Calorias

Aparentemente a escolha alimentar não se baseia no valor calórico da mesma…
Pelo menos é o que afirma a “amostra” americana que falou…

RODRIGUES SOLITÁRIO

rodriguessolitaireHá uns tempos, o meu amigo e biólogo Jesus Marugán-Lobon, contava-me que em espanhol existe uma expressão que é “estar de Rodriguez”.
Esta expressão significa que o parceiro/a vai de viagem sozinho/a ou que um dos membros do casal fica a trabalhar enquanto o outro vai de férias com a prole.

Um pouco à semelhança do que acontecia no filme “O pecado mora ao lado (The Seven Year Itch)” onde Marylin Monroe atormenta um desgraçado “Rodriguez” que ficou em NY a trabalhar, enquanto o resto da família goza o prazeres da praia.

Na altura achei piada à expressão “Estar de Rodriguez”, sobretudo devido ao meu apelido, e perguntei-lhe se sabia a sua origem.
Explicou-me que deveria ter estar relacionado com a ave Pezophaps solitaria (solitário-de-Rodrigues, em alusão à ilha de Rodrigues no arquipélago das Maurícias).
Esta ave columbiforme não voava e era aparentada com o Dodó, tendo-se extinguido no séc. XIX.

Achei curiosa esta associação quer ao nome quer ao comportamento.

Alguém sabe mais associações de nomes animais ou plantas a nomes/comportamentos de pessoas?

Imagens – daqui e daqui

NÚMEROS VELHOS

A reportagem, diziam, era especial.
E foi-o.
De uma humanidade que doeu porque relembra o fundamental, esquecido na dormência destes dias.
Contava a história dos pesados do tempo que o são também no país que merecemos.
Famílias que adoptam avós.
Que esse programa social não é mais divulgado e apoiado pelo homónimo Ministério.
5 milhões de euros por ano para 1200 carregados do Tempo.
Para além do nó constante na garganta apenas me soava na cabeça outro número lido pela manhã no jornal Correio.
COMPRA DE 109 VIATURAS NOVAS (para o Ministério da Defesa) CUSTA 2,5 MILHÕES DE EUROS”
Metade.
6 meses de apoio a famílias que adoptam e cuidam dos velhos.
Números.
Apenas isso.

P.S. – dói-me o relembrar da família, que fora desse programa, faz o mesmo que as de acolhimento, sem nada receber do estado.
Apenas pelo dar.

P.P.S. – citando um recente post do Abrupto:
“Isto está de cortar à faca. É um pouco inevitável com a conjugação de três coisas em sequência: um pano de fundo de crise económica e social grave, que gera uma peculiar sensibilidade a questões como a corrupção, e, como na política não há alternativas, tudo desagua num ambiente pastoso, irritado e sem esperança. Hoje, num supermercado, um homem disse-me: ‘Vai haver uma explosão’. Sei lá, alguma coisa vai haver. Não menosprezem os sinais.”

Programa – vídeo (parcial, ainda não disponível na íntegra)
Programa – resumo
Imagem – Steve McCurry/Magnum Photos

OCUPAS

Esta imagem recordou-me um texto que já publiquei há uns tempos e que retomo.

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 04/01/2007)

O período que vai entre o Natal e a Passagem de Ano passo-o entre a família, os amigos e a casa dos meus pais.
É uma altura em que o conceito de lar me diz muito – e acho que também à grande maioria das pessoas.
Aos amigos que vivem em Portugal juntam-se os novos emigrantes – os que saíram com um curso superior, tão diferentes daqueles que há umas décadas abandonavam o extremo oeste da Europa.
Mas essa é outra história.
A que quero hoje contar hoje surgiu de uma conversa com alguns desses amigos, à roda de cervejas, em que se falava de uma associação artística que surgiu e se mantém num squatter de Amesterdão.

Os squatters são prédios abandonados que foram (e são) ocupados por quem não tem abrigo e tiveram origem na década de 60 do século passado, especialmente na Alemanha, Holanda e Inglaterra, embora seja um fenómeno mais ou menos geral nos países desenvolvidos.
Não pretendo dissertar sobre as razões morais, económicas ou legais que estão na origem do squatting. Esta conversa lembrou-me antes os squatters que existem no mundo natural.

