Silvia Federici 

Silvia Federici 

(1942-)

Por Silvana de Souza Ramos,

Professora do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), 

coordenadora do Grupo de Estudos de Política e Subjetividades (DF/USP) Lattes

Raffaella Limone,

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da 

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Lattes

e Mariana Di Stella Piazzolla,

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), integrante do Grupo de Estudos de Política e Subjetividades (DF/USP)

Lattes

PDF – Silvia Federici

Foto de Sharif Hamza para o New York Times.

A filósofa Silvia Federici, italiana naturalizada norte-americana, nasceu na cidade de Parma, em 1942. Estudou línguas modernas e literatura na Universidade de Bolonha e recebeu, em 1967, uma bolsa de estudos do Programa Fulbright para estudar filosofia na Universidade de Buffalo. Após terminar seu doutorado em 1980, lecionou na Universidade de Port Harcourt, na Nigéria, uma experiência que teve consequências importantes para a sua obra, retornando aos Estados Unidos, em 1987, quando se tornou professora da Universidade de Hofstra, em Nova York (Federici, 2022a). É co-autora de Il Grande Calibano. Storia del corpo sociale ribelle nella prima fase del capitale [O Grande Calibã. História do corpo social rebelde na primeira fase do capital] (Franco Angeli, 1984) e autora dos livros Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva (Elefante, 2017 [2004]); Mulheres e caça às bruxas: da Idade Média aos dias atuais (Boitempo, 2019a, [2018]); O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista (Elefante, 2019b [2012]); Patriarcado do salário: notas sobre Marx, gênero e feminismo (Boitempo, 2021 [2020]); Reencantando o mundo: feminismo e a política dos comuns (Elefante, 2022b [2019]); Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo (Elefante, 2023 [2020]); e Caça às bruxas e capital: mulheres, acumulação e reprodução (Elefante, 2025 [2022]). É organizadora do livro Enduring Western Civilization: The Construction of the Concept of Western Civilization and Its “Others” [A civilização ocidental duradoura: a construção do conceito de civilização ocidental e seus “Outros”] (Praeger, 1995), e coorganizadora, com Constantine George Caffentzis e Ousseina Alidou, de A Thousand Flowers: Structural Adjustment and the Struggle for Education in Africa [Mil Flores: o Ajuste Estrutural e a Luta pela Educação em África] (Africa World Press, 2000); com Joseph McLaren e Cheryl Mwaria, de African Visions: Literary Images, Political Change, and Social Struggle in Contemporary Africa [Visões Africanas: Imagens Literárias, Mudanças Políticas e Lutas Sociais na África Contemporânea] (Praeger, 2000); e com Verónica Gago e Luci Cavallero, de Quem deve a quem? Ensaios transnacionais de desobediência financeira (Elefante, 2023 [2021]).

 

1. O movimento operaista 

Em artigo publicado no jornal The New York Times, Kisner considera Silvia Federici uma das principais feministas contemporâneas por ter sido “uma das primeiras a pedir remuneração pelo trabalho doméstico” (Kisner, 2021, p. 72). Este termo, como se pode notar, refere-se à demanda por assalariamento do trabalho realizado, geralmente, por mulheres dentro de suas próprias casas, ao que poderíamos diferenciar do emprego doméstico, atividade remunerada executada nas casas de outras famílias. De fato, a autora foi uma das responsáveis por chamar a atenção para a importância econômica do trabalho considerado feminino, posição que lhe permitiu questionar o desprezo de certos marxismos com relação às atividades não pagas de reprodução e cuidado na configuração estrutural do capitalismo. Em termos gerais, a pensadora traz para o primeiro plano de sua análise crítica a necessidade de que seja explicitado o papel específico desta ação humana, que é histórico, socialmente destinado às mulheres e estrategicamente não remunerado, na produção e exploração capitalista de valor e mais-valor. 

