“Falsificações” Naturais
Os Executivos são todos iguais.
Estejamos onde estivermos, conseguimos identificar um quadro importante de uma empresa – o vestuário, o calçado e os adereços são semelhantes. Independentemente das diferentes empresas a que pertencem, percursos de vida, educação e anos de carreira, um executivo transmite uma imagem perfeitamente identificável, estejamos em Nova Iorque, Tóquio ou na Bolsa de Lisboa.
Mas para que utilizo eu uma das imagens de marca do capitalismo?
Tal como os executivos adoptam uma imagem semelhante, a Natureza reproduz formas e funções semelhantes em organismos muito diferentes.
Tubarões e golfinhos, ao nível do seu plano corporal, são muito semelhantes, apesar de um ser um peixe e o outro um mamífero, e estarem separados evolutivamente por 400 milhões de anos.
Tubarões e golfinhos podem ser apontados como exemplos de Evolução Convergente – aquisição independente de características físicas semelhantes por parte de seres vivos muito diferentes.
Existem outros exemplos de Evolução Convergente: os membros anteriores das aves, dos morcegos e dos pterossáurios (répteis voadores, parentes e contemporâneos dos dinossáurios) apresentam formas seme lhantes. Embora de grupos diferentes, separados por milhões de anos de evolução, possuem estruturas anatómicas que lhes permitem (ou permitiam, no caso dos pterossáurios) uma mesma função: voar. A locomoção bípede (somente nos dois membros posteriores) evoluiu convergentemente nos humanos e nas aves – nestas surgiu há mais de 200 milhões de anos, nos seus dinossáurios antepassados; nos seres humanos, a transição para a locomoção bípede, há uns meros milhões de anos…
Os leitores e os pombos partilham, convergentemente, este tipo particular de locomoção com alguns roedores, com os cangurus e com alguns lagartos – facultativamente nestes.
Mas qual o “motivo” da Natureza para organismos tão afastados, em termos evolutivos, apresentem estruturas e funções tão semelhantes?
A primeira justificação passa pelos condicionamentos de design e de eficiência orgânica.
Quem não tem muita paciência para cuidar de plantas em casa conhece os cactos. Estas plantas apresentam formas características, adaptadas aos climas desérticos – forma alongada ou arredondada, sem folhas (para não perderem água) e as folhas que possuem estão transformadas em espinhos e tecidos internos capazes de retenção de água. Mas, onde ia eu?
A maioria dos amantes de cactos não sabe é que… está a ser “traída”! Não possuem cactos (família Cactaceae e originários da América do Norte) mas sim plantas da família Euphorbiaceae. Mas a “traição” é justificável… As plantas que consideramos cactos desenvolveram, pelo fenómeno de evolução convergente, formas idênticas às plantas dos westerns. Vivendo em climas igualmente áridos, mas em África, as Euphorbiaceae necessitaram de adaptar a sua estrutura para evitar perdas de água e…”imitaram” os cactos!
A segunda razão, por detrás da evolução convergente, envolve o sucesso da imitação.
Podemos utilizar um exemplo da cultura humana – a música. Já todos nós constatámos que quando um grupo musical tem sucesso logo aparecem vários outros a o imitar. As condições do mercado e do gosto musical num determinado momento são as certas, de maneira que os imitadores também vingam, por se aproveitarem de um modelo vencedor. Na Natureza, a “imitação” estrutural também funciona de uma maneira equivalente. Por exemplo quer os veados quer os cavalos desenvolveram membros finos e esguios, assentes no desenvolvimento do dedo III (central) e redução dos restantes. Estas adaptações permitiam a optimização da corrida. Quer uns quer outros tinham o mesmo tipo de predadores e, ao longo de milhões, desenvolveram anatomias semelhantes.
A Selecção Natural conduziu espécies competidoras de um mesmo ecossistema por trilhos evolutivos paralelos, pois o sucesso evolutivo estava dependente da economia da forma, da função e do design. Todos nós já constatámos que quando um determinado produto tem sucesso comercial, logo aparecem imitações. É o ritmo da sociedade de consumo.
Ainda bem que não existem patentes na Natureza!
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 16/02/2006)
Fósseis – História e mitos populares
Os fósseis ao longo dos tempos nem sempre foram encarados como registo de uma vida passada que permitem reconstituir tudo aquilo que se passou biologicamente no nosso planeta. Associações dos fósseis a acontecimentos históricos bem como tradições e mitos populares de várias partes do mundo são inúmeros. Alguns deles são aqui referidos.
Fóssil deriva do termo fossilis referido pela primeira vez por Plínio, o Velho (23-79 DC). A sua raiz fossus, particípio passado de fodere (i.e. cavar), significa literalmente “o que se extrai cavando“.
