Património Cultural


Um exemplo de uma campanha para preservar o que de melhor tem um país – sejam fósseis seja o que for.
Na Argentina.
E em Portugal?


Para quando a legislação específica do Património Paleontológico?

Bioformas

Nanoplâncton

Nanosfera

“Braarudosphaera bigelowii pentalitos (pentágonos perfeitos), formados a partir de cristais de forma trapezoidal de lados desiguais.”
Cocosfera



Imagens – Mário Cachão; Jeremy Young


Baleias com patas, a Origem das Espécies e aves fósseis

Charles Darwin - Evolution(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 24/11/2005)

Hoje comemoram-se 146 anos de existência de um livro que teve fortes repercussões pelas suas propostas de Evolução pelo mecanismo de Selecção Natural. A 24 de Novembro de 1859, Charles Darwin publicou “A Origem das Espécies” com uma primeira edição de 1250 exemplares que esgotou no seu dia de lançamento.
Darwin defendia que o meio ambiente e as relações entre os próprios seres vivos exercem uma selecção que favorece os mais aptos enquanto os menos dotados são eliminados, transmitindo-se à geração seguinte as diferenças que facilitam aquela sobrevivência. Ao longo das gerações, essas características acentuam-se e geram uma nova espécie.
Darwin foi convidado em 1831 a participar numa volta ao mundo no navio Beagle promovida pela marinha inglesa. A expedição – que durou cinco anos – tinha o objectivo de melhorar e completar dados cartográficos. Esta viagem foi decisiva para fundamentar as suas teorias evolutivas.
América do Sul, Austrália e Nova Zelândia foram alguns dos locais em que Beagle efectuou paragens. Surpreendeu-se com o grande número de espécies de plantas e de animais que, até então, eram desconhecidos. O que lhe chamou mais atenção foram a enorme diversidade de tentilhões, que só conheceu no arquipélago das Galápagos.
Early_birds_dinosaursO registo fóssil

Quando Darwin propôs que a Evolução se dava pela Selecção Natural, o registo fóssil oferecia ainda poucas evidências que apoiassem as suas ideias.
Actualmente os paleontólogos contam com mais informação fossilífera do que aquela que dispunha Darwin. Este dedicou dois capítulos da sua “Origem das Espécies” à imperfeição do registo fóssil, provavelmente porque constatava que estaria aí um dos pontos mais fracos da sua argumentação. Dois anos depois da publicação do seu livro, o primeiro exemplar de Archaeopteryx foi descoberto na Baviera, constituindo um dos “elos perdidos” entre as aves e os répteis.
O registo fóssil está longe de ser perfeito – faltam assim muitos elementos de transição na história evolutiva dos seres vivos. Este é um dos argumentos com que os Criacionistas (opositores à Teoria da Evolução, populares sobretudo nos EUA) se valem no seu ataque a Darwin.

As últimas estimativas apontam para que apenas 1% de todas as espécies animais e vegetais que habitaram o nosso planeta ficaram preservadas como fósseis. Razões para esta escassez de informação fóssil são várias, mas podemos apontar que as condições físicas necessárias à preservação de um ser vivo sob a forma de fóssil são muito raras. Grande parte dos seres vivos é constituída por partes moles; este facto contribui igualmente para que o registo fóssil seja desprovido da maioria dos “actores” da vida sobre a Terra.
Mas existem numerosos exemplos que reflectem as etapas de transição entre diversos grupos de organismos, corroborando Darwin.
Para além do já referido Archaeopteryx (descoberto em sedimentos da Baviera com 150 milhões de anos) foi descoberta nos últimos 20 anos toda uma panóplia de formas de transição entre os dinossáurios carnívoros (semelhantes ao Velociraptor) e as actuais aves: Confuciusornis (China, primeira evidência de um bico sem dentes); Iberomesornis (Espanha, apresentava uma estrutura óssea semelhante às aves actuais que permitia inserir a musculatura específica para o voo), entre inúmeros outros exemplos.
Whales evolutionAs patas das Baleias

