María Zambrano (1904-1991) foi uma filósofa espanhola e a primeira mulher a ganhar o prêmio Miguel de Cervantes, importante prêmio literário espanhol. O trabalho de Zambrano é plural, cujo fio é o desejo de fundir filosofia à poesia e à religião.
O verbete escrito por Nara Rela apresenta os dados biográficos de Zambrano, tais como o seu exílio e a sua transformação enquanto escritora, que passa a refletir criticamente sobre a posição da mulher na sociedade espanhola. Ao mesmo tempo, Zambrano não abandona as suas questões metafísicas, se aproximando cada vez mais da mística.
Quer saber mais sobre o verbete María Zambrano escrito por Nara Rela? Você pode acessá-lo aqui, além de conferir a entrevista que a nossa editora Carolina Araújo realizou com a autora do verbete, no dia 14 de abril às 18h, pelo Youtube, disponível nesse link.
Nara Rela é economista, doutora em Filosofia pela Pontificia Univerisità Gregoriana (UNIGRE-Itália) e mestre em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE-Brasil).
María Zambrano
(1904-1991)
por Nara Lucia de Melo Lemos Rela
Economista, doutora em Filosofia pela Pontificia Univerisità Gregoriana (UNIGRE-Itália), mestre em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE-Brasil) – Lattes
María Zambrano Alarcón, primeira mulher a receber o prêmio “Miguel de Cervantes”, nasceu em Vélez-Málaga, Espanha, em 22 de abril de 1904. Era filha de Blas Zambrano (1874-1939) e Araceli Alarcón (1878-1945), ambos professores da Escola Graduada de Velez-Málaga, onde o pai também era diretor.
Em 1909 mudou-se para Segóvia, quando seus pais assumiram novos postos. Publicou seu primeiro texto em 1918 em uma revista editada pelos antigos alunos do Instituto San Izidro de Madri, no qual fazia reflexões sobre a guerra que assolava a Europa.
No período de 1924-1927 frequentou a universidade, tendo aulas com José Ortega y Gasset, Xavier Zubiri e Manuel Garcia Morente, dentre outros. Sua casa foi ponto de encontro de diversos intelectuais, tais como Pablo Neruda, José Bergamín, Sánchez Barbudo, Serrano Plaja, Maruja Mallo, Ramón Gaya, Ricardo Gullón, Rosa Chacel, e Luis Rosales.
Em 1928 iniciou seu doutorado e participou ativamente dos movimentos da Federación Universitaria Española (FUE), inclusive publicando diversos artigos na seção “Aire Libre” do periódico madrilenho El Liberal e alguns outros no periódico La Libertad.
Seu primeiro livro Horizonte del Liberalismo (Nuevo Liberalismo) foi publicado em 1930. Neste mesmo ano assumiu o posto de professora auxiliar da cátedra de metafísica da Universidade Central de Madrid, onde permaneceu até 1936, quando trabalhou na sua tese de doutorado “La Salvación del Individuo em Spinoza” sob a orientação de José Ortega y Gasset, um trabalho que nunca foi concluído. Seu orientador exerceu profunda influência no seu pensamento, considerado por ela como aquele que mais profundamente expressava a filosofia espanhola e era capaz de atingir a essência da alma do povo.
Nesta época, começou a escrever no jornal El Liberal uma coluna intitulada “Mujeres”; são artigos breves, diretos e simples. “Através deles podemos seguir sua evolução que a transforma de uma senhorita burguesa dedicada, como ela mesma dizia, a ‘bordar borboletas’, em uma jovem intelectual plenamente inserida no contexto social e político” (Muñoz 2006, p. 42). Foi através do feedback que recebia da coluna do jornal que pôde perceber a situação das mulheres operárias e camponesas, bem como a situação de miséria e escravidão em que viviam os setores menos favorecidos da sociedade. Foi também um período de grande interação intelectual com os escritores e intelectuais de sua geração, assim como um período profícuo de colaboração com as revistas Cruz y Raya e Revista del Occidente, dirigida por seu mestre Ortega y Gasset. Nesta última, em 1934, publicou seu ensaio “Hacia um saber sobre el alma”, que foi motivo de seu rompimento com Ortega, o qual a acusou de extrapolar o conceito de Razão Vital. O rompimento foi o marco inicial da sua atividade intelectual própria.