Inicialmente, o pensamento de Federici está particularmente ligado à corrente marxista de cunho heterodoxo e antiautoritário denominada operaismo, cuja análise política se aproxima do autonomismo, pois combatia a posição dogmática da esquerda italiana institucionalmente hegemônica. A esquerda institucionalizada do país defendia a ideia do Partido-guia como o único depositário da verdade revolucionária e, por isso, o considerava tendencialmente um Partido-Estado, ao passo que a posição do operaismo defendia a renovação do movimento operário a partir de baixo e a autonomia deste em relação ao comando dos sindicatos e dos partidos políticos (cf. Viel, 2017), num período histórico em que se assistia à passagem do fordismo ao pós-fordismo na Itália. 

Os intelectuais desta corrente buscavam se aproximar dos operários por meio da análise teórico-militante conhecida como copesquisa, isto é, uma análise sociológica, realizada com trabalhadores da fábrica, baseada numa estreita interação comunicativa entre entrevistado e entrevistador, destinada, sobretudo, a conhecer o ciclo de produção para organizar as lutas (Alquati, 1993). A experiência operaista se alimentou da produção teórica dos Quaderni Rossi, em atividade de 1961 a 1966, e da revista Classe Operaia, em circulação de 1961 a 1967. Nos anos 1960, Antonio Negri, Raniero Panzieri e Mario Tronti formavam o núcleo dos intelectuais marxistas que girava em torno da primeira publicação. Esse círculo se caracterizava pela retomada crítica do pensamento de Marx, marcada pela associação concreta com as lutas locais dos trabalhadores e pela recusa às vias burocráticas de organização. O caráter heterodoxo das posições aí desenvolvidas está ligado a uma dupla redescoberta: a de Marx, tendo em vista que a primeira tradução ao italiano do trecho dos Grundrisse conhecido como “Fragmento sobre as máquinas” foi publicada na quarta edição dos Quaderni Rossi, e a da fábrica. Esta última precisava ser reavaliada da perspectiva de uma nova composição que surgia naquele período, uma “nova classe” advinda dos trabalhadores oriundos do sul da Itália que não estavam apaziguados, frente ao conflito entre capital e trabalho, como pareciam estar os trabalhadores do norte (Fonseca, 2016). Assim, contra a ideia de uma classe em abstrato, o operaismo “propunha um retorno às fábricas para construir uma política operária anticapitalista a partir das lutas locais” (Löwy, 2024) de modo que sua apreensão do pensamento de Marx concedia centralidade ao tema da luta de classes, elemento igualmente preponderante no pensamento de Federici. De fato, a pensadora italiana guarda traços desse pensamento autonomista, embora seja preciso salientar que ela jamais deixa de acusar seus pares masculinos de “cegueira”, uma vez que eles negligenciam o surgimento moderno da mulher enquanto função-trabalho e o fato de que essa figura se tornou um dos pilares do modo de produção capitalista.

2. A campanha “Salários para o Trabalho Doméstico”

Em 1967, tendo vivido, ainda muito jovem, o contexto político e cultural das lutas autonomistas na Itália, Federici se muda para Nova Iorque quando ingressa na Universidade de Buffalo para estudar filosofia. Foi ali, em 1972, que ela se tornou uma das figuras centrais da campanha internacional Wages For Housework [Salários para o Trabalho Doméstico]. Essa campanha feminista visava ao reconhecimento do trabalho doméstico como atividade a ser remunerada pois, ao contribuir material e imaterialmente para a reprodução e a manutenção da força de trabalho, essa atividade possibilita efetivamente qualquer outra forma de produção e de extração de mais-valor.

Em julho de 1972, o Comunicato del Collettivo Internazionale Femminista [Comunicado do Coletivo Feminista Internacional] foi elaborado em Pádua, na Itália. Nessa espécie de Manifesto, ativistas e pensadoras dessa corrente escrevem: 

[…] dentro do movimento feminista rejeitamos […] tanto a subordinação da luta de classes ao feminismo quanto a subordinação do feminismo à luta de classes. A luta de classes e o feminismo são a mesma coisa para nós, uma vez que o feminismo expressa a rebelião daquela seção da classe sem a qual a luta não pode se generalizar, se ampliar e se aprofundar. Acreditamos que estas duas posições no movimento feminista foram e são uma resposta à gestão da luta de classes pelos homens: ou a nossa aceitação acrítica da sua teoria e prática política fragmentadas, ou a nossa rejeição acrítica da classe (Comunicato del Collettivo Internazionale Femminista, 1972). 