Outro dos exemplos que se podem apresentar para ilustrar as transições evolutivas sofridas pelos organismos é a evolução das baleias.
A maioria das pessoas tem, pelo menos a noção, de que a vida terrestre surgiu a partir de vertebrados que deixaram o ambiente aquático. Todas as formas de animais que ocuparam e ocupam um ambiente terrestre, descendem desses primeiros colonizadores. O que a maioria das pessoas não sabe é que o grupo de animais a que pertencem as actuais baleias descendem de um grupo que “decidiu” voltar a ambientes aquáticos, donde tinham saído há mais 250 milhões de anos.
Em 1983 foram descobertos no Paquistão fósseis de um animal que tinha vivido há cerca de 52 milhões de anos. Este animal, Pakicetus, apresentava ainda corpo com forma para a vida terrestre (membros com capacidade de locomoção em terra) mas tinha um crâneo e dentes com características típicas dos ancestrais dos actuais baleias. Onze anos mais tarde e igualmente no Paquistão foi descoberto o Ambulocetus natans (literalmente baleia caminhante que nada). O Ambulocetus tinha o tamanho de um leão-marinho e apresentava as patas (sim esta baleia ancestral tinha patas!) com capacidades para deslocação em ambiente terrestre. Igualmente exibia os seus pés e mãos com capacidade natatória – ou seja este animal possuía capacidades para se deslocar em ambiente terrestre e aquático.
Aparentemente o Ambulocetus nadava como uma lontra, com movimentos para cima e para baixo (dados da morfologia da sua coluna vertebral atestam-no).
Em 1995 um terceiro elemento de transição foi descoberto – o Dalanistes. Apresentava os membros mais curtos que Ambulocetus, cauda e crâneo mais alongados ou seja mais semelhantes às actuais baleias.
Actualmente mais de uma dúzia de fósseis ilustrativos das transições evolutivas dos cetáceos (grupo a que pertencem as baleias) já foram descobertos.
Complementarmente análises de ADN mitocondrial aos actuais representantes dos cetáceos permitem apontar que estes pertencem ao grupo dos artiodáctilos, mais concretamente são parentes próximos dos hipopótamos.
No dia de aniversário da A Origem das Espécies, que fez com que o Homem descesse de mais um dos seus inúmeros pedestais, podemos afirmar que o registo fóssil é mais um dos motivos de orgulho para Darwin.
Ao contrário do que receava, o trabalho de investigação paleontológico nos últimos 100 anos, permitiu que o registo fóssil seja mais uma prova de que Darwin não estava e não está errado.

Imagem – Werner Horvath: “Charles Robert Darwin – Evolution”. Oil on canvas

A Evolução escondida nos Cartoons

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 10/11/2005)
A História da vida animal está cheia de alterações na forma dos seus corpos. A análise da forma (análise morfológica) é um das ferramentas no estudo da história evolutiva dos seres vivos.
Um dos essenciais evolucionistas do nosso século – Stephen Jay Gould da Universidade de Harvard – utilizou o melhor da dedução científica para analisar um dos ícones da Disney.

Gould recolheu uma sequência cronológica de Ratos Mickey, desde os anos 20 até à actualidade, analisando alguns traços morfológicos desta figura da banda-desenhada – altura e tamanho geral do crâneo, bem como o tamanho dos olhos. Constatou que ao logo das mais de cinco décadas da história do pequeno ratinho, os parâmetros analisados tinham aumentado. Por outras palavras, Mickey tinha-se transformado: de uma figura de crâneo pequeno e alongado e de olhos pequenos num ratinho de crâneo arredondado e alto com olhos proporcionalmente grandes. Se olharmos para a figura qual dos dois extremos “evolutivos” de Mickey nos parece mais atractivo?
A maioria das pessoas referirá que o da direita (olhos maiores, crâneo mais arredondado)Estas características morfológicas podem ser reconhecidas, na grande maioria dos casos, como sendo características de crias de mamíferos. Todos nós facilmente identificamos que os bebés apresentam um crâneo e olhos proporcionalmente maiores do que os adultos. Estas particularidades têm um efeito sobre os membros de uma determinada espécie e igualmente nos humanos. Características morfológicas de juvenis parecem desencadear reacções de protecção e carinho – um crâneo grande e arredondado, olhos enormes, mandíbula pequena, etc.

Estes são alguns dos traços morfológicos apelativos nos mamíferos. Desta maneira Gould constatou que os desenhadores da Disney alteraram a fisionomia de Mickey atribuindo-lhe características morfológicas juvenis com o objectivo o tornarem emocionalmente mais apelativo.

Pelo contrário, podem ser encontradas algumas morfologias opostas em alguns dos vilões da Disney. Estes apresentam características anatómicas geradoras de desconfiança – crâneo afilado, olhos pequenos, mandíbula proeminente. Enquadram-se neste grupo a Rainha da Branca de Neve, a bruxa da Bela Adormecida e o feiticeiro Jafar em Aladino.

Mas o que tem isto a ver com a evolução?
Gould não perdeu o seu tempo com esta actividade aparentemente estéril. Pretendia ilustrar, com exemplos facilmente reconhecíveis, alguns conceitos da morfologia evolutiva. Uma das noções subjacentes ao estudo dos Mickeys é o da Pedomorfose – aquisição no adulto de um grupo descendente de características morfológicas juvenis do grupo antepassado.
Existem alguns exemplos muito evidentes de Pedomorfose – a salamandra mexicana Ambystoma mexicanum exibe quando adulta guelras, prova morfológica juvenil dos seus ancestrais.
Este conceito está englobado num conjunto maior que é a Heterocronia – em sentido geral, a variação no tempo de aparecimento de uma característica morfológica de um grupo descendente comparativamente ao aparecimento dessa característica no grupo antepassado.
De uma maneira mais simples: podemos ver a “quantidade de transformação” que um indivíduo sofre ao longo do seu desenvolvimento é a mesma, maior ou menor do que do seu antepassado (aqui em sentido de evolutivo e não de progenitor).

