Pensamento de segunda zoological series

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Bicho bizarro: Cavalo marinho


Uma jóia da evolução, esta espécie é muito comum no litoral brasileiro
Foto de Ary Amarante

Nessa semana do dia dos pais o bicho bizarro é uma homenagem ao meu. O cavalo marinho é um dos pais mais cuidadosos do mundo animal, ele desenvolve uma bolsa incubadora que recobre o seu abdômen e a abertura genital. No momento do acasalamento a fêmea introduz seus gametas na bolsa do macho, que os fecundará e guardará até o momento da eclosão, dessa forma, é o macho do cavalo marinho quem engravida. A anatomia do cavalo marinho é tão modificada que ele nem parece mais um peixe, sua boca se alonga permitindo alimentar-se de pequenos itens na coluna d’água ou em frestar nos recifes, suas nadadeiras peitorais encolhem e a dorsal ganha a função de fazê-lo nadar. Os cavalos marinhos têm a cauda prênsil como a de um macaco prego, eles a usam para se agarrar em objetos submersos. Os cavalos marinhos vêm sendo ameaçados tanto pelo comércio ilegal como peixes ornamentais quanto mortos como souvenires, a devastação de manguezais e recifes também os tem prejudicado. No Brasil o grupo de pesquisa da Prof. Ierecê Rosa (UFPB), na Paraíba, tem gerado dados importantes para a conservação dos nossos cavalos-marinhos.

ARKive video - Pygmy seahorse camouflaged against coral
Mestres do disfarce, cavalos marinhos se camuflam muito bem no ambiente.

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Fabrício Barreto Teresa- O futuro do doutorado


Fabrício, nosso personagem de hoje, em ação
Foto de Daniel De Granville | Photo in Natura

Fabrício Barreto Teresa é biólogo, mestre em biologia animal e atualmente encontra-se na fase final do curso de doutorado em biologia animal na UNESP de São José do Rio Preto, SP. Suas pesquisas são financiadas pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP e envolvem aspectos ecológicos e comportamentais de organismos aquáticos em ambientes de água doce, em especial os peixes, focando mais especificamente na investigação dos fatores ambientais responsáveis pela organização das comunidades.

 

1) O que levou você a procurar a carreira científica? Como isto resultou no ingresso num programa de doutorado?

 O desejo pela carreira científica surgiu durante o curso de graduação em Biologia na UNESP. Meu interesse pelo ensino foi despertado com a prática, proferindo seminários, participando de projetos de extensão e também nos livros de Rubem Alves e a paixão pela pesquisa científica foi acentuada a partir dos estágios e iniciação científica. A partir dessas convicções busquei me qualificar, traçando um caminho em direção à carreira científica junto à Universidade. O ingresso no mestrado e, posteriormente no doutorado foram os caminhos naturais tendo em mente esses objetivos.

 

2) Quais os seus planos para sua carreira depois da titulação? Até o momento essa expectativa tem se cumprido?

Espero ingressar em uma Universidade Pública por meio de concurso para poder fazer o que mais gosto que é lecionar e desenvolver pesquisas. A oferta de vagas nas Universidades não tem acompanhado a demanda, por isso os concursos têm sido bem concorridos. Sou otimista e espero terminar o doutorado competitivo para pleitear uma vaga em curto prazo. Se isso não for possível, existem diversas oportunidades de pós-doutorado que são opções para recém-doutores desempregados manterem-se produtivos academicamente enquanto não são absorvidos pelas Universidades.

 

3)      Em linhas gerais, como é sua rotina de trabalho no doutorado?

O desenvolvimento da tese é a principal atividade. Acabei de terminar a coleta dos dados. Durante esse período fazia viagens ao campo para coletar peixes alternando com atividades no laboratório (identificação e pesagem dos peixes, análise do que comeram por meio da inspeção do conteúdo estomacal, etc). Agora estou na fase de análise dos dados e redação da tese buscando perceber padrões dentro do conjunto de dados que acumulei, uma etapa que exige muito tempo, reflexão e leitura. Paralelamente ao desenvolvimento da tese envolvo-me em atividades da Pós-Graduação tais como disciplinas, além de participar de outros projetos paralelos, palestras e eventos científicos.

