Salvem Al Gore
O Rabiscos contra-ataca o post crítico anterior. Acusa o post de carecer de argumentos válidos e se valer de falácias. Ad hominem, por exemplo, já que mencionamos “como detalhe irrelevante” que o sítio TCS de referência foi financiado primariamente pela ExxonMobil. É bem verdade, este detalhe também fazia parte do título do post. Mas então, o Rabiscos repetidamente menciona e ataca Al Gore, incluindo no título. OK. Concedamos que nem o TCS ser financiado pela ExxonMobil nem Gore ganhar um Oscar realmente importa, e sim os argumentos e evidências científicas. Vamos a eles.
Não teríamos mostrado:
(1) porque as hipóteses a respeito da Troposfera não se comprovaram, (2) não mostrar fatos científicos que desmintam a correlação entre a atividade solar e temperatura, (3) não desmentir o gráfico, mostrado por Al Gore, que ilustra claramente que a temperatura é quem influência o CO2 e não o contrário
Bem, em verdade respondemos o item (2). A atividade solar não mudou muito nas últimas décadas, com uma variação de apenas 0,1%. Já o aquecimento global recente é um fato aceito mesmo pelos “céticos”. Também se abordou o item (3), mas a abordagem não foi aceita. Ambos itens estão relacionados, e a divergência é uma questão de grau, já que se concorda que tanto a ativade solar quanto o CO2 influenciam as temperatura globais. Talvez este gráfico ajude a enxergar melhor qual dos dois fatores está mais relacionado com o aquecimento global nas últimas duas décadas — lembrando que pouco antes disso, acredita-se o escurecimento global mencionado no post anterior desmpenhava um papel importante.
Já o item (1) é respondido por este artigo na Nature de 2004 (contexto e detalhes aqui). Resulta que as hipóteses sobre a trosposfera foram vindicadas, as medições por satélites possuíam bias que, se levados em conta, revelam que a troposfera está se aquecendo tão ou mais rápido que a superfície.
E então, com relação ao “consenso científico” que mencionamos — o fato de que entre 928 papers publicados entre 93 e 2003, nenhum contrariava o consenso de que o aquecimento global nas últimas décadas é primariamente influenciado pela atividade humana. Se o Rabiscos lesse o ensaio na Nature a que nos referimos, teria suas críticas a respeito disto ser uma religião respondidas. Citando Oreskes:
Esta análise mostra que cientistas publicando na literatura científica concordam com o IPCC, a NAS e as declarações públicas de suas sociedades profissionais. POlíticos, economistas, jornalistas e outros podem ter a impressão de confusão, discordância ou discórdia entre climatologistas, mas esta impressão está incorreta.
O consenso científico pode, claro, estar errado. Mas se a história da ciência nos ensina algo, é a humildade, e que uma pessoa não pode ser culpada em falhar em agir com respeito a algo que desconhece. Mas nossos netos seguramente nos culparão se descobrirem que nós entendemos [corretamente] a realidade da mudança climática antropogênica e falhamos em fazer algo.
Muitos detalhes sobre as interações climáticas não são bem entendidos, e há muito espaço para mais pesquisas para fornecer melhor base para o entendimento da dinâmica climática. A questão do que fazer sobre a mudança climática ainda está aberta. Mas há um consenso científico sobre a realidade da mudança climática antropogênica. Cientistas climáticos repetidamente tentaram tornar isto claro. É hora de que o resto de nós os escute.
Em inglês, há mais refutações detalhadas do documentário também citado pelo Rabiscos no inthegreen, Guardian, CNCC, e aqui um meteorologista reclamando sobre como suas opiniões foram distorcidas no documentário. Uma série de argumentos.
Nota: Não sou “bolivariano” e confesso, muito honestamente, não estou diposto a enormes sacrifícios pessoais para impedir o aquecimento global, pois também tenho consciência de que ambientalistas podem ser alarmistas e que mesmo Gore o é em seu documentário premiado (o link indicado é refrescantemente balanceado e sensato, e de um acionista da ExxonMobil). Mas a enorme maioria dos climatologistas concordam que o aquecimento global nas últimas duas décadas é em sua maior parte provocado pela atividade humana. O escurecimento global prova nossa capacidade de influenciar drasticamente o planeta — o espantoso, e talvez uma dádiva, é como o CO2 parece não ter um impacto contrário tão claro e grande. É preciso ter isto em mente, e tomar pelo menos algumas atitudes em resposta. Pequenos sacrifícios, pelo menos, como dedicar tempo a uma discussão como esta.
