Raphael Dias – O Futuro do Doutorado
Raphael Igor Dias é recém-doutor em ecologia pela Universidade de Brasília. Durante o doutorado trabalhou com uma espécie de pica-pau (Colaptes campestres) para tentar responder algumas perguntas associadas à evolução da socialidade e seleção sexual. O trabalho de campo foi inteiramente desenvolvido na Fazenda Água Limpa. Raphael foi financiado por instituições como CAPES, CNPq, DPP-UnB e Francois Vuilleumier Fund da Neotropical Ornithology.
1) O que levou você a procurar a carreira científica? Como isto resultou no ingresso num programa de doutorado?
Ainda durante a graduação em biologia acabei me envolvendo em alguns projetos de pesquisa que despertaram meu interesse em seguir uma carreira acadêmica. No começo do último semestre da graduação, entrei em contato com a Profa. Regina Macedo (UnB) para conhecer a sua linha de pesquisa e discutir possibilidades de mestrado. Essa conversa inicial deu frutos e acabou resultando em seis anos de uma excelente orientação e uma ótima relação pessoal que se mantêm até hoje.
2) Quais os seus planos para sua carreira depois da titulação? Até o momento essa expectativa tem se cumprido?
Meus planos futuros envolvem o ingresso em uma instituição pública para que eu possa manter minhas linhas de pesquisa, continuar publicando e orientar alunos. No momento venho trabalhando com docência em uma instituição particular de nível superior. Nesse sentido, considero que tive muita sorte, pois apesar do mercado estar saturado em algumas regiões do país, consegui ingressar em uma boa instituição logo após o término do meu doutorado.
3) Em linhas gerais, como foi sua rotina de trabalho no doutorado?
A rotina de trabalho durante o doutorado foi bem variável, mas foi composta basicamente de atividades diárias de campo envolvendo busca, captura e marcação de indivíduos, monitoramento de grupos, identificação de ninhos, entre outras. Adicionalmente, eu realizava levantamento de referências bibliográficas, analisava parte dos dados já coletados, participava das aulas da pós-graduação e eventualmente trabalhava em algum projeto paralelo. Durante o período em que eu realizei o doutorado-sanduíche na Universidade de Cornell, a rotina de trabalho foi completamente diferente. Durante seis meses eu trabalhei com análises moleculares com o objetivo de determinar o grau de parentesco entre os indivíduos dos grupos de pica-pau-do-campo, assim como, entender o sistema social e de acasalamento.
4) Quais os problemas que a pós-graduação no Brasil tem encarado?
Acredito que o principal problema que a pós-graduação no Brasil tem enfrentado diz respeito à falta de investimento nas próprias instituições responsáveis pelos programas de pós-graduação. Observamos varias instituições que estão sucateadas e muitas vezes apesar de apresentarem um bom programa de pós-graduação com um renomado corpo docente, não conseguem manter determinadas linhas de pesquisa por falta de recurso. É notável uma melhora nos últimos anos em relação à área de ciência e tecnologia, com aumento de bolsas, novas universidades, mas apesar desse cenário, penso que o Brasil ainda necessita passar por uma mudança de mentalidade em relação à pós-graduação. Essa mudança deveria começar na política do governo, primeiramente valorizando os profissionais que investiram anos em sua qualificação. Essa mudança deveria incluir a abertura de novos postos de trabalho para que um número maior de pós-graduados seja bem utilizado. Por outro lado, uma mudança ainda mais radical deve ser estimulada no pensamento da população brasileira, para que a mesma entenda que a educação é o melhor mecanismo para mudanças efetivas, tanto sociais quanto políticas.
5) Que conselhos você daria a alguém considerando agora ingressar na carreira acadêmica?
Eu acho que é uma área encantadora, que favorece a formação de um senso crítico e proporciona uma visão ampla do mundo, mas que não é fácil! São necessários muito esforço e dedicação.