PRENDA(S)

A (minha) primeira prenda de hoje…
🙂

P.S. – a bela Scarlett Johansson, num inesquecível karaoke no filme “Lost in Translation”.

Recycle Bin

Há dias assim…

Imagem – Luís Azevedo Rodrigues

SARTRICES 68

Sartre dizia “O Inferno são os outros”.
Não sei se antes ou depois do Maio de 68.
Pouco importa.
Disse-o, de certeza, antes destes rapazes.

“I’m tired of, everyone I know
Of everyone… I see… on the street and on TV, yeah

On the other side, on the other side
Nobody’s waiting for me on the other side

I hate them all, I hate them all
I hate myself for hating them
So drink some more, I’ll love them all
I’ll drink even more…
I’ll hate them even more than I did before

On the other side, on the other side
Nobody’s waiting for me on the other side

I remember when you came
You… taught me how to sing
Now… it’s seems so far away
You… taught me how to say

I’m tired of
Being so judgemental of everyone
I will not go to sleep
I will train my eyes to see
That my mind is as blind as a branch on a tree

On the other side, on the other side
I know what’s waiting for me on the other side
On the other side, on the other side
I know you’re waiting for me on the other side.”

The Strokes – “On the other side”, First Impressions of Earth, 2006
Imagem:
Luis Azevedo Rodrigues, 2002

CSI NO HOSPITAL

Antes era a investigação criminal que fazia uso das técnicas médicas através da Medicina Forense.

Agora parece que o crime entrou nos hospitais.

Pesquisadores do Hospital holandês de Daventer foram “requisitar” métodos da investigação criminal para avaliarem riscos de contaminação nos seus laboratórios.

O valioso auxílio vem de uma molécula quimiluminescente, o luminol . O luminol, derivado da anilina, tem sido largamente utilizado na investigação criminal pois é catalisado com o ferro existente na hemoglobina sanguínea. Posteriormente a substância resultante emite luz azul permitindo identifiar vestígios de sangue.

O referido hospital utilizou o luminol para identificar marcas de sangue na sua unidade de hemodiálise e assim diminuir focos de contaminação nessa unidade, como teclados de computador, telefones e (!!) canecas…

REFERêNCIAS – PWM Bergervoet, N van Riessen, FW Sebens and WC van der Zwet. Application of the forensic Luminol for blood and infection control. Journal of Hospital Infection, doi:10.1016/j.jhin.2008.01.026
e aqui, aqui e aqui

IMAGENS
daqui e daqui

ACORDO ORTOGRÁFICO?

O Google tem mistérios insondáveis.

Um destes dias “veio” ter ao Ciência Ao Natural um pesquisador que buscava informação sobre…astronaltas!
Antes ou depois do acordo ortográfico…?

CHERNES E ORNITORRINCOS

Em tempos de retomar textos antigos por falta de tempo, retomo um paradoxalmente actual.

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 18/10/2007)


“A prova de que Deus tem sentido de humor é o ornitorrinco”
, Woody Allen

A atribuição de características humanas a seres vivos ou a elementos naturais – antropomorfismo – é recorrente na literatura, pintura ou na linguagem do dia-a-dia. O inverso – zoomorfismo – que é designar ou conceder singularidades animais a pessoas ou instituições humanas, é frequente na vida política portuguesa. O mais recente caso compara a situação do maior partido da posição ao ornitorrinco – Ornithorhynchus anatinus.

Pacheco Pereira, no seu livro “O Paradoxo do Ornitorrinco – textos sobre o PSD” deve, e digo deve pois não li o livro, discorrer sobre o aparente caos em que o PSD parece estar mergulhado.

Mas quais os motivos pelos quais o ornitorrinco exerce um fascínio tão grande?

Apesar de mamífero, as fêmeas ornitorrinco colocam ovos sendo as crias posteriormente alimentadas com o leite materno. Este animal apresenta ainda a mandíbula semelhante a um bico de pato, morfologia ímpar entre os mamíferos, morfologia que está na justificação etimológica do seu nome científico Ornithorhynchus – focinho de ave.
É esta amálgama de particularidades reptilianas, avianas e mamiferóides que contribuem para que este monotrémato – grupo de mamíferos primitivos a que pertence o ornitorrinco – desempenhe um papel quase mitológico no imaginário colectivo.

Num dos capítulos de “A Feira dos Dinossáurios” do paleontólogo e historiador da Ciência Stephen Jay Gould, é feita a resenha histórica de como os naturalistas dos sécs. XVIII e XIX observavam o ornitorrinco. Primitivo, ineficiente e imperfeito foram alguns dos adjectivos utilizados então para descrever o mamífero australiano.
A Natureza, para aqueles cientistas, deveria apresentar divisões claras e inequívocas na sua diversidade de formas. Estas divisões seriam o resultado da sabedoria divina.
A miscelânea morfológica do ornitorrinco originava, assim, acesos debates não só biológicos mas também teológicos.

