Fátima Mernissi ou Fatema Mernissi
(1940-2015)
por Samira Adel Osman,
Docente da Universidade Federal de São Paulo

1.“Nasci em um Harém”
Fatima Mernissi ou Fatema Mernissi nasceu em 27 de setembro de 1940, na cidade de Fez, e faleceu em 30 de novembro de 2015, em Rabat. A capital do Marrocos foi o local em que Mernissi viveu, trabalhou e lutou até o fim de sua vida intensa, aos 75 anos de idade. Como descreveram seus amigos e admiradores, foi uma nur (luz) árabe que se apagou, mas isso não aconteceu com seu legado intelectual e sua voz altiva nos debates sobre o papel e o direito das mulheres no islamismo, além de sua luta incansável pela melhoria das condições de vida das marroquinas e de outras mulheres do Norte da África.
Sua família muçulmana era originária de Taounate, cidade localizada nas encostas das montanhas do Rife, região majoritariamente ocupada pelos povos berberes. Dona de grandes propriedades de terras e envolvida em diferentes negócios que multiplicaram sua riqueza, sua família abastada e tradicional se estabeleceu em Fez, cidade em que Fatima Mernissi nasceu e viveu sua infância e adolescência, rodeada por diversos membros de uma família estendida, que incluía avós, tios e tias, primos e primas, solteiros, casados, divorciados, viúvos. A casa da família, o harém, marcou a vida de Mernissi, influenciou seus pensamentos e o ativismo social e político pelos quais ficou conhecida.
Quando Fatima Mernissi nasceu, o Marrocos era uma monarquia governada pelo rei Mohammed V, ainda sob o domínio colonial francês e espanhol. O surgimento de um movimento nacionalista e independentista, concluído em 1956, permitiu à jovem Mernissi ser parte da primeira geração de meninas a frequentar a escola, superando a condição de analfabetismo das mulheres de sua família. Seus estudos iniciais começaram em uma escola corânica, a qual passou a frequentar aos três anos de idade juntamente aos seus primos; imbuída pelos ventos modernistas e nacionalistas dessa década, sua família a matriculou em uma pioneira escola privada e mista de sua cidade natal para dar continuidade ao ensino básico. O desejo de continuar seus estudos a levou para a capital do país para cursar o ensino médio em uma escola para meninas mantida pelo ainda governo colonial francês. Em 1957, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Rabat e formou-se em Ciência Política.
Beneficiada por uma bolsa em 1960, continuou seus estudos universitários realizando uma pós-graduação em Sociologia na Sorbonne, em Paris, onde também atuou como jornalista. Mudou-se para os Estados Unidos para realizar sua pesquisa de doutoramento, com tese defendida em 1973 na área de Sociologia da Universidade Brandeis, localizada na cidade de Waltham no estado de Massachusetts.
A tese, intitulada The Effects of Modernization on the Male-Female Dynamics in a Muslim Society [Os efeitos da modernização na dinâmica masculino-feminina em uma sociedade muçulmana], foi a base para o primeiro livro publicado como Beyond the Veil: male-female dynamics in modern Muslim society [Além do véu: dinâmicas masculino-femininas na moderna sociedade muçulmana]. A primeira edição, de 1975, foi reeditada em 1985, na Grã-Bretanha, e em 1987, nos Estados Unidos, tornando-se um marco para os estudos sobre o tema das mulheres árabes, muçulmanas e do norte da África, ao tratar sobre as questões de gênero e religião, e do que mais tarde seria compreendido como o pioneirismo do feminismo islâmico.
Desafiando dogmas, enfrentando a misoginia e denunciando leituras machistas sobre o Islamismo, Mernissi defendeu a religião da qual era parte como um instrumento de direitos e mudanças e não como uma forma de opressão e subordinação das mulheres. Mesmo com esse posicionamento desafiador e polêmico para o período, em uma sociedade ainda arraigada nos valores tradicionais, Mernissi abriu espaço para se tornar professora da Faculdade de Letras e Ciências Humanas lecionando diversas disciplinas como Sociologia, Metodologia, Psicossociologia, além de atuar como pesquisadora do Instituto Universitário de Pesquisa Científica na Universidade Mohammed V, em Rabat. Lecionou e foi conferencista em diversas universidades, além de consultora da UNESCO.
Socióloga, professora, pesquisadora, escritora, ativista, Fatima Mernissi é considerada uma das vozes mais influentes da intelectualidade árabe, precursora dos estudos feministas islâmicos e autoridade em história islâmica, temas aos quais se dedicou por toda sua vida. Conviveu com outras figuras vanguardistas marroquinas, como o intelectual Abdelkébir Khatib e o poeta Mohammed Bennis, e influenciou diversas gerações de mulheres dedicadas aos estudos feministas islâmicos como Asma Barlas e Asma Lamrabet e de ativistas como Mona Eltahawy.