O primeiro de que me lembrei foi o caranguejo-eremita (género Pylopagurus).
Este crustáceo, de que existem muitas espécies, quer marinhas quer terrestres, não possui a carapaça típica dos populares caranguejos, apresentando um corpo mole, desprovido de protecção perante os predadores. Este animal desenvolveu, então, um comportamento equivalente ao dos ocupas humanos – aproveita as conchas vazias de gastrópodes. Essas conchas irão servir de “lar” ao caranguejo-eremita, protegendo-o dos perigos do meio-ambiente que o rodeia.

Quando este “ocupa” natural cresce e a concha já começa a “rebentar pelas costuras”, decide aventurar-se de novo no mercado imobiliário disponível – procura uma nova concha, desta vez com um tamanho adequado às suas necessidades.
Este comportamento de adaptação parece ser já bastante antigo, pois conhece-se pelo menos um caso (Paleopagurus) datado do Cretácico inferior (sensivelmente há 130 milhões de anos), em que fossilizaram ambos, hóspede e habitação.

A casa do antepassado dos actuais caranguejos-eremita pertencia a um grupo diferente – era uma amonite – cefalópode extinto há 65 milhões de anos. Interessante é também o facto de a pinça maior (aquela que fica “à porta”) ter variado a sua forma ao longo do tempo.
Assim, este gastrópode manteve um comportamento de aproveitamento de materiais naturais para a sua habitação e adaptou o seu próprio organismo às condições do imóvel natural disponível no mercado!
Mudam-se os tempos, mudam-se as casinhas!

Outro dos exemplos conhecidos de ocupação de casa alheia é o do cuco – Cuculus canorus.
Esta ave apresenta um comportamento peculiar pois, ao contrário da maioria das aves, não constrói ninho. Opta, antes, por colocar os seus ovos em ninhos de outras aves.
Por mecanismos ainda não muito bem compreendidos, as fêmeas-cuco colocam os seus ovos unicamente em ninhos de espécies cuja cor de ovos não seja muito diferente da sua – mimetismo. Fazem-no provavelmente para evitar que os donos dos ninhos os detectem e abandonem, pois as fêmeas hospedeiras podem facilmente reconhecer ovos que não sejam seus.

Depois de eclodirem, os recém-nascidos cucos são muito diferentes das crias legítimas.
Paradoxalmente, os pais-adoptivos não reconhecem esta diferença na prole invasora, criando-os como se fossem seus.
Este comportamento é aparentemente contraditório em termos evolutivos, pois ao fim de alguns dias, e devido ao maior tamanho do cuco, este acaba por expulsar os seus irmãos adoptivos do ninho.
De certeza que as espécies hospedeiras anseiam uma nova lei de arrendamento!
Pais são quem cria!

O lar, seja construído, aproveitado, ocupado ou seja de que forma for, tem um valor muito importante, quer para humanos, quer para os seres vivos.

Referências:

Fraaije, René H. B. 2003. The oldest in situ hermit crab from the Lower Cretaceous of Speeton, UK.Palaeontology, Volume 46, Number 1, pp. 53-57(5)

Lotem, A., Nakamura, H. and Zahavi, A.1995. Constraints on egg discrimination and cuckoo-host co-evolution.Animal Behaviour, Volume 49, Issue 5, pp. 1185-1209.

Langmore, N. E. Hunt, S. Kilner, R. M. 2003. Escalation of a coevolutionary arms race through host rejection of brood parasitic young.NATURE, 6928, pp157-160.

Link to texto original
Imagens:
Philippe Moës (tem imagens belíssimas)
DK Images

Por mão própria…

Notas de Einstein sobre a Teoria da Relatividade.
Em leilão*.

E se naquele momento lhe tivesse faltado o papel?
Se tivesse sido chamado para beber uma cerveja com os amigos?
Ter-lhe-ia aparecido de novo a centelha?

