Ciência aplicada aos vampiros da saga “Crepúsculo”?

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“Eu finalmente li ‘Crepúsculo’”, confessou Kay Holt em “I like a little Science in my Fiction” (“Eu gosto de um pouco de Ciência em minha Ficção”). “E depois de horas de pesquisa na rede, encontrei uma solução a um grande problema que tinha com a história. E sei por que os vampiros brilham!”.

Holt começa com um fato: a maior parte dos “vampiros” na natureza, aqueles que se alimentam de sangue, os hematófagos, são insetos. Sim, insetos. “Vampiros devem ser insetos gigantes altamente evoluídos”, brinca, e leva a comparação bem além.

“Como muitos sugadores de sangue reais, vampiros devem se alimentar antes de se reproduzir. Contudo, ao contrário do mundo natural, vampiros parecem se reproduzir inteiramente por transferência horizontal de genes”. Isto é, não transmitem material genético a um filho, verticalmente, mas diretamente a um indivíduo, mesmo uma espécie diferente com a qual não tem relação de ascendência. E faz referência a uma pesquisa recente indicando que um inseto hematófago, um reles “Barbeiro” (Rhodinus prolixus) seria capaz de transmitir material genético a um mamífero. Longe de ser uma reprodução completa, mas se a forma de reprodução dos vampiros de Stephenie Meyer se dá por algum processo envolvendo material genético, seria uma transferência horizontal de genes. Parecida com a de um bicho barbeiro.

O indivíduo, ou a vítima, passaria então por uma metamorfose. Similar à de uma largarta transformando-se em uma borboleta. “De acordo com Crepúsculo, o processo leva dias e é incrivelmente doloroso, o que é coerente dado que a vítima passa por histólise e histogênese completa sem o estágio de pupa, muito menos sem anestesia geral”, nota Holt, que ainda faz referência a outra pesquisa recente sugerindo que mariposas ou borboletas podem se lembrar do que “aprenderam” quando lagartas.

Para completar a interpretação dos vampiros da saga como insetos, Holt lembra que teriam sangue frio, como insetos; com uma pele pétrea, cristalina, como a carapaça, o exoesqueleto de insetos; e finalmente habilidades sobre-humanas, enquanto insetos são alguns dos animais relativamente mais fortes, rápidos, de visão aguçada ou resistentes a viver no planeta.

E qual tipo de insetos eles seriam?

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“Borboletas! Vampiros, como borboletas, estão cobertos de minúsculas escamas iridescentes”, o que explicaria seu brilho ao sol, reluzindo um arco-íris de cores.

Edward Cullen, um inseto hematófago gigante altamente evoluído para parecer um ser humano perfeito, dotado de super-poderes e uma pele cristalina com escamas iridescentes. Uma borboleta.

Há um motivo pelo qual “Crepúsculo” não é ficção científica, mas a brincadeira de Holt – que não é nada além de uma brincadeira, sem a pretensão de ser analisada rigorosamente a fundo – já foi indicada como “possivelmente a melhor viagem de fantasia de todos os tempos” pelo blog BoingBoing.

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[Confira o texto original, em inglês: I know why the vampire sparkles!. Imagem da borboleta do New Forest Observatory. A ideia de insetos gigantes mimetizando traços humanos em verdade já foi tema de uma série de ficção, a série de filmes de terror, “Mimic” (1997), com baratas gigantes aterrorizando o metrô de Nova Iorque e outros cantos do planeta. Provavelmente não Forks.]

Teseu e o fio de Ariadne

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“Segundo a  mitologia grega um jovem herói ateniense chamado Teseu, ao saber que sua cidade deveria pagar a Creta um tributo anual composto de sete rapazes e sete moças a serem entregues ao insaciável Minotauro que se alimentava de carne humana, solicitou ser incluído dentre eles.
O Minotauro vivia em um labirinto, constituído de salas e passagens intrincadas do palácio de Knossos, cuja construção é atribuída ao arquiteto Dédalo.
Ao chegar em Creta, Teseu conheceu Ariadne, a filha do rei, que se apaixonou por ele. Ariadne, resolvida a salvar Teseu, pediu a Dédalo a planta do palácio. Ela acreditava que Teseu poderia matar o Minotauro, mas não saberia sair do labirinto.
Ariadne deu um novelo a Teseu recomendando que o  desenrolasse à medida que entrasse no labirinto, onde o Minotauro vivia encerrado, para encontrar a saída. Teseu usou essa estratégia, matou o Minotauro e, com a ajuda do fio de Ariadne, encontrou o caminho de volta”. [fonte]

Na fotografia, capturada em 14 de maio de 2010, vemos o ônibus espacial Atlantis em sua última viagem rumo ao espaço. A trilha que deixa desde o solo lembra o fio de Ariadne, ligando a Terra às grandes altitudes, em um tênue rastro de produtos de combustão que todavia logo irá se desfazer ao vento. Os herois que sobem ao vácuo do espaço devem encontrar seu próprio caminho de volta.