Mernissi não se casou nem teve filhos. Eternizou-se por seu riso, seu carisma, sua ousadia e suas palavras registradas em diversos livros que publicou ao longo de sua vida. Dedicou-se ao movimento feminista islâmico e à melhoria das condições de vida das mulheres, abordando questões ligadas à luta global, interseccional e transnacional. Sua luta pela equidade de direitos das mulheres foi registrada em dezenas de livros, artigos, palestras, entrevistas que produziu.
As obras produzidas por Mernissi podem ser agrupadas em três blocos temáticos: o uso político da religião, o papel das mulheres muçulmanas na história e a visão ocidental sobre o harém. Ao final da vida esteve dedicada a tratar de temas relacionados à internet e às mudanças provocadas pelo ativismo cibernético em artigos e outras obras que organizou.
2. Ma wara’al hijab: Por trás do véu
Desde a elaboração de sua tese de doutorado, Fátima Mernissi esteve preocupada em compreender a transformação do papel das mulheres muçulmanas nas sociedades árabes modernas, especialmente no Marrocos. A socióloga entendia que a luta pelos direitos das mulheres, como acesso à educação, saúde reprodutiva, direitos trabalhistas e participação política, esbarrava em visões patriarcais, machistas e misóginas regradas pelo Estado.
Mernissi identificou nessa pesquisa a contradição entre o discurso do Estado marroquino pós-colonial, que assumia uma agenda moderna baseada na necessidade de escolarização e inserção das mulheres no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que legislava de forma conservadora sobre a família e o espaço doméstico, usando os princípios religiosos para tratar de casamento, divórcio, herança e guarda dos filhos. A Mudawanat al-ahwal al-chakhsiyah, ou Código de Estatuto Pessoal, promulgado em 1958 no Marrocos, dava a primazia ao homem, reconhecendo-o como chefe da família responsável pelo sustento familiar, além de autorizar a poligamia e o divórcio unilateral. Às mulheres cabia a obediência ao marido exercendo o papel de esposas, mães e donas de casa.
Mernissi argumentava que a supressão ou o não reconhecimento dos direitos das mulheres, o poder de pais e maridos sobre esposas e filhas, o confinamento das mulheres ao espaço privado e doméstico em oposição à ocupação dos espaços públicos pelos homens eram uma construção política que estava respaldada pelos princípios religiosos islâmicos. Na chave do secularismo no Marrocos, na França e nos Estados Unidos, que havia formado a jovem Mernissi, desde a participação no movimento estudantil até os primeiros anos de seu doutoramento, a religião era entendida como um fator de dominação masculina, já que era lida como segregadora e misógina. A socióloga, influenciada por tais pensamentos, atribuía ao Islã a formação de um sistema político e social hierárquico de autoridade e subordinação.
Dessa forma, enquanto o Estado representava a autoridade sobre a ummah, a comunidade islâmica, o homem representava a autoridade sobre a família. Para manter essa ordem social e exercer o poder, os papéis de gênero se estabeleceram na forma da divisão sexual do trabalho, da segregação e subordinação das mulheres ao espaço doméstico, por meio de leis baseadas em princípios civis e religiosos. Às mulheres foi imputado o perigo do desequilíbrio dessa ordem e, por isso, precisavam ser controladas, seja pelo confinamento ao espaço doméstico, seja pelo velamento ao ocupar o espaço público.
Em Sexe, Idéologie, Islam [Sexo, Ideologia e Islã], de 1985, Mernissi fez uma análise de como os papéis de gênero estavam intrinsecamente relacionados ao controle, regulação e repressão da sexualidade feminina. Entendidos como um perigo e um fator de desestabilização da ordem patriarcal, o sexo, o corpo e o desejo feminino necessitavam estar sob controle social e, mais uma vez, o véu cumpria uma função. Contra um desejo desenfreado e insaciável, inerente à condição feminina, era necessário velar, submeter, silenciar e tornar reclusas essas mulheres.
Esses argumentos, apresentados em Beyond the veil, causaram inúmeras repercussões na sociedade marroquina dos anos 1970 e 1980, mas não intimidaram nem reprimiram as análises de Mernissi. Ainda assim, sua obra de 1986, La femme dans l’inconscient musulman [A Mulher no inconsciente muçulmano] foi publicada sob o pseudônimo de Fatna Ait el Sabbah, tendo a socióloga reivindicado sua autoria muito posteriormente. Seus argumentos sobre o conceito de gênero no Islã se assemelham no que se refere ao poder e ao temor da sexualidade feminina, e não é difícil encontrar referências diretas ou indiretas à sua tese. Analisando o Alcorão e os estudos de exegese islâmica, Mernissi concluiu que a igualdade de gênero no Islã não era possível, visto que violava as premissas pelas quais a fé estava sustentada.
Por outro lado, ela preferiu ouvir o que essas mulheres árabes, marroquinas e muçulmanas tinham a dizer sobre sua condição, sua luta, seus sonhos e desejos, suas conquistas e decepções. Elas falavam sobre como entendiam, lidavam ou mesmo reproduziam os papéis de gênero impostos a elas, e como era possível conciliar os seus direitos à defesa de sua fé e tradições religiosas. Dessa pesquisa sociológica baseada em entrevistas resultaram duas obras: em 1983, Le Maroc raconté par ses femmes [O Marrocos contado por suas mulheres] e, em 1985, Nisâ’ al-gharb. Dirâsât maydâniyya/Femmes du Gharb [Mulheres do Ocidente. Estudos de Campo]. Diversos artigos e ensaios versaram sobre a questão do trabalho feminino e da condição da mulher proletária, exploradas pelo capitalismo e esquecidas pelo Estado.