Nesta passagem, o manifesto expressa a tese de que não pode haver verdadeira compreensão da luta de classes sem que se inclua na discussão desse tema as reivindicações ligadas à condição feminina, ao mesmo tempo em que a luta feminista não deve se desprender da contestação do capitalismo. Por integrarem um movimento de traço autonomista, as operaistas reivindicam a autonomia política de certos grupos no interior da resistência à exploração capitalista, uma vez que se trata, a cada vez e em cada situação, de “descobrir os objetivos, as formas e os lugares dessa luta e, portanto, [os modos] de a levar adiante” (idem), sem que isso signifique o abandono da própria noção de classe.

O que está em jogo aqui é a identificação de um problema estrutural que será o mote da luta pelo reconhecimento do caráter laboral de certas atividades tomadas como naturalmente femininas: a questão a ser destacada internacionalmente é a condição de exploração das mulheres na esfera doméstica, ainda mais devido à confusão entre os espaços público e privado, quando, no contexto do capitalismo, a esfera do trabalho transita da fábrica para a sociedade. Este é um tema clássico do operaismo italiano. Antonio Negri (1933-2023) é considerado o principal teórico da transição do trabalhador de massa ao trabalhador social, ou seja, da transição de uma economia baseada na produção de bens para uma economia cada vez mais baseada nos serviços e na terceirização do trabalho (cf. Negri, 1979). Em outras palavras, esse debate permite trazer à tona a interdependência entre o lar e o espaço do trabalho produtivo, rejeitando-se, assim, a interpretação de que o trabalho doméstico é apenas auxiliar para a reprodução do capital. 

Desta experiência de 1972 nasceram, em 1974, os Comitês de Salários para o Trabalho Doméstico, também conhecidos como Coletivo Feminista Internacional (CIF). A proposição de um pagamento de salário por parte do Estado como reconhecimento das atividades realizadas na esfera doméstica sofreu muitas críticas ao longo dos anos, principalmente das teóricas feministas que viam nessa posição um encerramento da mulher no espaço doméstico de opressão e a impossibilidade de sua organização coletiva, uma vez que a proposta a mantinha apartada do chão da fábrica. Na introdução de O Ponto Zero da Revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista (2019b [2012]), Federici afirma que, a despeito da reorientação da luta para o que ela denomina posteriormente de comuns ou de formas coletivas de produção e de reprodução, a defesa dos comitês por salários para o trabalho doméstico, e não para donas de casa, foi um modo de compreender, já naquele período, a necessidade de degenerificar a divisão do trabalho. Ao deslocar o foco da discussão da figura da dona de casa para a remuneração do trabalho necessário à manutenção da vida, as campanhas acabavam por mostrar que, apesar de ser historicamente realizado por mulheres, esse tipo de tarefa não é essencialmente feminina. Não obstante o debate engendrado por essas campanhas, conjuntamente, inclusive, a uma discussão sobre o teor do trabalho doméstico nos anos 1970, o feminismo engendrado em meio aos Comitês, de acordo com Louise Toupin (2023), na maior parte das vezes não é considerado na narrativa da história do feminismo em geral, apesar de ter nascido num horizonte imediatamente internacional:

 

O […] nome era, segundo o país, Salaire pour/contre le travail ménager, Wages for housework ou Lohn für Hauserbeit. […] A partir de 1972, os grupos estavam ativos na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e principalmente no Canadá anglófono, bem como na Suíça e na Alemanha. Alguns descreveram-no como ‘o embrião de uma Internacional de Mulheres’ (TOUPIN, 2023, p. 9-10). 

