Boaventura Santos e a Ciência Pós-Moderna

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Formado por ideogramas milenares, o idioma chinês possui uma riqueza digna de tal história: os ideogramas que formam o termo “crise” se constituem daqueles que significam “perigo” e “oportunidade”. Algo que o sociólogo Boaventura de Souza Santos, em seu “Um discurso sobre as ciências” (1987), poderia apreciar ao relativizar tanto do contexto cultural e sociológico da ciência enquanto pretende apontar a crise do “paradigma dominante” da ciência moderna.

Depois de expor sua visão do que constituem os fundamentos do paradigma vigente até poucas décadas antes de 1980, Santos adentra na suposta crise científica:

“Einstein constitui o primeiro rombo no paradigma da ciência moderna … Como é que o observador estabelece a ordem temporal de acontecimentos no espaço? … A fim de determinar a simultaneidade dos acontecimentos distantes é necessário conhecer a velocidade; mas para medir a velocidade é necessário conhecer a simultaneidade dos acontecimentos. Com um golpe de gênio, Einstein rompe com este círculo, demonstrando que a simultaneidade de acontecimentos distantes não pode ser verificada, pode tão só ser definida. É, portanto, arbitrária e daí que, como salienta Reichenbach, quando fazemos medições não pode haver contradições nos resultados uma vez que estes nos devolverão a simultaneidade que nós introduzimos por definição no sistema de medição”.

Esta é uma versão peculiar para a compreensão da Teoria da Relatividade, como se fosse um simples “golpe de gênio” fundamentado em uma mudança de convenções. Como se qualquer um antes de Einstein pudesse ter dado este salto filosófico. Para minha surpresa, esta versão peculiar é mesmo tomada quase textualmente da obra citada do físico Hans Reichenbach, um celebrado divulgador científico, e em especial, das ideias de Einstein, de quem chegou a ouvi-las diretamente. Não há erro nela, exceto no ponto em que Boaventura Santos parece entendê-la, e expressá-la, de forma duvidosa.

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Reichenbach ofereceu uma exposição e discussão muito mais longa da Relatividade, onde o mal-entendido, se é que é mal exposto, é desfeito, mas Santos parece contente com o engano subentendido. E ele pode ser resumido no fato de que Einstein tornou-se célebre pela Teoria da Relatividade, e não pela Teoria da Arbitrariedade. Ainda que Reichenbach, assim como Einstein (ou o contrário seria mais correto), tenham sim ressaltado o caráter arbitrário com que se pode definir a simultaneidade de dois eventos, nenhum deles deixou de expor claramente que esta arbitrariedade está vinculada aos quadros de referência adotados, na forma como se realiza a medição.

O “golpe de gênio” de Einstein não foi meramente filosófico. Não foi puramente arbitrário. Fundamentou-se em descobertas empíricas, ou melhor dizendo, na ausência de uma descoberta empírica em particular – a do éter luminífero – e sua rápida aceitação deveu-se à beleza com que explicava resultados empíricos, como o experimento de Michelson e Morley, um dos mais bem-sucedidos experimentos que não deram certo. Não apenas a Relatividade só faz sentido e só foi aceita amparada em um conjunto de resultados experimentais, como seu desenvolvimento mais completo, com a Teoria da Relatividade Geral, só seria alcançado incorporando um embasamento matemático que por vezes escapava ao próprio Einstein. Empirismo e matemática.

Continua Santos:

“O caráter local das medições e, portanto, do rigor do conhecimento que com base nelas se obtém, vai inspirar o surgimento da segunda condição teórica da crise do paradigma dominante, a mecânica quântica”.

Há vários erros aqui. Santos tenta associar a Teoria da Relatividade – que entende como limitando o rigor do conhecimento a medições locais – com o Princípio da Incerteza, mas embora hoje os dois conceitos façam a alegria de filósofos pós-modernos, em seu desenvolvimento é célebre como uma não inspirou a outra. Pelo contrário, Einstein jamais aceitou a incerteza, e sua Teoria da Relatividade, ao contrário do entendimento de Santos, ainda lidaria com a possibilidade teórica do determinismo.

Ironicamente, um ponto que ambas ideias de fato revolucionárias teriam em comum é justamente um que, novamente, vai de encontro à visão pós-moderna: tanto a Relatividade quanto o Princípio da Incerteza questionaram o entendimento de fundamentos da física clássica através de descobertas e demonstrações empíricas, reproduzíveis e testáveis, modeladas com rigor matemático.

Longe de serem revoluções arbitrárias, longe de serem construções culturais, estas revoluções científicas são em si mesmas evidência do caráter objetivo e empírico da ciência transcendendo crenças pessoais ou coletivas. O GPS de seu carro funciona com a Relatividade, com uma precisão de metros fornecida por satélites a milhares de quilômetros por hora. Seu computador é fundamentado na mecânica quântica, efetuando bilhões de cálculos sem erro através de portas lógicas com nanômetros de tamanho.

Isso parece pouco rigor? Esses são mais frutos utilitários e se não absoluta, ao menos efetivamente determinísticos e exploratórios da natureza, produzidos pela “crise” da ciência moderna apontada por Santos, e frutos que ele já podia ver em 1985.

Podemos não viver no Universo determinístico do demônio de Laplace, onde conhecer o presente com absoluta precisão significaria conhecer o passado e prever o futuro, mas a cosmologia perscruta a evolução do Universo há mais de 13 bilhões de anos. Esse parece um fracasso? Talvez seja mais do que Laplace poderia ter concebido, que as leis naturais podem ser ao mesmo tempo probabilísticas e rigorosas em escalas quase infinitas, algo que até hoje muitos têm dificuldade em compreender.

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Como muitos, Santos parece pensar que com Einstein, as Leis de Newton foram demolidas, ou que com o Princípio da Incerteza basta desejar uma bicicleta com suficiente afinco para obtê-la. Em verdade, aqui como em uma galáxia em Andrômeda, maçãs continuarão caindo em direção ao centro de um planeta esférico. Se existirem maçãs em Andrômeda, é claro. A Relatividade não limita a precisão de uma medida
em “local” e “distante”, apenas vincula medidas a um quadro de referência, arbitrário, sim, mas obedecendo com rigor abismal a equações matemáticas descritas por Einstein. Equações, por sua vez, que só encontram seus limites preditivos no mundo da física quântica – uma que, apesar de possuir caráter probabilístico, permite sim predições com um rigor abismal, o mesmo que fundamenta a precisão digital de seu computador.

Ao discutir os rombos da suposta “crise” na ciência moderna, Boaventura Santos discorre sobre as revoluções como se Einstein, Bohr e Heisenberg dessem seus “golpes de gênio”, como os que ele, como sociólogo, pretende fazer ao expor em 1985 o estado da ciência atual e especular sobre seu futuro. Mais de vinte anos depois, vemos como a visão de Santos do que era a ciência em 1985 era limitada, e suas previsões sobre o futuro se mostraram míopes.