Enquanto nas primeiras décadas de seu engajamento político e intelectual, Fatima Mernissi fez leituras seculares e marxistas de sua sociedade, na década seguinte, seus escritos e engajamentos seguiram outros caminhos, ao tratar da conciliação da religião islâmica com a garantia dos direitos das mulheres e desmontar as visões sobre a opressão feminina como algo inerente ao Islã. Temas como o harém, as odaliscas e as fantasias masculinas ocidentais também foram abordados pela autora.
3. “Levantar os véus com os quais nossos contemporâneos disfarçam o passado…”
A escolha por viver no Marrocos teve impacto no pensamento intelectual de Mernissi. Convivendo com reformistas islâmicos, a socióloga mergulhou nos estudos religiosos para compreender que o Islã não era misógino ou sexista. Considerando que a mensagem divina do Islã é inquestionável, não se poderia dizer o mesmo sobre as interpretações humanas a que esteve sujeita a fé ao longo da história. Juntamente com outras lideranças religiosas, Mernissi passou a defender a diferença entre sharia (o conjunto de leis) e fiqh (escolas de jurisprudência), assim como no ijtihad, a liberdade de pensamento, argumento e raciocínio permitida a todo crente estudioso.
Enquanto os defensores do pensamento machista e misógino usavam a religião islâmica para secundarizar e reprimir as mulheres, Mernissi buscou nos mesmos princípios religiosos os argumentos para desbancar essa tese. Em 1986 publicou L’amour dans le pays musulmans [O amor nos países muçulmanos] no qual apareceram as primeiras contraposições à sua própria tese no que se refere à concepção de que o Islamismo per se era o motivo da opressão feminina. Mernissi dedicou-se a estudar o Islamismo acessando as fontes religiosas e muitas fontes históricas, para desvendar como essa concepção foi construída à medida que a fé islâmica se expandia e se consolidava, e não como algo inerente a ela. Essas primeiras ideias ganharam fôlego na obra seguinte.
Em 1987 com Le Harem Politique: le Prophète et les femmes [O Harém político: o Profeta e as mulheres], a socióloga conseguiu dois feitos: desmistificar que o Islã fosse por princípio uma religião misógina e atrair, por esse motivo, a ira de lideranças religiosas e do governo do Marrocos. O livro foi proibido em seu país e em outros países muçulmanos, como o Irã. Nessa obra, Mernissi fez uma investigação e análise aprofundada do texto sagrado, o Alcorão, e dos hadiths, compilação de ditos e feitos do Profeta Maomé recolhidos após sua morte. A socióloga, como mulher e muçulmana, se atribuía o direito de analisar historica e metodologicamente cada uma dessas fontes, interpretá-las à luz de suas próprias opiniões, para compreender como certas alegações correspondiam aos interesses contemporâneos dos usos da religião para dominar e controlar as mulheres. Em alguns casos, contestou a autenticidade e validade de muitos hadiths que tratavam de sua subordinação.
Mernissi partiu do princípio que o Profeta não defendia a exclusão das mulheres e nem seu confinamento pois, contrariamente, elas foram figuras de destaque nos primórdios do Islã, se envolveram na vida política, deram suporte à pregação religiosa e também foram à guerra para defender a fé e a nova ordem social que estava surgindo no século VII na Arábia. Em entrevista, Mernissi afirmava que o Profeta era uma pessoa maravilhosa, que amava e respeitava as mulheres e uma inspiração de caráter e conduta para os muçulmanos do presente.
Então como entender a visão misógina do Islã e uma concepção do papel inferiorizado das mulheres nos países muçulmanos? Para Fátima Mernissi, a resposta não estava na religião, nos seus princípios e preceitos, mas sim na forma como visões tradicionalistas sobre o Islamismo foram concebidas para encarcerar as mulheres no espaço privado e subordiná-las à autoridade masculina. Mernissi recuou nos séculos para localizar essas interpretações e alcançou os primeiros sucessores do Profeta, o estabelecimento dos califados, a afirmação do poder masculino para o silenciamento e reclusão das mulheres. Aos olhos de Mernissi, o Profeta era um revolucionário, ao contrário de seus sucessores que mantinham posturas retrógradas e conservadoras, influenciando a forma como o Islã se expandiu e se estabeleceu para além da Arábia do século VII.
Em tempos modernos não foi diferente, já que a persistência de uma visão tradicionalista e deturpada dos textos islâmicos por autoridades religiosas masculinas tratou de excluir as mulheres da vida pública e limitar seus direitos em nome da religião. Misoginia e sexismo não eram inerentes ao Islã; antes foram a forma e o meio utilizados pelo poder masculino para afirmar seu poder sobre as mulheres. E é nessa luta contemporânea que a socióloga centrou seus esforços: melhorar a vida e a conquista de direitos pelas mulheres usando a religião em seu favor. Nesse sentido, o feminismo defendido por ela passou a ser identificado como islâmico, uma leitura dentro da realidade e das tradições culturais, sendo uma forma de confrontar acusações de que se tratava de importação de modelos ocidentais incompatíveis com a manutenção da fé religiosa.