Independentemente de sua difusão e relevância, o movimento encontrou resistências até mesmo no interior do operaismo, de modo que a divulgação internacional do pensamento de Federici abre hoje a possibilidade de que essa corrente feminista seja reconhecida em sua importância. Ainda mais pelo fato de o Coletivo Feminista Internacional ter assumido um caráter agregador e coletivista, pois surgiu como uma rede de grupos, algo que Toupin enfatiza para melhor contextualizar sua origem: 

Em julho de 1972, cerca de vinte militantes feministas se reuniram durante dois dias em Pádua, no norte da Itália. A maior parte delas era italiana, as outras provinham do novo movimento de libertação das mulheres que tinha emergido do movimento marxista heterodoxo na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França, alimentado pela militância dos movimentos decoloniais, pelos direitos civis, do movimento estudantil e do operaismo italiano. […] Nasceu o Coletivo Feminista Internacional/Collectif féministe international. As fundadoras do Coletivo Feminista Internacional foram, pela Itália, Mariarosa Dalla Costa, do Movimento di Lotta Femminile (mais tarde, Lotta Femminista); pela Inglaterra, Selma James, do grupo Notting Hill do The London Women’s Liberation Workshop e militante anti-colonial de longa data; pelos Estados Unidos, Silvia Federici, italiana que migrou recentemente para os Estados Unidos e era membra do grupo Women’s Bail Fund de Nova Iorque; e pela França, Brigitte Galtier, uma militante parisiense da ‘autonomia dos trabalhadores’, do grupo misto Matériaux pour l’intervention (Idem, p. 116-117).

A Itália (incluindo Pádua, Veneza, Ferrara, Trieste e Modena), a Inglaterra (Londres e Manchester), os Estados Unidos (Los Angeles, Nova Iorque, Filadélfia, Cleveland, mas também Oberlin, Boston, Chicago e Nova Orleans) e o Canadá (Toronto e Montreal) foram os principais espaços em que a rede internacional conseguiu organizar certa dissidência feminista, através de encontros, manifestações, reuniões públicas e greves ligadas a questões como o trabalho doméstico e os direitos reprodutivos (idem, p. 118-164). O coletivo nasceu e organizou-se até 1977, para depois se reestruturar entre 1977-1978, e se desintegrar num momento em que se assiste ao processo de repressão contra os grupos de protesto na virada dos anos 1970-1980, quando a corrente operaista conheceu o seu colapso, em consequência, dentre outras coisas, das detenções em massa de intelectuais criminalizados pela sua atividade política naqueles anos.

3. Feminilidade como função-trabalho no capitalismo  

Em entrevista concedida à revista italiana Internazionale em agosto de 2024, Federici considera que, em 1975, o neoliberalismo iniciou uma nova fase nos Estados Unidos. Naquele ano, Nova Iorque enfrentou uma grave crise financeira que a levou à beira da falência. A cidade teve dificuldades em honrar dívidas e cumprir compromissos financeiros, o que resultou em cortes em serviços públicos, como segurança e limpeza. A crise foi resultado de uma combinação de fatores, incluindo a perda de empregos e investimentos, o aumento da dívida pública e a instabilidade econômica. Os acontecimentos geraram um forte movimento de regressão em relação às conquistas dos trabalhadores de anos anteriores. Desde 1975, portanto, há um obstáculo que dificulta a continuação de qualquer ativismo político feminista. Nesta fase, Federici colabora com a criação de Tap Dance, revista do coletivo feminista nova-iorquino, datada do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, lançada assim que a rede internacional se desfez. A revista oferece uma análise crítica do movimento feminista e de suas intersecções com outras lutas sociais e organiza-se em torno de questões cruciais ligadas aos direitos reprodutivos, às políticas sociais e, claro, à crítica ao capitalismo.

Após esses acontecimentos, Federici se muda para a Nigéria onde viveu entre 1984 e 1986, tornando-se professora na Universidade de Port Harcourt. Em seguida, voltou para os Estados Unidos e, em 1987, começou a ensinar filosofia política no Hofstra College, em Nova York.
Entre 1990 e 2003, Federici fundou o CAFA – Comitê para a Liberdade Acadêmica na África –, organização dedicada a apoiar as lutas de estudantes e professores contra as adaptações estruturais das economias e dos sistemas educativos africanos resultantes de reformas neoliberais. A intenção era, como afirma a própria Federici na entrevista citada acima, dar conta das lutas de estudantes e acadêmicos, dando origem a um inquérito sobre o ataque à liberdade vivido nas universidades africanas. Na Nigéria, ela pôde presenciar a implementação de uma série de ajustes estruturais patrocinados pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, experiência que lhe servirá de base para futuras análises do projeto neoliberal.