É revelador que ele entenda que a:

“teoria de estruturas dissipativas de Prigogine, ou a teoria sinergética de Haken, … a teoria da ‘ordem implicada’ de David Bohm, a teoria de matriz-S de Geoffrey Chew e a filosofia do ‘bootstrap’ que lhe subjaz e ainda a teoria do encontro entre a física contemporânea e o misticismo oriental de Fritjof Capra, todas elas de vocação holística e algumas especificamente orientadas para superar as inconsistências entre a mecânica quântica e a teoria da relatividade de Einstein, todas estas teorias introduzem na matéria os conceitos de historicidade e de processo, de liberdade, de auto-determinação e até de consciência que antes o homem e a mulher tinham reservado para si”.

Perceba como Boaventura Santos pensa que Bohm, Chew ou mesmo Fritjof Capra conseguiriam conciliar a Quântica com Relatividade meramente com uma abordagem filosófica diferente! É novamente a ideia do “golpe de gênio”, e para quem entende que as revoluções científicas da física moderna (ou mesmo da matemática) se dão de forma meramente cultural, sociológica, isso faz sentido. Para quem anuncia que “o discurso científico aproximar-se-á cada vez mais do discurso da crítica literária”, isso pode fazer sentido.

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O pequeno detalhe é que esta simplesmente não é a realidade, e ao discorrer sobre as ciências, Boaventura Santos simplesmente expõe uma visão fundamentalmente falha do que a ciência foi, e é. Sem surpresa, falha ao prever como será. Seu “golpe de gênio” não o tornou duas décadas depois fundador de um novo paradigma científico, apenas o tornou um dos porta-vozes do pós-modernismo em língua portuguesa, e um que, na opinião deste autor, essencialmente se resume a repetir boa parte do pensamento de Fritjof Capra exposto anos antes.

Enquanto Santos anunciava um novo paradigma científico assentado na “sensocomunização”, a ciência de verdade seguia sendo revolucionada por descobertas empíricas que foram de encontro a crenças difundidas na academia, que se dirá ao senso comum. Poucos anos antes, Santos poderia ter mesmo visto como a teoria de deriva dos continentes passou de ideia absurda a um dos principais fundamentos da geologia, graças a uma acumulação cada vez maior de evidência de múltiplas fontes. Na mesma década de 1980, Santos assistiria como a hipótese de Luis e seu filho Walter Alvarez para a extinção KT como provocada pelo impacto de um asteróide seria gradualmente aceita pela comunidade científica, outra vez de inúmeras linhas de evidência diferentes.

Santos deve ter assistido mesmo como as ideias de Fritjof Capra pouco afetaram a física de verdade, apenas alimentaram um mercado de vendedores de pseudociência que bebe das ideias da “ciência pós-moderna” para explorar consumidores.

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A estes vendedores de pseudociência, explorar e conciliar o senso-comum com a transferência de dinheiro para seus bolsos sim é um paradigma de sucesso. Mas este é um paradigma muito antigo, anterior mesmo a Bacon, Descartes, ou Hume. Este é um paradigma do que não é e não deve ser a ciência.

O senso-comum é instável e este sim, arbitrário e quase unicamente sujeito a convenções sócio-culturais. Pode ser algo como a anedota sobre os ideogramas chineses para “crise” que iniciam este texto, pois ela é simplesmente falsa. Se você acreditou nela, talvez acredite na forma como Santos expressa suas ideias como fatos e pressupostos indiscutíveis. Devem, no entanto, ser muito discutidos. O conflito com o senso comum quando se descobre que ele é falso é uma questão complexa, mas não é promovendo um entendimento deficiente da ciência que se irá resolvê-lo.

Compare-se o pensamento de Santos com o do filósofo francês Edgar Morin:

“Hoje, sabemos que tudo é ambivalente. Sabemos que a ciência pode produzir benefícios extraordinários e ao mesmo tempo forças de destruição, e de manipulação, que jamais existiram antes. Sabemos que a racionalidade, que é nosso instrumento de inteligibilidade mais confiável, pode bloquear-se e tornar-se racionalização, ou seja, um sistema lógico, coerente, mas que ignora as coisas concretas”.

Há profunda sabedoria, e nenhum linguajar rebuscado ou pseudo-erudito nesta breve visão de mundo, que reconhece o valor da ciência e da racionalidade e também seus perigos, sem incorrer em exercícios de manipulação de conceitos e outras técnicas que tornam o pós-modernismo um castelo tão imponente mas tão vazio e carente de fundamento. Ao ler Morin, é fascinante encontrar nas ideias de um filósofo conceituado descrições acuradas sobre a forma como se confirmou a teoria do Big Bang através da descoberta da radiação de fundo ou sobre o funcionamento do DNA e a transmissão de características hereditárias. Ao contrário de Santos, Morin não subverte seu entendimento destas ideias científicas a sua própria filosofia. E vinte anos depois, as ideias de Morin ainda parecem muito válidas.

Compare-se, por fim, o pensamento de Santos com a visão mais reveladora e mesmo mais curta do que as revoluções em diversas áreas representam no contexto do conhecimento científico, em um curto e belo ensaio de Isaac Asimov – escrito na mesma época que o livro de Santos. É A Relatividade do Errado. Claro que não deve ser o início e o fim da reflexão sobre o tema, mas se Asimov pode ser um começo, Santos a este autor seguramente não é nem isso. Tanto que, para uma visão muito mais presciente e
bela sobre o futuro do processo científico e da popularização do conhecimento, assista-se a esta entrevista com o mesmo Asimov, feita também na mesma época em que Santos parece ignorar completamente a revolução das tecnologias de informação.

Asimov, longe de ser um sociólogo, era um bioquímico por formação, e um celebrado autor de… ficção científica. Ao final deste século, é bem provável que Asimov ainda seja lembrado pelos que pensem em ciência. Se não por seres humanos, talvez por robôs.

A cena, imagino, seria o horror a um pós-modernista, mas ironia das ironias, é provável que ao final deste século o pós-modernismo tenha passado como a moda que advoga que a ciência é. O que o substituirá, bem, só os designers de moda podem dizer.

Fato é que as maçãs continuarão caindo, se ainda existirem maçãs.

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[Tema sugerido pelo Ciência à Bessa, obrigado!]

A cantada, o ditador e os prodígios de lógica

Harry: “Um homem não pode dizer que uma mulher é atraente sem isso ser uma cantada?”
Sally: “Certo, certo”.
Harry: “Que quer que eu faça? Retiro o que disse, OK? Retiro”.
Sally: “Não pode retirar”.
Harry: “Por que não?”
Sally: “Porque já foi dito”.
Harry: “O que devemos fazer? Chamar a polícia? ‘Já foi dito!’”.

Dizer “empiricamente, você é atraente” pode não ser a melhor das cantadas, mas é uma cantada. E Sally não gostou do avanço porque Harry ainda estava saindo com Amanda, sua amiga. Por mais que ele tentasse retirar o que foi dito, bem, já foi dito. Nem chamar a polícia adiantaria.

Hipoteticamente, se Harry começasse a contar que gosta de fotografia e comentasse casualmente que Sally deveria ser muito fotogênica, as situações embaraçosas que compõem toda a comédia romântica de “Harry e Sally” (1989) poderiam ser evitadas. O que leva a um paradoxo aparente: seja dizendo direta e enfaticamente que acha Sally atraente, seja comentando casualmente algo sobre a simetria do rosto de Sally ou a iluminação incidindo sobre sua pele, a informação trocada parece a rigor a mesma. E mesmo no segundo caso hipotético, tanto Sally quanto Harry saberiam da mesma forma que Harry estava passando uma cantada.