Adrienne Mayor refere no seu livro “The first fossil hunters” que na origem da figura mitológica Grifo estarão estado os dinossáurios. Senão vejamos o seu raciocínio: no séc. VII A.C., os gregos estabelecem contactos com nómadas Saka (exploradores de ouro no deserto de Gobi). Estes povos da Ásia central referiam que existia um monstro protector das reservas de ouro que teria cabeça e asas de águia num corpo de leão – é o nascimento da lenda do grifo na cultura grega. Nos anos 20 do séc. XX são descobertos dinossáurios no deserto de Gobi, um dos quais o Protoceratops – dinossáurio com uma projecção craneal semelhante a um bico.
A enorme semelhança de aspecto entre os restos de Protoceratops e a figura mitológica do grifo poderá explicar que os primeiros gregos (desconhecedores dos dinossáurios) tenham tomado conhecimento do seres do mesozóico muito antes de Richard Owen os definir no séc. XIX.
Outro dos exemplos históricos em que o registo fóssil e a história se cruzam diz respeito a Santo Agostinho (Aurelius Augustinus, 354-430 DC).
Em 413, no seu livro A Cidade de Deus, é referido um molar gigantesco atribuído a um gigante ancestral. Como outros autores até aí, pensava que os fósseis eram o resultado do Dilúvio. Acreditava igualmente que os seres humanos haviam diminuído de tamanho ao longo dos tempos. Esse molar seria um vestígio desses tempos em que os humanos apresentavam um tamanho colossal – hoje sabemos que esse molar não é mais do que o resto fossilizado de um parente dos actuais elefantes.
Em relação a um dos fósseis comuns no registo paleontológico português – belemnites – também existem várias crenças populares. As belemnites são o resto fossilizado de seres marinhos semelhantes a lulas e que habitavam o planeta nos tempos dos dinossáurios. Os restos que são preservados apresentam uma forma cónica, parecida com balas. É a sua forma que contribui para que vários povos expliquem a sua origem de maneiras distintas da real – resto de um ser vivo.
A designação inglesa para belemnite é thunderstone (pedra-de-raio) pois pensava-se que resultavam da queda de um relâmpago. No folclore chinês as belemnites são conhecidas como Jien-shih ou pedras-espada. Na Escandinávia aqueles fósseis são vistos como velas de elfos, gnomos ou de fadas. Nalgumas áreas ainda são actualmente designadas de vateljus que em sueco significa literalmente luzes de gnomo.
Outro modo de explicar o aparecimento de fósseis é a sua atribuição a fenómenos religiosos.
As amonites – moluscos cefalópodes marinhos semelhantes aos Nautilóides, existentes em várias afloramentos do país, exs: Figueira da Foz, Peniche.Na zona de Whitby, Inglaterra, considerava-se que eram restos petrificados de cobras que outrora haviam invadido esta área. A praga havia sido terminada por Santa Hilda (614-680 DC), que as transformou em rochas.
Associadas ao deus egípcio Ammon (representado por vezes com cornos retorcidos, de onde deriva o nome amonites), eram encaradas pelos gregos clássicos como símbolos sagrados capazes de curar mordeduras de cobra, cegueira, esterilidade ou impotência. Alguns romanos acreditavam que podiam prever o futuro se dormissem com uma amonite piritizada sob o travesseiro.
Dentes de tubarão fossilizados (geralmente de Carcharodon) eram utilizados como amuletos contra venenos. As designações tradicionais para estes fósseis incluíam Glossopetrae (língua de pedra), Linguae Melitensis (línguas de Malta) ou Linguae S. Pauli (línguas de São Paulo). Esta última é explicada pela seguinte associação entre um facto bíblico e a consequente exploração popular. Como referido em Actos dos Apóstolos (28:2-7), São Paulo, em Malta, foi mordido por uma cobra. Este atirou-a para a fogueira não tendo sofrido qualquer dano físico.
Como castigo divino as cobras terão perdido o seu veneno bem como os olhos e língua ficando para sempre os vestígios preservados sob a forma petrificada.
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 29/09/2005)
Imagens: da Wikipedia, páginas de Belemnites e Amonites.
Rua Cuvier – Paris
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 29/07/2005)
Durante as últimas duas semanas de Julho encontrei-me a estudar as colecções de dinossáurios do Museum National d’Histoire Naturelle (MNHN) em Paris.
Chamou-me a atenção, desde o primeiro dia que aí cheguei, que o MNHN se encontra limitado pelas ruas Cuvier e Buffon. Aparentemente faz todo o sentido esse enquadramento toponímico uma vez serem aqueles dois dos grandes naturalistas gauleses. Cuvier é considerado actualmente um dos fundadores da Paleontologia de Vertebrados (da qual faz parte o estudo dos dinossáurios).
