Cajun Crawler: O Patinete de Theo Jansen

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As esculturas cinéticas do artista holandês Theo Jansen já apareceram até em comerciais, e claro, aqui em 100nexos.

Pois, inspirados por Jansen, um grupo de estudantes da Universidade de Louisiana criou um scooter com o mesmo mecanismo de pernas:

Avance o vídeo para 1 minuto para ir direto às cenas do que parece um caranguejo por controle remoto. Com doze patas. De alumínio. Em um patinete.

Jansen em certo momento de megalomania, como comentou o Bessa, compara suas criações à reinvenção da roda. Só um tanto exagerado, mas para quem sonhou em andar sobre caranguejos mecânicos, o futuro já chegou. [via MAKEzine]

Um Sol Artificial em Inuvik

Inuvik é uma pequena cidade no extremo norte do Canadá, com pouco mais de 3.400 habitantes… e um mês inteiro na escuridão, como parte da noite polar no inverno.

Em um momento de genialidade publicitária para promover a marca de sucos Tropicana, em 8 de janeiro passado a companhia lançou no ar um “sol artificial”, para oferecer “manhãs mais claras aos canadenses”.

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Composto de um balão de hélio de dez metros com lâmpadas emitindo um total de 100.000 lumens, segundo a agência de publicidade este seria aproximadamente o fluxo luminoso do Sol em um dia claro. E não é que a afirmação pode estar correta? Em um raio de quase quatro quilômetros, a marca de suco realmente criou um Sol artificial – um que estava apenas bilhões de vezes mais próximo, o que sem dúvida tornou as coisas um tanto mais fáceis.

Curiosamente, a tecnologia em si mesma não é nova. É original da companhia Air Star, e já vem sendo usada em shows e gravações cinematográficas há algum tempo. O melhor: há modelos de balões de iluminação ainda mais potentes. Embora a publicidade tenha vendido os balões como “sóis”, eles lembram mais grandes luas artificiais.

E luas artificiais lembram uma cena genial imaginada por Stanley Kubrick e retratada por Steven Spielberg no filme “A.I.: Inteligência Artificial” (2001):

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Já sóis artificiais… iluminar cidades durante a noite polar…

Uma das primeiras aplicações propostas para a tecnologia espacial foi justamente o lançamento de gigantescos espelhos em órbita, que poderiam dirigir a luz do sol para qualquer ponto do planeta. Segundo o pioneiro alemão Hermann Oberth, um grande espelho espacial com quilômetros de diâmetro poderia derreter o gelo do ártico e controlar o clima terrestre, por exemplo.

Se isso assusta um pouco, Oberth originalmente sugeriu a idéia do espelho na década de 1920 como uma possível arma capaz de vaporizar cidades. Afinal, já antes de Cristo, Arquimedes teria demonstrado o poder de espelhos – ou pelo menos, assim dizia a lenda.

Também diz a lenda que os nazistas chegaram a considerar a idéia seriamente. Mas esta é uma outra história, para outro post.

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Sóis artificiais de balões de hélio para vender suco de laranja ou iluminar shows soam melhor agora, não? Propagandas podem ser geniais ao combinar tecnologia com idéias realmente inspiradoras. [via Geeks are Sexy, Gizmodo]

Um espetacular mergulho pelos cânions de Marte

Candor Chasma é um dos maiores cânions do sistema de Valles Marineris em Marte. E agora você pode viajar a 160km/h sobre as depressões de até sete quilômetros de profundidade, em uma animação de Adrian Lark criada em tempo real a partir de dados da NASA/JPL/UA.

Como Doug Ellison comenta no blog da Planetary Society, é algo como “o helicóptero do noticiário local voando”. Em outro planeta.

mais vídeos no canal de Lark no Youtube, em uma indicação da Giseli Ramos.

Ciência: vaporizando mosquitos, salvando vidas

Esse é com certeza o vídeo mais sensacional que você verá em muito tempo: mosquitos sendo vaporizados em vôo por raios laser.

Isso vai muito além de queimar formigas com lupas porque aqui tudo é feito por um sofisticado sistema automático. Ele é capaz de detectar insetos voadores e então, pelo padrão de batida de suas asas, não apenas descobrir quais são mosquitos e quais podem ser, por exemplo, borboletas. Ele também pode diferenciar mosquitos machos de fêmeas!