 

4)      Quais os problemas que a pós-graduação no Brasil tem encarado?

Um dos problemas que destaco na Pós-Graduação é a sua concentração regional. Muitas regiões do Brasil não oferecem cursos de mestrado e/ou doutorado. Uma das causas é a falta de condições (recursos humanos e estruturais) para criação de cursos em muitas regiões. Por isso, o fortalecimento das instituições de ensino e pesquisa de nível superior por meio da contratação de profissionais qualificados e o
investimento na consolidação das Universidades são imprescindíveis. Outro aspecto relevante diz respeito à qualidade dos doutores que estão sendo formados. Por exemplo, a supervalorização da produção quantitativa de artigos científicos na Pós-Graduação tem resultado em um menor investimento no desenvolvimento de outras habilidades importantes para um doutor, tais como conhecimento filosófico e bases teóricas de ciência. O título de doutor tem sido banalizado e não é mais sinônimo de excelência.

 

5)      Que conselhos você daria a alguém considerando agora ingressar na carreira acadêmica?</p>

Sugiro inicialmente investir um bom tempo pensando sobre o assunto. Não é uma decisão banal, o tempo investido para se tornar competitivo nesse mercado de trabalho é muito longo. Quando você se torna apto a entrar em uma Universidade como docente/pesquisador já poderia ter uma carreira consolidada em outras áreas. Por isso, sugiro que se pense onde se quer estar daqui uns 10-15 anos. Se a carreira acadêmica estiver envolvida nessa projeção então siga em frente. Nesse caso, procure locais de bom nível para sua formação e durante a formação inicial (graduação) envolva-se ativamente com o máximo de atividades que a Universidade possa oferecer em diferentes áreas do conhecimento. Isso possibilitará identificar vocações e facilitará a escolha de uma área compatível com o seu perfil para investir na Pós-Graduação.

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Pensamento de segunda zoological series

Essa semana o pensamento de segunda inaugura uma nova série com ditados zoológicos em honra à minha participação no top blogs Brasil na categoria “Bichos e Animais”. Agradeço as sugestões do leitor Marão que originaram os ditados para essa série.

O Futuro do doutorado

O que vem pela frente?

Fonte: www.nature.com

A revista Nature publicou recentemente um encarte especial sobre o futuro do PhD, um dos itens que integrou este material foi um conjunto de sete entrevistas com doutorandos de diversas áreas sobre sua visão do papel de um doutor ou pós-doutor e o que cada um espera do futuro. As entrevistas são muito interessantes, mas elas, assim como boa parte da discussão levantada pela Nature, fogem da realidade brasileira devido às especificidades de nosso país, nosso histórico científico e as políticas públicas voltadas ao ensino superior. Assim, seguindo a sugestão do Felipe, um leitor do meu Blog, decidi replicar o experimento aqui no Brasil.

Elegi via currículo Lattes, meus contatos, google e sites institucionais pesquisadores em diversas áreas científicas e de diversas regiões do Brasil para responder cinco perguntas sobre o futuro do doutorado. Nos próximos meses vocês poderão acompanhar pelo Ciência à Bessa as respostas desses cientistas. A primeira postagem sairá semana que vem com o Fabrício Barreto Teresa, doutorando em Biologia Animal na UNESP de São José do Rio Preto.

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Bicho Bizarro: Lhama


Essa lã me produziu um casaco bem legal e quentinho
Fonte: http://www.bio.davidson.edu