Em um fabuloso RSAnimate, uma série de animações da RSA, Steven Pinker explica como o paradoxo se relaciona com os conceitos de conhecimento individual e mútuo usados na Teoria de Jogos.

Conhecimento individual é você saber que Steven Pinker é um fabuloso divulgador de ciência. Conhecimento individual também é que eu, por uma feliz coincidência, também saiba que Pinker é um fabuloso divulgador de ciência. Mas agora que você leu estas linhas, você sabe que eu sei, e eu sei que você sabe, que Pinker é um fabuloso divulgador de ciência. É agora um conhecimento mútuo. E ele pode fazer toda a diferença.

Como Pinker nota, quando toda uma população questiona a autoridade de um ditador, mas dentro de suas casas, há algo como conhecimento individual de que o ditador não poderia se manter no poder. Quando toda a população sai às ruas, a (im)popularidade do ditador pode permanecer a mesma, mas agora todos podem se ver e reconhecer mutuamente seu descontentamento coletivo. Na história da Roupa Nova do Rei, todos sabiam, todos podiam ver que o Rei estava nu, mas foi necessária uma criança declarar em voz alta o que todos sabiam, mas ninguém compartilhava, para que o Rei finalmente se descobrisse nu. Da insatisfação à revolução, é necessário um reconhecimento mútuo, compartilhado.

O que nem sempre é desejável, como mostram Harry e Sally, e como Pinker explica o paradoxo aparente da diferença entre uma cantada direta e uma indireta. Por que uma pode ofender e outra não?

Porque uma cantada direta faz com que Harry e Sally saibam claramente que Harry está interessado em Sally. Não há como retirar, não há como negar. “It’s out there”, já foi dito. É um conhecimento mútuo.

Mas uma indireta permitiria “manter a ficção de amizade”. Harry pode fingir que Sally não entendeu sua indireta, e Sally pode fingir que Harry realmente gosta muito de fotografia. Enquanto não surgir um menino para dizer em voz alta que Harry está a fim de Sally, ambos podem fingir que não há nenhuma tensão nessa amizade quase colorida.

Se você sabe que eu sei que você sabe, você leu o texto publicado aqui no final do mês passado que, por serendipidade, lidava basicamente com a mesma questão de conhecimento mútuo na Teoria de Jogos através da fábula das crianças prodígios de lógica com lama na testa. Com uma diferença.

Naquele texto iniciei com uma citação da série de ficção científica (?) V – A Invasão (1983), onde um alienígena reptiliano comenta como:

“Esses terráqueos são estúpidos. Isso os torna imprevisíveis”.

Uma simples cantada revela que em nossas relações sociais, e especialmente nossas relações afetivas, somos prodígios de lógica lidando imediatamente com as nuances entre o que sabemos, o que sabemos que a outra pessoa sabe, e o que sabemos que a outra sabe que sabemos.

Curiosamente, a imprevisibilidade continua a mesma. [via Roberto Moschen, Alenônimo]

Você sabe que eu sei que você sabe?

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“Esses terráqueos são estúpidos. Isso os torna imprevisíveis”. – V: A invasão (1983)

“Suponha que um pai diga a suas crianças – um menino e uma menina – que não devem se sujar. Elas brincam na rua, e acabam as duas sujando suas testas. As crianças não podem ver a lama em suas próprias testas, já que está acima de seus olhos. Mas cada uma delas pode ver a lama na testa da outra. Como elas querem ver uma à outra levando castigo, nenhuma diz nada. Por acaso, estas crianças também são muito inteligentes, de fato, nunca cometem erros em lógica ou falham em deduzir algo que pode ser deduzido logicamente. Você pode chamá-las de prodígios de lógica. Além disso, elas nunca mentem. Por fim, o pai chega e diz: ‘Pelo menos um de vocês tem lama na testa’. Ele pergunta à garota: ‘Há lama na sua testa?’. Ela responde: ‘Não sei’. O pai então pergunta ao garoto ‘E você, há lama na sua testa?’. Ele responde a contragosto: ‘Sim’”.

Entender este conto de fábulas lógico é simples. O garoto deduziu que tinha lama em sua testa porque caso não tivesse, sua irmã teria visto tal. E como pelo menos um deles estava sujo, ela saberia que seria ela a estar com a testa suja, respondendo ao pai de acordo. Uma vez que ela não sabia se tinha ou não lama na testa, isso só poderia indicar que ela havia visto lama na testa dele. Talvez ela também estivesse suja – como estava – mas ao dizer que não sabia se era ou não pelo menos um dos irmãos que estavam sujos, ela permitiu que o irmão deduzisse que ele sim estava sujo. Elementar.

O que é fascinante aqui é algo que você pode nem ter estranhado a princípio.

Antes que o pai dissesse aos dois que pelo menos um deles tinha lama na testa, cada uma das crianças já sabia disso. Elas haviam visto a lama um na testa do outro. Quando o pai perguntou à garota se ela tinha ou não lama na testa, ela respondeu que não sabia. Não sabia, não podia responder.

Como então estas duas informações que não adicionaram nada ao que os prodígios já sabiam permitiram que o garoto deduzisse algo que previamente não podia deduzir?

“Ao dizer a eles que ‘um de vocês tem lama na testa’ o pai não apresentou nenhuma informação nova, no entanto ele ainda assim alterou o estado do conhecimento: ele fez com que o garoto soubesse que a garota sabia que um deles estava sujo. (…) Se ao invés de informar aos dois filhos em voz alta o pai tivesse chamado cada um deles em privado e dito que pelo menos um deles estava sujo, nenhuma dedução poderia ser feita. O menino não saberia o que o pai havia cochichado à irmã, assim ele não poderia saber que a garota sabia que pelo menos um deles estava sujo”.

Como Sam Alexander, autor de quase todo o texto que você leu até aqui nota, esta fábula “ilustra a sutileza de raciocinar sobre o conhecimento. Deduções não-triviais podem exigir não apenas conhecimento de fatos, mas conhecimento sobre o próprio conhecimento”. O aparente paradoxo traz à lembrança outros casos mais conhecidos, como o problema de Monty Hall.

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No problema de Monty Hall, ou a Porta dos Desesperados (clique para mais), entre as muitas formas de entender o resultado contra-intuitivo, uma das mais esclarecedoras é perceber que ao abrir uma porta o apresentador está fornecendo informação valiosíssima. Ao contrário do que faz parecer e do que a maioria das pessoas presume, o apresentador não abrirá uma porta aleatoriamente, porque jamais abrirá a porta com o prêmio. Isso arruinaria todo o suspense e acabaria com o jogo.

Ao revelar uma porta, o apresentador está mostrando qual das portas que o apostador não escolheu inicialmente não contém o prêmio. Se você sabe que o apresentador sabe qual das portas contém o prêmio, e se sabe que o apresentador sabe que não deve abrir essa porta, suas chances de ganhar passem de meros 1/3 para os muito mais atraentes 2/3.