“Se você for um purista, poderia matar apenas as fêmeas”, que são as que se alimentam de sangue, diz Nathan Myhrvold ao WSJ. Mas como são mosquitos, deve provavelmente “exterminar todos”.

Myhrvold não é um inventor de fundo de quintal. É um antigo executivo da Microsoft que fundou a Intellectual Ventures, dedicada a investir em novas idéias. Em 2007 ele ouviu do astrofísico Lowell Wood a idéia de matar mosquitos com lasers. Wood, por sua parte, não era maluco – havia trabalhado no laboratório Lawrence Livermore com Edward Teller, pai da bomba de hidrogênio e principal promotor na década de 1980 de uma idéia familiar. Era a Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI), mais conhecida como o projeto Guerra nas Estrelas, que pretendia criar um escudo anti-míssil para proteger os EUA de mísseis nucleares. Entre outros tecnologias, através de raios laser interceptando ogivas em pleno ar.

O que leva um astrofísico envolvido com lasers e armas nucleares a tentar matar mosquitos?

A cada 43 segundos uma criança morre de malária no mundo. São ao redor de um milhão de mortes anuais para uma das doenças mais perniciosas a assolar nossa espécie, e que está muito longe de ser erradicada. Não existe vacina e os métodos de prevenção envolvem assim controlar o vetor, que é o mosquito. Inseticidas são uma luta constante contra a adaptabilidade destes bichos voadores, e as tradicionais telas, como todos que já usaram bem sabem, são úteis mas não funcionam tão bem. Em países menos desenvolvidos, que são justamente as maiores vítimas, o uso de telas é ainda mais problemático porque cobrir a cama com véu pode parecer a menor das preocupações de um aldeão.

Aqui entra o conceito de “cerca fotônica”. Instalando efetivamente um sistema de defesa contra mosquitos, ele cercaria uma área e impediria qualquer mosquito de entrar. Os lasers não ficariam ligados constantemente, claro, sendo ativados apenas ao detectar-se o zumbido certo.

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A cerca não precisa cobrir a parte superior da área protegida porque mosquitos não voam muito alto.

Mosquitos já estão sendo exterminados, vídeos sensacionais filmados, e vidas poderão ser salvas. No entanto, a pergunta que muitos estarão fazendo é se algo assim poderá salvar milhões? Em áreas onde nem telas contra mosquitos estão disponíveis ou são utilizadas corretamente, poderia um sistema computadorizado com lasers ser viabilizado?

Talvez não, mas todos devemos torcer para que seja possível. O barateamento de equipamentos eletrônicos, incluindo chips e diodos emissores de raios laser, através do avanço da física de estado sólido oferece uma esperança concreta de que chips de silício ainda venham a entrar diretamente no combate a protozoários.

Se hoje você pode comprar um apontador laser por menos de R$10, quem sabe em um futuro próximo não haja vendedores ambulantes oferecendo tecnologia de Guerra nas Estrelas para exterminar mosquitos? Parece pouco plausível? Que tal então este cenário, sugerido pelo amigo Charles Pilger:

“[Embuta o dispositivo em telefones] celulares. Pode parecer piada, mas vale a pena lembrar que na África celular não é só telefone, é carteira também (há toda uma economia formada em torno do uso de créditos de celular, que passam a valer como moeda). Se é possível ter um laser de mão, por que não embutir num celular, junto com um microfone capaz de detectar o zumbido certo?”.

Um dispositivo desta natureza poderia acabar sendo mais simples e eficiente que uma tela de pano. Ou, no mínimo, é uma esperança a mais.

“Nós pensávamos que poderíamos dar alguma contribuição para acabar com a Guerra Fria” através do programa Guerra nas Estrelas, disse o dr. Jordan Kare, colega de Wood. “Agora estamos tentando contribuir um pouco em uma guerra que tem se estendido por muito mais tempo e ceifado muito mais vidas”.

Ciência: salva vidas, às vezes de forma indescritivelmente fabulosa. [via Wired, WSJ, Intellectual Ventures]

Usina de carvão: o horror

Jeff Grewe capturou em lapso de tempo uma usina de energia movida a carvão no sul dos EUA. Com a trilha sonora saída do filme de terror “O Iluminado”, o resultado é talvez mais impactante do que os esforços de marketeiros e mesmo ex-presidentes por aí. Mas vale destrinchar um tanto do que estamos vendo.