Casou-se com seu colega da universidade Alfonso Rodriguez Aldave em setembro de 1936 e mudaram-se para o Chile, país onde o marido havia sido nomeado secretário da embaixada da Espanha. No Chile publicou Los intelectuales en el drama de España, Antologia de Frederico Garcia Lorca e Romancero de la guerra española.
Zambrano e seu marido retornaram à Espanha em 1937. Alfonso Aldave se incorporou ao exército republicano e María Zambrano atua no Consejo de Propaganda y del Consejo Nacional de la Infancia Evacuada e em Valencia integra o grupo fundador da revista Hora de España. Escreveu anonimamente para a revista Madrid, chegando a dirigir a última edição. Enquanto seu marido combatia nas trincheiras da guerra, a filósofa travava sua batalha através de seus artigos e participação ativa na luta de sustentação das forças republicanas. Tomou parte de inúmeros atos públicos em Valencia e em Barcelona, para onde se mudou em 1938 e seguiu colaborando com periódicos. Anos mais tarde, lembra: “Minha atividade na guerra, sendo moderada, foi intensa, implacável, como havia sido minha atividade filosófica que, sem dúvida, estava por trás dela sustentando-me” (Muñoz 2006, 62).
Em 25 de janeiro de 1939 María Zambrano deixou Barcelona no mesmo dia em que a cidade capitulava. Atravessando a pé a fronteira com a França iam com ela a mãe, a irmã Araceli e dois primos ainda crianças. Começava o exílio que perdurou até 1984, o qual é considerado o período mais original e produtivo de sua vida intelectual, quando seu pensamento se libertou das amarras que a prendiam a seus mestres e tomou rumo próprio. Foi ela mesma que explicou quando voltou à Espanha: “Não concebo minha vida sem o exílio que vivi. O exílio foi como minha pátria ou como uma dimensão de uma pátria desconhecida, mas que, uma vez que se conhece, é irrenunciável” (Muñoz 2006, 68).
Através de Octavio Paz, seu amigo e embaixador do México em Paris, recebeu convite da Casa de España, para dar aulas de filosofia. Rumo ao México, passou por New York e por Havana, onde fez uma conferência no Lyceum Club sobre Ortega y Gasset. Chegou ao seu destino em março de 1939 para ser professora de filosofia na Universidad San Nicolás de Hidalgo em Morelia. Neste mesmo ano publicou Pensamiento y poesia en la vida española e Filosofía e Poesia, além do ensaio San Juan de la Cruz: de la “noche escura” a la más clara mística, iniciado em Barcelona para a revista Hora de España e publicado na revista Sur de Buenos Aires.
Em 1940 recebeu convite para lecionar no Instituto de Altos Estudios, recém-criado e também no Instituto de Investigaciones Científicas da Universidad de La Habana. Colaborou com diversas revistas hispano-americanas. México: Taller, revista mensal de poesia e crítica, dirigida por Octavio Paz, Luminar e El HIjo Pródigo; Buenos Aires: Sur e Porto Rico: La Torre. Além disso, colaborou com as publicações fundadas no exílio de intelectuais espanhóis: Romance (México), Nuestra España (Havana) e Las Españas (México). Viajou com frequência à Porto Rico para dar cursos, seminários e conferências: “A mulher e suas formas de expressão no Ocidente” (a convite da Asociación de Mujeres Graduadas), “Ética Grega”, “História do Amor no Ocidente” e “Unamuno, Machado e os poetas da geração de 27”. Em 1940 fez uma série de conferências na Sociedade Universitaria de Bellas Artes de Havana sobre o tema da mulher, que posteriormente foi publicado na revista Ultra (nr. 45-46, 1940). A partir de uma análise histórica, argumentava que o tema estava mal colocado. Para ela, deve-se partir de um nível superior, ou seja, o da pessoa, o qual possibilita a igualdade tanto em dignidade como em direitos sem que ocorra a anulação, mas sim o reconhecimento e revalorização dos caracteres “individuantes” de sexo, raça, nação etc. (Muñoz 2006, 77).