Mais do que uma curiosidade lógica, há uma certa beleza poética no fato de que o conhecimento compartilhado permite chegar a conclusões que cada um dos participantes, isoladamente, não poderia deduzir. Esta situação também é relevante na Teoria de Jogos, e pode ser aplicada. Durante a Guerra Fria, EUA e União Soviética só alcançaram maior estabilidade quando ambos os lados chegaram a um acordo tácito onde o arsenal bélico de um lado seria conhecido pelo outro lado, através de imagens de satélite.

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Isto explica algo como o cemitério de aviões nos EUA. Cada um queria ver a lama na testa do outro lado, e cada lado devia saber que o outro sabia que os dois possuíam lama. O ápice desta lógica foi a Destruição Mutuamente Assegurada. Cada um sabia que o outro sabia que qualquer ataque direto levaria inevitavelmente à destruição de ambos. Se cada um soubesse disso, a lógica dizia, nenhum jamais atacaria e a paz estaria assegurada através das mais terríveis armas.

Mas os terráqueos são estúpidos, e isso os torna imprevisíveis. Isso não impediu, obviamente, que cada lado tentasse tomar vantagem e manipular o jogo, de forma que na prática não sabiam realmente se sabiam o que o outro sabia que sabia. Nos períodos de maior tensão, toda a teoria de jogos e toda a fria lógica proposicional, epistemologia e muito mais deu lugar ao simples instinto e à mera sorte. É assustador. O ex-Secretário de  Defesa Robert McNamara, conhecido por introduzir no complexo militar-industrial americano técnicas de administração mais “científicas”, comentou em suas memórias sobre a Crise dos Mísseis de Cuba:

“Eu quero dizer isso, e isso é muito importante: no final, nós tivemos sorte. Foi sorte que impediu a guerra nuclear. Nós chegamos a um fio da guerra nuclear no final. Indivíduos racionais: Kennedy era racional; Kruschev era racional; Castro era racional. Indivíduos racionais chegaram muito próximos da destruição total de suas sociedades. E esse perigo ainda existe hoje”.

Anos depois, um desconhecido militar russo teve na ponta dos dedos a decisão de não iniciar o Apocalipse. Todos os alarmes diziam que os EUA haviam disparado uma série de mísse
is que matariam milhões de russos. Seria racional que apertasse o botão vermelho. Não apertou. Como imaginou, o alarme era falso, o avançado sistema de alerta estava confundido algo tão corriqueiro como o Sol com o disparo de mísseis nucleares.

Agora que eu sei que você sabe o que eu sei sobre o que se sabe neste texto, podemos apreciar melhor que ainda não sabemos bem o que sabemos. Devemos prezar e partilhar o pouco que sabemos.

Pluralidade de Mundos

“Para ver um Mundo em um grão de areia e um Céu em uma flor selvagem, segure a Infinidade na palma de sua mão e a Eternidade em uma hora”. – William Blake [c.1793]

Há uma Infinidade de coisas ocorrendo no vídeo acima, onde gotas de oxigênio líquido dançam por uma superfície, devidamente registradas em câmera lenta estendendo a Eternidade de alguns segundos.

As gotas deslizam com quase nenhum atrito devido ao efeito Leidenfrost, onde o oxigênio líquido é vaporizado em contato com a superfície, produzindo uma camada de vapor isolante e com muito pouco atrito. Você pode ver este efeito aquecendo uma frigideira anti-aderente, deixando cair pequenas gotas d’água. O efeito não só diminui o atrito como também fornece isolamento térmico, o que você pode perceber pelo fato de que a gota deslizando pela frigideira pode levar muito mais tempo para evaporar do que deveria se estivesse em contato direto com a chapa. Motivo pelo qual a camada de vapor também explica como se pode mergulhar a mão em chumbo quente ou nitrogênio líquido sem sofrer queimaduras. Não é magia, não é bem um truque. É um efeito descrito por Johann Leidenfrost no século 18.

As gotas de oxigênio líquido se mantêm coesas em si mesmas graças à tensão superficial, e ao longo do vídeo a tensão e a dança das gotas são colocadas à prova devido a ainda outro efeito.

O oxigênio líquido é um material paramagnético, o que significa que não possui magnetismo próprio, mas é atraído por campos magnéticos. Por isso quando um ímã é colocado abaixo da gota, ela se achata, atraída, e uma série de eletroímãs consegue desacelerar e parar uma gota em movimento. Fazem isso, não sem que a forma das gotas seja distorcida devido à interação complexa entre a tensão superficial e inércia. E ainda o efeito Leidenfrost que garante o deslocamento da gota com pouco atrito enquanto ela evapora.

Tudo isso, ocorrendo com uma parte do ar liquefeita através do congelamento, manipulada pelo mesmo eletromagnetismo que responde pela luz que chega a seus olhos e mantém suas moléculas coesas, desenrolando-se em frações de segundo que passariam literalmente em um piscar de olhos.

Admirando aqui a poesia do vídeo de uma gota de oxigênio líquido deslizando sobre uma superfície magnetizada, pensei que nossa imaginação por vezes não faz jus ao mundo em que vivemos.

Então, sempre descobrindo que estou errado e esquecendo das coisas mais simples, me deparo com isso.

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Somos criaturas dotadas de uma imaginação mais do que adequada à Infinidade e à Eternidade, mas enquanto crescemos vemos esta potencialidade infinita limitada por barreiras não tão diferentes daquela que faz com que ao olharmos um grão de areia vejamos apenas um minúsculo ponto e não um Mundo.

Pois bem, Giordano Bruno foi o primeiro Renascentista a ver um Universo infinito em suas dimensões. Galileu Galilei daria outro passo gigante ao apontar o telescópio ao céu. Menos conhecido, Robert Hooke, através de sua  Micrographia, mostrou por sua parte que há realmente um Mundo em um grão de areia, como há em flocos de neve e todos os objetos que perscrutou com seu microscópio. Um Mundo de fenômenos ocorrendo mesmo entre os cílios de nossos olhos. Em escalas muito maiores e muito menores do que aquela que podemos segurar entre nossos dedos, há uma pluralidade de mundos.

Uma pluralidade de mundos estendida há menos de quatro séculos através de instrumentos que estenderam nossos sentidos. Quatro séculos estendendo o Universo a bilhões de anos-luz e um grão de areia em moléculas, átomos e subpartículas.

Vivemos há poucos anos com novos instrumentos, antes apenas sonhados por visionários, estendendo nossa comunicação e retirando pouco a pouco as limitações que tão rapidamente encontramos à nossa imaginação. Imagine o que quatro séculos não poderão fazer com os hipopótamos da garotinha francesa.