Usinas de carvão emitem não apenas o tão comentado CO2, que é um gás invisível: você o está exalando neste exato momento. O que vemos como um gigantesco monstro branco é a poluição em aerosol, que tem consequências um tanto diferentes para o meio ambiente. Se o CO2 é um gás de efeito estufa que contribui para o aquecimento, os aerossóis têm efeito contrário, diminuindo a parcela de radiação solar que chega até o solo. Há algumas décadas, previsões alarmistas na mídia davam conta de que com o planeta tomado por fumaça viveríamos uma nova era glacial.

Isso não só não ocorreu como hoje os alardes são pelo efeito oposto, com o derretimento das calotas polares. Negadores das mudanças climáticas tomam esta aparente contradição como exemplo de que as previsões de cientistas alarmistas desta vez também irão se mostrar erradas: o que não contam é que mesmo enquanto a mídia dava voz a especulações sobre eras glaciais, os periódicos científicos de climatologia já apontavam que o contrário deveria ocorrer.

Isto ocorre porque enquanto os aerossóis têm um tempo de ação limitado, o CO2 tem um ciclo muito mais longo, produzindo um efeito cumulativo. Já são mais de 150 anos em que as emissões de carbono só vêm aumentando, e sua concentração na atmosfera também. Ainda que interrompêssemos todas as emissões hoje, levaria muito tempo até que sua presença na atmosfera voltasse a níveis pré-industriais. Se é que retornaria a tal.

É o mesmo motivo que faz com que as emissões de carbono acabem mais relevantes para o futuro do clima na Terra do que a atividade solar: enquanto o Sol, o evidente determinante principal do clima no planeta, pode aumentar ou diminuir a temperatura global a qualquer variação pequena de sua atividade, no longo prazo os aumentos tendem a compensar as diminuições. Já o CO2, de efeito menor, só aumenta. É um vilão invisível, silencioso e persistente. Caso queira rir, é algo como o assassino da colher.

O horror do monstro branco de fumaça da usina de carvão é assim uma das faces menos perigosas do que vemos. [via Nerdcore]

Antenas que falam: na Nature

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Há alguns meses abordamos o popular vídeo do “rádio de plasma” na Rússia, e buscamos explicar o curioso efeito da melhor forma possível: de rádios galena na Segunda Guerra a bobinas de Tesla cantando o tema de Super Mario Bros, chegamos finalmente ao vídeo de uma antena falante, confirmando o fenômeno.

Em um follow-up fascinante, o SciBling do Massa Crítica indica esta nota da revista Modern Mechanix de 1933 (!) que descreve exatamente o mesmo fenômeno:

“Um incidente na estação de Hilversum (Holanda), relatado pela autoridade de ninguém menos que o Dr. Balthasar van der Pol, em uma carta à Nature, é bem autenticada por observação competente. Energia adicional, durante um tempo demasiadamente seco, foi seguido pela aparição de uma descarga ‘coronal’ – isto é, luz cercando os fios da antena, produzida, claro, pela ionização do gás afetado pela saída de elétrons dos fios. A corono, no entanto, apareceu na forma de bolas de luz, de algumas polegadas de diâmetro, primeiro em uma extremidade do fio externo, e então interno. Quando a energia na estação foi reduzida a um valor normal – em torno de 10 kilowattts, 296 metros – a luz desapareceu. Além de ser luminosa, a antena era bem audível.

O programa da estação foi ouvido por transeuntes, como som vindo da antena, a uma distância de uma milha, em experimentos com alta voltagem posteriores. A ação é sem dúvida similar ao alto-falante de descarga elétrica, com o qual experimentos interessantes foram realizados no passado, mas precisa de voltagem muito alta para uso comum”.

