BIOFORMAS – AVES E DERIVADOS

Nada como imagens da natureza celular, num concurso de imagens…, e de crânios de aves.

Efeitos de um dia de Verão…

Imagens:
Kymmy Lorrain, BrainCells Inc., USA

Bertelli, S.
& N. P. Giannini. 2005. A Phylogeny of extant penguins (Aves: Sphenisciformes) morphology and mitochondrial sequences. Cladistics 21: 209-239.

A 4 ASAS?

O documentário da PBS, canal público norte-americano (sim, ele existe), a ser exibido no próximo dia 26 de Fevereiro, vai abordar a questão de como voava o Microraptor.
Este animal, descoberto na China, apresentava cobertura de penas não só nos membros anteriores mas igualmente nos membros posteriores.
Este facto intriga os paleontólogos já que se pode especular se aqueles animais não teriam um voo a 4 asas.
A ver, com duas equipas de paleontólogos (ok, pode parecer um concurso televisivo…) a proporem hipóteses biomecânicas de voo para o Microraptor – túneis de vento, e tudo!

É sempre bom rever Xu Xing, com quem trabalhei no IVPP…

Trailer
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=dLniJ3HFr_U]

Aqui, uma actividade inter-activa em que se podem controlar alguns parâmetros biomecânicos de voo do Microraptor.
Imagens – PBS

Sem radar? Onychonycteris finneyi

Nancy Simmons, do American Museum of Natural History, e restante equipa que publicou a descoberta na revista Nature, avançam que a nova espécie de morcego- Onychonycteris finneyi – ainda não possuiria a capacidade de eco-localização, ou seja, o típico “radar” dos morcegos.

Esta conclusão provém da ausência, no Onychonycteris finneyi, de estruturas osteológicas (ósseas), no ouvido interno, necessárias à eco-localização. As proporções e anatomia dos membros anteriores permitem inferir uma capacidade de voo semelhante aos actuais morcegos.

Esta descoberta vem apoiar a hipótese que o voo em Chiroptera (a Ordem dos morcegos) é anterior ao desenvolvimento do “radar”. Esta hipótese já havia sido apontada anteriormente já que a combinação de capacidade de voo, capacidade respiratória para o voo e eco-localização deva ser uma novidade evolutiva e, consequentemente, mais recente que qualquer uma daquelas isoladamente.

Com a provecta idade de 52 milhões anos, foi descoberto em 2003 no estado do Wyoming.
Para além de permitir perceber melhor a evolução dos morcegos, representa também o seus mais antigo representante, originando ainda, pelas suas características morfológicas, uma nova Família e Género.

Referências
Simmons, N.B., K.L. Seymour, J. Habersetzer, and G.R. Gunnell. 2008 . Primitive Early Eocene bats from Wyoming and the evolution of flight and echolocation. Nature 451, 8 14 de Fevereiro.

Speakman, J.R. 2001. The evolution of flight and echolocation in bats: another leap in the dark. Mammal Rev. 2001, Volume 31, No. 2, 111–130.

Imagens
Simmons et al. 2008

AMNH photo (nota: foto da investigadora Nancy Simmons com um representante actual de Chiroptera)

De formiga a…framboesa

Não é nenhum milagre conhecido, muito menos o da multiplicação das framboesas.
Um parasita, pertencente ao Filo Nematoda, infecta a formiga Cephalotes atratus, do Panamá, e origina quer a alteração morfológica do abdómen (ver foto abaixo) quer a alteração comportamental.
Os adultos não são infectados directamente, sendo-o na fase larvar, comportando-se distintamente de uma formiga não infectada, elevando o ruborizado abdómen .
O nemátode origina, assim, não só uma alteração morfológica, mimetizando o abdómen fórmico numa estrutura semelhante a uma framboesa, mas igualmente uma alteração comportamental no seu hospedeiro.
Estas modificações têm como “objectivo” aumentar as probabilidades de as formigas serem capturadas por aves, e desta forma, perpetuar o ciclo de vida deste parasita, já que os dejectos das aves (restos de frutos e de insectos) irão ser fazer parte da dieta de outras formigas.
A taxa de infecção pelo nemátode numa colónia de C. atratus é de cerca de 5%.

A Cephalotes atratus já tinha sido alvo da atenção dos entomólogos dado apresentar a capacidade de planar entre diversos locais (ver vídeos).