Imagine um camelo que, além da escassez de água, seja adaptado ao frio. Você deveria estar imaginando uma lhama. Este mamífero aparentado dos camelos e das girafas vive no alto da cordilheira dos Andes alimentando-se de gramíneas e suportando o frio rascante e a falta de oxigênio. Lhamas são peculiares por serem facilmente criadas por humanos, aprenderem truques como um cão aprende, são até usadas para cuidar de rebanhos de carneiros, são excelentes animais de carga (levando até 30% de seu peso, ou seja, 40 kg de carga) e ainda podem ser criadas para produção de lã ou carne. A Lhama pode passar dias sem beber água, resiste bem ao frio graças a sua lã e a um mecanismo de aquecimento do ar inalado que existe em seu nariz, seu sangue possui mais hemoglobina, com maior afinidade pelo oxigênio e capaz de capturar oxigênio a baixas pressões atmosféricas. Como o camelo, a lhama tem o péssimo hábito de cuspir como sinal de superioridade. Diferente destes, sua gordura corporal não está concentrada em corcovas, ajudando a mantê-la aquecida, o que o camelo certamente não quer.

ARKive video - Guanaco herd feeding, juveniles play-fight; guanaco grazes and shelters during a snowstorm
Guanacos, parentes próximos das lhamas.

E não deixem de votar no Ciência à Bessa
Melhor blog sobre o tema “Bichos e Animais”

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Sorteio: um tipo para Homo sapiens


O que a Scarlett Johansson tem a ver com a taxonomia zoológica?
Fonte: www.sjohansson.org

Centenas de espécies novas de animais são descobertas todos os anos. Tratam-se de seres desconhecidos pelos cientistas que nem mesmo receberam um nome científico que os identifique. O processo de descrição de uma espécie nova é trabalhoso e num país megadiverso como o Brasil a carência de cientistas voltados para esta área da zoologia, o taxonomista, é imensa.

Ao coletar um animal diferente de todos os outros daquele grupo o pesquisador primeiramente precisará certificar-se de que é uma espécie nova. Para isso ele precisará compará-lo com as demais espécies conhecidas. Sendo confirmada a novidade da espécie inicia-se o processo de descrição.
Será necessário esmiuçar profundamente as características físicas da espécie nova, enfatizando-se em que ela difere das outras. Descrições de diferenças comportamentais ou genéticas também têm sido comuns. Adiciona-se ainda a área de ocorrência, em alguns casos suas relações de parentesco, seu habitat e a explicação da escolha do nome científico (etimologia). Para tudo isso utiliza-se um exemplar dentre aqueles coletados da espécie nova. Esse exemplar receberá a designação de tipo.
Certamente deriva da filosofia platônica que antagoniza o mundo ideal e o real. Em taxonomia toda espécie deve ter seu exemplar tipo, ou o holótipo, aquele que definirá os padrões do que há de mais puro e perfeito naquela espécie, o parâmetro que guiará outros cientistas. Ao lado do verdadeiro holótipo os outros integrantes daquela espécie não passam de meros parátipos ou lectótipos. O holótipo é protegido nos museus a sete chaves, curadores os tratam com mais zelo do que uma filha virgem ou uma ferrari 0 km. A única espécie no mundo que não possui um holótipo é Homo sapiens.

Assim sendo, está lançada a pergunta:
QUEM DEVE SER O ESPÉCIME TIPO DE Homo sapiens?

Respondam nos comentários até o dia 19 de agosto, quando sortearei o ganhador que receberá em casa um exemplar do livro “O Museu” de Veronique Roy. Para isso não esqueça de deixar junto ao comentário o seu e-mail.

Fonte: www.livrariacultura.com.br

Minha resposta, é claro, está no início desse post.

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O dourado esquizofrênico

ResearchBlogging.org
Naquela manhã, no consultório psicanalítico…
-Doutora, está aqui alguém para vê-la, mas não é o cliente da vez. – Anunciou a secretária novata. A última havia pedido demissão quando descobriru que não havia um adicional por insalubridade mental.
-É ele mesmo, pode pedir que entre.
-Mas este aqui diz ser uma piraputanga. Na agenda consta que o próximo cliente é um dourado. – Protestou.
-Ele é um dourado, apenas não sabe disso. – Cochichou a doutora. – Vamos entrando, dona piraputanga! – Convidou a analista em voz alta.
O peixe esticado sobre o divã, àquela hora tão próxima do meio-dia, fez a doutora imaginá-lo sobre uma tábua de cortar, cercado de cebolas fatiadas, tomates, pimenta e coentro à espera da grelha. A doutora tentou afastar aquele pensamento da cabeça, agora o cliente a olhava com um sorriso ameaçador de um pré-opérculo ao outro. Não era ainda um dourado adulto, mas suas escamas já apresentavam um leve reflexo dourado, no mais tinha a cor das nadadeiras e manchas no corpo que realmente lembravam uma piraputanga. Somente aquele sorriso ameaçador entregava sua natureza predatória que nada remetia às dóceis piraputangas de hábitos vegetarianos.