Exatamente como o vídeo no Youtube da antena sobrecarregada, mas em um incidente na Holanda em 1933, devidamente relatado pelo doutor van der Pol à Nature! Não é só na Rússia que Plasma, rádio VOCÊ!! [Modern Mechanix, via Luis Brudna]

It Felt Like a Kiss

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“Estrelando: Rock Hudson, Saddam Hussein, Lee Harvey Oswald, Doris Day, Enos o chimpanzé e todos acima do nível 7 na CIA”. É como começa “It Felt Like a Kiss” (2009), documentário da BBC produzido por Adam Curtis, em uma viagem pela segunda metade do século XX, do ápice do poder americano nos anos 1950 até o final, em uma cena onde a atriz Doris Day fecha a porta do seu quarto de hotel – de número 2001 – e dorme tranquilamente, até ser acordada pelo estrondo de um avião.

Baseado em imagens de arquivo, como é a assinatura do produtor Curtis, seu trabalho mais recente segue a linha dos anteriores ao ressaltar como planos mirabolantes de tecnocratas do século passado empenhados em mudar o mundo fracassaram de maneira por vezes cômica, e sobretudo irônica. Ter Saddam Hussein ao lado do ator Rock Hudson não é tão absurdo quando Curtis lembra, através de legendas, fotos e vídeos, como Hussein foi um agente da CIA, como foi patrocinado pela CIA em seu golpe no Iraque e, onde entra a ironia, como Hussein posteriormente produziu um filme sobre seu papel no golpe.

Filme editado por Terence Young, que dirigiu três filmes de James Bond. Saddam Hussein não esteve tão distante de Hollywood.

“It Felt Like a Kiss” não é comentado aqui apenas por ser cultura e política: também lida com temas da ciência, ou pelo menos, da tecnologia. Porque o trabalho de Curtis ressalta de forma especialmente interessante como a ciência está longe de fornecer soluções para todos nossos problemas. Em um pequeno spoiler, conto aqui a teia de conexões envolvendo o macaco.

Em 1961, Enos o chimpanzé foi o primeiro primata a orbitar o planeta. Lançado pelos americanos durante a corrida espacial, Enos havia sido capturado nas selvas do Congo ainda filhote, e agora sobrevoava em órbita seu berço de nascimento. Há algo de poético nisto, embora o fato do primeiro primata no espaço ter sido retirado de seu berço para ser treinado a milhares de quilômetros e então lançado em um foguete como cobaia ao espaço não seja uma poesia particularmente harmoniosa. Contada deste jeito, claro. A crítica de Curtis, contudo, não é esta.

Enquanto o chimpanzé Enos orbitava o planeta, o próprio Congo passava por uma guerra civil, e a CIA teria se envolvido com o golpe contra o primeiro presidente eleito Patrice Lumumba, que seria deposto, assassinado e, segundo relatos, teve finalmente seu corpo dissolvido em ácido. Tomaria seu lugar Joseph Mobutu, um dos mais corruptos e sanguinários ditadores da África. “E entre o caos e a violência, o HIV continuava a se disseminar silenciosamente de humano a humano”.

Sim, porque acompanhando a conquista do espaço e golpes militares, demonstrações de poder e suposto controle, o vírus da AIDS também se tornava lentamente uma pandemia. Descontroladamente. Tudo isso apresentado ao som de “In Dreams”, cantado por Roy Orbison, só se torna mais impactante quando somos lembrados que Rock Hudson, o famoso ator símbolo de bom partido nos filmes românticos das décadas de 1950 e 60, era na vida bem real homossexual e faleceu de complicações relacionadas à AIDS.

“It Felt Like a Kiss” é repleto do que podem ser socos no estômago como este, e embora a mensagem central seja bem clara, a ausência de narrativa e a sucessão que chega a ser desconexa de uma infinidade de imagens deixa muito para interpretação do espectador. Aqueles que tiverem se interessado mais pela crítica que Curtis faz à tecnocracia e grandes planos mirabolantes ruindo estrondosamente preferirão a série Pandora’s Box, do mesmo Curtis, outra obra imperdível.

É, apesar de alguns defeitos, “It Felt Like a Kiss” é sim imperdível. O documentário está disponível online na íntegra: assistam a “It Felt Like a Kiss” no mínimo pela música, com alguns dos maiores hits da época. Serão 54 minutos muito bem gastos. Há uma surpresa mesmo no título. “Pareceu um beijo” não é uma música tão romântica assim.