Mas há ainda outra interpretação no mito do fio de Ariadne e a exploração espacial: estamos em verdade dentro do labirinto do Minotauro, lutando e sacrificando milhões de jovens e moças em conflitos estúpidos e ultimamente fúteis nos meandros deste único planeta. Um Pálido Ponto Azul, como dizia Carl Sagan, um grão de poeira suspenso em um raio de Sol, um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica.

E, no entanto, jamais saímos dele. O mais longe a que enviamos herois foi a nossa própria Lua. Estamos presos em um labirinto e somos nossos próprios monstros, quando há um Universo infinito de possibilidades e conquistas aguardando para ser explorado.

Os fios de Ariadne que criamos com nossas naves espaciais indicam não o caminho de volta à Terra, mas o de destino ao Universo sem fim. [foto via Bad Astronomy]

Benjamin Redentor

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“E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram roupa de púrpura. E diziam: Salve, Rei dos Judeus”. – João 19:2-3

Com quase 40 metros de altura, o Cristo Redentor no Rio também usa uma coroa de espinhos, mas uma que é raramente vista e não faz exatamente parte do projeto artístico do monumento religioso, porque é parte do sistema de pára-raios que o protege contra descargas elétricas. Na fotografia acima, de Ricardo Zerrenner (clique para ampliá-la), pode-se ver a “coroa” e o sistema que se estende também pelos braços da estátua.

A proteção dos pára-raios é muito necessária, uma vez que como o periódico O Dia não deixou de notar, “proteção divina não foi suficiente para preservar uma das Sete Novas Maravilhas do mundo”. Parte do dedo da mão direita e pedaços da testa foram danificados em 2007, e autoridades eclesiásticas alertaram que a proteção tecnológica dos pára-raios estava danificada e inefetiva.

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Reformas recentes restauraram também o sistema de proteção redentora, pára-raios inventados por Benjamin Franklin em 1749.

O curioso aqui, além da ironia do monumento religioso portar uma coroa de espinhos derivada da ciência da eletricidade, é que o famoso experimento de Franklin ao empinar uma pipa em meio a uma tempestade é em si mesmo uma anedota científica. Embora a imagem icônica do cientista americano de óculos (bifocais, que ele também inventou) empinando uma pipa em meio a relâmpagos seja bem conhecida, fato é que Ben Franklin apenas propôs o experimento e há sérias dúvidas de que alguma vez o tenha realmente conduzido.

Outros cientistas sim levaram o experimento a cabo, mas alguns deles encontraram como consequência um triste fim. Empinar pipas em meio a uma tempestade é um grande risco, como o próprio Franklin sabia muito bem. Como boas histórias acabam logo se tornando “História”, a exemplo de anedotas religiosas, a do cientista com peruca branca empinando pipas na tempestade continua sendo recontada. Se a ciência salva o Cristo Redentor, o faz através de conhecimento que também se conta por anedotas. Em dois mil anos é provável que se Franklin ainda for lembrado, o seja por um experimento que nunca realizou.

Por que falar subitamente do Cristo Redentor e pára-raios? Os nexos foram motivados por uma notícia recente indicada pelo professor José Ildefonso. Uma outra estátua com quase vinte metros de altura de Jesus em Ohio, EUA, foi atingida por um raio nesta segunda-feira.

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Ao contrário de nosso Cristo Redentor, devidamente protegido por um pára-raios, a obra construída por uma vertente cristã local era feita de plástico, fibra de vidro e uma estrutura de aço… sem pára-raios. Era um convite ao desastre, ou talvez fé demais em uma proteção divina. Erguida em 2004, é mesmo notável que tenha durado tanto – embora dificilmente seja um milagre. Após o raio que cedo ou tarde cairia, pouco restou do monumento religioso:

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A religião precisa se curvar à ciência? Todo Jesus precisa de uma coroa de espinhos de Ben Franklin? A imagem das labaredas acima lembra um anjo com asas abertas? Deixamos as interpretações e lições de moral destes contos sem fadas, mas com Messias, aos leitores, e encerramos com mais um nexo curioso.

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As estátuas monolíticas da ilha de Páscoa seriam resultado da mitologia dos nativos, e de certa forma, podem ser monumentos religiosos mais sofisticados que o de Ohio, e mesmo o Cristo Redentor com sua coroa de pára-raios. É a fabulosa teoria defendida pelo professor Francisco Soares, da Universidade Federal do Maranhão, segundo a qual os Moai seriam em si mesmos grandes pára-raios.

