pesada e potente.

A réplica em exposição foi produzida junto com a versão testada, e é felizmente inofensiva. Os esfregões usados para limpá-la ilustram bem como sobrevivemos a algumas de nossas maiores loucuras, agora peças de museu.

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[via malaConciencia]

Vacas fistuladas: abra aqui

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Não é um truque de mágica, é uma vaca com um buraco. Ou em um termo médico-veterinário, uma fístula criada cirurgicamente que garante acesso direto a um dos compartimentos de seu estômago. A cena bizarra que sem dúvida lhe causará pesadelos na verdade não é tão terrível quanto aparenta.

O procedimento é relativamente indolor e não prejudica os animais. Em verdade, até facilita seu tratamento caso tenham um problema digestivo. E tudo isso é feito com objetivos científicos, no estudo e experimentação com a digestão bovina. A propriedade de ter alunos e crianças enfiando suas mãos em estômagos de gado pode ser discutida – para o bem-estar das duas espécies de animais – mas o procedimento em si é bem benéfico à sociedade. Apesar das aparências.

AlexisStMfd Talvez ainda mais tenebroso, mas proporcionalmente benéfico, é lembrar que uma fístula no estômago do canadense Alexis St. Martin serviu para basicamente os mesmos propósitos. Em 1822 ele foi atingido pelo tiro acidental de um mosquete, que abriu um enorme buraco em seu torso e estômago. Martin tinha então 28 anos e os médicos não acreditavam que sobrevivesse.

O sujeito, talvez avô de Chuck Norris, não só sobreviveu como sobreviveu com o buraco em seu estômago cicatrizando-se com sua pele, em uma fístula permanente. Uma janela para seu estômago em funcionamento. Que ele ou seus parentes não se ofendam, mas não tão diferente da vaca acima.

O médico William Beaumont que o tratava viu aí uma oportunidade única de estudar a digestão humana. Durante os próximos 11 anos conduziu uma série de experimentos como lançar comida amarrada a uma corda dentro do estômago de Martin e puxá-la de volta horas depois para ver como havia sido digerida. Seus achados foram publicados em “Experimentos e Observações sobre o Suco Gástrico e a Fisiologia da Digestão”, lançando enorme luz ao tema até então abordado de formas indiretas.

Hoje em dia, tais experimentos dificilmente seriam autorizados por comitês de ética médica, mas há quase um século Beaumont pôde ter Martin como seu empregado comum, que cortava lenha, carregava peso e de quebra ainda servia como o sujeito com o estômago aberto. Segundo o médico, Martin não sofria com seu ferimento e trabalhava quase normalmente.

Soa bizarro, mas a relação entre Beaumont e Martin seria o primeiro contrato formal entre um pesquisador e um indivíduo pesquisado. Estranho como possa parecer, o Dr. Beaumont foi de fato um pioneiro na ética biomédica.

Tudo tem um fim, contudo, e em 1833 pesquisador e pesquisado tomaram seus próprios caminhos. O final da história não poderia deixar de ser curioso: enquanto o doutor morreria aos 58 anos, Alexis “Chuck Norris” Martin viveria com o estômago aberto até a avançada idade de 86 anos. [via io9, com um vídeo nauseante]

ATUALIZAÇÃO: O Karl comentou logo abaixo que:

“Na verdade isso não seria tecnicamente uma fístula e sim uma gastrostomia. Usamos palavras terminadas em “stomia” quando existe uma solução de continuidade entre uma cavidade e o meio externo provocada cirurgicamente, com objetivos terapeuticos. Exemplo mais conhecido: traqueostomia. A gastrostomia é um procedimento bastante utilizado atualmente em seres humanos com dificuldades de deglutição e pode ser realizada por endoscopia de forma pouco invasiva e indolor. Um cateter permite a alimentação do paciente (e não dá para colocar a mão). O citado paciente que levou um tiro teve mesmo uma fístula gástrica causada acidentalmente por um ferimento por arma de fogo. Nesse caso é mais comum dizermos “fistulizado” e não fistulado”.

