“Iconatomy”: Celebridades e Reificação
O estudante de artes suíço George Chamoun mesclou retratos de ícones do cinema de duas eras diferentes no projeto “Iconatomy”, algo como “Iconatomia”, e o resultado é surpreendente principalmente porque nenhum dos rostos mesclados foi distorcido.
Chamoun simplesmente fez uma colagem de recortes de celebridades modernas sobre estrelas do passado. “As imagens não foram alteradas em nenhuma forma”, explica, “o que você vê é uma colagem de duas pessoas diferentes em cada imagem. Levou um bocado de tempo para que eu encontrasse as imagens certas? Claro que sim!”.
Aqui está o fascinante, porque a este autor parece que Chamoun conseguiu fazer com que a fusão dos rostos aconteça… em nosso cérebro!
Porque por mais que Audrey Hepburn tenha semelhanças fisionômicas com Natalie Portman:
O que deve surpreender é que elas não são tão fortes quanto a colagem de Chamoun inicialmente sugere à nossa massa cinzenta.
Levou algum tempo para que eu encontrasse as imagens originais que Chamoun usou? Claro que sim! Mas nem tanto. Aqui estão:
Hepburn usava um chapéu, e precisei espelhar horizontalmente a imagem de Portman. Lado a lado, desta forma, as diferenças devem se destacar mais, e convido você então a rever a colagem mais acima.
Como rostos diferentes puderam se mesclar tão bem? Isso só pode ser uma ilusão, no que este autor arrisca ser algo similar ao triângulo Kanizsa.
Nossa percepção preenche as lacunas e enxerga um triângulo que não está realmente lá. É o que a psicologia Gestalt chama da reificação, o aspecto construtivo da percepção, que não é algo passivo mas sim algo construído a partir dos estímulos que recebemos.
A colagem de Chamoun faz com que os dois rostos se unam justamente nas partes onde coincidem – no topo do cabelo, contornos da face. Algo como as extremidades do triângulo ilusório de Kanizsa, nossa percepção faz o resto e preenche as lacunas, fazendo com que duas estrelas de Hollywood se unam em um só rosto.
Esta ilusão apresenta mesmo o princípio Gestalt de multi-estabilidade, de forma que você pode ver ora um rosto mais próximo ao ícone do passado ou do presente.
Estes princípios da percepção em que arte mereceria mesmo um estudo científico acabaram me lembrando de outra ilusão em tempos de Internet, e uma que talvez não pareça tão culta.
É o que se tornou conhecido como “pornô para mórmons”.
Ou, como me atrevo a sugerir em um nome mais “acadêmico”, “pornografia Gestalt”.