Distribuídas ao redor da Ilha, as estátuas com até dez metros ofereceriam proteção a áreas habitadas ao atrair descargas em tempestades. Os chapéus de rocha vermelha porosa que ostentavam seriam capazes de dissipar as descargas elétricas, e os olhos de rocha branca chegariam a brilhar quando atingidos. Deveria ser uma visão magnífica. Os raios não seriam um inconveniente natural ao qual seria necessário uma coroa de espinhos de metal, e sim um fenômeno controlado e apreciado em si mesmo através de grandes monumentos combinando superstição e tecnologia.

Uma história fantástica, com o pequeno detalhe que talvez não seja verdadeira. Não pude encontrar referência a avaliações independentes à teoria de Soares, e a crítica mais elementar que se pode fazer é por que as estátuas não parecem funcionar mais como pára-raios, o que se presume que deveriam continuar agindo como se ainda estão de pé. O microclima na ilha de Páscoa já foi bem diferente, principalmente no ápice da cultura Rapa Nui que erigiu os Moai, e talvez a ilha fosse palco para constantes tempestades elétricas, e talvez os Moais desempenhassem a função proposta. Mas a arqueologia mainstream não parece dar muita atenção à ideia.

Seja qual for a resposta, esta viagem pelos muitos nexos entre religião, superstição, raios, história e tecnologia já está de bom tamanho. Que um raio caia na minha cabeça se estiver mentindo.

Manadas de Homo Sapiens

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Como seriam homens gigantes? Em “Ataque dos Salgadinhos Gigantes” citamos o ensaio pioneiro de JBS Haldane sobre o tamanho dos animais, e como um homem simplesmente dez vezes maior, sem nenhuma alteração em sua forma, fraturaria os ossos a cada passo. “Uma grande mudança em tamanho inevitavelmente leva a uma mudança na forma”, observava o biólogo. Como seria esta mudança em um homem gigantesco?

O professor de arte e artista gráfico Gerson Witte inspirou-se pela ideia e a ilustrou de maneira fabulosa acima. Explica:

“Penso que, para andar, poderiam apenas caso tivessem pernas e braços muito grossos, apoiando-se sobre os nós dos dedos como os gorilas, consequentemente, as pernas teriam que ser menores e adaptadas a receber o peso.

Sua pele teria que ser muito grossa, com uma melanina muito acentuada para receber os raios solares, afinal, teriam poucos lugares para se esconder. Teriam poucos pelos, para poder usar a transpiração para regular o calor, mas isso levaria a este grupo a jamais sair de perto de fontes abundantes de água.

Estes representantes megahominídeos teriam um grande problema de alimentação, porque seriam péssimos caçadores, por serem vistos à distância, mas mesmo assim, não fiz alterações de forma para um homem vegetariano somente. Penso que teria uma barriga muito dilatada para poder abrigar um imenso intestino, ou seja, seriam mais parecidos com pandas.

No todo, pensando num humano gigante vivendo em manadas em grandes savanas, nada me tira da cabeça que se pareceriam completamente com elefantes. Mas seria uma cena interessante, manadas de homens-elefantes pastando no entardecer…”

Estendendo-se nesta exploração puramente fictícia do homem gigante como similar a um elefante, é curioso notar as adaptações de nossos conhecidos paquidermes gigantes às suas dimensões.

Devido à relação desfavorável de seu peso e a resistência dos ossos, mesmo com todas suas adaptações, elefantes não podem sair saltitando por aí. Pode-se pensar que a incapacidade de saltitar não seria afinal um enorme problema, contudo ela leva à impossibilidade de correr. A definição de corrida para animais terrestres envolve que o animal fique em algum ponto com todos os pés no ar, ao contrário da caminhada, em que sempre há um pé em contato com o chão.

Esta definição leva ao peculiar rebolado da marcha atlética, por exemplo.

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Elefantes podem se locomover rapidamente. Mas se mantiverem sempre pelo menos um dos pés no chão, seria apenas uma espécie de “marcha atlética”, e não uma corrida. Incrivelmente, em pleno terceiro milênio, ainda não se formou um consenso claro sobre se elefantes conseguem de fato correr. Os últimos estudos indicam que de fato nunca saem da caminhada, ainda que rápida, sempre mantendo um pé em contato com o chão.

Manadas de homens gigantes, assim, seriam diferentes de nós não apenas na forma, como em tantos outros aspectos, incluindo uma simples corrida. E eu nunca achei a marcha atlética muito elegante, lembra Monty Python.

[Com agradecimentos a Gerson Witte pela colaboração!]

O Fiasco da Inteligência

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rb2_large_gray1 Em um futuro distante, a humanidade finalmente descobre sinais de uma civilização alienígena no planeta “Quinta” próximo de Beta Harpiae, e uma ambiciosa missão é enviada para estabelecer contato. Mas este é um romance de Stanislaw Lem, “Fiasco” (1987), e a história é muito diferente dos lugares comuns da ficção científica.