E na lista CA, o Beto perguntou “como é que essas fístulas não infeccionam (como a de St. Martin não infeccionou)?”. Ao que o Jorge Petretski respondeu:

“Porque, topologicamente falando, o trato digestivo está "fora" do corpo. É um tubo que atravessa todo o corpo, começando na boca e terminando no ânus, mas sem contato direto com os compartimentos internos. O alimento ingerido não entra em contato direto com o sistema circulatório ou linfático, ele é digerido em moléculas menores, absorvido pela parede do intestino e depois distribuído pelo corpo pela circulação. Existem diversas barreiras físicas entre o interior do intestino e o interior do seu corpo que regulam o tráfico destas moléculas. Claro, o risco de infecção existe sempre, mas principalmente logo após o procedimento cirúrgico, quando a integridade destas barreiras foi rompida pela cirurgia. Mas depois que a fístula está cicatrizada, o risco de infecção não é tão alto. É um procedimento comum em pacientes que sofreram a retirada do ânus e/ou do reto e/ou de parte do intestino grosso, por conta de um câncer, colite ulcerativa grave ou mesmo um acidente, uma perfuração intestinal por arma de fogo (uma bala de fuzil faz muito mais estrago, por conta do vórtice que cria ao seu redor, do que simplesmente perfurar). O final do intestino é direcionado para a parede do abdômen onde será fixado, exigindo o uso permanente de uma bolsa para recolher as fezes. É uma situação desconfortável, sem dúvida, mas a maioria dos pacientes acaba se adaptando e tendo uma vida relativamente normal. O risco de infecção sempre existe mas não pela conexão com o meio exterior, difícil imaginar uma ambiente mais contaminado do que o interior do intestino, mas mais no tecido ao redor do estoma (a abertura no abdômen). Muitas vezes o trânsito normal é restabelecido cirurgicamente, quando as causas originais foram resolvidas. Em um câncer de cólon, por exemplo. Após a cura não é incomum que o paciente tenha o trânsito normal reconstituído. No estômago é mais tranquilo ainda, uma vez que a maior parte da digestão é feita depois do estômago, no intestino. O baixo pH, a alta acidez, do estômago funciona mais como uma barreira à entrada de microorganismos no trato intestinal. Basicamente no estômago o bolo alimentar apenas começa a ser digerido, mas é principalmente esterilizado pela acidez do suco gástrico. Claro que muitos micro e macroorganismos se adaptaram para sobreviver à esta barreira química. Nada é perfeito”.

Internet é uma coisa fabulosa, não? Com agradecimentos a todos.

Assista à TV do Japão no Brasil

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Quer conferir como é o magnífico mundo televisivo com os mais bizarros game shows do planeta? Completo com comerciais onde celebridades de Hollywood vendem café, sorvete e todo tipo de produtos piores que leite de aveia, em obras de arte videográficas com no máximo 15 segundos de duração? Tudo isso sem pagar nada, de graça, gratuitamente?

Fiquei surpreso em descobrir o KeyHoleTV. É, basicamente, mais um programa P2P de TV via internet, mas é muito mais estável e é perfeitamente legal. Parte do teste da tecnologia de transmissão P2P de vídeo e TV via internet, todos os canais abertos da TV japonesa estão disponíveis. Já está disponível há mais de um ano mas só fui conhecer há pouco. Clique na imagem para conferir o site em inglês e baixar.

Depois de descobrir que a TV japonesa não exibe bizarrices 24 horas por dia, se entender algo de japonês e quiser realmente acompanhar os programas, pode conferir a grade de programação da TV japonesa no YahooJapan. Há programas de excelente qualidade sobre ciência e tecnologia principalmente na NHK, bem como shows (incluindo game shows) muito interessantes de variedades, curiosidades e viagens em outros canais. Também há muito lixo, claro.