2009: Uma Odisséia no Espaço

Com oito anos de atraso, temos uma nave espacial que partiu da Terra realizando acrobacias em órbita, filmado de uma estação espacial internacional permanente. A valsa ocorre a 350 quilômetros de altitude entre a Tasmânia e Austrália, com o fim de fotografar a parte inferior da Atlantis e checar a integridade das placas negras de proteção térmica (procedimento de segurança adotado depois do trágico ocaso da Columbia).

Os movimentos parecem lentos, mas tanto a estação quanto o ônibus espacial estão a quase 30.000 km/h.

A visão de Clarke e Kubrick, abaixo:

[via Fogonazos]

El Silbo, agora o mundo acaba

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Com vocês, o esquema para o fim do mundo, a gênese do juízo final, a espada do Armageddon. Ou alguma coisa assim. Em tese. Explico.

É apenas o circuito criado por Michael J. Rainey para “El Silbo”, um adorável rádio-transmissor movido unicamente pela energia da voz do operador. Nada de baterias, nem mesmo manivelas, basta falar e a energia das ondas sonoras é convertida em pequenos sinais elétricos que por sua vez se transformam em sinais de rádio, com potência variando de 5 a picos de 15 mW.

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Pode ser muito pouco, mas Rainey diz ter conseguido usar seu “El Silbo” para falar com outros rádio-amadores a uma distância de até 160 km! É a energia de uma voz humana, cruzando distâncias literalmente muito além do horizonte, graças à engenhosidade do cérebro humano.

O próprio nome “El Silbo” é uma referência à Silbo Gomero, uma linguagem assobiada – !!! – falada por habitantes de La Gomera nas Ilhas Canárias – acredite se quiser, ou leia na BBC e em trabalhos acadêmicos. Aproveitando-se do relevo montanhoso, e com seus altos assobios, a linguagem Silbo aparentemente permtiria conversas com interlocutores a pouco mais de três quilômetros de distância. Fascinante como possa ser, o “El Silbo” eletrônico multiplicou em dezenas de vezes o melhor que a biologia pôde nos oferecer. Nenhum assobio humano deve chegar a 160 km de distância.

A parte rápida e curiosa do post acaba aqui… caso queira adentrar uma longa divagação sobre como isso se relaciona com o Apocalipse, continue lendo. Explico.

Continue lendo…

Como andar de bicicleta? Uma bicicleta com rodinhas… dentro da roda

ResearchBlogging.org

Algum dia a próxima geração poderá rir de nossas histórias de como aprendemos a andar de bicicleta, com rodinhas e arranhões. Este não é um informecial, ou mesmo um post pago, mas a Gyrowheel parece uma idéia simples e fabulosa.

Incorporando uma roda dentro de outra roda de bicicleta padrão aro 12, a roda interna gira movida por um motor e bateria – todos embutidos – e então… mágica, ou melhor, física! O conjunto passa a estabilizar a bicicleta, facilitando com que a criança aprenda a andar com duas rodas sem depender das rodinhas, dominando a bicicleta muito mais naturalmente até não precisar mais do auxílio tecnológico. Confira o vídeo acima para ver bicicletas andando sozinhas.

O que faz a Gyrowheel estabilizar a bicicleta, ou mesmo andar sozinha sem cair por um bom trajeto, é o efeito giroscópico, o mesmo que faz o pião manter-se estável mas… que não é a explicação para que andemos de bicicleta!

Ao contrário do que muitos materiais didáticos afirmam, o efeito giroscópico criado pelas rodas de uma bicicleta comum é quase desprezível e não explica a bicicleta. As rodas não são tão pesadas e bicicletas não andam tão rápido. Muitas demonstrações didáticas do efeito giroscópico utilizando rodas de bicicleta talvez contribuam para a noção, que no entanto já foi refutada com experimentos incluindo a idéia engenhosa do professor David Jones em 1970 (PDF) de incluir uma roda que gire em sentido contrário, anulando assim os efeitos giroscópicos… mas ainda permitindo que se ande de bicicleta!

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Na imagem acima, o doutor Hugh Hunt da Universidade de Cambridge anda em sua bicicleta equipada com o anulador de efeito giroscópico, conhecido também como “roda verde sem contato com o chão girando no sentido contrário”. Duas rodas girando em sentidos contrários anulam o efeito giroscópico uma da outra. E mesmo sem ele, não há nenhuma diferença notável em conduzir a bicicleta.