Doutor Strangelove: financiado pela ExxonMobil
O blog Rabiscos Econômicos revela “Como eu parei de me preocupar com o Aquecimento Global e aprendi a amar as indústrias, SUVs e todas aquelas coisas“. O post, que descobri através do De Gustibus, é um sumário baseado primariamente em um artigo do geólogo Tim Patterson no sítio TCS, e com pitadas do documentário The Great Global Warming Swindle (GoogleVideo aqui). Eles defendem:
O seres-humanos não estão causando o aquecimento global. A hipótese do “Efeito Estufa” é falsa. Já foi falseada várias vezes. O problema é que quando as coisas se tornam políticas, a ciência e o método científico não importam mais. As pessoas que apoiam os movimentos “ambientalistas” tem uma outra agenda. Elas não ligam para o “Meio-ambiente”, mas sim querem se opor à Economia de Mercado e aos Estados Unidos. Muitas dessas pessoas vem do fracasso que foi a URSS e, por isso, introduzem suas idéias marxistas em qualquer lugar que elas tem acesso. Tudo vira uma questão ideológica.
É irônico que este tipo de argumentação seja classificada como “cética”. São os céticos sobre o ambientalismo, mas se você realmente seguir o conselho deles e procurar se informar um pouco, descobrirá que este tipo de ceticismo não é tão diferente dos céticos sobre a ida do homem à Lua. Um ceticismo investigativo verdadeiro leva a conclusões bem diferentes — talvez não tão alarmistas quanto a de ambientalistas, incluindo Al Gore, mas certamente não tão radical e paranóica como a de conservadores desavisados.
Antes de mais nada: a comunidade científica aceita hoje como consenso que a atividade humana contribui de forma significativa para o aquecimento global. Isso não se resume ao IPCC da ONU, que segundo “céticos”, teria chegado a tal consenso por motivos políticos e não científicos. Uma revisão da literatura científica incluindo 928 trabalhos publicados entre 1993 e 2003 mostrou que 75% seguiam o consenso de que estamos esquentando nosso planeta, enquanto o restante lidava com métodos e questões que não envolviam tomar uma posição. “Notavelmente, nenhum trabalho discordava da opinião de consenso“.
E quanto aos argumentos de que as variações de temperatura seriam derivadas de fatores não-antropogênicos, como o ciclo solar, radiação cósmica; ou de que aumento nas emissões do famigerado dióxido de carbono em anos recentes não teriam causado impacto nas temperatura planetárias?
Estimativas da irradiação solar total (TSI) baseadas na contagem de manchas solares e abundância de isótopos e medições diretas por satélites (desde 1978) indicam que a atividade solar realmente não mudou desde 1950. Além disso, o esfriamento global de 1945 a 75 foi muito pequeno, em torno de 0.06 graus C. E sabemos a causa: foi por causa do aumento dos aerossóis de sulfato na atmosfera (que têm um efeito de esfriamento) devido à atividade industrial durante e após a Segunda Guerra. Isto contrabalançou o efeito de aquecimento de gases estufa, que não eram tão abundantes então quanto são hoje.
Mas nos anos 1970, emissões de aerossóis de sulfato foram limitadas (principalmente por lei, já que são responsáveis pela “chuva ácida”), enquanto gases estufa continuam a se acumular na atmosfera. É por isto que desde em torno de 1975 — a “era de aquecimento global moderna” — gases estufa se tornaram o fator dominante. Compare o aquecimento de quase 0.6 gras C desde 1975 com o esfriamento de 0.06 graus C durante o período de 1945-75.
A noção de que a temperatura global deve acompanhar a concentração de CO2 à risca durante a história se baseia na idéia ingênua de que o CO2 é o único fator influenciando o clima. Ironicamente, céticos freqüentemente acusam climatologistas disto, ao alegar que eles ignoram o efeito do Sol. Em verdade, a climatologia moderna considera todos fatores conhecidos, enquanto céticos tendem a se agarrar apenas em um (como o sol) e tentam fazê-lo explicar tudo.
[Tamino]
Aqui, um contra-argumento mencionado pelo Rabiscos pode parecer persuasivo: “você já parou pra pensar na nossa arrogância em pensar que o homem tem capacidade de mudar o clima de terra?”