Alguns programas que recomendo, e que mesmo aqueles que não entendem japonês poderão apreciar (horários locais do Japão, que não tem horário de verão):

E se você também quiser se chocar com a credulidade da TV japonesa em horário nobre, poderá também conferir:

  •  新説!?日本ミステリー: terças às 21h, com OVNIs e paranormal mas principalmente descobrir como todas figuras históricas do mundo na verdade eram japoneses, ninjas e na verdade não morreram. Incluindo Jesus;
  •  オーラの泉: sábados às 20h, a Nova Era com videntes, astrólogos e charlatães em geral.

Também tem programas de que gosta (ou não)? Comente aí embaixo.

Caso fique viciado em TV japonesa sem estar no Japão, recomendo que configure um Slingbox. Com essa caixa mágica – bem, não tão mágica, alguém com Internet no Japão terá que abrigá-la –, você poderá assistir a todos os canais da TV japonesa com uma qualidade de vídeo muito melhor, uma que pode ser exibida em uma tela maior com definição aceitável. Caso pague um plano de TV por assinatura no Japão, pode até transmitir pela internet canais pagos, onde algumas pérolas mais estranhas são veiculadas.

Boa parte da comunidade japonesa no Brasil ainda paga vários planos de TV por assinatura caríssimos para ter apenas a versão internacional do canal NHK, um único canal. E, se você já assistiu à NHK, deve saber que é o único canal em que você nunca verá muitas bizarrices (exceto talvez no Kouhaku Utagassen).

Com uma fração do valor é possível ter acesso a todos os canais japoneses com um Slingbox. Ou com o KeyholeTV, pelo menos enquanto durar, tem-se acesso a todos os canais abertos gratuitamente.

Aniquilação: Hiperdoença

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Soa como o título de filmes de terror, mas a “hiperdoença” é uma hipótese científica séria que recebeu recentemente um bom apoio. Pesquisa genética da extinção de duas espécies de ratos na Ilha Natal no Oceano Índico é a primeira a demonstrar a aniquilação completa de mamíferos por um agente patogênico. No caso dos Rattus maclearu e nativitatis, a extinção total ocorreu em menos de uma década.

Tradicionalmente, pensava-se que uma doença, por mais virulenta que possa ser, sempre deixaria alguns sobreviventes resistentes, em um complexo jogo em que matar todos os infectados também faz com que a própria doença acabe com si mesma. É a Rainha Vermelha.

No caso da Ilha Natal, os ratos nativos foram extintos no início do século XX logo após a introdução de novas espécies de ratos acompanhando os colonizadores europeus, no que se acreditava ter sido uma conjunção que sim incluía a ação do Trypanosoma lewisi, ao qual os ratos eurasianos eram imunes mas os ratos nativos não… mas também a hibridização e mesmo a ação humana. Uma conjunção de fatores contra os pobres ratos nativos causaria sua extinção, sem muita surpresa.

Em um estudo publicado no ano passado, analisando amostras de DNA de espécimes dos ratos extintos conservados em museus, os pesquisadores descobriram que a doença realmente afetou os roedores nativos, contudo nenhuma evidência de hibridização surgiu. E “este não foi um caso de humanos caçando demais – não acho que ninguém estivesse com tanta fome”, diz Ross MacPhee, do Museu Americano de História Natural e uma das promotoras originais da hipótese de hiperdoença há mais de dez anos.

“Nove anos depois do contato, estas espécies endêmicas e abundantes foram claramente aniquiladas por completo por uma doença – nada mais na época ocorreu que pudesse responder por isso. Este estudo coloca algo novo na mesa como razão para extinção”.

A hipótese de uma hiperdoença talvez explique outras extinções abruptas como a de grandes animais no Pleistoceno como o Mamute, embora seja apenas mais uma possibilidade “na mesa”. O que talvez preocupe o leitor é a possibilidade de, como nos filmes de terror, uma “hiperdoença” aniquile toda a espécie humana.

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Descobrir que a hiperdoença pode efetivamente aniquilar mamíferos, ainda que pequenos, não é muito animador. Lembrar que a variabilidade genética da espécie humana é muito menor do que mesmo em outros primatas também não ajuda muito.