P.S. – * na Christie’s, entre muito outros tesouros da História da Ciência.
Fonte – NY Times
Imagem – Christie’s

Seia, Trás-os-Montes

“Mas é mesmo esse! Olhe, está a ver, queijo curado de ovelha!”.

“Minha cara senhora…Como já lhe disse, este queijo é de Seia e Seia pode ser em qualquer lugar menos ser em Trás-os-Montes!! E o queijo que quero é de Seia e esse preço é de um queijo de Trás-os-Montes!
De maneira que o preço que me está a mostrar não pode ser esse!”

“Pois onde fica Seia não sei…mas o preço é esse!!”, disse-me enquanto me olhava com o desprezo que deve nutrir por preciosistas-geográficos como eu…

Parte de um diálogo trocado com funcionária de um supermercado…

O certo é que o preço não era aquele, Seia regressou à Serra da Estrela e Trás-os-Montes…não ceei nenhum dos seus queijos!

Quem ave nasce…merece voar

Uma ancestral emoção evolutiva deve percorrer o cérebro destas aves…
Quando o pinguim bateu as…asas, quem ficou emocionado fui eu.

Fonte – daqui

Lamechices e papers

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É a minha novela de 3ª, sempre que estou em Portugal.
É daquelas que me recuso a avançar para a pré-descoberta em qualquer site de torrents.
Faz-me sentir sopeiro.
E é também como alguns papers que leio.


Já sei o que vem aí.

Que aquela música, na série, ou gráfico, no paper, estão lá pelo motivo mais fácil.
Mas sem eles, esquecia-me da emoção.

Que aquela senda já foi percorrida.
Mas divirto-me pela forma como lá chegam, pelo tortuoso que é o caminho.

Que algumas personagens ou autores estão lá pelos motivos óbvios.
Ainda assim, sem eles, o gozo não era tanto.

Sobretudo pelo caminho que percorrem e não pelo destino final.

Contar histórias.
Apenas isso. Nos papers e nas novelas.
Nada mais.

A novela é motivo de gozação pessoal para a minha gente.
Os papers são motivo de auto-gozo.

Mas que importa.
É uma hora bem passada.
E menos, nalguns papers.

Lembradura – daqui
Novela – Anatomia de Grey
Papers – nem é bom dizer…


P.S. – no caminho para o Museu de História Natural de Londres passava diariamente por um cartaz com o
McDreamy a anunciar a série. Pensava, “Mas que raio vêem as pessoas nesta série??”.

E agora é isto, auto-exposição embaraçante…
E sim, a minha personagem favorita é a Cristina Yang. Coisas…

Imagem: daqui

Cogumelo Vulcânico

Esta imagem de uma erupção vulcânica no Alasca, em 1990, poderia ser facilmente confundida o início de um apocalipse nuclear…
Mas não…
Ver explicação na fonte.

Fonte – daqui
Imagem – Joyce Warren, 1990 (courtesy of U.S. Geological Survey)

CLAQUES VIRTUAIS

A propósito desta notícia, já ela imbuída no espírito do Euro 2008, relembro um texto publicado anteriormente, na altura referente ao Mundial 2006.

Mundial de Futebol – cangurus, coalas e extinções?

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 10/06/2006)

O Campeonato do Mundo de futebol que se avizinha será um palco de intensos combates. Ao longo de Junho e parte de Julho assistiremos a confrontos entre intervenientes que terão o mesmo objectivo e jogarão com as mesmas regras.
Dos confrontos que se avizinham sairão sobreviventes e extintos; adaptados e inadaptados; momentos de sorte e azar; e, sobretudo, intervenientes que lograrão atingirem os seus objectivos e outros…que nem por isso.
Acima de tudo será um período em que tudo se decidirá e nada ficará como dantes.
O acontecimento que é o Mundial de futebol, pode apresentar algumas analogias, umas mais lineares que outras, com um dos processos fundamentais na História da Terra e dos seres vivos – a Evolução.
Encarando cada selecção como um organismo perceber-se-á que poderemos corresponder os jogadores aos órgãos ou estruturas dos organismos. Cada jogador é especializado numa determinada função e, no Mundial, teremos os melhores para um papel específico em campo – ou talvez não, já sei que falta o Quaresma…
Assumindo esta comparação poderemos então entrar neste momento “evolutivo” que é o Mundial.