Em 1941 escreve o artigo La agonia de Europa, com o qual inicia uma série de artigos que resultarão no livro do mesmo nome. Segue escrevendo sobre a situação política europeia, analisando seu contexto no artigo “La violência europea” (revista Sur). Busca as raízes da esperança em meio à violência e agonia em seu típico movimento filosófico pendular: parte da destruição e da obscuridade até o íntimo ponto de luz que escondem (Sanz 1993). Para chegar a esse ponto mais íntimo recorre aos caminhos dos gêneros confessionais ocidentais a partir de Santo Agostinho escrevendo La confesión como género literário y como método (Luminar, 1943). Com a La esperanza europea (Sur, 1942) conclui um pensamento iniciado com El freudismo, testimonio del hombre actual, ou seja, que a primeira repressão real do homem é aquela da esperança e do tempo. Inicia um ciclo de conferências no Instituto de Investigaciones Cientificas y Altos Estudios da Universidade de Havana, assim como no Seminario de Investigaciones Historicas da Academia de Ciências (La agonia de Europa, La violência europea, La influencia de Grecia em la vida europea, San Agostin padre de Europa). Buscando as raízes da agonia da Europa e aqueles que foram capazes de antevê-la, publica na revista Espuela de Plata o artigo “Franz Kafka, mártir de la miseria humana”.
Em 1943 muda-se para Porto Rico como professora catedrática da Universidad Rio Piedras. Porém, continua sua intensa atividade em Havana ministrando conferências, cursos de especialização sobre os temas “Filosofia e cristianismo” e “Origens do homem moderno”, participando de seminários sobre “A ideia do homem, o tempo e a eternidade em Santo Agostinho” e “Nietzsche”.
1944 foi um ano importante para o desenvolvimento do pensamento filosófico de Zambrano. Na revista Orígenes (nr. 3) publica “La metáfora del corazón”, pela Universidad La Habana, “La escuela de Alejandría” e respectivamente nas revistas El hijo pródigo e Poeta, publica “Poema y sistema” e “Apuntes sobre el timpo y la poesia”. Esses dois últimos artigos são considerados importantes para o seu propósito de chegar a uma razão poética. No seu livro “El pensamiento vivo de Séneca” aparece seu conceito de “razão mediadora”, o qual com influência nietzschiana leva ao caminho para sua “razão poética”.
Após um período feliz e profícuo em estudos e publicações, recebe a notícia de que a doença de sua mãe se agrava e em 1946 decide retornar à Paris, onde fica até 1949. O pensamento de Zambrano fascina o pintor Pablo Picasso, com quem trava certa amizade. Divorcia-se. Inicia sua amizade com Albert Camus e com o poeta René Char. Frequenta o Café Flore, onde conhece Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre, com os quais resolve não se relacionar. Escreve “El Delirio de Antígona” (Paris 1948 e Havana 1949) e seu amplo projeto “La historia de la Piedad”, o qual serviu de base para o seu “El hombre y lo divino” (1955). Decide mudar-se para Havana com sua irmã.
María Zambrano inicia um ciclo de conferências sobre a Piedade, sobre Ortega y Gasset e sobre São João da Cruz. No Lyceum Club ocorre sua conferência “Para uma história de la Piedad: los conflictos entre la piedad y el amor”, que resultou no seu “Para una historia de la Piedad” (Lyceum, nr. 17). Faz uma conferência em comemoração ao primeiro aniversário do Grupo Filosofico de La Habana que, nesta ocasião, se transforma na Sociedade Cubana de Filosofia. Foi um período intenso de atividades, escritos e contatos com pintores e intelectuais, porém de dificuldades econômicas também.
Em 1949 María Zambrano e sua irmã mudam-se para a Itália, onde permanecem até junho de 1950. Publica “Hacia um saber sobre el alma”, uma compilação de seus artigos de 1933-1944. Mudança para Paris, onde Zambrano se reencontra com seus amigos intelectuais, com o pintor Picasso e com Camus. Começa a escrever “El hombre y lo divino”, que contém seus escritos no período de Roma: El hombre y lo divino, Del nascimiento de los dioses, Los dioses griegos, Las ruinas e La paganización; assim como seus escritos de Paris: La disputa entre la filosofia y la poesia sobre los dioses, Tres dioses e os inícios dos textos sobre o amor e a inveja. Posteriormente foram adicionados os capítulos sobre os Pitagóricos, sobre Nietzsche e sobre o Nada, escritos em Havana, para onde vai em novembro de 1951 para proferir algumas conferências. Completa os capítulos de “El hombre y lo divino”.