Em 2004, Federici publicou Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva, ensaio sobre a articulação entre o nascimento da mulher moderna, os processos de acumulação primitiva do capital e o adestramento do corpo feminino na transição do feudalismo ao capitalismo. Trata-se de uma versão ampliada e revisada de Il Grande Calibano, texto publicado na Itália, em 1984, com Leopoldina Fortunati. Em Calibã e a bruxa

Federici propôs uma nova teoria sobre a transição do feudalismo para o capitalismo na Europa, reunindo provas históricas de que este foi também o momento em que o trabalho das mulheres ficou sob o controle dos chefes de família masculinos e foi confinado à esfera doméstica. As mulheres poderiam dar à luz e aumentar a força de trabalho; mas a sua autonomia, e sobretudo a sua capacidade reprodutiva, teve que ser “delimitada”. Essa condição teve então que se tornar “natural”, como se a domesticidade fosse o seu principal desejo. Essa transição foi violenta, argumenta Federici, citando as milhares de mulheres mortas nesse período, acusadas de serem bruxas, porque não se conformavam com a estreiteza de sua nova realidade (Kisner, 2021, p. 75).

Nestes termos, Federici compreende que a figura da bruxa nada mais é do que uma construção histórica cuja função seria demonizar a sexualidade feminina, controlar seus comportamentos e naturalizar a exploração de seu trabalho não remunerado.  

Foi nítida a ofensiva contrarrevolucionária praticada pela aristocracia e pela burguesia, amplamente patrocinada pelos Estados nascentes, para cercar os corpos das mulheres e transformá-las em territórios político-econômicos a serviço da reprodução e do cuidado. Uma campanha de demonização das mulheres passou a ser perpetrada, retratando-as como seres selvagens, bestiais, a serem dominados. Federici mostra tanto por meio de estudos, como por intermédio de ilustrações, a incitação que passou a ser feita à perseguição de mulheres. Tal fato ficou conhecido como a grande caça às bruxas. Mulheres eram constantemente difamadas, perseguidas, presas, torturadas e assassinadas, muitas vezes em fogueiras. Centenas de milhares de mulheres foram mortas neste processo. O objetivo era destruir sua autonomia profissional e o autocontrole sobre seus corpos, submetendo-as à autoridade total dos maridos e do Estado. As mulheres se tornariam os novos bens comuns dos homens, espécie de compensação pelas terras [comunais] perdidas (DIAS, 2021, p. 163).

Feministas marxistas têm alertado para o fato de que a organização familiar experimentou mudanças significativas quando o capitalismo suplantou modos de produção anteriores. A desintegração da família camponesa, resultado da expropriação das terras comunais, abriu campo a uma nova divisão sexual do trabalho. A formação do proletariado foi acompanhada por divisões internas dessa classe, baseadas especialmente no gênero e na raça. O processo de formação da classe proletária é marcado pela transformação do corpo das mulheres em fábricas de força de trabalho disponíveis para a produção e a reprodução de capital. Historicamente, esse resultado foi alcançado por meio do extermínio de mulheres dissidentes transformadas em bruxas e pelo terror que essa prática disseminou no corpo social. 

Na Baixa Idade Média, as mulheres eram detentoras de saberes sobre a sexualidade e a reprodução, o que lhes dava um papel social decisivo no contexto feudal, anterior à ascensão do capitalismo e da modernidade. Esses saberes, assim como a própria figura da mulher, foram difamados; antigas práticas passaram a legitimar uma ampla perseguição, e finalmente as mulheres, expropriadas de seu modo de vida, foram domesticadas pelo capitalismo de modo que pudessem assumir papéis marcados pela exigência de submissão aos homens, ao patrão e ao Estado (Cf. Ramos, 2020 e 2024; Ramos & Piazzolla, 2025). 

