Pensamento de segunda
“Nunca empreste dinheiro a um geólogo. Ele considera cem mil anos um intervalo curto de tempo.” (Alfred Wegener)
Tudo em um ano II – Nuvens de Poeira
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Nebulosa de Eta Carina
Fonte: nasa.gov
Mais de um mês galático se passou desde o nosso big bang de 2010. Pela minha regra de três seria aproximadamente no dia 5 de fevereiro que o universo iria atingir seu segundo passo evolutivo, a formação de imensas nuvens de poeira cósmica. Na verdade, um monte de coisas estranhas ocorreram nos primeiros segundos do universo: a formação de partículas subatômicas, das forças que regem nosso universo, mas tudo numa fração de segundo, portanto inconcebível ao nosso calendário cósmico 2010. De lá para cá os átomos se formaram lentamente, primeiro os de menor massa atômica, depois os maiores por fusão nuclear e agregação de outras partículas. Também começou a haver a união dos átomos em moléculas e destas em matéria maior. Podemos dizer que hoje, dia 5 de fevereiro, pela primeira vez na história do universo, a matéria aqui contida se reuniu a ponto de ser visível a olho nu.
O universo era povoado neste momento de pequenos cristais chamados poeira cósmica. Cada grão desta poeira mede cerca de 0,1 mm e se aglomera na imensidão. Na eternidade de tempo que nos separa de 18 de julho esses aglomerados irão se adensar até coalescer dando início à formação de todos os astros gigantescos que vemos no espaço hoje. É uma daquelas reações em espiral auto-alimentadas, quanto mais os grãos de poeira se aproximam mais a gravidade os atrai, e quanto mais grãos se juntam mais gravitacionalmente atraentes eles se tornam. Muitas nuvens de poeira cósmica destas hoje são verdadeiros berçários de estrelas.
No entanto, imagine que esta poeira cósmica ainda estava por se unir e formar mesmo a primeira das estrelas. Nenhuma estrela, nem umazinha que fosse! É por isso que este período da história do universo é conhecido como a idade da escuridão. Ainda não havia estrelas na época, mas e hoje, ainda há poeira cósmica? Certamente, ela está por toda parte e existe de diversas naturezas. Há nuvens de poeira cósmica circumplanetário (anéis como os de Saturno), interplanetário (como no cinturão de asteróides que existe entre Marte e Júpiter), interestelar (como as nebulosas) e intergalática. Destas quatro a intergalática deve ser a que mais se assemelha às nuvens de poeira cósmica originais, as outras podem ser resultado da explosão de estrelas, caudas de cometar e colisões de asteróides. Dentro destas nuvens, pelo menos das nebulosas que são o que podemos observar aqui da Terra melhor mas se assemelham mais às primevas, existe um campo radioativo interestelar. Ali há uma grande quantidade de energia que pode virar calor, luz e movimento, um espetáculo interessante de se observar. Se você tiver uma boa luneta pode ter um ligeiro gostinho disto observando as constelações de Orion ou Câncer. Outro espetáculo são as representações artísticas de nuvens de poeira encontrados nos sites de agências espaciais como a da Eta Carina que eu coloquei aí em cima.
Pensamento de segunda
“Em geral o professor aprende mais que o alunos. Bem, com alunos como os meus seria difícil aprender menos do que eles. Sem passar por uma lobotomia do córtex prá-frontal, digo.” (Douglas N. Adams)
Pensamento de segunda
“Teoria maravilhosa, espécie errada.” (Edward Wilson, referindo-se ao marxismo que achava mais digno das formigas)
O adaptativo é ser feliz e mais nada
Outro dia li um artigo do Alex Leal, Editor do jornal Rir & Pensar, uma edição independente distribuída gratuitamente em Brasília, intitulado “O bom é ser feliz e mais nada”. No artigo o Alex se remete a outro publicado na Time pelo Robert Wright, autor de uma das pedras angulares da Psicologia Evolucionista: “O animal Moral”.
Em seu artigo, Wright propõe que tudo o que nos faz feliz assim é por representar uma vantagem adaptativa, ou seja, favorecer nossa sobrevivência, redução dos custos energéticos para realizar tarefas ou acesso à reprodução. Assim, uma bela refeição nos alegra porque nutre e dá energia para encararmos a vida, sexo deixa feliz porque pode levar à reprodução, conseguir um emprego melhor deixa feliz porque vemos nele um salário melhor (sobrevivência), redução das pressões do emprego anterior (redução de custos) e quem sabe até umas colegas de trabalho gostosas (reprodução). De fato, existe uma parte de nosso cérebro responsável exclusivamente pelo mecanismo de recompensas, é a amigdala. Comemos um doce, a amígdala recompensa; beijamos na boca, a amigdala recompensa; corremos, de novo a amígdala; ganhamos dinheiro numa máquina caça-níquel; lá está ela de novo. Aí surgem os desvios, todo vício é uma exacerbação de uma amígdala ansiosa. Obesidade, drogadição, obsessões, todos são resultados desse mecanismo de recompensa nos levando a repetir comportamentos que causaram a felicidade uma vez.