Em 1953 as irmãs Zambrano resolvem pela transferência à Roma, onde viverão pelos próximos onze anos. Por insistência de Gabriel Marcel, recebeu menção honrosa por seu “Delirio y Destino” para o Prix Littéraire Européen de Genebra. María Zambrano, então, vive para escrever, mas também escreve para viver. Inicia-se o processo de escrita do que mais tarde será “Los sueños y el tempo”, do qual são publicados alguns extratos. Ao mesmo tempo, germinam os temas do futuro livro “Aurora” a partir de três abordagens: a história trágica de “Persona y Democracia”, alguns artigos sobre o poder e sobre a pintura, bem como o começo de sua razão poética com “Diótima de Mantinea”, verdadeira história da alma de Zambrano (Sanz 2006). Anos de muita escrita, mas muito duros não só pela extrema dificuldade financeira, mas também de solidão, desesperanças e inferno interior. Escreve incansavelmente para aliviar suas despesas e dúvidas. Foi o período em quem o exílio tomou por completo a alma e a vida: passou fome, pediu ajuda financeira a amigos, participou de concursos e escreveu artigos sobre mostras de pinturas mediante pagamento. São publicados “Persona y democracia” e “La España de Galdós”.
Em 1964, nova mudança, desta vez para uma pequena casa de campo em La Pièce, na região do Jura francês, onde permanece por dezesseis anos. Começam a aparecer na Espanha referência a seus escritos, embora de maneira ainda tímida. A Europa e a América Latina já conheciam María Zambrano, mas em sua terra natal ainda era desconhecida. Em 1965 são publicados “España, sueño y verdad” e “El sueño creador”. Começa a escrever “Claros del bosque”. Em 1967 publica “La Tumba de Antígona” (Siglo XXI, México) e em 1971 é publicado o primeiro volume de suas Obras Reunidas, que inclui: “El sueño creador, “Filosofia y poesia”, “Apuntes sobre el linguaje sagrado y las artes”, “Poema y sistema”, “Pensamiento y poesia em la vida española” e “Uma forma del pensamento: La ‘Guia’”. Em 1972 falece sua irmã Araceli, mesma época em que Zambrano está escrevendo “El delíro. El dios oscuro”, que fará parte de “Claros del bosque”. Inicia a redação do escrito que é considerado o mais esclarecedor de sua via filosófico-espiritual, “El caminho recebido”, que acaba por ser mostrar central no seu “Notas de um método”. Retoma “Claros del bosque” para ser publicado.
Em 1980, passa a viver em Genebra. É nomeada Filha Adotiva do Principado de Astúrias, sendo este o primeiro reconhecimento oficial de Zambrano na Espanha. Realiza-se no Colegio Mayor San Juan Evangelista de Madri um ciclo de palestras sobre o pensamento da filósofa, quando, por meio de uma gravação, pela primeira vez sua voz é ouvida em sua terra natal desde 1939. Em 1981 recebe o Prêmio Príncipe de Astúrias de Humanidades e é nomeada filha predileta de Velez-Málaga, sua cidade natal. Começam a surgir artigos sobre Zambrano e ela dá uma longa entrevista à Radio Nacional daquele país. Em 1982 é nomeada doutora honoris causa pela Universidade de Málaga. No dia 20 de novembro de 1984, María Zambrano pisa em solo espanhol. Em 1985 é nomeada filha predileta da Andaluzia. São organizados em Málaga uma série de atos em sua homenagem. Em 1986 recebe o prêmio “Los 16 del Año 85”. Em março/1987 a revista Anthropos, Revista de Documentación Cientifica de la Cultura dedica os números 70 e 71 à María Zambrano. É criada em Velez-Málaga a Fundação María Zambrano. Em 1988 recebe o Prêmio Miguel de Cervantes, a primeira mulher a receber tal honraria. Em 1989 é homenageada pelo Instituto de la Mujer. Sua biblioteca é transferida para a Fundação. Recebe na Universidade Complutense de Madri o original de seu título acadêmico. Escreve “Peligros de la Paz” (1990) que refletia o horror que sentia se apoderar do mundo diante do que ocorria no Golfo Pérsico. Morre em 6 de fevereiro de 1991.