Esse processo foi importante não apenas para a criação da mulher moderna, pois ele foi um componente decisivo para a consolidação da própria classe trabalhadora. Dividido em função da diferença sexual e racial, o proletariado seria, de certo modo, impedido de encontrar uma consciência de classe unitária, capaz de alimentar sua luta contra o Capital. Ora, segundo Federici, o capitalismo cria hierarquias onde quer que a diferença surja. Assim, a destruição do modo de vida feminino existente no mundo feudal foi necessária para a submissão das mulheres no novo sistema, embora seu resultado principal tenha sido a criação de uma classe em grande medida destinada ao trabalho alienado, quase sem força para reagir ao processo de exploração em que foi inserida, e isso em função de sua constitutiva divisão interna. Nestes termos, a acumulação primitiva foi, e ainda é, de um lado, o acúmulo de trabalhadores/as exploráveis e de capital; de outro lado, ela se configura como “uma acumulação de diferenças e de divisões dentro da classe trabalhadora, em que as hierarquias constituídas sobre o gênero, assim como sobre a ‘raça’ e a idade, se tornaram constitutivas da dominação de classe e da formação do proletariado moderno” (Federici, 2017[2004], p. 119).

Assim, o livro Calibã e a bruxa, escrito depois da experiência de Federici na Nigéria, é também motivado a discutir o tema da colonização e seu papel no nascimento do sistema capitalista. Pois, se antes as mulheres camponesas europeias detinham certo controle sobre sua sexualidade, podendo cuidar de modo coletivo e autônomo da reprodução e da criação das crianças, com a mecanização e a expropriação de seus corpos, transformados em fábrica social, efetiva-se a moderna diferenciação entre homens e mulheres, bem como se reorganiza, por intermédio de processos coloniais, a posição social de pessoas destinadas ao trabalho escravizado e a outras formas de atividade compulsória. Nesses termos, segundo Federici, o capitalismo é estruturalmente misógino e racista. Segundo a autora, não é de espantar que a cada crise desse sistema surja a necessidade de que o cercamento do corpo feminino e a exploração de corpos racializados sejam repostos e reafirmados internacionalmente. 

Calibã e a bruxa pode ser considerada a principal obra de Federici devido às suas contribuições para a análise da acumulação primitiva do capital, da exploração do trabalho reprodutivo no contexto da luta de classes, do disciplinamento dos corpos para o funcionamento do sistema e para a compreensão da feminilidade como função-trabalho, isto é, como função estruturada por relações de produção historicamente constituídas. Nesses termos, a filósofa compreende a inseparabilidade entre classe, gênero e raça, pois ressalta que os trabalhos a cargo das mulheres se justificam ideologicamente sob a forma de um destino biológico – e não podemos deixar de notar a referência a Simone de Beauvoir em toda essa discussão –, capaz de naturalizar/normalizar certos comportamentos e atividades que, por isso mesmo, jamais são compreendidas como trabalho remunerável. 

4. Reencantamento do mundo: a política dos comuns contra a globalização

Há, contudo, diversos escritos, da década de 1970 até os dias atuais, nos quais é possível perceber mudanças no pensamento de Federici, as quais devemos destacar. Por exemplo, em O ponto zero da revolução​: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista (2019b [2012]), a discussão sobre os comuns acontece no momento em que a autora deixa de falar de trabalho doméstico e passa a tratá-lo como trabalho reprodutivo, o que lhe permite abarcar atividades realizadas em espaços que ultrapassam o lar, tais como a agricultura de subsistência, mudança que, por consequência, permite-lhe discutir problemas ligados ao acesso à terra, de modo a analisar mais amplamente as condições de reprodução da vida em determinadas circunstâncias. Assim, no seu livro Reencantando o mundo: feminismo e a política dos comuns (2022b [2019]), Federici se contrapõe à crítica à globalização focada na revolução da informação para enfatizar o papel central da terra, da casa e do salário, mantidos sob ataque na Nova Ordem Mundial, cujas inovações tecnológicas dependem estruturalmente desses elementos, os quais, por isso, merecem maior atenção.  