Georges Cuvier (1769-1832) foi contratado para ensinar anatomia em 1785 por Geoffroy Saint-Hilaire, fundador do MNHN, numa época em este museu oferecia uma série de oportunidades a jovens investigadores. Progrediu academicamente tendo obtido a regência daquela cadeira em 1802.
Dizia-me Daniel Goujet, actual responsável pelas colecções do MNHN, que Cuvier criou uma autêntica linha de montagem de dissecação de animais actuais bem como de fósseis que iam sendo recolhidos e trazidos para o museu. A maioria dos fósseis estudados era de vertebrados da bacia de Paris. A análise das estruturas dos diversos esqueletos, permitiu a Cuvier constatar que existiam estruturas nos organismos que se podiam comparar e estabelecer paralelismos, quer ao nível da origem quer ao nível da função.
Os membros anteriores de uma baleia e de um ser humano têm a mesma estrutura e origem, e apesar de terem diferentes funções, constituem estruturas homólogas. Os organismos podem ser assim relacionados com base na sua estrutura interna. Desta maneira se criou os fundamentos da Anatomia Comparada, campo do conhecimento fundamental na paleontologia. Este conjunto de informações obtidas do estudo das estruturas zoológicas pode ser aplicado ao registo fóssil, permitindo estabelecer relações de parentesco entre a diversidade de fósseis.
Por exemplo se um determinado animal apresenta um conjunto de dentes cuja forma, número e disposição é semelhante ao de um actual roedor podemos afirmar que esse animal do passado deveria ter tido o mesmo tipo de alimentação que o actual. Membros de diferentes animais mas com idênticas proporções permitem afirmar, em termos gerais, que esses animais têm o mesmo tipo de locomoção.
Cuvier devido à sua investigação em Anatomia Comparada permitiu que a Paleontologia de Vertebrados tivesse uma das suas principais ferramentas metodológicas.
Não foi unicamente no campo do estudo anatómico que Cuvier se distinguiu. Até aos trabalhos de Cuvier o conceito de extinção não existia. Cuvier ao estudar os restos fossilizados dos Mamutes europeus e dos Mastodontes americanos conseguiu provar que estes animais estavam relacionados com os actuais elefantes e que se haviam extinguido. Esta inferência pode parecer muito elementar mas foi, naquele tempo, uma verdadeira revolução. A extinção das espécies foi referido na sua obra “Discours sur les révolutions de la surface du globe” publicada em 1812.
Cuvier oferecia assim à Paleontologia o seu objecto de estudo. Aquela obra teve implicações filosóficas e teológicas, já que pressupunha que toda a vida na Terra não havia sido sempre a mesma mas, pelo contrário, tinha sofrido alterações e modificações. Essas alterações, segundo Cuvier, foram consequência de eventos catastróficos na história da Terra, seguidos do aparecimento de novas espécies – tinha sido assim formulado o Catastrofismo.
Cuvier introduzira o conceito de extinção que surgia como consequência de cataclismos naturais e em determinados episódios da história da Terra.
Durante os dias em que percorri os espaços outrora de Cuvier não pude de deixar de esboçar um sorriso amarelo quando verifiquei que as galerias de anatomia comparada em que foram desenvolvidos as metodologias da paleontologia são actualmente ocupadas por gabinetes dos serviços administrativos do MNHN…
PATAGÓNIA
“Existem dois motivos para se ir para a Patagónia: a curiosidade ou o lucro.”
George Gaylord Simpson, 1930
Dado que aos paleontólogos o lucro, esse que resulta de um acumular de bens materiais lhes parece estar vedado, somente a curiosidade parece guiar e conduzir a sítios tão inóspitos e inacessíveis como a Patagónia.
Parece que terá sido também a curiosidade, durante a sua famosa viagem no HMS Beagle, a caminho das Galápagos, que terá levado Darwin, em Dezembro de 1833 a desembarcar em terras da Patagónia. Desembarcou em Puerto Deseado, tendo registado no seu diário comentários sobre a natureza do passado geológico desta região.
Darwin concluiu que conchas fósseis que recolheu só poderiam ser encontradas dado, num passado remoto, aquelas paragens terem sido um fundo marinho. As suas observações sobre geomorfologia, geologia do Quaternário e glaciologia da Patagónia e da Terra do Fogo terão provavelmente contribuído para o desenvolvimento da sua teoria evolutiva.
O Museu Nacional de História Natural/Universidade de Lisboa irá participar numa expedição paleontológica na província patagónica de Neuquén durante os meses de Abril e Maio. Será a primeira expedição paleontológica à Patagónia que conatrá com portugueses.
Esta província tem contribuído pelo aumento do conhecimento paleontológico da vida no Mesozóico. Giganotosaurus carolinii, o maior dos dinossáurios carnívoros, foi descoberto em El Chocón, em 1993 por uma equipa de paleontólogos da Universidad Nacional del Comahue e do Museo “Carmen Funes” de Plaza Huincul. Para se ter uma ideia do tamanho gigantesco deste carnívoro, o seu crâneo mede aproximadamente 1,80 metros comprimento, enquanto que o comprimento total do animal se estima em 16 metros.
