Evitando virar almoço 13 – Diluição da predação e confusão

Nesse último ardil das presas para evitar virarem comida vamos falar do efeito do grupo na evitação da predação. Para muitas espécies, viver em grupo é uma forma de reduzir a chance de ser comido (assim como para outras, viver em grupo é uma forma de aumentar a chance de comer).

Sozinho você é sempre o alvo. Fonte: wikipedia.org

Pelo simples fato de estar em grupo a chance de ser comido diminui por pura probabilística. Sozinho, a chance de um filhote de pinguim ser o alvo de uma skua é de 100%. Num grupo de cinco a chance cai para 20%, ou 1/5.

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Além disso, grupos podem trabalhar em conjunto de maneira coordenada para confundir o predador. Esse comportamento gera algumas das imagens mais belas da natureza, incluindo o balé de cardumes de anchovas ou bandos de estorninhos.

Evitando virar almoço 12 – Intimidação e retaliação

As presas nem sempre deixam barato. Ao se sentirem ameaçadas elas podem exibir um corpo maior do que o predador imaginava, por exemplo. É o que o baiacu faz inflando o estômago. Outra opção é mostrar logo suas armas. Tesourinhas perturbadas erguem suas forfículas, búfalos apontam os cornos, o besouro bombardeiro dispara um jato de duas substâncias químicas que reagem quase em ebulição.

A reação exotérmica de duas substâncias nesse besouro desencoraja qualquer predador. Fonte: discoverymag.com

Mas nada como a união para fazer a força. Por isso, algumas espécies se mobilizam para intimidar o predador. Em vez de fugir em disparada e deixar uma vítima mais indefesa para trás, o grupo para e encara o predador até que ele desista. A princípio não parece a coisa mais inteligente a fazer, mas dá resultado ou a seleção natural já teria extirpado essa mobilização do repertório comportamental dos animais.

Bando de aves mobilizado para atacar uma águia predadora. Fonte: thewildbeat.com.

Por que existem tantas espécies de animais?

Pelo segundo ano o Programa de Pós-graduação de Biologia Animal da UNESP de São José de Rio Preto oferece seu curso de inverno para estudantes de nível médio. O tema desse ano foi a inspiradora pergunta mencionada no título desse post (que obviamente não respondemos completamente, mas que suscitou discussões ótimas sobre evolução, taxonomia, ecologia, biogeografia, comportamento, sistemática, anatomia comparada e histologia). Abaixo algumas fotos do curso, conforme prometi aos meninos que participaram.

Visita ao laboratório de sistemática de Vespas

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Exercício prático do cálculo de diversidade

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Relacionando forma da cabeça e função alimentar de morcegos

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Adoro essa expressão de surpresa com as novidades que o mundo natural traz

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Palestra no Zoológico sobre comportamento reprodutivo e o papel dos zoológicos

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Evitando virar almoço 11 – Tanatose e falsos ferimentos

Para evitar virar comida de um predador vale tudo. Até se fingir de morto! É comum que predadores sejam exigentes a ponto de só comer carne recém-abatida, então se passar por morto e em decomposição pode afastar um predador. Essa é a tanatose, que deriva do deus grego da morte, Tanatos. Gambás e pererecas frequentemente fazem isso, mas assista ao vídeo abaixo para ver a tanatose em plena ação.

Outra opção e surpreender seu predador. Parecer ferido vai atrair ainda mais o predador. Mas sentindo que a caçada será fácil, afinal a presa está ferida, ele pode se desarmar e ser surpreendido. Algumas aves fingem uma asa quebrada e quando o predador se aproxima alçam voo saudáveis, tenho a impressão de que até riem do trouxa.

Ave finge ter uma asa quebrada para enganar predador. Fonte: pbase.com

Evitando virar almoço 10 – ocelos e cabeças falsas

Como vimos semana passada, predadores que atacam a cauda de um animal acabam comendo só a cauda. Um ataque mais eficiente em geral é direto na cabeça. Por isso muitos animais usam manchas parecidas com olhos ou estruturas que se pareçam com suas cabeças na outra ponta do corpo. Assim, se um predador atacar o lado errado, fica mais fácil fugir ou pelo menos sobreviver ao ataque.

Uma mancha imita outro olho na cauda. Na pressa isso pode enganar um predador. Fonte: wikipedia.org

Muitos peixes ciclídios têm ocelos que podem enganar os predadores. Lembre-se que numa foto assim estática é fácil ver qual o olho certo, mas num riacho turvo, sombreado de mata ciliar, cheio de galhos e plantas e com o peixe em movimento a coisa complica. A borboleta abaixo também é um bom exemplo de cabeça falsa.