Sua leitura da globalização é dirigida às políticas econômicas, implementadas por organizações internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, com vistas a aliviar o aprofundamento da pobreza e da desigualdade social resultantes dos programas que elas próprias ajudaram a executar. O neoliberalismo precarizou as condições de trabalho e destruiu riquezas comuns, ampliando os espaços de expropriação ao se infiltrar nas redes de relacionamento articuladas para a sobrevivência de populações empobrecidas. A autora denuncia, portanto, o pretenso apoio dessas organizações ao desenvolvimento dos países pobres por meio da monetização das atividades de reprodução. Em seu texto Mulheres, dinheiro e dívida: notas para um movimento feminista de reapropriação (2023a [2021]), ela analisa as razões pelas quais há certa preponderância de ofertas de financiamento e de microcrédito destinados a mulheres pobres. As justificativas apresentadas pelas organizações, por um lado, argumentam que as mulheres são pessoas mais confiáveis, responsáveis e adimplentes do que os homens, e esclarecem que os recursos emprestados geralmente estão vinculados às necessidades básicas do cotidiano, o que faz delas destinatários preferenciais dessas concessões; por outro lado, a financeirização da reprodução ensejada por essas políticas, seja porque mercantilizam os serviços antes prestados de forma gratuita, seja porque acabam por endividar as mulheres, tendem a mudar a origem de sua dependência financeira, fazendo-a transitar do núcleo familiar, da comunidade ou do dono da mercearia para o banqueiro. Com isso, essas políticas socioeconômicas acabam por colocar em risco as experiências coletivas de solidariedade comunitária que fornecem redes de apoio à sobrevivência das mulheres e de pessoas que dependem de seus cuidados. 

Desse modo, a recuperação de iniciativas nas quais a cooperação entre as pessoas prevalece sobre a monetização da sobrevivência revela indícios de que em algum momento pode-se perceber que a configuração social atomizada está fadada ao fracasso. Mesmo em um mundo em que a militarização da vida cotidiana e a crescente pauperização das comunidades sufocam as relações intersubjetivas e sociais, é preciso evidenciar a importância efetiva de resistências constituídas por laços comunitários, entendidos de forma mais ampla, para além dos vínculos de sangue ou étnicos. Federici (2010) documenta as intensas lutas travadas por pessoas em todo o mundo contra as múltiplas formas de desapropriação às quais estão sujeitas. Por isso, as lutas de povos da África e da América Latina contra o avanço neoliberal capitalista ganham protagonismo em suas análises, pois, ao invés de descartá-las como defensivas e incapazes de sustentar novos modos de vida, a filósofa nelas encontra caminhos alternativos para o desenho de uma organização social que não se sustente no egoísmo e na busca ilimitada por lucro. Em entrevista concedida ao Jornal Brasil de Fato (2023b), ela afirma:

É muito evidente que os movimentos feministas mais poderosos do mundo atualmente estão na América Latina. São movimentos que entenderam muito bem que não é possível mudar positivamente a condição das mulheres se não mudarmos essa sociedade regida pelo capitalismo, a colonialidade, o racismo (Federici, 2023b). 

Nesse sentido, pode-se dizer que seu interesse atual está voltado para as questões relativas aos bens comuns (a água, a terra, a Internet, os direitos adquiridos, a língua, a comunização dos meios materiais de reprodução etc.) e às formas contemporâneas de colonização, as quais envolvem a invasão e a expropriação de terras de povos originários e de comunidades tradicionais para que nelas seja realizado o cultivo de monoculturas, a criação de gado e a exploração de água e de minérios. Federici entende por comuns os recursos que não podem nem devem ser controlados pelo Estado. Inspirada pelo lema zapatista “Um não, muitos sins”, ela sustenta que a diversidade de trajetórias culturais e históricas, e de suas respostas ao avanço capitalista, deve ser respeitada. Essa concepção passa por um debate em que muitas vezes é criticada por não avaliar positivamente a possibilidade de o Estado se responsabilizar pela socialização da reprodução social. Segundo uma perspectiva menos institucionalizada, e nisso notamos seu traço autonomista, para Federici, a política dos comuns, isto é, a gestão do acesso compartilhado a recursos comuns, pode ser uma alternativa ao capitalismo e à organização social competitiva, exploratória e individualista que o sustenta. Surgem, portanto, em seus textos dedicados ao tema, a proposta de uma perspectiva feminista de gestão autônoma dos bens comuns, tendo em vista que as mulheres em geral dependem mais do acesso a esses recursos do que os homens, uma vez que lhes coube social e historicamente a responsabilidade pelo cuidado da vida. 