O esfriamento global (em verdade, o escurecimento global) provocado pela emissão de aerossóis mencionado acima prova o poder inesperado que de fato temos em influenciar o clima do planeta. Você pode dar uma olhada neste sumário de um documentário muito interessante sobre o escurecimento global. O documentário em si pode ser alarmista em excesso, mas o escurecimento global é um fato científico hoje aceito (embora não tão conhecido). Nossa reles atividade industrial foi capaz de diminuir a incidência de radiação solar sobre o solo em mais de 5%. Isto, em escala global.
Por fim, um detalhe irrelevante. O sítio TCS que abriga o artigo que compõe a base do post no Rabiscos foi patrocinado pela ExxonMobil. A maior parte dos fundos utilizados pela TCS em 2003 vieram da empresa petrolífera.
Ser religioso é muito mais difícil que ser ateu?
Pedro Sette Câmara comenta em seu blog como ser religioso é muito mais difícil que ser ateu.
Você sabe que existe o risco de passar a eternidade no inferno, o que faz com que você pense, muitas vezes mais do que gostaria, que tudo seria mais fácil se simplesmente sumisse na hora de morrer, ou fosse absorvido na energia cósmica, o que obviamente dá na mesma. (…) eu não sei mesmo se ser ateu é fácil, mas duvido que seja mais difícil que ser católico e ter medo do inferno.
Se você é ateu e acredita que a vida é tudo que há, então deve saber que tudo que faz pode afetar os fugazes momentos de vida que tem à sua disposição. Mais do que isso, deve saber que como não há algo como um fantasminha dentro de você que irá seja para o paraíso ou o que for, após sua morte tudo que restará de você serão as conseqüências de tudo aquilo que tenha feito em vida. Ter isto em mente não é fácil, por outro lado, é preciso notar que estas constatações também se aplicam a qualquer ser humano. Ser ateu e não acreditar em vida após a morte apenas enfatiza o valor de sua vida e legado, mas qualquer se humano também deve ter tais valores em mente. Estas não são questões de fé. Sabemos que estamos vivos, sabemos que nossos atos têm conseqüências, e sabemos que as conseqüências de nossos atos podem ir bem além de nossa curta vida.
Neste sentido, adicionar a tais reflexões as complicações de obrigações e temores religiosos por vezes arbitrários e, em sua quase totalidade, questões de fé, sem comprovação racional, relmente complica as coisas e podem tornar o teísmo muito mais difícil que o ateísmo. Mas um ateísta, como eu, notaria que esta complicação é desnecessária e injustificada. Não diria que seja “idiota”, afinal, vantagens e facilidades também acompanham o pacote teísta religioso — como, por exemplo, fazer parte da esmagadora maioria católica no país e ver suas crenças louvadas nas cédulas de dinheiro, nos tribunais, câmaras e no Palácio do Planalto. Mas estas vantagens também são não apenas injustificadas, como injustas e inconstitucionais.
A menina pastora – versão Hitler
A imagem no vídeo você já conhece, já a oratória é da menina pastora Ana Carolina Dias, então com com apenas oito anos de idade.
O vídeo foi editado por Bruno Resende, e você pode conferir o vídeo original em seu site.
A menina pastora não promove o genocídio de minorias, nem mesmo o racismo, é bem verdade. Não é Hitler. Mas a oratória apelativa e inflamada é um dom que esta criança prodígio tem em comum com o ditador alemão. Se bem que esse não é o único, nem o maior problema que a “versão Hitler” enfatiza — vídeos de outros líderes religiosos e políticos dublando Hitler seriam tão ou mais efetivos.
O maior problema aqui é que uma criança de oito anos não só já dedique sua vida à religião, como que seja explorada e louvada pelos adeptos da mesma religião. Crianças podem nos ensinar muito, mas seguramente não estão capacitadas a avaliar e entender nem mesmo uma religião, que se dirá das incontáveis existentes que uma pessoa deveria conhecer antes de optar por aderir a uma religião. Ana Carolina Dias, a menina pastora, teve pouca ou nenhuma escolha e ainda que entenda muito sobre a religião da família em que por acaso nasceu, com oito anos dificilmente entende de fato o significado concreto mesmo das histórias de Davi ou Rute e Noemi que conta no vídeo acima. É uma exploração religiosa infantil. Crianças devem ser crianças, o que não inclui pregar sermões religiosos.