Mernissi, em certa medida, também responsabilizou as mulheres pela opressão sofrida, ao afirmar que elas cometeram o erro de permitir aos homens controlar a história e a memória. Era necessário recuperar esse protagonismo feminino, não como contraposição ao masculino, mas como parte da construção da história, para além de fronteiras de gênero. Essa investigação histórica ganhou maior fôlego em Sultanes oubliées: femmes chefs d’État en Islam [Sultanas Esquecidas: mulheres chefes de Estado no Islã] de 1990.
Em trabalho de grande pesquisa e rigor histórico, com acesso às fontes islâmicas e aos compêndios dos historiadores árabes diretamente do original, Mernissi apresentou uma história desconhecida ao público ocidental e apagada no mundo islâmico. As mulheres, rainhas, sultanas ou cortesãs, de diferentes etnias, sunitas e xiitas, atuaram ao longo da história do Islamismo não como mera coadjuvantes ou consortes. Quando não estavam ocupando cargos políticos, se enredavam em intrigas pelo poder. Interferiam na sucessão, protagonizavam disputas, apoiavam governantes, participavam de rebeliões.
Ainda que esteja baseada na trajetória das mulheres muçulmanas governantes, a obra não é apenas uma recuperação dessas protagonistas apagadas ou esquecidas pela história oficial. É também uma análise sobre os motivos desse apagamento que pretendeu confinar as mulheres ao espaço doméstico e ao esquecimento. O poder, entendido como prerrogativa masculina, encontrou respaldo em uma interpretação dos textos sagrados negacionistas da ideia do poder e da participação política das mulheres desde os primórdios do Islã.
Na perspectiva de uma interpretação do Islã por autoridades religiosas a serviço de uma elite estabelecida no poder, Mernissi também analisou a suposta incompatibilidade da religião com a democracia. Em La Peur-Modernité: conflit islam démocratie [O medo da modernidade: conflito entre o Islã e a democracia] publicado em 1992, a autora se aprofundou na psique de homens e mulheres muçulmanos e no medo real da mudança social e da criação de novos paradigmas com a inserção das mulheres no mundo do trabalho e na arena pública. As ideias de liberdade, individualismo, subjetividade são estranhas e estrangeiras em uma sociedade baseada na vida familiar, coletiva e comunitária.
Na obra publicada no ano seguinte (1983), Women’s Rebellion and Islamic Memory [A rebelião das mulheres e a memória islâmica], Mernissi retomou os argumentos sobre as interpretações tradicionalistas da história e da teologia islâmica, buscando nos exemplos do passado os argumentos para romper com a concepção da subordinação das mulheres. Além de investigar e evidenciar a história das mulheres esquecidas, marginalizadas, apagadas no pensamento islâmico, nos textos sagrados e na memória coletiva, Mernissi demonstrou como essas narrativas e interpretações foram elaboradas, fixadas e transmitidas para atribuir às mulheres um único papel e as alijar de todo e qualquer protagonismo. Assim, se desde os primórdios da religião havia-se atribuído às mulheres um papel, como responsabilizar sua fé pela condição das mulheres nos países islâmicos? Mernissi responde que não se trata de insubordinação aos princípios religiosos que teriam colocado as mulheres em condições de inferioridade, mas àqueles que sequestraram a fé para fins próprios.
A reversão desse quadro não se daria apenas reescrevendo o passado. Seria necessário levantar o véu que disfarçava o passado e obscurecia o presente, para fazer soprar um vento que inflasse as velas e fizesse com que as mulheres assumissem o timão em direção aos novos mundos, afirmava de forma poética e apaixonada a socióloga. Mernissi via na juventude marroquina, as Sherazades e os Simbads modernos, a possibilidade de superar o medo da modernidade ao abraçarem os dois mundos: a mesquita (tradição) e o satélite (modernidade digital).
4. “Descreva-me seu harém e eu lhe direi quem você é”
A persistência da figura de Sherazade como o sonho erótico do Ocidente é arrebatada por Mernissi em suas obras dedicadas ao tema do harém. Quando Mernissi publicou em 1994 Dreams of Trespass. Tales of a Harem Girlhood [Sonhos de Transgressão. Minha vida de menina no harém], traduzido para mais de vinte idiomas, ela não imaginava o frisson que a obra causaria, mal disfarçado pelos sorrisos irônicos dos jornalistas, cada vez que era pronunciada a palavra harém. Reconhecida e consagrada como uma intelectual e ativista no Marrocos, Mernissi ultrapassou as fronteiras de seu país, tornando-se conhecida mundialmente a partir dessa obra, inclusive no Brasil, sendo a primeira da autora publicada no país.