Os dinossáurios carnívoros mais primitivos que se conhecem – Eoraptor e Herrerasaurus – foram igualmente descobertos na Patagónia. Apresentam características anatómicas que permitem aos paleontógos integrá-los no grupo dos “Senhores do Mesozóico”; foram escavados no oeste da Argentina (formação Ischigualasto) com idade do Triásico superior, cerca de 230 milhões de anos.
Em 1997 foram descobertos ovos com embriões de saurópodes (grupo de dinossáurios de pescoço e cauda compridos) numa jazida designada Auca Mahuevo. Associados aos ovos fossilizados (com mais de 80 milhões de anos) foi possível reconhecer e mapear diversas estruturas identificadas como ninhos. Desta forma confirmou-se que estes dinossáurios apresentavam uma organização social muito complexa, onde existiriam colónias semelhantes às das aves.
Entre os recordes patagónicos conta-se o maior dinossáurio que se conhece e recebeu o nome de Argentinosaurus. Este enorme animal tinha cerca de 40 metros de comprimento podendo atingir as 100 toneladas de peso.
As faunas fósseis argentinas e em especial as da Patagónia, para além das suas particularidades, permitem também aos paleontólogos tentar perceber se existiam as mesmas faunas nos actuais continentes sul-americano, africano e australiano.
Durante grande parte do mesozóico, aqueles continentes encontravam-se unidos numa enorme massa continental a que se dava o nome de Gonduana.
Desta forma, a existência de grupos de dinossáurios semelhantes em continentes actualmente afastados permitem que se perceba como e quando os continentes estavam unidos.
A Patagónia é assim um território ainda inexplorado e que exerce um fascínio enorme no imaginário de grande maioria das pessoas e como se viu com um importante e grande passado geológico.
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 15/04/2005)
O Desmontar da Exposição – Museu Carnegie de História Natural (MCHN)
No estudo de colecções de dinossáurios, qualquer paleontólogo sabe que, por melhores que sejam as condições do Museu, se trabalha num ambiente com muito pó. Já trabalhei em diversas colecções paleontológicas e é uma realidade chegar ao fim do dia com o nariz cheio de poeira. Desta vez, no Museu Carnegie de História Natural (MCHN) a poeira era diferente. Uma pequena camada de pó, diferente do que eu até aí tinha observado, cobria os exemplares que estudava. Durante os primeiros dias especulei para mim próprio quais seriam as razões desse tão pouco habitual revestimento. Pensei no tipo de rochas das quais procediam os fósseis que eu estudava, pensei noutras razões, mas nada aparentemente fazia muito sentido.
Yvonne Wilson, preparadora de fósseis do MCHN, explicou-me então que essa camada que polvilhava todos os exemplares não tinha uma origem natural, mas em dezenas de anos de indústria siderúrgica e nos produtos por ela libertados. Pedia-me desculpa e dizia que Pittsburgh sempre tinha sido conhecida por uma cidade suja, no sentido em que se encontrava constantemente tisnada por essa poeira industrial.
Desde há cerca de 30 anos que Pittsburgh tem perdido população. É actualmente uma cidade bastante mais empobrecida do que num passado recente. São as consequências do gradual desaparecimento das indústrias metalúrgicas nos países desenvolvidos.
Poderá parecer um pouco exagero da minha parte, mas desta vez tinham sido os ossos fossilizados a revelarem-me um pouco da história de uma cidade e dos seus habitantes …
Enquanto trabalho com os exemplares de dinossáurios no MCHN, para além de todos os pensamentos científicos que têm que estar presentes, não podia deixar de sentir toda a história de trabalhos de pesquisa, recolha e prospecção feitos nos finais do século XIX e início do século XX.
Foi todo esse esforço que me permite e a outros paleontólogos, actualmente, desenvolvermos a nossa investigação.
Há como que duas histórias a decorrerem no meio deste “filme”: a história biológica dos animais extraordinários que foram os dinossáurios, uma história com mais de 150 milhões de anos; outra, a dos exploradores e investigadores que há mais de 100 anos, fascinados e atraídos pela descoberta, iniciaram uma verdadeira odisseia em busca do entendimento do passado da Terra.
Quando foi inaugurado, no dia 11 de Abril de 1907, o Museu de História Natural Carnegie, na altura Instituto, foi um dos primeiros museus a ter um dinossáurio completo montado e exposto.