Como influências recebidas podem ser citados diversos nomes de relevo na Filosofia: Platão que lhe abriu ao questionamento sobre a relação da Poesia com a Filosofia; Sêneca a quem dedicou um livro sobre seu pensamento e obras; os estoicos aos quais atribui como descobridores dessa forma de retirada ao “elemental”, à vida e à ética; Ortega y Gasset cujo conceito de Razão Vital do mestre foi ampliado em Razão Poética; Miguel de Unamuno, importante para seu período de luta intelectual contra a Revolução; Xavier Zubiri, a quem deve sua formação aristotélica, bem como acerca de toda a filosofia grega; Friedrich Nietzsche que contribuiu para que Zambrano se aprofundasse no estudo do homem e seu vazio existencial; Martin Heidegger que retoma o estudo do ser e do Sagrado desde os antigos filósofos; Henri Bergson, de quem a noção de tempo foi relevante para a construção de seu próprio conceito; Baruch Spinoza autor escolhido para sua tese de doutorado, além de Gabriel Marcel, Antonio Machado, entre outros.
Para entender o pensamento de María Zambrano (os títulos entre parênteses referem-se à obra onde a filósofa desenvolve o tema abordado)
María Zambrano foi uma pensadora de muitos escritos, cujo fio com que alinhavou todos eles foi o desejo de fundir filosofia, poesia e religião (Poema y Sistema), tendo como método a razão poética que também toma contornos de uma razão poética prática. Seus textos iniciais foram políticos, mas antes de ir para o exílio já se perguntava sobre a alma e como saber sobre ela. A Espanha foi seu horizonte como alma-mãe no período inicial do exílio, mas o desterro a fez buscar pela alma universal. Paulatinamente, seus textos aludiram a diversos temas, chegando na fase anterior ao seu retorno à Espanha a adquirir nuances místicas.
Quando estudante universitária participou ativamente das questões políticas à sua volta, interessando-se pelo modo de ser e de comportar do povo espanhol. O primeiro livro, Horizonte del Liberalismo, se trata de “um pensamento espontâneo, nascido da angústia dos grandes problemas que insistentemente chamam a minha sensibilidade” (Zambrano [1930]1996, 199). Como não poderia ser diferente, dada sua participação ativa nos movimentos estudantis, sua atenção se voltou para a política e para suas concepções religiosa e humanista da vida, pois a política “é algo unitário, totalizador, semelhante à religião, e engloba todos os problemas humanos” (Zambrano [1930]1996, 208). Partindo da análise da política e sua raiz, a questão essencial do livro é se é possível um (novo) liberalismo que concilie a necessidade econômica com a liberdade da cultura. Propõe, ao final, um “novo liberalismo” que dê conta das múltiplas contradições do “velho” com uma renúncia à economia liberal, fruto de suas leituras marxistas. Alguns estudiosos de Zambrano defendem ser este livro a gênese do pensamento da filósofa.
O exílio foi um divisor de águas no pensamento de Zambrano e, ao mesmo tempo, um processo de consciência sobre suas crenças, valores e sentimentos. Os primeiros anos foram dedicados à investigação da “essência” do povo espanhol, que tem a arte como espaço para a manifestação do absoluto, que se apresenta como ser/não-ser, mas não se mostra (Bundgard 2000). A Espanha não tinha tradição filosófica, todo o saber e sentir do povo eram manifestados pela poesia, pela novela, ou seja, pelas expressões artísticas como um todo. Como, então, explicar filosoficamente a alma do povo espanhol? Qual a suficiência do conhecimento racional para poder arrogar a si uma filosofia que conseguisse apontar respostas? Zambrano percebeu que a rigidez filosófica não daria conta de uma linguagem que exigia da palavra muito mais do que um significado preciso; a palavra deveria transbordar a si mesma para significados plurais, tarefa possível somente pelo uso da metáfora. Foi a partir daí que a filósofa entendeu que a razão necessária para pensar e conhecer a alma universal ou individual deveria ser outra, não racional mas poética, para que nela coubesse não só o que se vê ou percebe, mas também o que se sente nas entranhas.