Se Lefebvre (1958) tinha razão em argumentar contra o marxismo burocrático francês, o apelo à vida cotidiana, por sua vez, ganha corpo com as críticas das teóricas feministas, pois, de maneira mais ampla, elas transformaram a interação das mulheres com seu cotidiano e o mundo, “afirmando um novo poder em relação à linguagem, ao conhecimento, à relação com os homens e à expressão de seus desejos” (Federici, 2022b [2019], p. 257). Portanto, a despeito da tentativa de organizações internacionais de tudo privatizar e de se apoderar dos comuns com o discurso de que estariam protegendo, por exemplo, reservas ecológicas – quando nada mais fazem do que destruí-las ao expulsar dali as populações locais que de fato as preservam –, ela lembra que é preciso reconhecer os esforços dos que resistem buscando recuperar terras expropriadas, libertar rios tomados por barragens, valorizar o trabalho reprodutivo, pois se trata de formas de reencantamento do mundo: “Nesse contexto, os comuns são tanto os objetivos quanto a condição de nossa vida cotidiana e de nossas lutas” (Federici, 2022b [2019], p. 271). 

Em textos mais recentes, a exemplo de Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo (2023c [2020]), Federici tem enfrentado o debate sobre o corpo, algo que já estava presente em seu pensamento desde Calibã e a bruxa. A autora investiga os discursos e outras práticas que sustentam sua constituição com base no processo de organização do trabalho produtivo. Sua tese é a de que tanto a performance da mulher se transforma à medida que ocorrem mudanças nas condições materiais de vida, quanto se transformam as identidades femininas em função de mudanças no trabalho reprodutivo. Segundo a filósofa, o ato de dar visibilidade ao trabalho não remunerado, e a seus diferentes efeitos na constituição de identidades, pode ser estratégico para a reapropriação de bens comuns expropriados, permitindo “exigir que mais recursos sejam postos a serviços de nossa reprodução cotidiana, tais como moradia gratuita, espaços comunitários, entre outros” (Federici, 2023a, p. 30).

Em suma, ao longo da obra de Federici, o estudo da acumulação primitiva, da reprodução social, da docilização generificada e racializada dos corpos, do papel social da mulher e do impacto de políticas neoliberais sobre diferentes comunidades e ambientes naturais permite o desenvolvimento de uma perspectiva crítica sobre as dinâmicas econômicas e de poder vigentes capaz de compreender, fomentar e abrir possibilidades de resistência aos desenvolvimentos perniciosos do capitalismo. 

No Brasil, sua obra tem sido lida com entusiasmo e a circulação de seus textos em português do Brasil tem sido fomentada especialmente em razão do belo trabalho de tradução realizado pelo Coletivo Sycorax. Trata-se de um sabá, espécie de ritual noturno e secreto de feiticeiras, que reivindica para si a figura da bruxa Sycorax da peça A Tempestade, de Shakespeare. Se na trama a personagem é colocada em segundo plano, o coletivo busca, ao contrário, dar-lhe protagonismo. Sycorax reencena um mundo de sujeitos femininos que o capitalismo tentou destruir: a herege, a curandeira, a esposa desobediente, a que vive só, a obeah. Trata-se de tomar o processo tradutório como ferramenta de militância política, buscando um novo modo de circulação de obras avesso à lógica capitalista da propriedade intelectual. O coletivo faz de sua atividade intelectual uma trincheira de lutas locais tornando-se uma expressão concreta da luta pelo comum tal como a propagada pelo pensamento de Federici. 

Vida longa às bruxas de Federici!

Bibliografia de referência:

ALQUATI, Romano. (1993). Per fare conricerca. Pádua: Calusca editori.

ALIDOU, Ousseina; CAFFENTZIS, Constantine George e FEDERICI, Silvia (Orgs). (2000).  A Thousand Flowers: Structural Adjustment and the Struggle for Education in Africa. Africa World Press. 

DIAS, Maria Cristina Longo. (2021). A noção de liberdade para Silvia Federici. Cadernos de Ética e Filosofia Política, São Paulo, v. 39, n. 32, Jul-Dez, pp. 161-176. Disponível online em: https://www.revistas.usp.br/cefp/article/view/190976. Acesso em: 30 Jan. 2024.

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