O que nos resta é confiar e apoiar a pesquisa médico-científica. Poucos apreciam que em anos recentes, potenciais crises epidêmicas podem bem ter sido evitadas com medidas vigorosas de prevenção. A medicina já nos salvou de doenças terríveis, e só ela poderá nos salvar caso um dia nos vejamos no caminho de uma “hiperdoença”.

– – –

– Wyatt KB, Campos PF, Gilbert MTP, Kolokotronis S-O, Hynes WH, et al. (2008) Historical Mammal Extinction on Christmas Island (Indian Ocean) Correlates with Introduced Infectious Disease. PLoS ONE 3(11): e3602. doi:10.1371/journal.pone.0003602;

Death by Hyperdisease

Enfermedades que se autoextinguieron

Eventos pouco prováveis

A diferença entre esse vídeo espetacular e o Faces da Morte pode estar nas batidas de uma borboleta azul da Tasmânia.

Até onde sei apenas o clipe do ovo (?) gigante que cai em um carro é falso, parte de uma propaganda. [via O Velho, Luiz]

Enxergando padrões

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Consegue ver algum padrão na imagem acima? Clique para conferir no Google Maps: cada uma das estrelas é um ponto em Londres onde uma bomba voadora V2 caiu.

Os foguetes nazistas de 13 toneladas, dos quais +500 atingiram a capital inglesa, ceifaram mais de 9000 vidas e são representados em parte no mapa interativo. Clicando na visão por satélite você pode conferir que alguns pontos de impacto ainda permanecem como crateras, seis décadas depois, enquanto a maior parte já foi coberta por casas, parques e estacionamentos.

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Mas por que perguntei se você podia ver algum padrão? Porque como interpretar os locais da cidade de Londres onde as bombas caíram é um exemplo clássico do conflito entre nossos medos e emoções, em contraponto com nossa razão e ciência.

Já abordamos no ano passado um estudo fascinante demonstrando como a sensação de falta de controle estimula a percepção de padrões ilusórios, fazendo que as pessoas vejam algum significado oculto onde realmente não há. De pareidolias a paranóias, em meio ao descontrole e impotência enxergamos maquinações e ordens obscuras completamente ilusórias.

Você pode imaginar que estar à mercê de bombas voadoras que caem do céu sem nenhum aviso e das quais não há nenhuma defesa é um bom exemplo de não possuir controle algum sobre a situação. As V2 eram armas supersônicas, caíam de uma altitude superior a 100km a quatro vezes a velocidade do som. Você só as ouviria depois que tivessem atingido seu alvo e causado mais destruição. Nenhum V2 foi abatido em pleno vôo, não havia defesa alguma contra estas armas de vingança nazista.

Sem surpresa, vulneráveis a tal arma terrível os londrinos começaram a enxergar padrões obscuros. Era a eles evidente que algumas partes da cidade eram poupadas enquanto outras eram alvos freqüentes. Daí para acreditar que as partes poupadas colaboravam com os nazistas era um pequeno passo. E a paranóia se transformava em uma caça às bruxas, com moradores “simpatizantes dos nazistas” hostilizados. Já habitantes das áreas que se acreditava serem alvos dos alemães fugiam de suas casas ainda que estivessem intactas.

Tudo ilusão.

Os sistemas de orientação das V2 eram extremamente primitivos, com uma margem de erro de muitos quilômetros. O melhor que os alemães podiam fazer era mirar mais ou menos em Londres e esperar que pelo menos a cidade fosse atingida. Nisso, não tiveram muito sucesso, para que em torno de 500 bombas atingissem a capital, número equivalente atingiu os subúrbios. O único uso tático, em que as V2 buscavam atingir um alvo específico, foram 11 bombas-voadoras lançadas contra uma ponte em Remagen. Nenhuma atingiu o alvo. Qualquer crença de que os nazistas mirassem uma área específica de algumas dezenas de metros, ou mesmo em um endereço específico como uma casa ou teatro na Inglaterra é mera ficção.

Nós sabemos disto hoje, claro, com a derrota dos nazistas e todos os seus segredos revelados. Como os ingleses poderiam saber disto durante a guerra, quando mesmo a existência de bombas voadoras era uma grande novidade?