O MCHN foi criado por Andrew Carnegie, milionário, que ficou fascinado pelas evidências da vida passada. Durante os últimos cem anos, Carnegie apoiou a ciência e a cultura tendo sido o fundador de uma rede de bibliotecas públicas que actualmente serve a população americana. Para além do já referido museu de História Natural, Carnegie fundou o Museu de Arte Carnegie, o Museu de Ciência e o Museu Andy Warhol, todos em Pittsburgh.
Os dinossáurios foram o “motor de arranque” para toda uma investigação científica que foi, é e (espero) continuará a ser levada a cabo pelo Museu Carnegie de História Natural. Mas a investigação científica não se limitou à paleontologia – paleontologia de mamíferos, botânica, zoologia, genética entre outras foram áreas do conhecimento que beneficiaram do fascínio que os enormes animais exerceram, primeiro sobre Andrew Carnegie, e depois sobre gerações de americanos que visitaram o MCHN.
Tive o prazer e a honra de ser o último investigador a estudar os ossos fossilizados de Apatosaurus e de Diplodocus, tal como estavam montados desde 1907.
No dia em que acabo este artigo inicia-se o desmontar da exposição – nos próximos dois anos, os dinossáurios que “acompanharam” a vida de gerações de americanos vão ser retirados como momento inicial de uma nova exposição paleontológica a ser inaugurada em 2007. Nos próximos dois anos vão “repousar” e ser preparados. Regressarão à exposição segundo os mais recentes conhecimentos paleontológicos (postura, enquadramento ecológico passado, etc).
A renovação ascenderá a 35 milhões de dólares mas como qualquer empreendimento deste tipo levado a cabo nos EUA não deixará de render e trazer dividendos, quer económicos quer científicos.
Não posso deixar de pensar que a divulgação e cultura científica podem render benefícios, não só a longo prazo, por intermédio de uma sociedade cientificamente mais culta, mas também a curto prazo constituíndo mais uma oferta no cada vez maior mercado do lazer.
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 18/03/2005)
O mamífero que comia dinossáurios
O mamífero que comia dinossáurios
Em 2003 agricultores chineses descobriram dois esqueletos de um tipo do animal nunca antes visto: um mamífero do tamanho de um cão que viveu há 135 milhões de anos.
A descoberta revoluciona o conhecimento actual de que os mamíferos mais desenvolvidos da época dos dinossáurios não eram do tamanho de pequenos roedores.
No interior de um dos esqueletos – onde foi outrora o seu estômago – os paleontólogos encontraram um conjunto de minúsculo dos ossos, os restos que pertenceram a um pequeno dinossáurio de aproximadamente 13 cm de comprimento – o Psittacosaurus.
Os cientistas dizem que o achado irá provocar a reavaliação dos actuais conhecimentos sobre as relações entre mamíferos e dinossáurios durante o Mesozóico – os mamíferos afinal não eram os seres indefesos e minúsculos que até hoje se pensava.
Os fósseis, classificados como Repenomamus, foram encontrados na província de Liaoning na China, uma região que tem fornecido numerosos fósseis originais nos últimos anos. Esta descoberta aparece publicada no jornal científico Nature.
Os mamíferos, tradicionalmente encarados como pequenos e periféricos na evolução dos vertebrados do Mesozóico são, em face desta nova descoberta, olhados com outros olhos – já imagino a satisfação e os sorrisos dos meus colegas paleontólogos que estudam mamíferos, que agora já têm também as suas estrelas nos “combates” jurássicos!!
Os mamíferos procuravam e consumiam aquilo que podiam (à semelhança do que acontece actualmente), até dinossáurios. Alguns dos nossos antepassados de maior dimensão competiam com os dinossáurios por territórios e alimentos. Nem sempre os leões são os reis da savana tal como os dinossáurios não eram os senhores absolutos do Mesozóico!
Outras mudanças importantes no conhecimento científico da História da Vida no obrigaram a rever conceitos anteriormente estabelecidos. É o caso da descoberta do Celacanto na década de 40 do século passado. Até esse momento pensava-se que este peixe estava extinto, limitando-se os investigadores a analisarem o seu registo fóssil. O Celacanto é considerado actualmente um fóssil vivo pois, ao longo dos últimos milhões de anos, não apresenta diferenças anatómicas significativas com os seus parentes actuais.
Um outro caso de como os conceitos científicos são alterados diz respeito aos dinossáurios saurópodes. Estes animais de enorme tamanho e peso, com caudas grandes, foram, nos primórdios da Paleontologia, descritos como animais que necessitariam viver semi-imersos em ambientes aquáticos (um pouco à semelhança dos hipopótamos). Este facto era devido à sua enorme massa corporal que, segundo os cientistas do início do século passado, os impediria de viver em terra firme. Hoje em dia, graças aos estudos de biomecânica e de análise das suas pegadas, sabemos que eram animais dinâmicos e activos, deslocando-se um pouco como os actuais elefantes e não estando confinados a viverem mergulhados na água
A Paleontologia, tal como outros campos da Ciência, é feita de revisões, de avanços e mudanças de rumo, de olharmos a mesma coisa com olhos diferentes ou com os mesmos olhos olharmos novas coisas.