Considerada um misto de autobiografia e ficção, Fatima Mernissi debruçou-se sobre os muros do harém para tratar da dimensão física e imaginária do hudud, os limites fronteiriços entre o lícito e o ilícito, o permitido e o proibido, a pureza e o pecado. Mernissi tratou de temas cotidianos analisando a vida das mulheres de sua família, de diferentes gerações, idades e status social, bem como fez análises sociológicas da estrutura de poder e restrições da sociedade patriarcal marroquina no limiar das mudanças em processamento nas décadas de 1940 e 1950.
Contrariamente à visão de que essas mulheres estavam inexoravelmente presas ao harém, oprimidas de tal forma que mal percebiam a opressão sofrida, Mernissi considerava que elas eram transgressoras a sua maneira e, usando uma forma narrativa entre o maravilhoso e o analítico, a socióloga apresenta o pensamento e a ação de mulheres analfabetas, mas que agiam com sabedoria e poder que ultrapassavam os papeis de gênero a elas designados. Para Mernissi, foram essas mulheres que a ensinaram a ser feminista e transgredir o que a sociedade marroquina havia reservado a todas elas.
A recepção e a repercussão de sua obra, pelos motivos distintos da intenção da autora, levaram Mernissi a se dedicar ao mesmo tema do harém em duas obras seguintes: em 1988, Êtes-vous vacciné contre le Harem? [Você está vacinado contra o harém?] e, em 2001, Scheherazade Goes West. Different Cultures, Different Harem [Sherazade vai para o Ocidente. Diferentes culturas, diferentes haréns] que recebeu o título francês Le Harem et l´Occident Européen [O harém e o ocidente europeu], sendo reeditado em 2003 como Le Harem et L´Occident [O harém e o ocidente]. Mernissi queria entender o que havia por trás dos sorrisos jocosos do jornalista e se fez a seguinte pergunta: qual era a diferença entre o harém real, o harém de sua infância e o harém do imaginário ocidental?
Mernissi considerou que o harém ocidental foi criado a partir de uma visão fantástica da obra As Mil e Uma Noites, dos relatos de viajantes europeus e das demais visões orientalistas que projetaram no harém oriental o sonho de luxúria, prazer e deleite que as mulheres confinadas poderiam concretizar para o homem europeu. A socióloga considerava que esta era uma imagem degradante para retratar a mulher árabe e muçulmana, desnudada, sensualizada, sexualizada e reduzida a mero objeto de prazer. Imagens de mulheres lânguidas foram eternizadas na pintura de um orientalista como Jean Dominique Ingrès ou de um modernista como Henri Matisse. Depois foram transferidas para o cinema hollywoodiano com as odaliscas seduzindo sheikhs em danças do ventre erotizantes. Sherazade, sábia e inteligente, havia sido reduzida a uma figura sedutora e sem cérebro.
Mernissi não deixou de considerar que os sentidos do harém eram polissêmicos e denunciou a intenção de confinamento a que as mulheres estiveram submetidas nesse espaço, na perspectiva de uma sociedade patriarcal e machista, ao mesmo tempo em que havia a possibilidade de transgredir e resistir. O outro sentido, o harém da fantasia do prazer ocidental, também se baseava na lógica de uma dominação das mulheres, dessa vez pela visão orientalista e colonialista tanto perpetrada pelo poder masculino como pelo feminismo ocidental que negavam a essas mulheres qualquer agência ou transgressão.
Além disso, Mernissi criou outro sentido para a palavra “harém”. Ela denominou “harém mental” a forma como a cultura ocidental, também patriarcal e misógina, encarcerava as mulheres, não em um espaço físico e restritivo, mas no símbolo e no significado do manequim 38. A imposição de um padrão de beleza, criado pela mídia, pela moda e pela publicidade, confinou as mulheres ocidentais a um paradoxo ainda mais cruel: estão presas ao espaço temporal no qual não é permitido envelhecer, perder a beleza e o viço da juventude. As mulheres ocidentais, sem véu e fora do harém, sofrem as mesmas restrições das mulheres orientais confinadas no harém e cobertas por véus obscurantistas. No final, trata-se da mesma luta contra a opressão de gênero que as mulheres têm sofrido ao longo de sua história, seja descoberta, seja velada.
5. “O silêncio é o verdadeiro véu”
Fatima Mernissi acreditava na força transformadora das mulheres, desde que elas tivessem espaço e oportunidade para atuar, se expressar e tomar as rédeas de suas vidas. Sua maior inspiração tinha sido suas avós, tias e mãe que lutaram ao seu modo contra a opressão, os limites impostos a elas, as restrições que deveriam aceitar, as proibições que cerceavam seus sonhos e sua saída para o mundo. Ao seu ver, foram essas mulheres que lhes ensinaram a ser feministas e a alcançar outro lugar nessa sociedade à qual pertenciam e precisavam transformar. Mernissi atribui às mães a força motriz poderosa e progressista da mudança, ao incentivar as filhas a romperem com os limites do espaço doméstico, a se educarem e alcançarem sonhos por vezes impossíveis.