Até antenas falsas existem nessa borboleta para enganar a posição da cabeça. Fonte: flickr.com

Evitando virar almoço 9 – autotomia

Se o ataque é inevitável, talvez valha a pena deixar o predador se deliciando apenas com um pedacinho seu enquanto o que realmente importa escapa. Mas o que é que realmente importa? O que realmente importa em termos evolutivos, meu caro, são seus testículos. E o que então pode ser dado ao predador? A maioria dos animais dá o rabo.

Lagartixa com cauda em regeneração. Essa foi por pouco. Fonte: wikipedia.org

Quero dizer, a autotomia caudal é muito comum em lagartixas, salamandras e até em ratos. Na maioria dos casos essa cauda se regenera. Pepinos do mar fazem autotomia da cloaca e parte do intestino. Alguns artrópodes das pernas. Mesmo perdendo uma parte do corpo, as presas sobrevivem e podem se reproduzir, o que justifica o comportamento.

Evitando virar almoço 8 – Mimetismo batesiano

Lembra que na semana passada falamos que vários animais venenosos têm a mesma coloração para passar a mesma mensagem? Chamamos essa mensagem de uma sinalização honesta (é verdade, os animais são venenosos), e esse padrão de mimetismo mülleriano. No entanto, existem casos em que presas perfeitamente comestíveis e saborosas enganam seus predadores se fazendo passar por venenosas. Essa é uma sinalização desonesta e chamamos esse padrão de mimetismo batesiano.

Parece, mas não é. Uma sinalização desonesta. Fonte: Katatrepsis.com

Parece, mas não é. Uma sinalização desonesta.
Fonte: Katatrepsis.com

Nesse caso, animais palatáveis imitam os padrões de cor de animais venenosos. É o caso das falsas corais, por exemplo. É também o caso dessa mosca (direita), que imita com perfeição essa vespa do lado esquerdo. Perceba que, para a mentira continuar colando, alguém precisa confirmar a história de que aquela cor significa perigo. Ou seja, é preciso haver mais modelos (corais verdadeiras e vespas) do que mímicos (corais falsas e moscas).

Evitando virar almoço 7 – Coloração de advertência

Até agora falamos de formas da presa não ser visível, mas alguns animais estão longe disso. Muitas vezes isso tem a ver com a seleção sexual (pense num tiê-sangue), mas algumas vezes essas cores berrantes, aposemáticas é o termo técnico, são um aviso de que predar aquele animal não seja uma boa ideia.

Aposematismo: preto, amarelo e vermelho significam ‘pare’. fonte: utah.edu

Esse é o caso da coral verdadeira, de alguns maribondos (sempre parece que falta um M nessa palavra) e sapos veneno de flecha. Repare em como o vermelho o amarelo e o preto são comuns nesses animais. Isso acabou se tornando meio que um padrão na natureza. Assim os predadores aprendem (formam uma imagem mental como no caso da semana passada) que aquelas cores devem ser evitadas. É o que os especialistas chamam de mimetismo mülleriano. Semana que vem falaremos mais sobre mimetismos.

Evitando virar almoço 6 – Polimorfismo

O polimorfismo para mim é um dos modos mais espertos de evitar ser comido. Você é um predador no supermercado, está caçando seu biscoito preferido e nada de encontrá-lo. Cansado, pergunta a um funcionário do mercado se acabou o produto naquela semana. Ele responde que não e em 3 segundos te aponta o biscoito num ponto da prateleira que você tinha olhado dez vezes. O mesmo biscoito, mas o pacote está completamente diferente. Outra cor. E no rótulo diz: “Agora em nova embalagem!” Por que você não encontrava o biscoito?

Ser diferente é normal, e vantajoso. Fonte: sciencedaily.com

Predadores formam na cabeça uma imagem daquilo que estão procurando, como você fez com seu biscoito. Mesmo que ele passe os olhos por uma presa, se ela não se encaixar no padrão que ele está procurando, é como se o cérebro não registrasse. Se o seu biscoito não quisesse ser comido ele poderia vir cada hora numa embalagem. Você não conseguiria formar uma imagem de busca mental e demoraria para encontra-lo. É isso que acontece com os animais polimórficos, eles têm cores diferentes de outros da sua mesma espécie.

Evitando virar almoço 5 – Mascaramento

Um modo interessante de evitar ser comido é não parecer com comida. Por exemplo, muitas aves comem freneticamente lagartas, mas quem é que comeria um cocô de passarinho? Eureca!

Tem gente que faz de tudo para não aparecer. Fonte: Folhinha

Por acaso algumas lagartas nasceram com uma leve semelhança com uma titica, e graças a essa leve semelhança, essas lagartas tiveram uma leve vantagem sobre suas parentes. Dê tempo o suficiente a essa fórmula e você terá uma lagarta idêntica a titica de passarinho, como a dessa foto. Isso certamente suscitaria toda uma série de piadas de mau gosto sobre o bebê se parecer mais com o pai ou com a mãe na maternidade das lagartas, mas o importante é a proteção que confere.