Depois de vencer as enormes distâncias, a missão se depara com um pequeno problema: os alienígenas não estão minimamente interessados em estabelecer contato. Descobre-se que, de certa forma, pior do que encontrar uma civilização alienígena hostil é encontrar uma civilização alienígena completamente indiferente à existência da humanidade. O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.

Com o orgulho mais do que ferido, os humanos da missão não se contentarão até cumprir o objetivo tão simples de estabelecer “contato”. Tomarão medidas cada vez mais drásticas para chamar a atenção dos Quintanos, completamente alheios ao fato de que os Quintanos, como alienígenas, simplesmente pensam de forma alienígena.

O final do romance é o fiasco do título, enquanto o protagonista finalmente descobre por que os ETs não receberam os humanos de braços abertos, no tão almejado e presumivelmente simples “contato”.

Provocador como possa ser, e leitura mais do que recomendada, não é preciso viajar até Beta Harpiae para encontrar inteligências diferentes da nossa.

 

Cérebros de Passarinho

Incrivelmente, uma destas inteligências superiores é a dos pombos. Em um trabalho publicado recentemente, Walter Hebranson e Julia Schroder demonstraram como pombas comuns (Columba livia) podem aprender a melhor tática para o problema de Monty Hall muito mais rapidamente que os tais orgulhosos seres humanos, que de fato podem jamais adotar a melhor estratégia.

Isso ocorre porque o problema de Monty Hall é literalmente uma “pegadinha” com um resultado contra-intuitivo. Já escrevi sobre o tema em um texto anterior, mas basicamente envolve três portas, uma das quais tem um prêmio. Você escolhe uma porta, e então uma das outras duas portas, que não contém o prêmio, é aberta. Finalmente vem a pergunta que testará se sua inteligência é superior à de um pombo: é vantajoso trocar a porta que você escolheu inicialmente pela porta que restou?

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A maioria das pessoas utilizará parte de seus 100 bilhões de neurônios e concluirá que, restando duas portas, apenas uma das quais tem o prêmio, as chances de que qualquer uma delas seja a premiada é de 50%. Não faria diferença trocar ou não de porta.

E é aqui que pombos, com seus cérebros menores que uma noz, o humilharão. Treinados no experimento de Hebranson e Schroder, onde o prêmio era algo tão simples como alpiste, eles ajustaram sua estratégia para a melhor resposta, que é… trocar. Porque no problema de Monty Hall, ao trocar você terá o dobro de chances de levar o prêmio. Se permanecer com a escolha inicial, terá apenas 1/3 de chances de ganhar. Se isto lhe parece absurdo, confira o texto, ou experimente simular o problema milhares de vezes aqui, aqui ou aqui, porque este é um resultado tão matematicamente certo quanto 1+1=2.

Pombos não são, claro, realmente mais inteligentes que eu ou você, esta foi apenas uma provocação. Porém neste caso específico, apesar ou exatamente por causa de sua inteligência limitada, foram capazes de perceber após muitas e muitas tentativas que trocar é a melhor estratégia. Um ser humano é capaz de dar uma resposta – errada – antes mesmo de qualquer tentativa, simplesmente porque é capaz de modelar o problema mentalmente e aplicar raciocínios lógicos. Ainda que incorretos.

A lição fabulosa está neste trecho do sumário do trabalho:

“A replicação do procedimento com participantes humanos mostrou que os humanos falharam em adotar estratégia ótimas, mesmo com extenso treinamento”.

Isto é, presos à modelagem mental de que somos capazes com nosso fabuloso cérebro mesmo antes de uma única tentativa, podemos deixar de perceber que ela está incorreta mesmo após inúmeras tentativas reais que deveriam deixar isto claro. A pesquisa ainda indicou algo fascinante: “participantes humanos” mais jovens se saíram melhor que os mais velhos, talvez mais propensos a observar os resultados do experimento do que confiar em seu julgamento prévio.

Alguns poderiam dizer que jovens têm um cérebro mais parecido com o de um “passarinho”, ao que um jovem poderia responder que na mesma medida em que um “passarinho” pode ser mais inteligente que um ser humano.

Antes de louvar as pombas, ou mesmo esta abordagem simplista centrada unicamente na observação de resultados, contudo, vale lembrar que pombas também podem desenvolver comportamentos “supersticiosos”, sem ao que sabemos jamais refletir sobre o que estão realmente fazendo. O equilíbrio da dedução, observação e indução em busca dos melhores resultados pode ser visto justamente como o objetivo do método científico aplicado.

 

O Dilema dos Camundongos

Em outro trabalho recente atingindo diretamente nosso orgulho humano, pesquisadores portugueses demonstraram que ratos de laboratório também conseguem “resolver” o famoso dilema do prisioneiro, adotando estratégias ótimas de acordo com a estratégia de seus pares. A descrição clássica do dilema:

“Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia não tem provas suficientes para condená-los, mas, mantendo os prisioneiros separados, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que delatou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um passará 5 anos na cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro”.