O estudo da Heterocronia tem chamado a atenção nos últimos anos dos investigadores da Evolução. É um campo complexo mas muito apelativo e em que têm sido feitas inúmeras descobertas no estudo da morfologia de seres vivos actuais ou dos seus antepassados fósseis.

Outro dos exemplos de Pedomorfose no mundo não-natural é a evolução do símbolo da Shell. O seu logotipo é o bivalve Pecten tendo este “evoluído” desde o início do século por redução do número de “linhas” na concha, aparecendo assim menos complexo e mais juvenil.
Mas existem muito exemplos que podem ilustrar os conceitos evolutivos já referidos: é fazer uma busca na Internet pela “evolução” do Snoopy…


Criacionismo e Educação


A ler esta moção do Conselho da Europa sobre os perigos do Criacionismo na Educação.


“Draft Resolution” (perdoem-me a ignorância de terminologia legal…) 11297, que apresenta um texto substancialmente maior e mais abrangente sobre o Criacionismo
Fonte

Uma das melhores 24 horas de dinos…*


Ontem isto e isto.
Hoje isto – um saurópode juvenil.
Mas estão “loucos”?
Detalhes em breve…

* – título inspirado num mail de Mike Taylor
Imagem – adaptada do artigo Schwarz, Daniela, Takehito Ikejiri, Brent H. Breithaupt,
P. Martin Sander and Nicole Klein. 2007. A nearly complete
skeleton of an early juvenile diplodocid (Dinosauria:
Sauropoda) from the Lower Morrison Formation (Late Jurassic)
of north central Wyoming and its implications for early
ontogeny and pneumaticity in sauropods. Historical Biology 19
(3): 225-253.

“Passarão”

Uma nova espécie, na ligação evolutiva entre dinossáurios e aves, foi descoberta na China (Mongólia interior) – o Gigantoraptor erlianensis, em rochas com 85 milhões de anos (Cretácico superior).

O importante da descoberta reside no tamanho deste animal – cerca de 8 metros de comprimento e pesando 1.4 toneladas.
Este animal é evolutivamente surpreendente porque na linha evolutiva dos dinossáurios para as aves se pensava, e todas as formas encontradas até agora o comprovavam, que
existiria uma redução no tamanho entre os dinossáurios e as aves: o Gigantoraptor erlianensis é o exemplo contrário.

Filogeneticamente (ao nível do parentesco) o Gigantoraptor erlianensis é um dinossáurio que pertence grupo Oviraptorosauria – grupo de dinossáurios com penas que raramente ultrapassavam os 40 kg (“O Falso Culpado”). Existiria assim uma ainda maior diversidade morfológica do que até agora se pensava.

Só por si esta nova “aquisição” paleontológica seria motivo de notícia; mas as novidades não ficam por aqui.
Segundo os autores, que efectuaram análises aos tecidos ósseos preservados, este animal apresentava uma taxa de crescimento mais rápido do que os seus “primos” tiranossáurios norte-americanos – Albertosaurus e Gorgosaurus.

Mais uma das dezenas de boas-novas paleontológicas que chegaram da China nos últimos 20 anos.

Estou ansioso pela leitura detalhada do artigo e pelas novidades detalhadas!

P.S.: na segunda imagem a microestrutura óssea com linhas de crescimento anual.

Referência (apenas abstract consultado):
Xu, X., Tan, Q., Wang, J., Zhao, X., and Tan, L. 2007. A gigantic bird-like dinosaur from the Late Cretaceous of China. Nature 447:844-847. doi: 10.1038/nature05849.
Imagem: (Handout/Reuters)

Eles vêm aí…

Imagem: IVPP, Pequim, via AP

Paleontologia emocional


“…perfume que as senhoras de idade deixam nos elevadores, tão espesso que se pode cortar com uma faca e no qual se adivinham latas de biscoitos vazias, retratos de majores defuntos, colares de pérolas falsas, vestígios que, somados, e da mesma forma que a partir de um ossinho se consegue imaginar o esqueleto inteiro de um animal extinto, permitem reconstituir dinossauros de desilusão.”
António Lobo Antunes, “Terceiro Livro de Crónicas” (2006)

E eu que pensava que os artistas não percebiam a Paleontologia…

Descubra as diferenças

Ilustrações:
Konrad von Gesner in Historiae Animalium”
Albrecht Dürer “Rhinoceros”
P.S. – post “inspirado” no post de Palmira F. da Silva “Ciência e Arte II