Em uma aplicação exemplar da ciência estatística, R.D. Clarke publicou uma breve página onde mostrou como a distribuição de áreas atingidas pelas V2 se conformava quase perfeitamente a uma distribuição Poisson.

--------------------------------------------------------------

No. of flying bombs Expected no. of squares Actual no. of

per square (Poisson) squares

--------------------------------------------------------------

0 226.74 229

1 211.39 211

2 98.54 93

3 30.62 35

4 7.14 7

5 and over 1.57 1

---------------------------------------------------------------

576.00 576

---------------------------------------------------------------

É uma distribuição estatística que formaliza a aleatoriedade. Era o acaso que governava o padrão de áreas atingidas pelas bombas voadoras, e não maquinações perversas de nazistas e traidores. Com esse estudo os ingleses puderam estar seguros de que os nazistas não eram capazes de mirar alvos específicos da Inglaterra, e tomaram medidas militares de acordo. Infelizmente, explicar tal aos cidadãos não adiantou muito. Décadas depois, estudos psicológicos como os que comentamos no ano passado explicariam melhor o por quê.

De forma curiosa, a distribuição estatística havia sido apresentada por Siméon Denis Poisson um século antes. Um francês.

– – –

AN APPLICATION OF THE POISSON DISTRIBUTION (PDF) BY R. D. CLARKE, F.I.A., JIA 72, 0481, 1946.

NaziによるLondonを使ったPoisson分布の実験

Seu genoma em um disquete

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Já dediquei uma coluna à nobre questão sobre o tamanho em bits de nosso genoma, questão que não fica tão nobre quando aplicada à largura de banda de um pênis, mas ainda assim deve ser curiosa.

Assim fico aliviado de não ter cometido nenhum grande erro ao ler estimativas equivalentes… acompanhadas de um novo paper que por outro lado mostra que é possível comprimir os dados do genoma humano para ocupar apenas 4 megabytes.

4 MB. Um disquete. Três disquetes. Que ninguém usa mais.

Provavelmente se referem ao genoma de referência haplóide, o que significa que na prática seriam necessários 8 MB, o que ainda assim é impressionante. Se em alguns anos tivermos tecnologias baratas de sequenciamento, como todos esperam que tenhamos, seria mais do que viável um banco de dados com o genoma de todos os seres humanos vivos que coubesse que provavelmente será a capacidade de um disco rígido padrão em alguns anos (na ordem de Petabytes).

Não sei se isso é assustador ou confortante.

Mais detalhes, em inglês, em Genetic Future: Squeezing the genome: how to shrink your whole-genome sequence to 4 MB

O “Milagre” do vôo 1549

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O Contraditorium já expressou bem, então aqui só vai esse gráfico acima feito de qualquer jeito; a opinião de quatro especialistas no NYT sobre o que salvou os passageiros; Levitt lembrando como havia comentado em 2006 como “ridículas” as instruções dadas a respeito “do evento improvável de um pouso na água”; e como o mais curioso foi Steven Johnson publicar poucas horas antes do acidente no BoingBoing sobre como fazia sete anos que não havia nenhum acidente fatal nos EUA. A marca ainda continua, mas Johnson prometeu “nunca mais dizer algo em público sobre segurança em aviação”.

E, claro. Este vídeo do Daily Show comentando o milagre do vôo 358 da Air France em 2005:

“Se os passageiros tivessem morrido e três dias depois ressuscitado, aí sim isso seria um milagre”.

Que fique claro, embora seja ótimo rir com o acidente da US Airways, a tragédia da TAM não é motivo para tal. Mas atribuir a deus tudo que acaba bem, enquanto se buscam culpados apenas quando dão errado (e olhe lá), é o caminho para que mais “milagres” não aconteçam.

Porque “milagres” e “tragédias” aéreas não são atos e vontades de deus. Se deus quisesse que voássemos teria nos dado asas, como a enorme sabedoria religiosa bem nos ensinou.

Que os EUA não tenham nenhum acidente aéreo com vítimas fatais há sete anos é resultado de um enorme esforço racional e humano para que sejam evitados.