A solução ao dilema simples não é muito “bonita”: trair é a resposta, porque na melhor das hipóteses se sai livre, na pior cumprem-se cinco anos. Silencie e na melhor das hipóteses cumprem-se seis meses, e na pior, dez anos. Trair é a resposta.

Se isto não parece “bonito”, isto curiosamente pode se dever ao fato de que o dilema do prisioneiro, como apresentado acima, raramente ocorre dessa forma. Ou melhor, dilemas muito similares podem sim se apresentar, com a pequena diferença de que se podem se apresentar diversas vezes, de forma imprevisível. Seria o dilema do prisioneiro iterado, e nele, a melhor estratégia… é a “bonita” cooperação.

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E foi isto que os ratos de laboratório no experimento português aprenderam. O estudo demonstra que “os ratos possuem as capacidades cognitivas necessárias para a cooperação baseada em reciprocidade emergir no contexto do dilema do prisioneiro”.

Uma demonstração de implicações fantásticas. Um detalhe, no entanto, me pareceu outra lição fabulosa, que também pinçamos do sumário:

“Mostramos que o comportamento dos ratos é dependente de seu estado motivacional (faminto versus saciado)”.

Isto é, os pesquisadores notaram que em experimentos anteriores ratos haviam falhado em desenvolver estratégias mais sofisticadas, incluindo a cooperação, e sugerem que isso pode ter se devido ao fato de que em tais estudos os ratos estavam famintos. Em seus testes, os ratos portugueses estavam devidamente saciados e puderam assim se dar ao luxo de experimentar e desenvolver diferentes estratégias.

O detalhe de desenvolver o experimento levando em conta a saciedade dos ratinhos é genial, óbvio em retrospecto, e lembra um discurso de Richard Feynman sobre o esmero necessário no desenvolvimento da ciência.

 

Obrigado pelos Peixes

Depois de ciência fascinante, do tipo que parece se relacionar diretamente com questões das mais relevantes a nós, não poderia deixar de retornar à ficção científica da melhor qualidade e lembrar de Douglas Adams e como em seu fabuloso Universo <SPOILER!>ratos de laboratório são as protrusões físicas em nossa dimensão de uma raça de seres pandimensionais hiper-inteligentes que construíram a Terra, sendo assim os seres mais inteligentes no planeta. Pensamos que os usamos como cobaias em experimentos, mas em verdade são eles que nos usam em seu grande experimento para a Questão da Vida, o Universo e Tudo Mais.</SPOILER!>

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Comédia, evidente, mas que ratos sejam capazes de desenvolver estratégias de cooperação até então vistas em orgulhosos seres humanos deve provocar questionamentos sobre se o que consideramos “bonito”, a cooperação, é algo que advém de uma moral contida em um manuscrito religioso de quase dois mil anos, ou se pode ser melhor explicada por processos evolutivos muito mais antigos. Processo que nossos parentes camundongos, não tão distantes de nós, também partilham e podem exibir, mesmo sem ter contato com qualquer Messias roedor.

Podem ser, como os pombos, tão ou até mais “inteligentes” que nós, embora de formas diferentes. Ao menos quando não estão famintos. [via Not Exactly Rocket Science e The Scientist, imagem do Jumping Brain de Emilio Garcia]

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  • Herbranson, W., & Schroeder, J. (2010). Are birds smarter than mathematicians? Pigeons (Columba livia) perform optimally on a version of the Monty Hall Dilemma. Journal of Comparative Psychology, 124 (1), 1-13 DOI: 10.1037/a0017703
  • Viana DS, Gordo I, Sucena E, & Moita MA (2010). Cognitive and motivational requirements for the emergence of cooperation in a rat social game. PloS one, 5 (1) PMID: 20084113

Cajun Crawler: O Patinete de Theo Jansen

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As esculturas cinéticas do artista holandês Theo Jansen já apareceram até em comerciais, e claro, aqui em 100nexos.

Pois, inspirados por Jansen, um grupo de estudantes da Universidade de Louisiana criou um scooter com o mesmo mecanismo de pernas:

Avance o vídeo para 1 minuto para ir direto às cenas do que parece um caranguejo por controle remoto. Com doze patas. De alumínio. Em um patinete.

Jansen em certo momento de megalomania, como comentou o Bessa, compara suas criações à reinvenção da roda. Só um tanto exagerado, mas para quem sonhou em andar sobre caranguejos mecânicos, o futuro já chegou. [via MAKEzine]

Montanhas Aleluia e os Óculos de Schrödinger (I)

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“Um amigo meu saiu maravilhado depois de assistir a Avatar. Não parava de falar das montanhas flutuantes. E eu disse a ele: ‘Cara, seu planeta tem montanhas gigantescas de água. De água. Que flutuam em cima da sua cabeça todos os dias e quando viram chuva contribuem para o ciclo do líquido mais importante da sua existência’. A maioria vai de um lugar para o outro sem se dar conta da complexidade, maravilha e encantamento que é uma nuvem”. – Ibrahim César, 1001 Gatos de Schrödinger

E se eu lhe disser que ainda mais impressionante que os efeitos tridimensionais dos smurfs gigantes, são os próprios óculos que você deve ter usado no cinema, e como eles podem elevar o “mistério central” da física quântica a algo verdadeiramente absurdo… mas completamente real? Tão real que pode estar agora mesmo frente a seus olhos, e no entanto, como uma montanha de água com a massa de dez mil aviões 747 flutuando no céu, passa despercebido?