Ao final da década de 1980, com uma carreira já consolidada, a socióloga quis fazer a diferença em sua sociedade, assumindo o papel do intelectual orgânico gramsciniano. Além de continuar pesquisando e escrevendo sobre temas das mulheres, questões de gênero, opressão feminina e atuar como consultora e pesquisadora da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Mernissi envolveu-se diretamente em ações concretas para contribuir com a transformação dessas vidas, procurando estar o mais próxima possível dessas mulheres. O coletivo “Mulheres, Famílias e Crianças”, grupo de pesquisa multidisciplinar liderado por Mernissi, engajou-se no debate sobre direitos das mulheres que culminou em 2004 nas reformas da Mudawanat.
A socióloga passou a conviver com mulheres pobres da cidade e do campo que, ainda que analfabetas, carregavam conhecimentos e experiências de vida para além dos bancos escolares e dos livros. Mernissi as ouvia, registrava suas histórias, agia como interlocutora, aconselhava, questionava, provocava à reflexão e, sobretudo, demonstrava pelas histórias que coletava que essas mulheres tinham muito a dizer e a ensinar. Não poderiam mais ser caladas ou permanecer silenciadas; usando ou não o hijab, elas tinham muito a dizer e ensinar.
Tendo a socióloga como interlocutora, essas mulheres camponesas ou tecelãs puderam falar sobre suas vidas, casamentos e filhos, as expectativas de futuro, sobretudo para as meninas; divagar sobre a infância e a memória construída sobre a infância e um passado nostálgico; analisar os novos espaços onde passaram a viver e atuar como a cidade, o trabalho e a escola. Mais ainda: elas testemunharam na passagem do tempo as transformações sociais e políticas do Marrocos e como elas afetaram a condição da mulher marroquina na luta cotidiana por dignidade, autonomia e direitos. Contra a visão cristalizada de uma mulher árabe-muçulmana e submissa, a história dessas mulheres e suas visões de mundo rompem com a visão estereotipada sobre elas.
Mernissi foi além da escrita e da denúncia. Ela participou ativamente de projetos cujo objetivo estava centrado na alfabetização de mulheres marginalizadas em comunidades rurais, bairros periféricos e prisões. Acreditando que essas mulheres já eram inteligentes, bastava a elas ter acesso à leitura e escrita de textos. Além de ampliar o conhecimento, ao se apropriar de textos sagrados, jurídicos e filosóficos, essas mulheres teriam o material necessário para lutar contra o silenciamento, a opressão e a violência de gênero. Ler, questionar, refletir levaria a uma independência intelectual e à ruptura com formas sistêmicas do discurso da legitimidade da dominação masculina e misógina sobre as mulheres, justificadas pelos textos religiosos em suas interpretações masculinas restritivas.
Mernissi se envolveu em diferentes projetos dessa natureza. Em 1996, ela conheceu o projeto “Caravanas do Livro”, idealizado pela livreira e ativista Jamila Hassoune, que consistia em levar caixas de livros para escolas rurais localizadas nas montanhas do Atlas. Fatima Mernissi chamou essas caixas de “bibliotecas voadoras” em alusão aos míticos tapetes voadores, que passaram a incluir também filmes, peças de teatro e novas tecnologias.
Essa ideia foi expandida para as “Caravanas Cívicas” que visavam a engajar diferentes membros da sociedade civil e internacional, entre escritores, educadores, editores, ativistas, médicos, advogados, na alfabetização da população feminina marginalizada. Para dar mais concretude a essas ações e expandir seu alcance, foi criado ainda o projeto “Sinergia Cívica”, pelo qual Mernissi se comprometia a ministrar oficinas de escrita para os membros desse coletivo em troca de estabelecer uma ponte entre as pessoas marginalizadas e o mundo cultural.
O trabalho foi amplificado para além de seu país, atingindo outras regiões do Norte da África, por meio do projeto “Karawan”, palavra de origem árabe para designar um programa itinerante de educação, conscientização e registro de situações sobre os direitos humanos e das mulheres nessa região. Unindo associações e pessoas da sociedade civil interessadas em mudanças sociais, Mernissi engajou-se em seus últimos anos de vida na criação dessas redes para democratizar o acesso à informação e equalizar os recursos intelectuais e materiais entre todos. A socióloga instigava a elite intelectual marroquina a assumir seu papel de vanguarda para realizar mudanças efetivas na sociedade, pois não bastava identificar as raízes do atraso. Era necessário agir para extirpá-las e a palavra, falada, lida, escrita, era a melhor arma para alcançar essa transformação.
Além disso, Mernissi estava preocupada com a preservação do modo de vida e com o patrimônio cultural da produção de tapetes realizada pelas mulheres em suas mais diferentes gerações, estabelecidas nos lugares mais recônditos do país. Junto com a professora Najia Boudali, Mernissi tinha dois objetivos centrais nessa ação, que era um braço das “Caravanas Cívicas”. Um era pragmático: melhorar a renda dessas mulheres tapeceiras selecionando suas melhores produções para serem expostas em vendas familiares e atrair diretamente possíveis compradores para essa venda sem intermediários, assim mitigando a falta de oportunidades econômicas e o fluxo migratório. Outro, mais ousado, era reconectar as tecelãs com seu saber ancestral, valorizando a técnica, o saber fazer e os padrões que conectavam um conhecimento milenar com os interesses mais sofisticados mundo afora.