“Assim, toda a incerteza e os enganos das ações humanas advêm seja da limitação de nossos sentidos, da ilusão de nossa memória, do confinamento de nossa compreensão, de forma que não é surpresa que nosso poder sobre as causas e efeitos naturais avance tão lentamente, dado que não apenas lidamos com a obscuridade e a dificuldade das coisas sobre as quais trabalhamos e pensamos, como mesmo as forças de nossas próprias mentes conspiram para nos trair. Sendo estes os perigos do processo da razão humana, os remédios a todos eles só podem proceder da filosofia real, mecânica, experimental, que tem esta vantagem sobre a filosofia de discurso e disputa, uma vez que onde esta almeja a sutileza das deduções e conclusões, sem muita consideração ao primeiro trabalho de coleta, que deve ser bem fundado nos sentidos e memória, a outra pretende ordená-las todas, tornando-as úteis uma à outra”. – Robert Hooke, Micrographia, 1665

[via Misterhonk, BoingBoing]

Constelações Humanas

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A exploração espacial é também uma fonte infindável de perspectivas da própria Terra. Nesta “Imagem Astronômica do Dia” da NASA, “constelações de luzes” se estendem pela vista da Estação Espacial Internacional. Não são estrelas: são aglomerados urbanos. Somos nós.

O nexo entre constelações no céu, vistas da Terra, e constelações na Terra, vistas do espaço, é fabuloso. Afinal, não só todos os elementos mais pesados que o hidrogênio foram produzidos em fornalhas e explosões estelares – pelo que, nunca é demais relembrar, somos literalmente poeira de estrelas –, mas parte desta poeira adquiriu consciência e criou essas luzes artificiais, visíveis a 320 km de altitude.

Navegue pela origem da energia que produziu estas constelações de luzes urbanas, e descubra um nexo ainda mais profundo. Embora a energia venha de fontes muito variadas, sua maior parte pode ser traçada de volta ao nosso próprio Sol, que com sua luz fixou há milhões de anos o carbono dos combustíveis fósseis ou movimentou bem recentemente o constante ciclo da água que move nossas usinas hidrelétricas. Como disse Richard Feynman sobre a madeira, essas fontes de energia são de certa forma a própria luz do Sol armazenada. Ao utilizarmos esta energia para iluminar artificialmente a noite, estamos liberando esta luz outra vez.

Estas constelações humanas também são, de certa forma, compostas de estrelas.

Atualização: Mais fotos de constelações humanas. Abaixo, o delta do Nilo.

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E a Europa:

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Como se as imagens não fossem suficientes, elas estão sendo publicadas via Twitter, diretamente da Estação Especial Internacional pelo astronauta Douglas Wheelock.

Psico-história e pesquisas eleitorais

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“Hari Seldon desenvolveu a psico-história modelando-a na teoria cinética dos gases. Cada átomo ou molécula em um gás se move aleatoriamente, de forma que não podemos saber a posição ou velocidade de qualquer um deles. Ainda assim, usando estatística, podemos descobrir as regras governando seu comportamento coletivo com grande precisão. Da mesma forma, Seldon quis descobrir o comportamento coletivo das sociedades humanas ainda que as soluções não se aplicassem ao comportamento de seres humanos individuais”. – Isaac Asimov

Pensando aqui com meus botões sobre como meu “voto útil” tem sido influenciado pelas pesquisas eleitorais, lembrei da psico-história, conceito central da série “Fundação” de Asimov. Somos mais de 135 milhões de eleitores, em um país que se aproxima de 200 milhões de habitantes. Pesquisas eleitorais com amostras de um punhado de milhar são uma aproximação razoavelmente confiável da manifestação coletiva de centenas de milhões de pessoas. Fãs de Asimov podem se revoltar, mas Ibope, Datafolha, CNT/Sensus são uma espécie de pré-Fundação.

Na série de ficção científica, claro, mesmo o escritor de enormes costeletas explicava que a psico-história só começa a funcionar realmente quando as sociedades humanas chegam a muitos bilhões. Mais do que isso, o escritor que será lembrado por criar estes conceitos fabulosos como a própria psico-história ou as leis da robótica, as explorava justamente para desafiá-las, uma vez que ao final todas suas maiores histórias lidavam com problemas e dilemas nestes conceitos.

Mas mesmo isso é um paralelo com o que vivemos. Pesquisas eleitorais influenciam a intenção de voto que pretendem medir, elemento que pode e é usado deliberadamente. São pré-psico-historiadores tentando mudar o futuro… com previsões do futuro. Aos que leram a série Fundação, o paralelo talvez se torne mais claro.

É um tanto bizarro exercer amanhã um direito tão importante, pelo qual se lutou tanto, ao mesmo tempo em que se sabe que seu voto isolado pouco deve influenciar um resultado prenunciado. Já vivemos em um mundo sonhado há muito, e o mais impressionante talvez seja que feitos fabulosos como a previsão da vontade coletiva de 135 milhões de pessoas acabem se tornando razão para apatia. No dia em que Hari Seldon previr o destino do Império Galáctico, poderemos não nos importar em tentar mudar algo uma vez que as pesquisas psico-históricas já indicam um futuro inevitável.

Sinédoque: o oceano dentro de nós

O soluço pode ser um mistério e uma pista. Mistério, porque não se sabe realmente para que o soluço serve, se é que é de alguma utilidade. E pode ser uma pista, porque em “Uma hipótese filogenética para a origem do soluço” (inglês, PDF), Straus et al sugerem que ele seria o remanescente do reflexo respiratório de nossos ancestrais anfíbios.

Pequenos girinos, por exemplo, fecham a glote e forçam músculos respiratórios para ventilar água pelas suas guelras. E uma indicação de que o soluço poderia ser um reflexo ancestral – e não um mero curto circuito no sistema respiratório – é que mesmo antes de inspirar ar pela primeira vez, enquanto ainda fetos, já exibimos alguns soluços. É curioso imaginar que a cada “hic” estaríamos tentando ventilar guelras que já não temos há muito.

A ideia de preservarmos certos atavismos de nossa história aqui se relaciona com um conceito clássico e mesmo anterior à evolução de Darwin, o de que “a ontogenia recapitula a filogenia”. Enquanto nos desenvolvemos, cada um de nós desde um punhado de células até a forma de pequenas criaturas com cara de joelho recapitularia no ventre materno todas as principais formas de nossos ancestrais por centenas de milhões de anos, um conceito adorável que já penetrou mesmo em filmes de Hollywood onde desafortunados protagonistas “devoluem” a formas primitivas.

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Adorável como seja, a ciência moderna revela que a ontogenia não recapitula a filogenia tão perfeitamente – não nos tornamos realmente peixes ou répteis em nossas primeiras semanas de vida – mas em termos gerais sim carregamos em nosso desenvolvimento traços de nossa história evolutiva. O mais evidente deles talvez sejam as caudas, que manifestamos como fetos e se retraem para formar o cóccix. Ou possivelmente os soluços, que segundo Straus seriam lembranças motoras primitivas da respiração por guelras.

Nossos ancestrais vieram do oceano, das águas primordiais onde a vida teria surgido até os primeiros anfíbios que conquistaram a terra firme. Como a ontogenia recapitulando a filogenia, isto é, ilustrando a continuidade da evolução, de certo modo ao conquistar a terra nossos ancestrais não abandonaram realmente o mar: eles o trouxeram consigo. Mesmo em nosso corpo, resultado de milhões de gerações de animais vivendo em terra firme, ainda podemos encontrar algo deste oceano, com a concentração de sais e minerais dentro da mesma ordem de grandeza. Todos trouxemos o oceano conosco.