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 24/01/2005)
(A)casos nas descobertas paleontológicas
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 20/01/2005)
A “caça” do fóssil é o mais fascinante dos desportos.
Apresenta algum perigo, suficiente para lhe dar interesse e provavelmente tanta como a caça grossa praticada por armas modernas; o perigo, no entanto, ameaça só caçador.
Apresenta incerteza, emoção e todos os sentimentos de um jogo, sem nenhum dos seus vícios.
O caçador nunca sabe o que é que vai trazer da sua jorna, talvez nada, talvez uma criatura nunca antes vista perante olhos humanos.
Requer saber, habilidade e uma certa resistência.
E os seus resultados são muito mais importantes, mais úteis e mais duradouros do que nenhum outro desporto!
O caçador de fósseis não os mata: ressuscita-os.
E o resultado desse desporto é acrescentado à soma dos prazeres humanos e aos tesouros do conhecimento da Humanidade.
George Gaylord Simpson (paleontólogo americano 1902-1984)
Uma das perguntas mais frequentes que me surgem no final das palestras sobre dinossáurios e paleontologia é a de “Como são descobertos os dinossáurios?” ou “Como é que sabem onde escavar?“.
Dependendo da faixa etária da assistência a que me dirijo a resposta mais simples e ortodoxa é normalmente a utilizada. Antes de mais os paleontólogos “procuram” nas rochas com idade e características certas. Não procuram dinossáurios em rochas muito recentes (posteriores ao Mesozóico – menos de 65 milhões de anos (MA), data para a extinção daqueles animais); também não fazem prospecção em rochas com características inapropriadas – os paleontólogos não gostam muito de rochas ígneas ou de metamórficas pois não contêm fósseis. Acrescento ainda que depois de termos a idade e características adequadas, a descoberta de um novo exemplar é um trabalho de muita paciência, metodologia e persistência.
Por último, e para animar as hostes, refiro alguns exemplos de grandes descobertas paleontológicas em que estão presente outros factores nunca referidos nas publicações científicas – o acaso, a coincidência ou mais simplesmente uma diferente forma de olhar.
Os designados Xistos de Burgess constituem as rochas das jazidas do Câmbrico médio (540 MA) do Canadá. Esta jazida é de extrema importância a nível evolutivo pois o seu registo paleontológico permitiu que se conhecessem os primórdios da diversificação dos planos corporais dos animais ocorridos no evento chamado a Explosão do Câmbrico. A preservação dos fósseis nesta jazida é tão boa que se identificam os tecidos moles dos organismos. Para uma melhor compreensão da enorme importância evolutiva desta jazida deve ler-se o excelente livro “A Vida É Bela” de Stephen Jay Gould, editado pela Gradiva.
Esta jazida foi estudada desde 1910 pelo paleontólogo americano Charles D. Walcott.
Diz a lenda que, em 1909, o cavalo de Walcott escorregou tendo feito cair um bloco. A atenção do paleontólogo foi desperta, que reconheceu imediatamente que se encontrava perante uma nova espécie – o artrópode Marella splendens.
Entre os diversos exemplares descobertos nos anos seguintes contam-se animais com formas tão exóticas como Anomalocaris, Hallucigenia e Opabinia.Uma das mais importantes descobertas do registo evolutivo dos animais, foi iniciada não de uma forma sistemática mas de uma maneira casual.
Nalguns casos não é sorte mas antes olharmos para as mesmas coisas com outro olhos.
É aceite na prática que pegadas (icnitos) e ossos de dinossáurio não são encontrados simultaneamente nas mesmas jazidas. Este facto é justificado pelas condições necessárias de fossilização (tafonómicas) aos dois tipos de registos serem diferentes. Assim, normalmente quando se prospecciona uma de ossos de dinossáurio (jazida osteológica) não se presta muita atenção aos potenciais restos icnológicos (pegadas) e vice-versa.
Phillip Currie, Curador do Royal Tyrrel Museum do Canadá, contou-me quando estive na Patagónia em trabalho de campo, que por vezes a mesma jazida pode oferecer diferentes tipos de informações. Este investigador liderou diversas expedições à Mongólia, tendo efectuado descobertas importantes ao nível de ossos de dinossáurio. Em 2001 e trabalhando na Formação Nemegt no sul do deserto do Gobi, foram identificadas diversas pegadas de dinossáurios distintos. O curioso é que, para além do próprio Currie, já outros paleontólogos e expedições tinham examinado esta área – desde a década de 50 do séc. XX várias expedições russas, polacas, americanas e canadianas – sem nunca se terem encontrado vestígios de pegadas. Depois da primeira pegada descoberta, foram imediatamente identificadas dezenas!