A socióloga afirmava que a participação no mundo, por menor que fosse, tinha a capacidade de efetuar mudanças. Entre livros e tapetes voadores, a socióloga fez a diferença para a vida dessas mulheres, mas certamente elas fizeram o mesmo por Mernissi.
6. Hudud: Fronteiras Transgredidas
Entre muitas entrevistas que concedeu e programas nos quais participou, Mernissi foi questionada por que, após ter vivido em outros países como França e Estados Unidos, retornara para o Marrocos para viver, lecionar e militar “apesar de todas as restrições à liberdade das mulheres”, segundo o jornalista. Ao que ela respondia de um jeito irreverente, e ao mesmo tempo firme, que era tanto pela beleza inquestionável de seu país como pelos impactos que sua ação como mulher intelectual e ativista poderia causar em sua sociedade. Mernissi afirmava que qualquer coisa que dissesse ou publicasse em sua terra natal logo estaria sendo comentada no meio intelectual ou no “mercado de peixes”, com pessoas especializadas ou comuns se posicionando a favor ou contra ela, provocando debates e troca de ideias. Fatima Mernissi queria deixar sua marca no mundo e fazer a diferença na sociedade com a qual estava “ligada umbilicalmente”.
De renome mundial, ela era vista como uma celebridade em seu país, apesar de tantas censuras, polêmicas e proibições. Internacionalmente, e em conjunto com a médica egípcia Nawal el Saadawi e a ativista iraniana Mahnaz Afkhami, engajou-se na incorporação das questões de gênero e do papel das mulheres nos estudos sobre o Oriente Médio, não como tema secundário ou acessório, mas essencial para uma perspectiva positivamente transformadora da sociedade islâmica. Foi membro do Grupo de Sábios da União Europeia para o Diálogo entre Povos e Culturas visando a essas aproximações interculturais.
A trajetória acadêmica, ativista e engajada de Fatima Mernissi foi reconhecida ainda em vida. Pelo seu trabalho de promoção de diálogo entre culturas em 2003 foi agraciada, juntamente com Susan Sontag na categoria Literatura, com o Prêmio Príncipe das Astúrias, tendo concorrido com outras 42 indicações, entre elas a do peruano Alfredo Bryce-Echenique e a do egípcio Nagib Mahfuz.
No ano seguinte recebeu, em conjunto com o filósofo sírio Sadik Al-Asm e o pensador iraniano Abdolkarim Soroush, o Prêmio Erasmus Príncipe Bernhard por sua contribuição para as artes e as ciências sociais na categoria Religião e Modernidade. Em 2005 recebeu o Prêmio Mediterrâneo Literário Francês. Em 2011 compôs a Lista Global do The Guardian das “100 Mulheres mais importantes: Ativistas e Campanhas” e, em 2013, integrou a lista das “100 Mulheres mais influentes do mundo árabe”, organizada pela revista Arabian Business.
Diversas homenagens foram feitas a ela em obituários como no The Guardian, The Arab Weekly, Liberation, Morocco World News, que a descreveram como uma figura importante, influente, potente, poderosa, marcante, célebre, um ícone da literatura feminista islâmica e da luta pelos direitos das mulheres. The New York Times a chamou de “Fundadora do Feminismo Islâmico”, embora ela mesma não tenha reivindicado essa posição.
Logo após seu falecimento foram criadas Cátedras em sua homenagem, como a da Universidade Mohammed V em Rabat, onde Mernissi lecionou entre 1974 e 1981, por sugestão de sua colega e discípula Asma Lamrabet; no Centro de Especialização em Gênero, Diversidade e Interseccionalidade da Universidade Livre de Bruxelas; na Universidade Autônoma do México (UNAM). Foram criados o prêmio Fatima Mernissi Book Award para estudos de gênero pela MESA (Middle East Studies Organization) e a Bolsa Fatima Mernissi pelo Instituto Africano de Sharjah. Em 2022, o Correio Magrebino estampou um selo em sua homenagem e foi lançado o filme intitulado Fatema, la Sultane inoubliable [Fatima, a sultana inesquecível], dirigido por Mohammed Abderrahman Tazi e Karima Saïdi. Diversos dicionários biográficos e enciclopédias mantêm o verbete Fatima Mernissi.
Para a historiadora e ativista Latifa El Bouhsini, Mernissi foi a intelectual feminista que tornou o seu país, o Marrocos, famoso.
7. Tornando o Marrocos famoso: obras de Fatima Mernissi
Mernissi escreveu muitas obras em forma de livros e artigos, originalmente em inglês ou francês, depois traduzidas para o árabe por ela mesma. Também há traduções para mais de vinte línguas e publicação em diferentes países, incluindo o Brasil, alcançando um público local, regional e internacional. Em nosso país, Mernissi é conhecida e mobilizada em estudos sobre mulheres muçulmanas, mas ainda não se concretizaram em estudos acadêmicos que analisem suas obras, concepções e teorias, com exceção, e de forma parcial, de uma dissertação.
