Asas Velhas

Megatypus schucherti_wing (Small).jpg

De um tempo em que não eram aves ou mamíferos os voadores.
Outros cavalgavam os ventos, em florestas cerradas.
Com alas imensas.
Ventos passados, outras asas.
“The largest insect to have ever lived was Meganeuropsis permiana, from the Early Permian of Elmo, Kansas, and Midco, Oklahoma (…). This magnificent griffenfly attained wingspans of approximately 710 mm, which dwarfs the largest odonates found today. Protodonatans were almost certainly predaceous, as all nymphal and adult odonates are today.
Most fossils of these insects consist only of wings, but among the few preserved body parts are large, toothed mandibles, enormous compound eyes, and stout legs with spines, thrust forward in a similar manner to Odonata – all indicative of their being aerial predators.”

Evolution of Insects, pp. 175-176

Referrências:
David Grimaldi and Michael S. Engel. Evolution of the Insects. Cambridge University Press 2005

Imagem:
Megatypus schucherti (Meganeuridae: Protodonata), Evolution of the Insects.

Lâminas, Insectos e F1

ILUSTRACAO_LV_INSECTOS_LAMINAS_F1 (Large)(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 24/01/2008)
A formação paleontológica desperta frequentemente as questões que abordo.
Não foi o caso desta vez.
Estava eu em frente ao espelho, a preparar-me para a árdua e sisífica tarefa que pesa na vida de qualquer homem, o barbear, quando olhando existencialmente para as lâminas de corte me ocorreu o seguinte: “Mas estes tipos não param de aumentar o número de lâminas? Não haverá limite?”
Um flash da infância passou-me diante dos olhos – carros de F1 com seis rodas. Daí aos insectos foi um instantinho.
E agora, que faço eu com estes temas, pensei?
Ok, a Internet está cá para isso, pelo menos para as lâminas e F1, daí que comece antes com os conhecimentos da “casa”.
As seis patas de qualquer insecto (sim, as aranhas com as suas oito patas, não são insectos) são o resultado da sua história evolutiva.

Mas e seis patas resultam?
O caminhar de um qualquer elemento dos Hexapoda (literalmente 6 pés) envolve o levantar das duas patas extremas de um dos lados e a do meio do lado oposto, sendo este movimento completado com o baixar posterior para “empurrar” o animal; ao mesmo tempo, as outras três patas funcionam como um tripé de apoio. O ciclo completa-se com o movimento idêntico do outro lado. Por outras palavras, o andar de um insecto resume-se a apoio sequencial e alternado de “tripés”.

Manter o equilíbrio é fundamental em qualquer animal em movimento. E quanto mais pequeno mais difícil. Parece paradoxal que um animal pequeno tenha mais dificuldade em se equilibrar do que um grande, mas se pensarmos que equilibramos mais facilmente um pau grande do que um pequeno na ponta de um dedo, talvez entendamos melhor.

Assim, uma pata pequena será mais difícil de equilibrar que uma grande sendo o “modelo tripé” ideal para os insectos. O registo dos primeiros insectos data de há cerca de 390 milhões de anos, e parecem descender de artrópodes com muitas pernas em que se verificou posteriormente uma redução até às típicas seis, podendo aquele modelo de locomoção ter condicionado o seu sucesso evolutivo.

Ao contrário dos insectos, que apresentam condicionamentos evolutivos, as lâminas de barbear parecem ter outras limitações. Na minha breve história de vida, tenho assistido a um aumento no número de lâminas. Primeiro era uma lâmina, depois passaram a duas, três e agora já existem modelos com cinco bocados de metal capazes de nos cortarem as carótidas!
Mas para quê?
Marketing, dirão uns. Optimização do processo, dirão outros. A verdade é que desde 1971 (excelente ano, diga-se de passagem), quando a Gillete lançou o seu primeiro modelo com duas lâminas, o mercado destes utensílios tem assistido a uma corrida no número de lâminas.

Similarmente aos insectos, que possuem seis estruturas locomotoras, existiu uma fase na história da F1 em que os veículos apresentaram igual número de rodas. Nos anos 70 do século passado, várias equipas desenvolveram modelos experimentais com seis pneus. O mais conhecido e único que entrou em competição, o Tyrrell P34, foi seguido pelos March 2-4-0, Williams FW08B e o Ferrari 312T6, embora nenhum destes tenha alguma vez competido numa prova oficial. A história do P34 conta-se de forma breve: o engenheiro responsável, em 1976, tentou reduzir o atrito com o ar por intermédio da diminuição do tamanho das rodas dianteiras; parecia simples, mas o facto é que o carro perdeu estabilidade, tendo este facto sido resolvido pelo adicionar de mais um par de rodas…
O facto é que esta “revolução” não foi muito bem sucedida, caso contrário tinha-se generalizado. A “selecção natural” do desporto automóvel extinguiu os carros de seis rodas, tivessem eles dois pares de rodas na dianteira ou na traseira, porque não eram viáveis ante os de quatro.
E onde estabilizará o número de lâminas?

Referências:
Gaunt, M. W. and Miles, M. A. 2002. An Insect Molecular Clock Dates the Origin of the Insects and Accords with Palaeontological and Biogeographic Landmarks. Molecular Biology and Evolution 19:748-761.
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Gillette_Company
http://www.f1nutter.co.uk/tech/6wheels.php

Imagens:
Ilustração inicial para este post de Luís Veloso – Intertoon.
IStockPhoto
e daqui