Que o Brasil esteja batendo recorde após recorde de acidentes aéreos e vítimas fatais em anos recentes é responsabilidade de uma série de pessoas que talvez tenham mesmo deixado tudo nas mãos de deus.

Deus, o Universo e Todo o Resto

Carl Sagan, Arthur C. Clarke e Stephen Hawking, em uma conversa de quase uma hora sobre Deus, o Universo e Todo o Resto? Esta preciosidade reunindo algumas das maiores mentes a iluminar nosso mundo foi legendada e você confere na íntegra aqui, acompanhada de um Líquito para temperar.

Leia o restante de ‘Deus, o Universo e Todo o Resto

Um balão voando contra o vento

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Vi no Glúon o conceito Aeolus do designer Christopher Ottersbach, misturando balões com barcos a vela. É uma idéia curiosa, mas jogando água fria, ter uma enorme área para coletar o vento em um formato que não possui uma boa relação de volume é justamente o que construtores de blimps e dirigíveis tentam evitar.

O primeiro porque o veículo ficará à mercê do vento, e o segundo porque é improvável mesmo que saia do chão. Há uma limitação física fundamental: mesmo que você consiga criar um balão que não pese nada em sua estrutura, ainda precisará de em torno de 1 metro cúbico de hélio para cada Kg de massa de carga. Provavelmente mais. A menos que as leis da física sejam revogadas, usar hélio para flutuar por aí sempre exigirá enorme volume.

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Por isso não é por mero capricho que todos os dirígiveis que conhecemos tenham o formato de uma gota inchada. É um meio termo entre uma esfera, com o maior volume possível, e uma forma aerodinâmica que minimize o efeito dos ventos. Variações no tema são sim possíveis, contudo é pouco provável que um formato tão achatado quanto o Aeolus seja eficiente ou chegue a ser mais leve que o ar.

Agora, por trás do conceito balão à vela, há algo que pode soar mesmo fabuloso. Seria possível uma espécie de barco à vela… voador? E a resposta simples é… sim.

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A resposta um pouco mais complicada é… em termos. Um balão voando ao sabor do vento por ser chamado de um “balão à vela”. Todos entendem intuitivamente que barcos à vela se movimentam graças ao vento.

Talvez não tantas pessoas entendam que barcos à vela só se tornam mais úteis porque podem navegar contra o vento, ou em marujospeak, navegar à bolina ou cochado.

Para entender como isto é possível, dê uma olhada na FeiradeCiências. Em verdade se navega a um pequeno ângulo, perfazendo então um zigue-zague, mas é este pequeno grande avanço, que só foi explorado plenamente pelos portugueses, que explica em parte o seu império marítimo. Incluindo o descobrimento de um certo país chamado Brasil.

Se você entender como um navio consegue navegar à bolina deve entender que um balão solto no ar não conseguiria fazê-lo, pelo menos enquanto for um sistema passivo. É a quilha e o corpo da embarcação, contrapondo a resistência da água à força do vento que permitem ir contra o vento. No ar, um balão não poderá contrapor o vento contra o vento.

Ou pode? Indo já além do Aeolus, é possível imaginar uma enorme “vela” no céu, composta de inúmeras partes que possam interagir de forma inteligente, permitindo que ventos a diferentes altitudes interajam e possam movimentar um veículo completamente passivo em uma direção desejada. Seria, então e finalmente, um balão à vela.

jetstredaSeria também algo nunca feito até hoje. Talvez porque simplesmente não seja prático.

Nós já temos veículos aéreos “à vela”. Eles não navegam à bolina, mas tal não é tão necessário. Aviões comerciais já se valem freqüentemente do vento, navegando com as jet streams, correntes de ar a grande altitude e velocidade de direção e localização bem determinadas. Entram e saem delas à sua conveniência.

Desde a navegação à bolina às correntes de ar planetárias das jet streams, é um bom caminho. Um barco à vela no ar seria algo romântico, mas descobrimos que um belo avião comercial de passageiros já é seu legítimo e respeitável descendente, navegando também ao sabor do vento.

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