O humor aquoso transparente que preenche o interior de seu globo ocular, através do qual você enxerga estas mesmas imagens, é uma amostra muito similar à água que você encontraria no oceano de onde viemos, ou inclusive no mar que encontramos hoje. A má notícia aos náufragos é que a semelhança não é identidade, e nosso corpo é particularmente sensível a pequeníssimas variações na concentração destes sais e minerais – motivo pelo qual não se deve beber água do mar, uma vez que o corpo despende mais água do que a ingerida para se livrar do excesso de sais, efetivamente se desidratando.

Esse dilema é finalmente o tema principal deste texto, como parte do Blog Action Day 2010 sobre a água. Quase um bilhão de pessoas não possui acesso a água potável. O pequeno oceano que carregamos dentro de nós precisa ser constantemente renovado em um delicado equilíbrio, uma homeostase onde a água que nos compunha ontem é diferente da que nos compõe hoje. Somos, ainda pensando em metáforas, um frágil rio afluente de um oceano ancestral em constante renovação, vulnerável a qualquer problema em suas fontes.

Foi apenas no século 19 que o médico inglês John Snow fundaria a ciência da epidemiologia ao descobrir como uma fonte de água contaminada na Broad Street seria a origem de um surto de cólera, capaz de interromper abruptamente o curso de muitos destes “rios afluentes”. Água contaminada ainda mata hoje quase 38.000 crianças toda semana.

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A beleza do conhecimento científico associando a vida e sua origem à água já havia sido vislumbrada por cosmogonias antigas, como as primeiras concepções da origem do mundo por sumérios que viam nos oceanos a fonte de tudo. Estavam certos na percepção intuitiva de que vida e água são indissociáveis.

A urgência do reconhecimento da importância de acesso a fontes adequadas de água limpa é bem mais recente, e é um problema sócio-econômico. Em apenas duas décadas conseguimos distribuir quas
e 5 bilhões de telefones celulares em todo o planeta, mas em mais de um século não fomos capazes de garantir acesso segura a água a todo ser humano com que partilhamos o legado deste oceano ancestral.

No Brasil, segundo a ONG “Trata Brasil”, mais de 100 milhões de brasileiros não dispõem de rede de coleta de esgoto sanitário e 13 milhões não têm sequer banheiro em casa. Todos os dias, sete crianças brasileiras morrem em consequencia da falta de saneamento. Para zerar o déficit de saneamento básico e oferecer acesso universal à coleta e ao tratamento de esgoto, o Brasil precisa de investimentos anuais de R$ 10 bilhões nos próximos 20 anos.

É bastante dinheiro, mas os prejuízos causados pela falta de investimento em saneamento são ainda maiores. Cada R$ 1,00 investido em saneamento representa uma economia de R$ 4,00 em gastos com saúde. E, apesar da saúde ser a principal preocupação dos brasileiros, o saneamento básico é apenas a oitava maior preocupação. Como tal, foi deixado de lado nas eleições. Falta a consciência do que John Snow descobriu há mais de um século.

Ao soluçar, lembre-se da curiosidade que o espasmo pode ser lembrança de que já tivemos guelras, que viemos do oceano. Beba um copo d’água, limpa, pode melhorar o soluço. Não seria fabuloso se todos, no Brasil e no mundo, pudessem fazer o mesmo?

30 anos de Cosmos: uma viagem humana


Nós somos uma forma do Cosmos conhecer a si mesmo”.

Quando a Humanidade deu seu grande salto na Lua em 1969, em torno de meio bilhão de pessoas assistiram empolgadas em pequenas TVs em preto e branco dois astronautas pisarem em outro mundo. O evento marcou toda uma geração e continua sendo um dos maiores feitos de nossa espécie, mas apenas três anos depois, quando os astronautas da Apollo 17 deram o último adeus ao nosso satélite natural, o interesse popular pela exploração espacial já não era tão grande. Faltava algo mais básico para continuar a alimentar o grande interesse público além da novidade de pisar na Lua.

Foi neste contexto que um cientista espacial que continuava a explorar outros mundos com sondas robóticas renovaria a fascinação de centenas de milhões. Através da mesma telinha, agora a cores e com efeitos especiais e um roteiro quase poético, ele relembraria e para muitos apresentaria pela primeira vez o que realmente significava aquela pegada no solo lunar – e tanto mais além desta façanha.

Desde as verdadeiras dimensões do Universo em que vivemos até a magnífica aventura do conhecimento que levou um pequeno punhado de macacos pelados a se estender por todo um planeta e, com o poder fantástico do método científico, viajar ainda mais longe. À vastidão em que ainda não tocamos, com uma “nave da imaginação” modelada à imagem de uma semente de dente-de-leão ao vento, ele nos levaria cruzando a galáxia por anos-luz.

Quando finalmente retornarmos à Lua depois de um longo afastamento, ou quando visitarmos Marte e os infinitos mundos que nos aguardam pelo espaço, talvez nosso interesse e excitação como um todo dure um tanto mais porque nos lembraremos de sua grande e bela visão.

Falamos, é claro, da série televisiva “Cosmos: Uma Viagem Pessoal” do astrônomo Carl Edward Sagan, cujo primeiro episódio foi ao ar pela TV americana em 28 de setembro de 1980. Toda uma geração, incluindo este que escreve estas linhas, já nasceu e cresceu não sob a sombra, mas sob a luz e inspiração de uma obra ao mesmo tempo popular e imensamente inteligente, sóbria e profundamente atraente.

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Três décadas depois, é surpreendente como muito da visão de Sagan do Cosmos seria largamente validada, transformando especulação otimista em fato científico. Um destes elementos mais empolgantes envolve o primeiro planeta fora do sistema solar, que só seria confirmado como descoberta científica quase uma década depois que Sagan despertasse milhões às tantalizantes possibilidades da multiplicidade de mundos.

Pois desde o primeiro exoplaneta em 1988, quase 500 exoplanetas já foram confirmados. Os nove, ou melhor, oito planetas de nosso sistema solar são hoje poucos em comparação com as centenas de outros corpos orbitando estrelas longínquas. E a viagem da imaginação aos fatos não parou aí.

Os dados iniciais de um novo satélite, o Kepler, como parte continuada da exploração do Cosmos, podem mais do que dobrar este número em poucos meses de observação, levando à sugestão de que planetas sejam não só quase onipresentes pela Galáxia, como que até 100 milhões de planetas como a Terra populem a Via Láctea. Por sua vez, apenas uma das centenas de bilhões de galáxias pelo Universo.

Na mesma semana de aniversário de Cosmos, o mais forte candidato a exoplaneta potencialmente habitável, chamado Gliese 581 g, foi anunciado com grande animação. A beleza disto é que sendo esta a ciência, a descoberta pode ou não ser confirmada, mas sendo esta a ciência e particularmente uma área que assistiu a enormes avanços nas últimas décadas, é uma questão de tempo até que dezenas, centenas, milhares e quem sabe mesmo milhões de planetas como a Terra sejam comprovados em nossa galáxia.

São números que mesmo o homem dos grandes números, com quem o apresentador Johnny Carson brincava sobre os “bilhões e bilhões”, tomaria como uma estimativa muito otimista. O amanhã em que vivemos hoje trata de confirmá-la como fato.