Depois de um breve lapso, é mais uma coluna Dúvida Razoável, iniciando uma série na continuação.

A Humanidade não merece ir à Lua (V)

Como negar a beleza das explosões que podem ser vistas acima? É impossível. São fabulosos fogos de artifício. E o são em escala – e potência – nunca vistas, porque são alguns dos poucos testes nucleares realizados no espaço. Mais detalhes da breve história das “bombas do arco-íris” podem ser conferidos no excelente documentário “Nukes in Space”, do premiado cineasta Peter Kuran.

O preço que pagamos por esta pirotecnia nuclear no espaço são seus produtos radioativos dispersados pela atmosfera: alguns átomos liberados nestas explosões bem podem fazer parte de seu corpo neste exato momento. Como você pode imaginar, não são muito saudáveis.

Beleza e terror. Nós ainda estamos falando da conquista espacial.

Eu gostaria de escrever aqui que a visão grandiosa de Wernher von Braun para o futuro da humanidade no espaço era não apenas mais ambiciosa e confiante que a de Kennedy, como também antecipava e reforçava sua mensagem conciliadora. Que mesmo antes de se virem pressionados pelo Sputnik e por Gagarin, os americanos se lançariam na conquista espacial pelas “novas esperanças de conhecimento e paz” que residem no céu infinito. Infelizmente, não foi o que ocorreu.

“Nos próximos dez ou 15 anos, a Terra terá um novo acompanhante nos céus, um satélite artificial que pode ser tanto a maior força pela paz já construída, ou uma das mais terríveis armas de guerra – dependendo de quem o construir e controlar”.

Era assim que começava a série de artigos de von Braun na Collier’s. Na gênese da visão inspiradora que nos prometeu o Universo em 1952, já estava lá o ultimato de que a conquista espacial deveria ser levada à frente pelo medo, sob o espectro da aniquilação nuclear.

Quando lembramos que a Guerra Fria foi o maior dilema do prisioneiro e como a própria conquista da Lua envolvia de início planos de plataformas para destruir a Terra, estávamos nos referindo a planos promovidos entre outros pelo mesmo von Braun. Afinal, era o antigo cientista de Adolf Hitler que mirava as estrelas, mas como o humorista Mort Sahl brincou, às vezes acertava Londres.

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Wernher von Braun e sua visão na Collier’s talvez representem perfeitamente a história da conquista espacial no século 20, em todas suas contradições, em tudo aquilo que pode haver de melhor e pior em nossa natureza. Somos tanto inspirados pela esperança quanto motivados pelo medo, e quanto maiores os desafios, maiores as esperanças, maiores os medos.

Neste paradoxo aparente, é contudo muito mais comum que finalmente nos comprometamos com ação em projetos onerosos quando nos vemos forçados pelo medo. Ou pelo menos, a história da conquista, da própria corrida espacial é uma longa história de dilemas do prisioneiro. O paradoxo se desfaz quando notamos que é este medo que nos levou a investir na esperança de grandes conquistas.

Porque, como vimos, economicamente algo como o Concorde, e muito menos a conquista da Lua, não fazem sentido. Era preciso algo mais para que nos dedicássemos a eles. E em nossa natureza humana, de macacos dotados de ciência e tecnologia, a esperança por si só não é, ou não foi suficiente para levar à frente tais sonhos. Ao final, foi o medo que motivou a esperança.

“Lá onde cresce o perigo, cresce também o que salva”, menciona o filósofo francês Edgar Morin como um princípio de esperança. “De um modo trágico, quanto mais nos aproximarmos do perigo, mais teremos chances de sair dele, mas aumentarão também mais os riscos de nele mergulhar”.

Nossa breve estada em nosso satélite natural foi um dos sobressaltos mais fantásticos produzidos por uma das eras em que mais nos aproximamos de mergulhar no terror do apocalipse nuclear. Foi tanto a antecipação de um empreendimento que talvez só se torne economicamente viável neste século – ou no próximo – e que determinará a continuidade de nossa civilização a longo prazo, quanto um dos encontros mais próximos com o simples fim de tudo.

Esta é a história a lembrar a partir da pegada de Neil Armstrong. E com uma história assim, a humanidade não merece ir à Lua. Ciência e tecnologia nos oferecem o Universo infinito, mas como macacos nos preocupa muito mais o que outros macacos andam fazendo. Acabamos todos prisioneiros do poço gravitacional terrestre.