A listagem apresentada abaixo mantém o título no idioma original da publicação e acrescenta a versão em outra língua quando é diferente.
7.1. Para ler tudo
MERNISSI, F. (1983). Le Maroc raconté par ses femmes. Casablanca: Éditions Le Fennec, [Republicado (1991). Le monde n’est pas un harem. Parolés des femmes du Maroc. Paris: Albin Michel]. [(1989). Doing daily battle. Interviews with Moroccan women. New Brunswick: Rutgers University Press].
MERNISSI, F. (1984). L‘amour dans les pays musulmans. Paris: Jeune Afrique. [(2008). El amor en el Islam. A través del espejo del textos antiguos. Madrid: Aguilar].
MERNISSI, F. (1985a). Nisâ’ al-gharb. Dirâsât maydâniyya/Femmes du Gharb. Rabat: Société marocaine des éditeurs réunis.
MERNISSI, F. (1985b). Sexe, idéologie, Islam. Casablanca: Éditions Maghrébines.
MERNISSI, F. (1987a). Beyond the veil: male-female dynamics in modern muslim society. Revised edition. Bloomington, Indiana: Indiana University Press.
MERNISSI, F. (1987b). Le harem politique: le Prophète et les femmes. Paris: Albin Michel. [(1991). The veil and the male elite: a feminist interpretation of women´s rights in Islam. New York: Perseus Books Publishing, 1991].
MERNISSI, F. (1988). Charazad laysat maghribiya/Shahrazad n’est pas marocaine: autrement, elle serait salariée. Casablanca: Le Fennec.
MERNISSI, F. (1990). Sultanes oubliées: femmes chefs d’État en Islam. Paris: Albin Michel / Éditions Le Fennec, 1990. [(1993). The forgotten queens of Islam. Cambridge: Polity Press].
MERNISSI, F. (1992). La peur-modernité: conflit islam-démocratie. Paris: Albin Michel /Éditions Le Fennec. [(1992). Islam and Democracy: fear of the modern world. Massachussets: Addison Wesley/Perseus].
MERNISSI, F. (1994). Dreams of Trespass. Tales of a Harem Girlhood. Massachussets: Addison Wesley, 1994. [(1996). Rêves de femmes: Une enfance au harem. Paris: Albin Michel].
MERNISSI, F. (1996). Women’s Rebellion and Islamic Memory. London: Zed Books.
MERNISSI, F. (1997). Les Aït-Débrouille. ONGs rurales du Haut Atlas. Casablanca: Éditions Le Fennec.
MERNISSI, F. (1998). Êtes-vous vacciné contre le harem? Casablanca: Éditions Le Fennec.
MERNISSI, F. (2001). Scheherazade goes West. Different cultures, different harem. New York: Washington Square Press, 2001. [(2001) Le Harem et l´Occident. Paris: Albin Michel].
MERNISSI, F. (2003). The Satellite, the Prince and Sheherazade: The Rise of Women as Communicators in Digital Islam. Recuperado de https://www.arabmediasociety.com. Acesso em 01 de outubro de 2025.
MERNISSI, F. Dirigé par. (2004). Les Sindbads marocains, Voyage dans le Maroc civique. Rabat: Éditions Marsam.
MERNISSI, F. (2004). Un libro para la paz. Madrid: El Aleph.
MERNISSI, F. (2007). À quoi rêvent les jeunes? Rabat: Éditions Marsam.
SABBAH, F. (pseudônimo). (1986). La femme dans l’inconscient musulman. Paris: Albin Michel. [(1984). Woman in the muslim unconscious. New York: Pergamon Press.
7.2. Para ler em Português
MERNISSI, F. (1996). Sonhos de Transgressão. Minha Vida de Menina num Harém. Tradução de Carlos Sussekind. São Paulo: Companhia das Letras.
MERNISSI, F. (2001). O Harém e o Ocidente. Alfragide: ASA Editores.
MERNISSI, F. (2024). Sultanas Esquecidas. Mulheres Chefes de Estado no Islã. Tradução de Marília Scalzo. Rio de Janeiro: Tabla.
MERNISSI, F. (2025). O Harém Político: O Profeta e as Mulheres. Tradução de Marília Scalzo. Rio de Janeiro: Tabla.
7.3. Para saber mais
Fateema Mernissi. Eqbal Ahmad Lecture. Hampshire College, 12 de março de 2002. Recuperado de: https://www.youtube.com/watch?v=eyZ1HlX1lxk. Acesso em 01 de outubro de 2025.
Fatema, la Sultane inoubliable. Direção: Mohammed Abderrahman Tazi e Karima Saïdi, 2022. https://www.imdb.com/pt/title/tt14771414/
Remembering Islamic Feminist Fatema Mernissi. Recuperado de https://www.npr.org/2015/12/10/459223430/remembering-islamic-feminist-fatema-mernissi# Acesso em 26 de outubro de 2025.
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