A metáfora é ferramenta da poesia, esta que há muito trava um embate com o pensamento, cada um arrogando a si a posse da alma onde habita. Para Zambrano, desde o advento da filosofia que o pensamento e poesia estão separados e, por isso mesmo, são duas formas insuficientes que supõe o homem em duas metades distintas: o filósofo e o poeta. Não se encontra o homem inteiro na filosofia e não se encontra a totalidade do humano na poesia. Na última encontramos diretamente o homem concreto, individual, na primeira o homem em sua história universal, em seu querer ser. “A poesia é encontro, dom, descoberta pela graça. A filosofia é busca, convocação guiada por um método” (Filosofia y poesia, p. 15).
Em Pensamiento y poesia e la vida española, livro editado com as três conferências que proferiu na “Casa de España”, María Zambrano apresentou a razão poética como um método apropriado para a elaboração de uma filosofia antropológica humanista, cujo objetivo é o estudo dos aspectos não-racionais do ser humano como forma de superar o positivismo pragmático da nascente sociologia. “Manifestando certas confluências hegelianas, mostra o avançar do espírito como uma aventura progressiva que, partindo do racional e o superando, tende a um horizonte de poesia, depois de uma fase intermediária de resgate da vida, da intimidade e da singularidade do indivíduo” (Bundgard 2000, 183-184).
O projeto da filósofa era a reforma do entendimento, o qual não partia de nenhum fundamento histórico ou científico, mas sim de um saber virginal que nos libere do afazer da vida. A razão, tomando-se como um caminho, como um instrumento técnico, teria o papel de ordenar os pensamentos e mostrar a direção, agindo sobre o que se apresenta externamente ao indivíduo. Isso significa que o conhecimento da realidade primeiro deve passar pelas categorias de conhecimento propostas pela filosofia, pois é “o conhecimento que dá a sede para aderirmos à rocha sob a qual emana a água, sem poder desfazê-la para que saia à superfície” (Zambrano, Hacia um saber sobre el alma, p.15) para, então, ir além através da intuição, que também é razão, mas uma razão que não é sentida no pensamento e sim nas entranhas (Hacia um saber sobre el alma, Algunos lugares de la poesia). A realidade, portanto, somente é abarcada em sua totalidade quando filosofia e poesia, razão e intuição, estão unidas de forma complementar. Não é possível uma poesia que não esteja carregada de pensamento, de razão, tampouco é possível o inverso, uma razão sem poesia (Muñoz, J. “La unidad de filosofia y poesia en María Zambrano”. Introdução. Algunos lugares de la poesia, p. 11). O Poeta é o “novo filósofo”, o sujeito criador de uma nova metafísica.
A razão poética, portanto: a) tem como fundamentação básica o raciovitalismo orteguiano, quando afirma que existe uma profundidade oculta da realidade (“trasmundo”) que não pode ser considerada irracional, mas que somente pode ser abarcada pela intuição, cuja experiência acontece fora do jogo discursivo (Escritos sobre Ortega); b) sob influências do pensamento de Miguel de Unamuno (1864-1936) e Antonio Machado (1875-1939), tem como fundamentação complementar o “realismo espanhol”, cuja forma de expressão não é o sistema, mas sim a poesia ou a novela. Esse realismo particular, ao mesmo tempo que está desligado da violência filosófica é íntimo da vida cotidiana, do “quehacer” (como razão poética prática). É através de seu lado “materialista” – a essência do racionalismo espanhol – que permanece conectado à realidade e ao sentido de fluxo temporal como começo e fim de uma existência real (Pensamiento y poesia em la vida española). Por isso mesmo, não se deixa perder no arrebatamento poético e se utiliza da razão como balizamento da apreensão da realidade; c) é um conceito ligado à vida mesmo do ser humano, que coloca a razão e a intuição como ingredientes para se abarcar a realidade em sua totalidade, como que enxergar a laranja por dentro e por fora, ao mesmo tempo; e d) é um conceito que se situa no nível metafísico ao tratar da essência, objetivando submergir sob as aparências para captar a essência do inconsciente universal (Filosofía y Poesia). A metafísica zambraniana tem o nada como sustentáculo do ser, a dialética entre o sagrado e o divino, bem como a palavra poética como realização do ser. (El hombre y lo divino). No entanto, embora seja possível identificar os fundamentos da razão poética, o mesmo não ocorre em relação ao seu método.