Com uma história assim, a humanidade não merece ir à Lua.

Conseguiremos nos livrar de todos estes dilemas? Depois de toda uma série de textos pretendendo mostrar por que não merecemos ir à Lua, não poderíamos parar aqui em tom fúnebre. Ou talvez pelo tom apocalíptico, nos sejam despertados os sonhos, afinal, este que escreve aqui é também um macaco.

Encerraremos esta série a seguir com as esperanças de que mereçamos voltar à Lua, e consigamos alcançar as estrelas – sem precisar encarar o abismo.

A Humanidade não merece ir à Lua (IV)

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“Nós escolhemos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque são fáceis, mas porque são difíceis, porque esse objetivo servirá para organizar e medir o melhor de nossas energias e habilidades, porque esse desafio é um que estamos dispostos a aceitar, um que não estamos dispostos a adiar, e um que pretendemos vencer, e aos outros também… Há muitos anos o grande explorador britânico George Mallory, que morreria no monte Everest, foi questionado por que queria escalá-lo. Ele disse: ‘Porque está lá’. Bem, o espaço está lá, e nós vamos escalá-lo, e a lua e os planetas estão lá, e novas esperanças de conhecimento e paz estão lá”. – John F. Kennedy, 1962

Independente do que nos motivou, nós chegamos lá, como a pegada de Neil Armstrong atesta. Ao final a inspiradora visão de Kennedy foi cumprida, e para surpresa mesmo dos mais otimistas o foi no prazo estabelecido. Para cumpri-la, no entanto, um pequeno detalhe foi deixado de lado: as “outras coisas”, os outros planetas. E assim a visão mais ambiciosa de um certo Wernher von Braun foi quase completamente deixada de lado.

Para compreender como a pegada de Armstrong é também uma tragédia, basta compará-la com a visão de von Braun.

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Dez anos antes do discurso de Kennedy, enquanto os Baby Boomers cresciam na era de ouro do pós-guerra americano, von Braun expôs a primeira visão completa para a conquista espacial do sistema solar através de uma série de artigos na popular Collier’s magazine.O Homem Conquistará o Espaço Em Breve!”, assegurava a chamada confiante para uma das mais influentes obras de divulgação científica, combinando o texto de von Braun e 23 especialistas com ilustrações magníficas de Chesley Bonestell admiradas até hoje.

Sem esquecer das crianças, o cientista alemão naturalizado americano também a divulgou em várias mídias, em especial, em um documentário produzido por Walt Disney televisionado para 42 milhões de pessoas em 1955, no que também é um marco de popularização utilizando a animação de Disney para apresentar “ciência-factual” (um trocadilho de Walt com “ciência-ficção”). Você confere abaixo um trecho do programa com o próprio von Braun apresentando o projeto de seu gigantesco foguete:

O plano mestre partiria da criação deste foguete reutilizável, que em inúmeros lançamentos construiria de partes pré-fabricadas uma estação espacial permanente em formato de anel para simular gravidade – a estação vista em 2001, Uma Odisséia no Espaço foi baseada nesta visão. A estação espacial por sua vez seria a plataforma para a construção de nada menos que três enormes espaçonaves que levariam uma expedição de 50 homens à Lua em 1977. Você leu certo: cinquenta astronautas. Não apenas para deixar suas pegadas lá, mas para estabelecer uma base lunar permanente.

E a conquista do espaço iria além. Construída a estação espacial e a base lunar permanentes, o próximo alvo só podia ser Marte. Para o planeta vermelho uma frota de nada menos que dez espaçonaves com 70 astronautas ecoaria a frota de Cristóvão Colombo – incluindo o detalhe de que mesmo que uma das espaçonaves se perdessem no longo caminho, a missão desbravadora ainda teria sucesso. Ao final, a humanidade teria firmado sua presença pelo sistema solar conquistando outros planetas.

A confiança e o otimismo extremos que esta visão de conquista espacial representava talvez seja melhor percebida neste filme recente, largamente baseado nos artigos de von Braun na Collier’s, no estilo de pseudo-documentário de uma realidade alternativa. “Man Conquers Space”:

A realidade que conhecemos foi bem diferente. Toda a celebração do projeto Apollo na primeira parte desta série foi sincera e válida, e isto ficará mais claro no texto a seguir e principalmente ao final, mas nesta reflexão sobre a humanidade e a conquista espacial é importante lembrar que fomos à Lua, mas esquecemos as “outras coisas”.

A Humanidade não merece ir à Lua (III)

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A história do desenvolvimento do Concorde lembra muito o dilema do prisioneiro. Em menos de dois anos os custos já haviam dobrado, e frente a uma crise econômica, o governo britânico tentou abandonar o projeto em 1964. Como vimos, havia um porém. O novo governo de Harold Wilson descobriu que deveria pagar ao parceiro francês uma multa pelo abandono tão grande que na prática seria tão cara quanto continuar financiando o projeto.