Vídeos do voo planado da Cephalotes atratusaqui
Vídeo da infecção parasitária
aqui
Referências –
Dudley, R., G. Byrnes, S. P. Yanoviak, B. Borrell, R. Brown, and J. McGuire. 2007. Gliding and the functional origins of flight: biomechanical novelty or necessity? Annual Review of Ecology and Systematics 38: 179-201.
Yanoviak, S. P., M. Kaspari, R. Dudley, and G. Poinar, Jr. 2008. Parasite-induced fruit mimicry in a tropical canopy ant. The American Naturalist (in press)
Imagens K.T. Ryder Wilkie; Steve Yanoviak/University of Arkansas

Quanta vida por descobrir – Idioneurula donegani

Uma nova espécie de borboleta – Idioneurula donegani – descoberta nos Andes.

Já agora a exposição “Borboletas através do tempo” continua em exibição no MNHN.

Referência (PDF grátis):

Huertas, B. and J. J. Arias. 2007. A new butterfly species from the Colombian Andes and a review of the taxonomy of the genera Idioneurula Strand, 1932 and Tamania Pyrcz, 1995 (Lepidoptera: Nymphalidae: Satyrinae). Zootaxa 1652: 27-40.

Fusões

Quando a locomoção animal encontra o showbiz.
É o que dá misturar trabalho e prazer.

Imagem – montagem de Luís Azevedo Rodrigues a partir de “The Horse in Motion” (1878), Edward Muybridge e Hilary Swank (2005), Norman Jean Roy

Seca e venenosa

Comentário torpe da minha parte: se o artigo tivesse laivos de português de telemóvel, o nome da nova espécie seria mais que redundante: “Ei malta, ashei mais uma Naja!!”

Uma nova espécie de cobra-cuspideira (a maior) do Quénia, Naja ashei, foi apresentada ao mundo. Até há pouco tempo pensava-se que esta recém-baptizda constituiria apenas coloração diferente da Naja nigricollis mas análises do ADN mitocondrial revelaram ser este réptil uma nova espécie.
Seja bem vinda senhora Naja ashei!
Referência: Wüster, Wolfgang & Broadley, Donald G. (2007): Get an eyeful of this: a new species of giant spitting cobra from eastern and north-eastern Africa (Squamata: Serpentes: Elapidae: Naja). Zootaxa 1532: 51-68. (PDF grátis)

A REVISTA DO ANIMAL MODERNO

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 13/12/2007)
Devido a inúmeras manhãs passadas a folhear e fatigado pelas revistas de fim-de-semana dos jornais portugueses, ocorreu-me lançar o número 0 de uma publicação exclusivamente dedicada ao “Animal Moderno”.
Com secções similares a tantas outras revistas absolutamente para “encher-chouriços”, a “Revista do Animal Moderno” contará no seu número de estreia com os seguintes artigos:

EVASÕES
– Migrar – prós e contras das viagens – o outro lado de viajar em bando.
– Como evitar os engarrafamentos do Serengeti.

COMPORTAMENTO/VIDA AMOROSA
Albatroz – manter viva a chama ao fim de mais de 20 anos a amar o mesmo bico.
Ame o mesmo, viva mais tempo.
Na ordem Procellariiformes a que pertence o albatroz, foi identificada uma relação entre longevidade e fidelidade masculina.
Esta ordem de aves é a que apresenta maior longevidade. Em aves de grande longevidade, a fidelidade masculina aumenta com a idade provavelmente devido ao facto que a aparência se degrada com a idade sendo sendo, assim, mais difícil conseguir uma nova parceira.
Espécies de aves com baixas longevidades apresentam valores de fidelidade masculina mais baixas pois a percentagem de “viúvos” é alta. Esses indivíduos têm grandes possibilidades de voltar a acasalar.

Entrevista a António, Lobo Ibérico (Canis lupus signatus) – como não perder a posição Alfa de liderança na sua matilha.

TENDÊNCIAS DE MODA/VAIDADES
Pelagem para este Inverno – o branco fica sempre bem…
Mudas de pele em répteis – como e quando fazer
Entrevista ao pavão

DECORAÇÃO
Ideias para tocas esconsas ou como optimizar o espaço do seu covil diminuto.
Etapas na escolha do seu primeiro ninho.
Gangues de jovens machos – etapas até ter o seu primeiro harém. Um olhar sobre a difícil etapa da passagem à vida adulta.

SAÚDE
Regeneração de membros – maravilhas de anfíbios, esperança para mamíferos.

GADGETS
Ecolocalização, as últimas versões – testámos o morcego e o golfinho.

GOURMET/RECEITAS
Necrófagos – mais slow-food que isto é impossível.
Carnívoros – adicione vegetais às suas presas e obtenha uma vida mais saudável.