No artigo da Rir & Pensar o Alex protesta que este mecanismo não explica tudo, porém, ele elenca dois exemplos: um homem que permanece fiel a seu time mesmo que ele perca repetidamente e uma mulher que mesmo com calos e dores nas pernas continua usando seu salto alto. Acontece, Alex, que os mecanismos de recompensa não são tão óbvios às vezes. Talvez a maioria das vezes! Isso que nos faz tão interessantes.
Vamos começar pelo exemplo do salto alto, apesar dele causar dor e calos ele gera também dois efeitos, torna a mulher mais alta e aumenta seu bumbum. Ao ficar mais alta uma mulher pode sobressair entre as outras, atraindo o olhar e interesse de um parceiro potencial. Quanto mais pretendentes uma mulher tem, mais opções ela terá para escolher. Nem preciso enfatizar muito o efeito dos saltos sobre o traseiro, né. É que apoiar-se na ponta dos pés faz a mulher projetar-se para a frente, esse desvio postural tem que ser compensado por uma curva mais acentuada na lombar, a famosa lordose, o que resulta em um derrière mais empinado, fator aparentemente utilizado por nós homens para averiguar a idade de uma pretendente, e quanto mais nova, mais fértil. Está favorecido aí o uso do salto alto a despeito de seus custos em dores e calos. Alex, não se preocupe, continuaremos sendo enganados, no último encontro de etologia assisti uma palestra sobre a avaliação da idade de mulheres no qual a pesquisadora sugeriu que (estudos ainda em fase preliminar) determinadas cores de batom podem disfarçar a idade das bocas que o portam.
E quanto ao time de futebol que só perde, mas continuamos fiéis? Bem, primeiro devemos nos perguntar o que é um jogo de futebol. Há um ensaio incrível num dos últimos livros de Carl Sagan no qual ele compara esportes de equipe com guerras ritualizadas. A copa do mundo é uma guerra ritualística em que várias nações se enfrentam e apenas uma sai vencedora, mas é uma guerra segura, sem mortos ou feridos (graves). Uma outra pesquisa feita pelo Instituto de Psicologia Aplicada de Portugal comparou a quantidade de testosterona, o hormônio da agressividade, entre jogadores prestes a entrar em campo e soldados prestes a irem para o front, convenientemente semelhantes. Agora imagine que sua tribo vai a uma guerra, perde uma, duas, dez batalhas, de repente você troca sua tribo derrotada por outra invicta. Não se faz isso, isso não deixa ninguém feliz! Não deixa feliz pelo fato de sermos uma espécie altamente social, dependemos do grupo para a nossa sobrevivência, e virar a casaca assim pode nos trazer grandes problemas com o grupo. Assim, mesmo que nosso time do coração só nos dê desgostos, o fato de não sofrermos sozinhos, de partilharmos nossa dor e podermos contar com outros malfadados como nós nos deixa felizes. Precisamos pertencer a grupos para sermos felizes, nem que seja um grupo de pessoas que apóia um determinado exército numa guerra ritualizada em que a vitória significa colocar um objeto esférico o maior número de vezes dentro de uma área retangular guardada pelo inimigo.
Há coisas muito mais estranhas que nos deixam felizes e lógicas ainda mais retorcidas para identificar qual a vantagem de termos prazer naquilo. Correr 41,2 km dá prazer porque, a princípio, se esforçar fisicamente significava abater mais caças e ter mais alimento. Andar de montanha-russa dá prazer depois que saímos dela porque passamos próximo da morte, mas sobrevivemos. Esses dias um amigo voltou de viagem todo alegre porque tinha acabado de tirar seu pós-doutorado. A titulação não lhe conferiria um salário maior, outro emprego, não favoreceria significativamente a conquista de recursos, era apenas uma patente. Mas a patente é um símbolo carregado de significados, aquele diploma em pele de cabra emoldurado em seu laboratório reconhece a sua tenacidade, sua experiência e sua inteligência, isso sim é felicidade.
Alex, independente de ser adaptativo ou não, o bom é ser feliz. A esperança e a fé são desejos da amígdala de voltar a ter aquele tesão que uma vez nos ocorreu por um coquetel de neurotransmissores que nos invadiram o sistema nervoso, aquele barato licérgico auto-produzido. Repetimos as alavancas que nos deixam felizes, evitamos as que nos deixam tristes. Somos todos ratinhos em uma caixa de Skinner sentimental, sim, mas isto não tira o mérito de nossas alegrias.
Pensamento de segunda
“Se você realmente quer entender alguma coisa, a melhor forma é tentar explicá-la a alguém. Isto te força a organizar a idéia na sua cabeça. E quanto mais idiota forem seus alunos, melhor você terá que despedaçar seu pensamento em fragmentos mais simples.” (Douglas N. Adams)
Pensamento de segunda
Ao meu pai
“Se puder ser demonstrado que qualquer órgão complexo existisse, que não fosse o produto de numerosos e sucessivos passos de pequenas modificações, minha teoria se despedaçaria. Mas eu não conheço tal caso.” (Charles Darwin)
Pensamento de segunda
“Que bela obra de arte é o homem, mesmo preso a uma casca de noz pode sentir-se rei de espaços infinitos.” (William Shakespeare)
Pensamento de segunda
“Quando um homem senta com uma garota bonita por uma hora, lhe parece um minuto. Mas quando senta numa chapa quente por um minuto, lhe parece uma hora. Isso é relatividade.” (Albert Einstein)