Dizia-me Phillip Currie que por vezes devemos esquecer as condicionantes prévias e olhar para as mesmas coisas com olhos diferentes.
Para meu desgosto quando se acabam as explicações sobre como descobrir fósseis ou dinossáurios, em particular, fico sempre com a sensação que os exemplos de aleatoriedade que dei são considerados mais como regra do que como excepção…
O CANÁRIO DO MINEIRO OU A SEXTA EXTINÇÃO
Há cerca de 10 anos, deambulava eu numa livraria de Edimburgo quando encontrei um livro de um dos mais importantes paleontólogos e evolucionistas ainda vivos.
O livro “The Miner’s Canary. Unravelling the Mysteries of Extinction”, custou-me apenas uma libra e foi escrito por Niles Eldredge. Este paleontólogo, que em conjunto com Stephen Jay Gould, propôs, na década de 70 do século passado, uma das mais importantes teorias revisionistas da Evolução – O Equilíbrio Pontuado. O Professor Eldredge trabalha há mais de trinta anos no American Museum of Natural History (AMNH), em Nova Iorque, como Curator de Invertebrados. Desde o primeiro dia em que cheguei ao AMNH, para desenvolver a minha investigação em dinossáurios, tive o título desse livro a martelar-me na cabeça. Passava todos os dias pelo corredor onde se localizava o gabinete do Doutor Eldredge e sempre o quis questionar da razão de se ter lembrado de esse título…
O título surgiu de uma costume dos mineiros do século XIX e início do século XX. Essas aves eram transportadas, em gaiolas, para as profundezas da Terra para auxiliarem na detecção de concentrações anormais de gases perigosos (metano, monóxido de carbono, etc.). Quando, devido à actividade mineira, esses gases eram libertados, os canários eram os primeiros a os detectar, comportando-se de uma forma anómala (deixavam de cantar e ficavam nervosos, chegando alguns a morrer). Assim, os mineiros já sabiam que algo de errado se passava com o ambiente de mina, podendo fugir em segurança.
Niles Eldredge utiliza, metaforicamente, essa tradição para nos lembrar que as alterações provocadas na biodiversidade dos actuais ecossistemas pelo Homem têm necessariamente consequências sobre tudo e todos.
Apesar de estarmos familiarizados com a palavra extinção e sermos capazes de identificar as suas causas, extinções e desaparecimentos biológicos em grande escala não são uma novidade na História da Terra.
As Extinções em Massa são acontecimentos em que, num curto espaço de tempo geológico, grande quantidade de formas de vida desaparece a nível planetário.
Fenómenos assim designados foram diversos, mas os mais importantes (em quantidade de espécies e número de ecossistema afectados) são cinco:
Ordovícico (440 milhões de anos; desaparecimento de 57% de espécies marinhas, uma vez que a vida em ambientes terrestre ainda não se havia desenvolvido) – a segunda extinção mais devastadora para os ambientes marinhos; um terço de todas as famílias de braquiópodes e briozoários, bem como inúmeras famílias de conodontes, trilobites, graptólitos e corais.
Devónico (370 milhões de anos) Desaparecimento de 75% das espécies marinha entre corais rugosos e várias espécies de trilobites e amonites.
Pérmico/Triásico (250 milhões de anos – 60% de desaparecimento de todas as espécies e 75 a 90% das espécies marinhas). Nesta extinção, por exemplo, desapareceram todas as espécies de trilobites bem como diversos grupos de vertebrados terrestres. Actualmente pensa-se que na sua origem terá estado uma enorme actividade vulcânica. Esta actividade, para além do efeito directo das lavas (cerca de 2000000 km3 (!) em menos de um milhão de anos) terá libertado igualmente uma imensa quantidade de gases para a atmosfera que contribuíram directamente para importantes alterações climáticas. Efeitos indirectos dos gases libertados foram as alterações na composição química, circulação e oxigenação dos oceanos. As mais recentes investigações apontam igualmente para uma possível queda de um meteorito.
Triásico/Jurássico (200 Milhões de anos – 45% de todas as espécies). Esta extinção é uma das menos conhecidas e terá feito desaparecer, entre outras, grande quantidade de espécies de dinossáurios “primitivos”.
Cretácico/Terciário (65 milhões de anos – 75% de fauna e flora, entre os quais todos os dinossáurios não-avianos e amonites). Esta é uma das extinções mais bem estudadas e conhecidas, estando na sua génese o impacto de um meteorito e fenómenos de vulcanismos intenso.
O registo paleontológico “diz-nos” que após cada evento deste tipo se dá um rápido desenvolvimento de novas linhagens biológicas. É comummente aceite que o desaparecimento dos dinossáurios terá facilitado o desenvolvimento e diversificação dos mamíferos. Este pequeno exemplo permite constatar que os acontecimentos de extinção de enormes quantidades de seres vivos facilitaram o desenvolvimento de outros grupos biológicos, entre os quais os próprios seres humanos.