Uma criança humana é moldada pela evolução para se saturar da cultura de seu povo. Obviamente, ela aprende os essenciais do idioma de seu povo em questão de meses. Um dicionário grande de palavras para falar, uma enciclopédia de informação para falar sobre, regras sintáticas e semânticas complicadas para ordenar a fala são todos transferidos de cérebros mais velhos ao seu antes que ela alcance metade de seu tamanho adulto. Quando você é pré-programado para absorver informação útil a altas taxas, é difícil impedir ao mesmo tempo a entrada de informação perniciosa ou prejudicial. Com tantos bytes mentais para ser assimilados, tantos códons mentais para ser reproduzidos, não é nenhuma surpresa que cérebros de crianças sejam crédulos, abertos a quase qualquer sugestão, vulneráveis à subversão, presas fáceis para Moonies, Cientologistas e freiras. Como pacientes imuno-deficientes, crianças estão amplamente abertas a infecções mentais as quais adultos poderiam repelir sem esforço. [Os Vírus da Mente]
Atuallização: Encontrei a versão editada no Youtube. Há também o cover e o funk da menina pastora.
Resolvendo um cubo mágico com os pés
O ganhador do Oscar Michel Gondry resolve um cubo mágico com seus pés. Apenas um efeito especial é usado no clipe, acessível a qualquer um. Se você não conseguir adivinhar (é simples e genial), veja este vídeo explicando o feito. Insatisfeito com os céticos, Gondry decidiu repetir a façanha com seu nariz, desta vez sem o uso de qualquer truque, como podemos perceber.
via Yesbutnotyes
Adeus, mundo cruel
“Caro mundo,
Não pude suportar mais a espera por um iPod widescreen.
Ass.: Indicador esquerdo de Jake”
[via haha.nu]
Como David Copperfield voa?
A técnica criada por John Gaugan é patenteada, e em essência bem simples. A engenhosidade não está tanto em como ele voa, mas nas supostas demonstrações de que fios não seriam usados, quando em verdade são. O segredo de como pegar a Cláudia Schiffer infelizmente não pode ser revelado.
via haha.nu
Prisão domiciliar
Ouvi dizer que custa R$50.000 para manter um crimonoso na cadeia por um ano. (…) Isto me deu a idéia de um negócio que você pode criar em casa: converta um quarto vago em uma cela de prisão e cobre R$50.000 por ano ao governo para abrigar o criminoso. Você poderia talvez colocar dois presidiários em um quarto vago e ganhar R$100.000 por ano, menos os custos de alimentá-los com um gororoba.
O governo iria precisar definir alguns padrões para estas prisões caseiras. Obviamente você deverá cercar todo o quarto com barras, adicionar uma privada e instalar um câmera de vigilância. Agentes do governo poderiam monitorar as prisões domiciliares pela internet, apenas para se assegurar de que você esteja maltratando os prisioneiros. Imagino que um grande problema seria que os prisioneiros iriam querer convencê-lo a deixá-los sair, algo como “Posso assistir o BBB com a família? Prometo que volto para minha cela depois”. (…)
Prisões domiciliares no Texas seriam as mais divertidas, especialmente se você abrigasse um condenado à morte e deixassem que você mesmo o executasse. Isso talvez não anime a todos, mas você não pode dizer que não seria atraente a caçadores que gostam de atirar em grandes mamíferos. ‘Já vou para a cama, querida. Só tenho que atirar no Carlos à meia-noite’.
Acho que outro problema seria que os vizinhos iriam começar a exibir e comprar seus prisionaieor. Você ouviria muito ‘Ah, seu prisioneiro só machucou um cara? Bom, acho que já pegaram os melhores’.
Do Dilbert blog
Prince Pickles
“Prince Pickles é nosso personagem porque é muito cativante, que é o que as forças armadas japonesas almejam”, disse Shotaro Yanagi, oficial da Agência de Defesa Japonesa (agora ministério). “Ele é nosso mascote e aparece em nossos panfletos e materiais”. É apenas o cúmulo da kawaii-ficação japonesa, país onde personagens de desenho explicam desde religião, passando por história e ciências, até doenças, com direito a intestinos-personagens bonitinhos. A tendência é mais conhecida mundialmente através de uma certa gata que diz alô. Esta aplicação de Hello Kitty como embaixadora revela planos de dominação mundial, Chinpokomon à parte, como nota o pesquisador Hiro Katsumata. “Em uma ou duas décadas, gerações jovens em muitos países que amam desenhos japoneses começarão a ocupar cargos de liderança. O Japão pode se beneficiar disto”.
Talvez relacionado, o SNL sugeriu algo não muito diferente para salvar a imagem de GW Bush.