A partir do final da Segunda Guerra, os escritos de Zambrano adquirem contornos poético-místicos. Sua obra de referência é El Hombre y lo Divino, onde aborda o desenvolvimento da filosofia e sua voracidade para se apropriar do conhecimento e dar significado às coisas, o que afastou o ser humano do contato íntimo com o Sagrado. A partir daí analisa o papel da razão poética como meio de retomar a ligação perdida. Seu objetivo é demonstrar que a filosofia transformou o Sagrado em divino ao dar concretude a algo que os indivíduos muito antigos “pré-sentiam”, mas não viam. Esse algo é o Sagrado, fundo arcano que tudo abarca, o nada criador.
Em El Hombre y lo Divino argumenta que à medida que a filosofia dava forma aos deuses, acessados pelos cultos e oferendas, o ser humano ia perdendo esse seu contato íntimo e direto com o fundo arcano. A ação poética deu lugar à atitude filosófica: o ato de perguntar. Isso significa uma separação do que rodea, a perda de uma intimidade e o fim de uma adoração. “Assim, a pergunta filosófica que Tales formulou um dia, significa o desprendimento da alma humana, não desses deuses criados pela poesia, mas sim da instância sagrada, do mundo obscuro de onde eles mesmos saíram.” (El hombre y lo divino, p. 77). A tradição judeu-cristã trouxe novos elementos epistemológicos e ontológicos que contribuíram para mudanças essenciais no pensamento filosófico grego. O cristianismo tenta estabelecer uma síntese entre a filosofia grega e as tradições bíblicas, entre a fé e o logos grego. Cristo representa o Deus que se fez homem. O Deus encarnado radicaliza a importância do homem, a transcendência e a imanência da divindade.
Mas a história humana não pode ser contada também sem a destruição dos deuses, quando devem morrer para que o homem se desocupe do divino e se entregue à razão. Nietzsche teve a coragem de bradar via seus personagens que “Deus está morto”, mas, ao mesmo tempo, teve também que admitir que o homem estaria sempre sob sua sombra. A morte de Deus é analisada por María Zambrano sob dois aspectos: o primeiro como a jornada histórica do homem que destrói seus deuses para substituí-los por outros; e o segundo na forma específica da religião cristã, irredutível a nenhuma outra religião anterior onde pudesse se inspirar, que comporta em seu centro como mistério insondável a morte de Deus pelas mãos dos homens. (El hombre y lo divino). É a partir desse último ponto que a filósofa apresenta sua interpretação da controvertida frase nietzschiana. Afirmar a morte de Deus somente é possível para quem crê nele e, mais que isso, para quem o ama, pois somente o amor descobre a morte. (cf. Rela, 2019).
A história humana poderia ser contada não só pelos seus sonhos e desvarios, mas também pelos seus persistentes delírios. O delírio de deificação que acompanhou o homem em sua epopeia histórica manifestou-se em etapas sucessivas, as quais Zambrano identificou como fases de sua transformação em super-homem: primeiramente o rei-mendigo, depois a etapa humana e finalmente o super-homem. A réplica ao “super-homem” do Idealismo foi o “super-homem” de Nietzsche, recuperação do divino em tudo aquilo que a ideia do divino definido pela Filosofia havia deixado oculto. Mais que uma réplica contra o Cristianismo, era uma réplica contra a Filosofia, o que, segundo Zambrano, arrastou o filósofo a um anticristianismo. O “Super-Homem” nietzschiano foi o último delírio nascido das entranhas do rei-mendigo, do inocente-culpado que não pode deixar a carga do tempo, “resistência implacável que a vida humana opõe a todo delírio de deificação” (Zambrano, El hombre y lo divino, p. 167).