A primeira parte do segredo para não cairmos está na verdade em outro fenômeno comumente mal interpretado, a força centrífuga. Quando você sente que vai cair para a esquerda, você gira o guidão para o mesmo lado, começando assim a fazer uma curva para esquerda. Assim, aproveita instintivamente sua velocidade, seu momento, para jogá-lo pela força centrífuga na direção contrária. É assim que, girando o guidão para onde está caindo, evita cair! Puristas físicos, por favor, perdoem os erros conceituais nesta explicação (e os corrijam nos comentários!).

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Há muito mais efeitos em ação no simples fato de andar de bicicleta, e fiquei surpreso com a quantidade, certa polêmica e como estudos importantes da dinâmica de bicicletas sejam tão novos quanto “A Estabilidade de Bicicletas” (PDF), de Lowell e McKell, publicado em 1982, onde modelam matematicamente os experimentos de Jones, mostrando como o efeito centrífugo descrito acima é utilizado em nossas bicicletas graças ao “caster”, o ângulo entre o eixo do guidão e o ponto de contato da roda dianteira com o chão.

Seus modelos da estabilidade indicam que esta é de fato a segunda, e principal parte do segredo para andar de bicicletas. Já se perguntou por que o garfo dianteiro das bicicletas é inclinado para frente? É o ângulo de caster, que faz justamente com que a roda vire na direção em que a bicicleta está caindo, garantindo que o “efeito centrífugo” funcione mesmo sem um condutor! Nunca imaginei que aquele ângulo pudesse ser o principal fator para a estabilidade de uma bike, permitindo que andemos mesmo “sem as mãos”.

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Aliás, sem um condutor, sozinha, a bicicleta também consegue andar um tanto. Como? Ela se torna muito mais leve, com um centro de gravidade muito mais baixo, e isso faz com que efeitos giroscópicos se tornem relevantes, somando-se também ao caster. Efeitos giroscópicos também podem ser relevantes em outras situações, principalmente em motocicletas a maiores velocidades, e se a esta altura você já está confuso com todos os efeitos em ação, leve para a casa a idéia de que o efeito giroscópico não é o que nos permite andar sobre duas rodas, e sim a foça centrífuga que aproveitamos mexendo no guidão enquanto andamos, e não se aborreça muito com o resto da complicação. Rigorosamente, ainda não há um entendimento científico pleno e consensual sobre como andamos de bicicleta!

É notável que em pouco mais de um século tenhamos refinado na prática, antes de compreendê-la na teoria, esta pequena grande maravilha tecnológica a ponto de que em sua simplicidade, a bicicleta esconda uma série de efeitos e fenômenos dinâmicos e complexos… que mesmo uma criança pode controlar intuitivamente!

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Assim, ao ensinar seus filhos a andar de bicicleta, não confie no efeito giroscópico: para que ele fosse significante você provavelmente teria que empurrar a bicicleta a dezenas de km/h. Deixe que ela aprenda intuitivamente, sentindo a tendência natural da bicicleta a virar o guidão no sentido da queda, para que a força centrífuga deixe tudo nos eixos novamente.

Ou confie no efeito giroscópico em uma bugiganga de certa tecnologia, que é a Gyrowheel. E não, você não ouviu o barulho de moedas caindo por aqui porque como repito este não é um post pago, só calhou de ser um texto inesperadamente longo a partir de uma quinquilharia curiosa relacionada com a inesperada complexidade física de andar de bicicleta. Foi uma surpresa para mim ao menos. Há uma lista completa de referências sobre a dinâmica de bicicletas aqui.

O efeito giroscópico é fascinante em si mesmo, tão fascinante que já chegou a ser confundido, e mesmo promovido, como anti-gravidade! Mas esta já é outra história. [via Neatorama, HypeScience, imagem final sxc.hu]

Referências

  • Jones, D. (2006). From the Archives: The Stability of the Bicycle Physics Today, 59 (9) DOI: 10.1063/1.2364246
  • Lowell, J. (1982). The stability of bicycles American Journal of Physics, 50 (12) DOI: 10.1119/1.12893

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