Imagens – links nas mesmas.

Rodar à Esquerda

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 29/11/2007)

pd3br1.2X copy“O actual governo “devia governar um bocadinho mais à esquerda”, afirmou Mário Soares. Respondeu Vitalino Canas: “O PS governa à esquerda e de acordo com as possibilidades que tem de governar à esquerda”.

Onde têm origem estas lateralidades? E porque se imiscuem conceitos políticos em histórias de evolução e biologia?
Comecemos pela primeira questão. A polaridade entre esquerda e direita surgiu no séc. XVIII durante a Revolução francesa. Esta demarcação despontou durante a fase da Monarquia Constitucional, quando os lugares da Assembleia Legislativa eram ocupados, à direita, pelos deputados da aristocracia, e à esquerda, o povo e a pequena e média burguesia.
Esta dualidade de atitudes e classes sociais, representada nessa câmara, impregnou para sempre a denominação política. Atitudes mais conservadoras e individualistas são designadas, genericamente, de direita. Posturas mais reformistas e de carácter socializante (por oposição a individualista) são consideradas de esquerda.

Mas onde entra então o tema natural da semana?

O grupo Pleuronectiformes, chamado peixes-achatados e com mais de 500 espécies, é geralmente conhecido pelos seus representantes linguado, solha e rodovalho, sofreu uma rotação do seu eixo de simetria.

Eixo de quê?
Pense, por exemplo, num ouriço-do-mar. Se o quiser dividir em duas partes iguais, pode escolher inúmeros planos de corte, desde que passem pelo centro do animal. Essa forma biológica tem simetria radial. Animais com simetria radial são essencialmente organismos que vivem fixos.
Imagine agora o leitor que é um assassino em série – imagine só!
Se nos quiser dividir em duas partes iguais só o poderá fazer de um único modo – olhos nos olhos, começa a dissecar da cabeça até à zona do “baixo-ventre”, como dizem os comentadores desportivos. Obteria, assim, duas partes iguais – pelo menos exteriormente… Animais com essa forma, e são-no a grande maioria, desde as baratas ao melhor escritor, têm simetria bilateral.

A história evolutiva dos peixes-achatados apresenta uma particularidade morfológica sui generis. Estes peixes adquiriram hábitos de caça a partir de fundos marinhos, especialmente arenosos, onde se escondem. É nesses substratos que se enterram, num comportamento de mimetismo e emboscada. Para minimizar a área exposta, deveriam colocar-se enterrados de lado, ficando, assim, só com um dos lados do animal à “coca”. Pouco prático. A selecção natural favoreceu a migração de um dos olhos para o outro lado, ou seja, o olho direito migrou para o lado esquerdo – embora existam casos em que a migração é inversa. Assim, os peixes-achatados, como a solha, já poderiam camuflar-se melhor nos fundos arenosos marinhos.

A migração do olho à esquerda conferiu a este grupo de peixes uma maior vantagem evolutiva, ante outros que tinham métodos de emboscada semelhantes. De simetria bilateral, a solha passou a simetria pseudo-bilateral. O crânio sofreu também rotação semelhante, tornando-se a solha um animal em que o lado esquerdo se tornou o “dorso” e o lado direito o “ventre”.
O curioso é que, durante a metamorfose larvar, esta apresenta uma forma simétrica, ou seja, com um olho de cada lado do corpo. Apenas durante o desenvolvimento posterior, entre o 10º e 28º dias, é que se dão as alterações que determinam a assimetria descrita – ver vídeo abaixo.

Para se adaptar a novas condições de vida, este grupo de peixes teve que “virar” à esquerda.
Terá o PSD, devido às políticas do PS, que sofrer o “Efeito Solha”, ou seja, rodar à esquerda?

REFERÊNCIAS
Schreiber, A. M. 2006. Asymmetric craniofacial remodeling and lateralized behavior in larval flatfish. The Journal of Experimental Biology. 209, 610-621.

Shankland, M., and Seaver, E.C. 2000.Evolution of the bilaterian body plan: what have we learned from annelids? Proc. Nat. Acad. Sci. USA. 97:4434-4437.

ALEX SCHREIBER LAB

IMAGENS
1 e 4 – Schreiber (2006)
2 – Ikumi Kayama
3 – Shankland & Seaver (2000)

Bioformas – Peek-A-Boo

De quem é este embrião, na fase “Peek-A-Boo“?

Curioso o nome dado – “The distal extremities of the forelimbs
overlap, obscuring the face completely and giving this stage its name.”
A recordação que tenho é adolescente e de outro “Peek-A-Boo”