“Mundiais” na História da Terra?

Existem momentos na História da Vida na Terra em que se alteram as condicionantes do meio ambiente (alterações climáticas; vulcanismo; impacto de objectos extraterrestres; etc.) ou mesmo as relações estabelecidas entre os próprios seres vivos.
Genericamente esses momentos conduzem a extinções que, em maior ou menor grau, conduzirão ao desaparecimento de espécies animais e vegetais. Para além do efeito directo sobre aquelas que desaparecem, existe igualmente um efeito sobre as que ficam – podem explorar e ocupar mais nichos ecológicos, inclusive os daquelas que foram extintas.
Um destes exemplos foi o que se passou no final do Cretácico com a extinção de muitas espécies, entre as quais os famosos dinossáurios (pelo menos os não-avianos).
Da mesma forma as equipas de futebol, em especial em momentos como o Mundial, também sofrem pressões do seu meio envolvente – desgaste físico; desgaste psicológico; lesões – e terão que gerir as tensões com as suas “armas” – capacidade técnica; rigor táctico; capacidade de se adaptar ao adversário.
Apesar de tecnicamente muito dotadas (por ex. o Brasil), tecnicamente disciplinadas (por ex. a Alemanha) e mentalmente fortes (aqui é mais difícil…), algumas selecções apresentam, por isso, um tipo de jogo muito especializado, por vezes sem capacidade de adaptação ao adversário e/ou às condições ambientes (apoio dos adeptos; temperatura; pressão dos media).
Normalmente estas equipas saem derrotadas em fases de eliminação pois não têm tempo ou engenho para se adaptarem, para corrigirem o que estava menos bem.
Na História Natural existem equivalentes.
A maioria das pessoas já ouviu falar, pelo menos uma vez, em marsupiais – por exemplo o canguru e o coala.
Este grupo de mamíferos, distingue-se, dos mamíferos placentários, de que nós humanos fazemos parte, por os seus descendentes se desenvolverem externamente, numa bolsa da fêmea – o marsúpio.
Os marsupiais surgiram no mesmo momento em que os mamíferos placentários, competindo com estes por nichos ecológicos semelhantes.
A América do Sul apresentou uma fauna variada e diversificada de marsupiais até ao instante geológico em que o Istmo do Panamá se formou – há cerca de 3 milhões de anos, no Pliocénico.
Esta estrutura geográfica permitiu que os mamíferos placentários do norte, até aí isolados dos “primos” meridionais, migrassem para sul. Deste confronto evolutivo ganharam em larga maioria os placentários tendo a maioria dos marsupiais existentes na América do Sul sido extinta – hoje em dia a larga maioria dos marsupiais existentes é proveniente da Austrália, que funcionou como refúgio para este grupo de animais.
Apesar de altamente especializados, os marsupiais não estavam preparados para o “combate evolutivo” com os placentários do norte.
Da forma semelhante, algumas selecções apresentam um “fio” de jogo bonito, tecnicamente muito desenvolvido mas sem capacidade adaptativa para confrontos com equipas tecnicamente menos desenvolvidas. Umas conseguem adaptar-se e superar o adversário. Outras e por diversos motivos não o conseguem.
Há quatro anos atrás encontrava-me em Madrid quando decorreu o jogo EUA-Portugal. A nossa selecção era tecnicamente mais forte; éramos favoritos. Mas tal como os marsupiais do sul, Portugal foi incapaz de se adaptar à mudança; perdemos porque fomos mais fracos fisicamente; porque menosprezámos o adversário; porque, enfim, não fomos capazes de nos adaptar ao “ambiente”.
Esperemos que a espécie “Selecção”, neste Mundial, consiga superar o momento de intensa pressão “evolutiva” a que estará sujeita, e que, após a “extinção” que se avizinha, possa transmitir a sua herança aos descendentes…

Referências:

Erwin, D.H. 2001 Lessons from the past: Biotic recoveries from mass extinctions. PNAS vol. 98 no. 10 5399-5403

Imagens – Veer