Num inquérito recentemente efectuado entre biólogos, paleontólogos e evolucionistas, sete em cada dez afirmam que está a ocorrer mais uma das grandes extinções – a Sexta Extinção em Massa. Esta extinção tem como principal causa um único ser vivo – Homo sapiens – e será provavelmente a mais devastadora das que a precederam.
São referidos números distintos mas é unânime que os números avançados em 1993 por E.O. Wilson – que cerca de 30000 espécies desaparecem por ano – se encontram desactualizados, mas em por defeito…
Ao contrário das outras cinco, a Sexta Extinção caracteriza-se por enormes transformações da paisagem, sobreexploração das espécies (animais e vegetais), poluição e introdução de espécies estranhas a determinados ecossistemas (por ex. acácias introduzidas em Portugal). A redução da diversidade biológica regista-se a uma taxa nunca antes testemunhada no nosso planeta – em quantidade e rapidez com que está a ocorrer. A título de exemplo, entre as cerca de 10 000 espécies de aves que actualmente se conhecem cerca de 1200 estão seriamente em risco de extinção.
Porque devemos preocupar-nos que uma espécie de anfíbio da América do Sul se extinga?
Para além de nos inquietar a redução do património genético e consequente “ataque” à biodiversidade, esse desaparecimento é uma mensagem especial.
Deve fazer-nos lembrar que esse anfíbio pode ser o nosso Canário do Mineiro, que lhe devemos prestar atenção correndo o risco de, se o não fizermos, colocarmos a vida na Terra num futuro mais do que minado…
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro em Outubro de 2004)
Para quê estudar Dinossáurios e outros fósseis que tais?
“Tenho tanta curiosidade da Terra…traz-me coisas da Terra.”
Este trecho do livro “A Menina do Mar”, de Sophia de Mello Breyner, paradoxalmente ou não, fez-me pensar que nos tempos que correm é cada vez mais difícil explicar às pessoas o porquê e para quê serve a Paleontologia.
A Paleontologia não é uma história da vida que esteja escrita nos manuais e nos artigos científicos da especialidade; é contada antes pelos fósseis e pelos estratos rochosos. Estes, são pequenos fragmentos de uma história muito maior e complexa que necessita ser interpretada e explicada. É aqui que a Paleontologia poderá ir buscar motivos para a sua existência. Certo é que os fósseis existem por si; poder-me-ão dizer que não necessitam de mais explicações. A verdade é que eles ganham “vida” quando os colocamos no “sítio” certo, no “filme” que foi, é e (provavelmente) será a vida neste planeta. Este filme, apesar de cada vez mais completo, nunca passará de um conjunto pequeníssimo de fotogramas.
É a Paleontologia que faz a análise do “filme projectado” ao longo dos milhões de anos da história da Terra. Este “filme” da vida ora acrescentou ora fez sair de cena personagens da trama, de uma maneira acidental e imprevisível, condicionando evolutivamente a actualidade biológica.
A Paleontologia vai buscar as suas ferramentas quer à Biologia quer à Geologia. Esta ciência, ao contrário da biologia ou química, não é uma ciência experimental. Os paleontólogos raramente são capazes de testar as suas hipóteses através de experiências laboratoriais; contudo, e apesar disso, conseguem testá-las.
A descoberta de Archaeopteryx (fóssil animal do Jurássico que “representa” um dos elos de transição evolutiva entre os dinossáurios e as aves, com características anatómicas de ambos) fez ampliar a hipótese, já anteriormente proposta, da relação de parentesco entre aqueles grupos animais. Descobertas posteriores, especialmente as feitas no séc. XX, vieram acrescentar mais provas ao processo hipotético-dedutivo de testagem daquela hipótese.
As comparações feitas por Georges Cuvier no século XIX entre os Mamutes e os elefantes actuais não proporcionaram apenas evidências das extinções em massa (acontecimentos originados por causas geológicas, biológicas ou mesmo extra-terrestres que originaram o desaparecimento em grande escala de fauna e flora); originaram igualmente implicações sócio-políticas, em que revolução e substituição eram mensagens implícitas. Deste modo a história da Terra e a das nações pareciam sofrer de processos semelhantes.
Os fósseis são parte das “coisas da Terra” que nos são contadas… Dão-nos a conhecer o que não podemos experimentar pelos sentidos – o passado, o desaparecido, aquilo que foi, quando não estávamos cá.
Ao longo dos próximos artigos iremos contar pequenas histórias que a Terra nos deixou preservadas nas rochas.
(Publicado no jornal Diário de Aveiro em Agosto de 2004)
Imagem: (“A menina e o mar” ©2005-2007 renatoalvim)