O dourado e seu sorriso de dentes cônicos, típicos de um piscívoro
Fonte: wdicas.com

-E então, dona pêra, como vai a vida no rio?
-Tudo muito bem, as águas continuam límpidas e frescas. A comida é abundante…
-Hmm, deve ser mesmo muito bom viver nos riachos, ser um piraputanga. – Instigou a doutora ao dourado à sua frente.
-É sim, não trocaria minha vida por nada no mundo. Como sou inofensiva, todos desfrutam minha companhia agradável.
-É mesmo? Mas deve haver desvantagens também, não?
-Que nada, doutora. Sou bem vindo aonde vou, querido por todos.
-Tem comido muitos frutinhos caídos das matas ciliares? – Ao escutar a pergunta o peixe se revirou de leve no divã como se a reacomodação física fosse aliviar o desconforto mental da pergunta.
-Ah… é… quer dizer, até tenho.
-Você não gosta muito de comer frutos, não é mesmo?
-Ah, isso é tão horrível! É como confessar um crime. Doutora, não conte a ninguém, por favor! Mas gosto mesmo é de comer peixinhos menores que eu. – Confessou o dourado.
-É um costume um tanto diferente para uma piraputanga, não acha? Talvez ser outros peixes como um dourado ou uma traíra também tenha lá suas vantagens. – Xeque!
O cliente fez uma careta de peixe morto, mas nada disse.
-Sabe, adimiro muito os dourados. Sua força, sua agilidade. São peixes muito bonitos. Impõem respeito nos rios que vivem. Não são como as traíras que vivem se escondendo em locas, vivendo no obscurantismo, e precisam emboscar suas presas de surpresa ou morrem de fome. Os dourados são veloses, subjugam suas presas numa disputa justa, vencendo-as pelo cansaço. – Jogou a isca a psicóloga.
-E as piranhas, umas covardes, só mesmo em cardume conseguem intimidar suas presas. Os dourados não, são caçadores solitários! – Mordeu o cliente.
-Pois é, só tem um peixe que eu adimiro mais do que vocês piraputangas. São os nobres dourados.
-Doutora, preciso lhe contar um segredo. Não sou uma piraputanga, sou um dourado. – Xeque mate!


Dourados (acima) mimetizam piraputangas (abaixo) para se alimentarem
foto de José Sabino

-Puxa vida, não me diga! – Fingiu-se de surpresa a psicanalista. – Mas e essas nadadeiras avermelhadas? E essa mancha na cauda?
-São um disfarce apenas. Assim me infiltro entre as piraputangas e consigo chegar mais perto das minhas presas sem ser percebido. Fica bem mais fácil me alimentar.
-Uau, que esperto você! Deve se orgulhar de ser um dourado tão astuto, não? Nosso tempo se esgotou, mas por que não volta semana que vem?
O dourado foi até o balcão onde estava a secretária e pediu para agendar uma sessão dali a uma semana. Quando a secretária lhe perguntou em nome de quem marcava a consulta ele respondeu sem vacilar: “Sr. Dourado”.

Bessa, E., Carvalho, L., Sabino, J., & Tomazzelli, P. (2011). Juveniles of the piscivorous dourado Salminus brasiliensis mimic the piraputanga Brycon hilarii as an alternative predation tactic Neotropical Ichthyology, 9 (2), 351-354 DOI: 10.1590/S1679-62252011005000016

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Pensamento de Segunda

Ao meu colega Diogo

Há três tipos de mentiras: Mentiras, mentiras cabeludas e estatísticas.

Mark Twain