Os franceses, por sua parte, seguramente não ficaram felizes em financiar um custo mais de seis vezes superior – e em algumas estimativas, mais de quinze! – ao orçamento inicial por um avião que mesmo antes de ser completado já dava sinais de que não operaria com lucro. Isto é, além de tudo, o investimento brutal não seria recuperado. Em vários momentos, os franceses também buscaram abandonar o projeto, mas então, seriam eles a pagar multas aos britânicos.

A solução racional era e é óbvia. Bastava que os dois países sentassem de novo à mesa e cancelassem o projeto conjuntamente, revisando o tratado. “Mas em vista da forma como o tratado havia sido firmado, nenhum dos lados podia permitir que parecesse que era aquele desejando o cancelamento, uma vez que o outro veria uma chance de recuperar seu prejuízo ao afirmar que eles, claro, queriam continuar”, escreveu Peter Gillman no The Atlantic pouco após a entrada em serviço do avião em 1977. Como no dilema do prisioneiro, as partes foram incapazes de cooperar frente à possibilidade que a outra levasse vantagem, e se viram assim condenadas a um prejuízo combinado muito maior.

Que um acordo lembrando um dilema da teoria de jogos fosse firmado é impressionante em si mesmo. Como explicá-lo? “Em cada caso, motivações tecnológicas e políticas superaram considerações econômicas”, conclui um estudo de historiadores da Universidade de Westminster. Motivações tecnológicas e políticas e a própria Teoria de Jogos nos levam finalmente de volta ao projeto Apollo.

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O dilema do prisioneiro que levou o homem à Lua começou com a surpresa do Sputnik em 1957. Uma enorme conquista tecnológica, o primeiro satélite artificial, e também um aviso aos americanos de que os russos haviam lançado sobre suas cabeças uma pequena esfera metálica contra a qual nada podiam fazer. A esfera polida era bela, brilhante e inofensiva, transmitindo simples bips eletrônicos. Mas bem poderia ter sido uma arma. De certa forma, havia sido uma arma psicológica poderosíssima. Não houve dilema do prisioneiro em maior escala do que a Guerra Fria.

Começava naquele momento a corrida espacial, que de início possuía um sentido muito claro: domine-se o espaço, domine-se o planeta. Mesmo a conquista da Lua era um objetivo claro. Conquiste-se a Lua, conquiste-se o planeta: o primeiro país a colonizar a Lua encontraria lá uma plataforma de lançamento invulnerável a partir da qual se poderia aniquilar a própria Terra. Quando Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a orbitar o planeta, John Kennedy finalmente se convenceu de que os americanos escolheriam ir à Lua não porque era fácil, nem apenas porque era difícil, mas porque representava o ponto de chegada de uma corrida que de início parecia valer tudo ou nada. E eles estavam perdendo. TVs coloridas de nada adiantariam em meio a uma chuva de ogivas nucleares do espaço.

Como o orçamento inicial do Concorde, isso rapidamente mudou. Com o desenvolvimento de submarinos nucleares, mísseis podiam ser lançados do fundo do mar de qualquer ponto dos oceanos, mesmo sob as calotas polares, representando uma plataforma de lançamento móvel praticamente invulnerável. No evento de um apocalipse nuclear, tanto astronautas na estação espacial quanto marinheiros em submarinos nucleares sobreviverão dentro de suas latas um pouco mais do que nós sobre a terra devastada. E submarinos são muito mais baratos que estações ou colônias espaciais. Foi acima de tudo a economia que fez com que um thriller como “Caçada ao Outubro Vermelho” envolvesse submarinos e não naves espaciais.

Em meados dos anos 1960 já era claro que chegar à Lua não significava o ponto final e definitivo de uma dominância absoluta no espaço, muito menos do planeta. O projeto Apollo, no entanto, já estava em curso e abandoná-lo não era uma alternativa viável em plena Guerra Fria, por “motivações tecnológicas e políticas”. Os EUA precisavam reafirmar sua superioridade tecnológica ainda que no espaço ela não significasse tanto quanto se imaginava de início.

Curiosamente, o projeto Apollo não estourou seu orçamento inicial, mas a explicação talvez esteja na anedota de que o administrador da NASA, James Webb, pediu que seus engenheiros fossem muito sinceros ao estimar os custos do programa – e então dobrou o valor antes de apresentá-lo a Kennedy. Em seu ápice, ele consumiu mais de 5% do orçamento federal de todo os EUA, algo impossível fora do contexto da Guerra Fria, com o objetivo único de pisar na Lua.

E esta se tornaria a tragédia do projeto Apollo. No próximo texto.

[Imagem do topo: ctechs/sxc.hu]

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