Entre os 36 e os 38ºC…

ResearchBlogging.org…era a temperatura corporal dos dinossauros, pelo menos de alguns.
Estes dados foram obtidos através de termometria isotópica, onde se analisa a composição química dos dentes e daí inferindo estes parâmetros fisiológicos.
Demais informação apenas quando tiver acesso ao artigo…
“Abstract
The nature of the physiology and thermal regulation of the nonavian dinosaurs is the subject of debate. Previously, arguments have been made for both endothermic and ectothermic metabolisms based on differing methodologies. Here, we used clumped isotope thermometry to determine body temperatures from the fossilized teeth of large Jurassic sauropods. Our data indicate body temperatures of 36 to 38°C, which are similar to most modern mammals. This temperature range is 4 to 7°C lower than predicted by a model that showed scaling of dinosaur body temperature with mass, which could indicate that sauropods had mechanisms to prevent excessively high body temperatures being reached due to their gigantic size.”

Referência:
Eagle, R., Tutken, T., Martin, T., Tripati, A., Fricke, H., Connely, M., Cifelli, R., & Eiler, J. (2011). Dinosaur Body Temperatures Determined from Isotopic (13C-18O) Ordering in Fossil Biominerals Science DOI: 10.1126/science.1206196

Sornas e viagens espaciais

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 01/11/2007)
Apesar de muito desejada, a hibernação não passa de um desejo inatingível pelos humanos. Já demos por nós, várias vezes e em alturas de maior cansaço, a cobiçar dormir por vários dias. Desligar e apenas descansar. Passar pelas brasas de forma longa e continuada.
Mas a hibernação é muito mais do que um simples dormir.
Pode definir-se como um estado em que o animal tem uma substancial redução quer na temperatura corporal quer nos gastos energéticos bem como na taxa cardíaca. A redução térmica verificada em animais que hibernam pode atingir mínimos de 5ºC – temperatura semelhante ao interior de um frigorífico, na zona dos vegetais.
A redução de gastos energéticos nos animais que hibernam pode atingir o 1% do habitual embora o mais habitual sejam reduções energéticas para níveis dos 10-20% do normal.
Era tão bom poder, da mesma forma, entrar em “hibernação” de despesas …
Os animais que utilizam esta estratégia fisiológica fazem-no com diversos objectivos: sobreviver em locais que apresentem Invernos com temperaturas muito baixas e/ou em alturas do ano em que a disponibilidade de alimentos seja baixa.
Previamente à hibernação verifica-se grande consumo alimentar pois os animais pretendem acumular gordura com vista à época de carestia que se avizinha.
Mais uma vez o paralelismo para a sociedade humana poderia ser estabelecido…

Um estudo, a ser publicado em Novembro, refere que um marsupial é capaz de hibernar mais de um ano; concretamente foram 367 dias em letargia fisiológica.

O Cercartetus nanus alimenta-se de néctar e insectos sendo arborícola, i.e., habita nas árvores, de zonas quentes e húmidas do sudoeste australiano. Ao contrário da maioria de outros mamíferos que hibernam para fazer face a baixas temperaturas, o Cercartetus fá-lo quando a carência alimentar surge pelas imprevisíveis condições climatéricas australianas. Este animal apresenta uma enorme capacidade de armazenamento alimentar, sob a forma de gordura, que lhe proporciona, em qualquer altura do ano, entrar em torpor fisiológico.

Contrapondo-se aos registados 367 dias do Cercartetus já tinha sido observado um período de 342 dias em Zapus princeps, um roedor norte-americano.

Poderá questionar-se o leitor sobre o interesse prático destes recordes de inércia…
Para além do conhecimento da diversidade de estratégias no mundo animal, o estudo dos mecanismos fisiológicos utilizados por estes animais poderá contribuir para que viagens espaciais muito longas (até Marte, por exemplo) sejam feitas pelos astronautas em condições parecidas. A redução da actividade fisiológica possibilitará que a viagem seja feita de maneira mais confortável bem como, factor fundamental em viagens espaciais, reduzir as reservas de alimentos, água e oxigénio necessárias a tão longa viagem.
Para ajudar neste processo investigadores da Universidade da Carolina do Norte descobriram dois genes responsáveis pela regulação, em esquilos, de como os organismos usam as reservas energéticas. Estes genes, apesar de envolvidos noutros processos, estão também presentes nos seres humanos.

Referências:
Andrews, M. T., Squire, T. L., Bowen, C. M. & Rollins, M. B. 1998. Low-temperature carbon utilization is regulated by novel gene activity in the heart of a hibernating mammal. Proc. Natl. Acad. Sci. USA Vol. 95, pp. 8392–8397.
Geiser, F. Yearlong hibernation in a marsupial mammal. 2007. Naturwissenschaften 94:941–944
Geiser, F. 2004. Metabolic rate and body temperature Reduction during hibernation and daily torpor. Annu. Rev. Physiol..66:239-274.

Imagens: primeira imagem Cercartetus nanus – essa e as outras – links nas fotos