Em meio à viagem pelas estrelas, e entre os milhões de planetas como a Terra que podem existir, Sagan também se preocupou muito em abordar as questões muito humanas que enfrentávamos em nosso único e pálido ponto azul. No início da década de 1980, a Guerra Fria começava a se reaquecer enquanto EUA e União Soviética acumulavam dezenas de milhares de ogivas nucleares, um número grande que o cientista espacial se dedicou obstinadamente a diminuir. Poucos anos depois de Cosmos, Carl Sagan seria um dos descobridores do Inverno Nuclear, destacando ainda mais o perigo de extinção que enfrentávamos como espécie.

Igualmente superando suas mais otimistas expectativas, alguma lucidez tomou conta de líderes de ambos os lados, que passaram a diminuir seu arsenal, até que em 1989 a União Soviética implodiu sem o disparo de nenhuma bomba nuclear. Se superamos a maior urgência deste desafio, por outro lado, perigos sobre os quais Sagan também alertou e que há trinta anos pareciam menores hoje se tornam prioridade, como as mudanças climáticas e todo o impacto que o nosso próprio sucesso descomunal em habitar todos os continentes e contar com um número cada vez maior de confortos exerce sobre o pálido ponto que pode em breve tomar uma cor diferente e menos hospitaleira que o azul.

Vivemos em um fabuloso amanhã, com novos conhecimentos e novos desafios de uma geração somando-se à enorme jornada de milhares de ancestrais explorada em Cosmos. Lamentavelmente, vivemos também sem a companhia de Sagan, que nos deixou cedo apenas 16 anos depois de comover um mundo com a beleza e mesmo a espiritualidade que pode ser encontrada na busca pelo conhecimento através da ciência.

Se Sagan teve uma visão por vezes profética de descobertas futuras, também podemos profetizar com grande segurança que é mera questão de tempo até que um membro da geração sob a luz de Cosmos ganhe um prêmio Nobel. E ele – ou ela – será apenas o primeiro de muitos, enquanto Carl Sagan deve ter o mérito de ter inspirado diretamente mais do que qualquer outra pessoa um número gigantesco de jovens a seguir uma carreira científica e ajudar o Cosmos a conhecer a si mesmo.

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O legado de Sagan vive como uma porção particularmente brilhante de conhecimento, e como tal só deve se multiplicar enquanto novas mentes continuarem sendo inspiradas a buscar saber mais sobre “tudo que existe, tudo que existiu e tudo que existirá”.

É parte da frase com que Carl Sagan iniciou seu primeiro episódio às “margens do oceano cósmico” há três décadas.

E é como definiu o próprio Cosmos.

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Em homenagem aos 30 anos de Cosmos, iniciamos um perfil no Twitter dedicado exclusivamente a divulgar a obra de Carl Sagan, confira @saganismos. Para acompanhar o perfil no Twitter e indicar melhor sua obra, também iniciamos através do projeto HAAAN um novo sítio on-line para agregar informações sobre as obras do astrônomo: saganismos.haaan.com.

Somos um epifenômeno

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Toda a humanidade foi infectada pelo vírus zumbi, que mata em 24 horas. Não há cura, todos irão morrer. Todos os mortos, depois de mais 24 horas, se tornam zumbis e podem vagar indefinidamente exigindo “cééérebros”. Mas há esperança.

Nem todos foram infectados ao mesmo tempo, e se duas pessoas vivas conseguirem agarrar um zumbi, podem revivê-lo como uma pessoa normal em um dia. Infelizmente, o tratamento é um paliativo que só funciona temporariamente, mais precisamente por 24 horas, após as quais a pessoa morre outra vez. E mais um dia depois, volta a se tornar um zumbi.

Pode soar como um enredo elaborado de um péssimo filme de zumbis, mas são as regras do “Jogo da Morte”, um apelido para uma variante criada por Brian Silverman para o “Jogo da Vida” – não, não o de roletas e tabuleiro –, uma das mais populares aplicações de autômatos celulares (CAs). Você confere mais sobre CAs, o Jogo da Vida de John Conway e a possibilidade de que o Universo seja um programa em um grande computador em “O Universo é Matrix?”.

Por aqui, convido você a apreciar a animação abaixo:

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Ela ilustra a situação já vários dias após a infecção, onde cada pixel representa uma pessoa. O cenário começa já com uma vasta área de pixels pretos, os zumbis, destino que aguarda a todos. Contudo restam algumas pessoas vivas, os pixels brancos, e algumas mortas que ainda não se converteram em zumbis, em azul. Cada quadro da animação representa a passagem de um dia. Ao todo, são 201 dias.

Note como a mudança de estado das pessoas de vivas, para mortas, para zumbis, e eventualmente de volta à vida se propaga pela área com grande rapidez. As formas que parecem viajar pela animação não são zumbis correndo em busca de “cééérebros”. Nesta representação, os pixels, as pessoas, permanecem imóveis e o que está se propagando é o padrão de pessoas/cadáveres/zumbis. O que se desloca na animação é a infecção, não as pessoas.

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Se você ainda está lendo este texto, talvez por pura paixão por zumbis, ainda assim já pode estar se perguntando aonde se quer chegar. Bem, a forma como um padrão inicial (a semente) rapidamente se espalha por toda a área e gera uma enorme variedade de padrões em verdade indica como esta representação, este autômato celular, é capaz de representar complexidade. Tanto é assim que seu nome original não era “Jogo da Morte”, envolvendo infecções e mortos-vivos.

O autômato celular foi inicialmente batizado como “Cérebro de Brian”, porque ao invés de zumbis você pode imaginar neurônios prontos para disparar – os pixels pretos. Os neurônios disparando, brancos, estão “vivos”. Os neurônios que acabaram de disparar precisam de um ciclo de descanso, estão “mortos”, são azuis. E, finalmente, um neurônio dispara se dois neurônios adjacentes estão disparando. Exatamente as mesmas regras, exatamente a mesma ilustração, mas se este texto começasse falando de neurônios você talvez não tivesse chegado até aqui. Confesse.

Além da brincadeira e da coincidência entre zumbis e cérebros, este texto fala de epifenômenos. Na animação acima, por exemplo, o fenômeno observado de um padrão de infecção propagar-se de maneira estável, cruzando a tela, é um epifenômeno da infecção zumbi. Isto é, que a humanidade está sendo afligida por esta terrível doença que só um péssimo roteirista ou matemático imaginaria, este é o fenômeno principal, todos podemos concordar. Que um padrão de pessoas vivas, mortas e zumbis se propague entre a população é um fenômeno secundário, paralelo. É um epifenômeno.

Agora, relembremos que a animação também é uma analogia do “Cérebro de Brian”, ou o seu cérebro, ou o meu cérebro. Que neurônios andam disparando para lá e para cá segundo alguma regra, esse é o fenômeno. Que padrões de neurônios disparando se propaguem por este modelo de cérebro, que aumentem em complexidade aparente e gerem uma pletora de imagens, esse será um fenômeno secundário, paralelo. Será um epifenômeno.