O Existencialismo significou o despojamento do homem de toda a relação com Deus e, por isso mesmo, o nada como total solidão. Mas para Zambrano a solidão total é impossível, pois ao lado do homem vai o “outro”, o outro como sombra de si mesmo. O “outro” é “o irmão invisível ou perdido, aquele que me faria realmente ser se compartilhasse seu existir comigo; se nos integrássemos em um ser único” (Zambrano, El hombre y lo divino, p. 175). O viver a partir da consciência produziu um vazio em torno do homem reduzindo tudo a ideias, as quais fizeram com que este empreendesse uma jornada em busca de afirmar a si mesmo. Mas nessa partida desenfreada surgiu uma resistência que não era ser, pois ser era o homem e, se se mostrava como “outro” do homem, consequentemente seria o outro do ser, ou seja, o nada. Mas esse nada é o tudo, é o fundo inominável que não é ideia, mas somente sentir que recolhe o vazio proporcionado pela consciência. (cf. Rela 2019). A primeira e originária abertura da vida humana às coisas que a rodeavam aconteceu quando o homem padeceu de seus deuses, ou seja, a realidade ganhou contornos quando padeceu do nada, do Sagrado como fundo arcano. Para Zambrano, o sujeito anulado no sentir do nada, se erguerá quando for fiel a sua dupla condição de sofrer o cárcere das circunstâncias (conceito orteguiano de realidade), portanto do ser, e sua própria liberdade promovida pelo nada. O nada foi a última manifestação do Sagrado (El hombre y lo divino).
Claros del Bosque é considerado o texto mais hermético de María Zambrano, dedicado à crítica à razão discursiva, no qual a filósofa deu vazão a um sentir próprio das entranhas, um sentir do alvorecer da alma. Foi escrito em diferentes momentos em data anterior à sua publicação. Não é um livro de filosofia, mas de caráter ontológico e místico. Busca estabelecer um diálogo entre a mitologia clássica, a religião, a filosofia, a poesia e a arte. É um guia de cunho espiritual e transcendental para entrar dentro da alma como um espaço vazio, um centro iluminado aberto como uma “clareira” onde possa acontecer a “emergência” do Sagrado e a salvação “piedosa” de um logos submerso e cercado pela razão discursiva. Junto com Los Bienaventurados é um livro escrito a partir da experiência de dor desde o desarraigamento e abandono do exilado em sentidos histórico-cultural e existencial e ontológico. Um livro profundamente religioso inspirado em São Juan de la Cruz, o Santo Poeta, quem poeticamente conseguiu expressar o sentir das entranhas e contar (ou cantar?) a ascese da alma. Com isso em mente, Claros del Bosque expressa intuições, sentimentos e revelações pessoais e subjetivas da autora.
Obras de María Zambrano
Livros
Zambrano, M. El Sueño Creador, Madrid: Mondadori, 1965 [1965]
_____, Poema y Sistema. Obras Reunidas, Madrid: Aguilar, 1969
_____, Claros del Bosque, Barcelona: Seix Barral, 1986 [1977]
_____, Notas de un Método, Madrid: Mondadori, 1989 [1989]
_____, Delirio y Destino, Madrid: Mondadori, 1989 [1989]
_____, Persona y Democracia, Barcelona: Anthropos, 1992 [1959]
_____, Los Sueños y el Tiempo, Madrid: Siruela. 1992 [1992]
_____, El pensamiento vivo de Séneca”, Buenos Aires: Losada, 1994 [1944]
_____, Un descenso a los infiernos. Toledo: Instituto de Bachillerato La Sisla, 1995
_____, La Cuba secreta y otros ensayos. Madrid: Endymion, 1996 [1948]
_____, Horizonte del Liberalismo. Madrid: Ediciones Morata, 1996 [1930]
_____, Filosofía y Poesía. México: Fondo de Cultura Económica, 1996 [1939]
_____, La tumba de Antígona. Madrid: Sociedad General de Autores y Editores, 1997 [1967]
_____, Dos fragmentos sobre el amor. Madrid: Promoción y Ediciones, 1998 [1952]
_____, Dictados y sentencias. Barcelona: Edhasa, 1998
_____, Los Intelectuales em el Drama de España, Madrid: Trotta, 1998 [1937]
_____, El agua ensimesmada. Málaga: Universidad de Málaga, 1999
_____, La Agonia de Europa, Madrid: Trotta, 2000 [1945]
_____, La confesión, género literario. Madrid: Siruela, 2001 [1943]
_____, España, sueño y verdad. Barcelona: Edhasa, 2002 [1965]
_____, Los Bienaventurados, Madrid: Siruela, 2004 [1989]
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