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Seríamos um epifenômeno? Consciência e inteligência em si mesmas são epifenômenos de outras adaptações evolutivas. Se fossem o fenômeno principal da vida, da evolução, esperaria-se que tudo fosse consciente e inteligente, quando em verdade poucas espécies dedicam muitos recursos à inteligência, e nós permanecemos largamente isolados em nossa consciência, inclusive, da solidão. Sentimentos e pensamentos que partilhamos apenas parcialmente com alguns de nossos parentes símios e mamíferos mais próximos.

A verdadeira inspiração para este texto, contudo, é notar como o próprio Universo pode ser um epifenômeno. Em “O Universo é Matrix?”, abordamos a questão de que, se o Universo é um programa em um computador, não é necessário presumir que este programa tenha sido projetado para processar nossa existência. Retorne à animação da infecção zumbi ou de um cérebro. Note como a complexidade que se vê é um epifenômeno, algo secundário que ocorre casual e paralelamente a um fenômeno primário.

Pois bem, autômatos celulares como o “Jogo da Morte”, ou o “Cérebro de Brian”, já foram demonstrados como computadores universais. Pode-se criar um padrão inicial de pessoas vivas/mortas/zumbis em um grande cenário que seja capaz de processar informação – representada por mais padrões de pessoas – exatamente como qualquer computador. Se o Universo é um programa computável, ele poderia ser computado pelo “Jogo da Morte”. Ele poderia ser computado como padrões de infecção zumbi.

Jürgen Schmidhuber, do Instituto Dalle Molle de Estudos em Inteligência Artificial na Suíça, nota que uma xícara de chá, simplesmente ao existir, estaria efetuando cálculos. Epifenômenos ocorrem na interação entre o chá e a xícara, o ar e tanto mais. O que computam? Provavelmente nada muito interessante, mas se ela pode ser vista como um computador efetuando cálculos quaisquer, nosso próprio Universo poderia estar tendo lugar em Outro como algo tão desinteressante quanto uma xícara de chá é para nós.

O padrão de infecção zumbi é algo bem mais interessante que uma xícara de chá, por outro lado, e ilustra talvez de forma ainda mais poderosa como epifenômenos complexos podem emergir. Nosso Universo pode não só ser Matrix, pode ser um padrão de infecção zumbi em outro Universo. Alheio a todo o o drama, o pr

A Humanidade não merece ir à Lua (parte VI)

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Reconhece a imagem acima? É a olhada mais profunda no Universo já conseguida, contendo aproximadamente 10.000 pontos luminosos, quase todos, e cada um deles, uma galáxia completa, estendendo-se no espaço e tempo a 13 bilhões de anos ao passado. Tudo isso, em uma fatia minúscula do céu, menor do que a largura de seu dedo mínimo com o braço estendido – dividida por seis, em verdade.

Começamos esta série de textos em fevereiro deste ano com um reflexo resumindo nosso gigantesco avanço tecnológico, do Flyer dos irmãos Wright ao traje lunar de Neil Armstrong, e encerramos esta série com um outro reflexo. Isto porque a Hubble Ultra Deep Field (HUDF) acima foi capturada pelo telescópio espacial Hubble, o famoso e e venerável instrumento lançado há vinte anos, com um espelho refletor primário de 2,4m de diâmetro.

O telescópio Hubble foi lançado após o fim da Guerra Fria, o período único na história humana que levou a corridas tecnológicas absurdas, incluindo aí o avião supersônico Concorde, em uma espécie de dilema do prisioneiro em escala global. No caminho, demos um salto gigantesco ao pisarmos na Lua, mas ao custo de deixar de lado visões e projetos mais grandiosos e racionais de conquista e exploração espacial. No penúltimo texto desta série, comentamos por fim como “a humanidade não merece ir à Lua. Ciência e tecnologia nos oferecem o Universo infinito, mas como macacos nos preocupa muito mais o que outros macacos andam fazendo. Acabamos todos prisioneiros do poço gravitacional terrestre”.

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O telescópio Hubble ainda é uma demonstração desta triste constatação, não por si mesmo, mas por um detalhe pouco conhecido. O diagrama que você vê acima não é um projeto do instrumento astronômico que contribuiu tanto para a ciência e tornou-se sinônimo de fonte para algumas das imagens mais profundas, incluindo literalmente a imagem mais profunda do Universo já capturada. O diagrama acima é uma concepção do que se acredita ser a série de satélites espiões Keyhole KH-11 classe Kennan. Um total de nove satélites da classe KH-11 foram lançados entre 1976 e 1988, e eles eram praticamente idênticos ao telescópio espacial Hubble.

Ou melhor, se você se lembrar de que o Hubble foi lançado em 1990, o inverso é verdade: um dos mais conhecidos instrumentos científicos da história recente é basicamente uma versão civil de um projeto militar. Até mesmo o tamanho do espelho refletor do Hubble foi determinado pelo tamanho exato dos espelhos usados inicialmente nos satélites espiões. Uma das únicas diferenças é que enquanto os satélites militares espionavam a Terra, mirando mísseis nucleares, bases militares e conflitos pelo mundo, o Hubble passou a mirar… o céu.

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Há um trecho no romance “Contato” de Carl Sagan onde, e aqui estrago algo das surpresas da história, com a destruição de uma Máquina ao custo de bilhões de dólares, descobre-se em uma reviravolta considerada por muitos inverossímil que uma segunda Máquina havia sido construída secretamente. “Por que construir uma quando você pode ter duas pelo dobro do preço”, brinca o personagem Sol Hadden na versão cinematográfica.

A realidade é ainda mais absurda: considerando que o telescópio Hubble custou em torno de U$2,5 bilhões, contando em verdade com tecnologias já desenvolvidas para os satélites espiões secretos, pode-se ter uma vaga ideia do custo do programa Keyhole ao desenvolver e lançar nada menos que nove satélites equivalentes. No mais completo segredo.

E o programa de satélites espiões americanos não parou aí, como não começou aí. Enquanto astrônomos lutam por frações do tempo de observação do Hubble há vinte anos, com descobertas que alteraram nosso conhecimento da origem e futuro do Universo e tantos outros conhecimentos esperando para serem desvendados, satélites ainda mais potentes, com espelhos refletores ainda maiores, estão disponíveis neste exato momento para uso militar e secreto. É absurdo, mas aparentemente – é tudo muito secreto – há pelo menos dois satélites mais potentes que o Hubble orbitando o planeta neste exato momento. Mas, ao invés de mirar o céu, miram a Terra. “Como macacos nos preocupa muito mais o que outros macacos andam fazendo”.

No penúltimo texto prometemos que aqui encerraríamos a série com as esperanças de que mereçamos voltar à Lua e consigamos alcançar as estrelas. Há, sim, e apesar de tudo, muita esperança. Você que se aventurou até aqui, em um mergulho profundo e talvez deprimente, deve desculpar este desvio: não planejei toda a série de textos de antemão, como talvez possa ter ficado claro, e não resisti complementá-la com este nexo. Se há alguma dúvida sobre as loucuras de que somos capazes, a exploração espacial, com seus custos literalmente astronômicos e suas possibilidades literalmente infinitas as demonstram com uma clareza cristalina.

Porém, encontrar esperança para encerrar a série em um tom positivo não é difícil. E os meses de espera entre as primeiras partes e este encerramento vieram bem a calhar. No próximo e final texto.

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Confira as partes anteriores:

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