Os monotrématos (como o ornitorrinco) divergiram evolutivamente das linhagens de mamíferos marsupiais (como o canguru) e placentários (como o ser humano) há mais de 100 milhões de anos. Assim, sempre se pensou que estariam desprovidos da fase REM do sono (nos humanos a fase do sono em que se sonha) pois esta seria uma característica moderna. Um estudo de 1998 veio desmentir aquela suposição – o ornitorrinco apresenta sono REM. A quem interessar…

O aparente paradoxo, seja político, morfológico ou outro, materializado na forma do ornitorrinco, assenta na errada premissa evolutiva de que os organismos não devem apresentar fusão de características – um animal não deveria colocar ovos e alimentar as suas crias com leite produzido por glândulas mamárias, entre outras.
Gould contrapõe que é precisamente essa amálgama de especificidades que teriam concedido ao ornitorrinco vantagens evolutivas.
Um outro caso de zoomorfismo político envolveu, no passado recente, um conhecido político português e o poema de Alexandre O’Neill:

Sigamos o cherne, minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…

Adivinhem quem é…

Imagens (fontes) – links nas imagens

Dodós modernos?

Num momento de intenso debate sobre o futuro de uma área importante da cidade de Lisboa, da qual fazem parte os Museus da Politécnica – Museu de História Natural e Museu da Ciência – bem como o Jardim Botânico, retomo um artigo que publiquei em Outubro de 2006.

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 12/10/2006)

O drama biológico do Dodó é sobejamente conhecido – ave originária das ilhas Maurícias e parente dos actuais pombos, não voava e não tinha qualquer receio da espécie humana.
Estes dois factos terão estado na origem da sua extinção no séc. XVII.

O Dodó extinguiu-se porque não foi capaz de se adaptar às alterações introduzidas no seu habitat pela pressão de um factor externo – a actividade humana.
Não tenho a certeza da validade da metáfora do Dodó para os Museus de História Natural mas, tal como o primeiro, estes últimos encontram-se, a nível mundial, a atravessar um momento de forte pressão “ambiental”.

Durante a minha escola primária tive duas ou três visitas ao Museu Zoológico da Universidade de Coimbra. Foram momentos de pura felicidade em que nos deslumbrámos com numerosas espécies empalhadas, só o esqueleto ou conservadas dentro de frascos.
Foi o meu primeiro contacto com parte daquilo que se entende por um Museu de História Natural (MHN).
Este conceito emanou do de Gabinete de Curiosidades (séc. XVI) em que os profissionais das ciências biológicas acumulavam exemplares biológicos (esqueletos, conchas, peles, flores, etc.) de “fora” com o objectivo não só de os preservarem mas igualmente de os utilizarem como materiais de estudo para os seus alunos. Isto ocorreu numa época em que os cientistas naturais começavam verdadeiramente a construir o seu campo de investigação.
Posteriormente e com o apogeu dos Exploradores Naturalistas no século XIX – exemplo paradigmático é o de Darwin – as colecções dos MHN são ampliadas com espólio proveniente de diversas partes do mundo, “servindo” não só a ciência como igualmente a curiosidade do habitantes das metrópoles relativamente a tudo aquilo que vinha das colónias.

FUNÇÕES DE UM MHN

INVESTIGAÇÃO/COLECÇÕES

É fundamental que qualquer MHN tenha uma política de estudo das suas colecções bem como profissionais especializados (biólogos, paleontólogos, antropólogos) nos seus quadros capazes da organização, catalogação, inventariação e estudo do espólio natural.
O estudo das colecções por parte de investigadores deve ser uma das principais linhas de orientação de qualquer MHN.
Prova desta importância é o Programa Synthesys, suportado pela União Europeia e que possibilita a mobilidade de investigadores de diversas áreas (genética, zoologia, paleontologia, antropologia, etc.) a diversos MHN europeus. Desta forma se pode estudar o Património Natural europeu, permitindo o conhecimento cada vez mais amplo da História Natural.

Segundo Keith S. Thomson, director do Museu Universitário de Oxford, as colecções de um MHN devem ter três objectivos principais:
Informação – as colecções devem constituir uma enorme biblioteca dos seres vivos que já habitaram e habitam o nosso planeta. Por exemplo um investigador em farmacologia deve poder localizar os “parentes” de determinada planta que tenha um efeito medicinal; um biólogo molecular poderá encontrar o ADN de uma espécie extinta e compreender melhor a evolução do património genético desse ser vivo; um agrónomo poderá estudar determinado insecto ou planta resistente a uma doença para uma possível cura;
Desta forma o Património Natural, passado e presente, que são as colecções de um MHN constitui a base da investigação em áreas científicas fundamentais tais como: evolução, ecologia, alterações climáticas, biogeografia, etologia e, se incluirmos as ciências humanas, aspectos culturais humanos.
Identificação – todo o objecto de uma colecção de um MHN deve estar correctamente identificado e catalogado e, consequentemente, enquadrado quer temporal quer espacialmente – onde, como, quando e por quem foi colhido, são informações absolutamente fundamentais. Sem estas informações bem como a posterior descrição e enquadramento taxonómico, o exemplar fica desenquadrado e praticamente sem valor científico embora possa ser utilizado para fins de divulgação/exibição. Para além do referido é necessário a actualização do enquadramento da classificação.
Comparação – para além de todos os exemplares, alguns colectados há mais de 200 anos, actualmente também se “arquivam” amostras de ADN e tecidos biológicos. Por intermédio do estudo comparativo, os investigadores analisam exemplares de diversos pontos geográficos e de várias idades, não só em busca de padrões de fenómenos naturais como também identificar as suas causas e prever o seu curso futuro.

No meu caso pessoal, permite-me estudar e digitalizar os restos fossilizados dos dinossáurios saurópodes, sejam espécies sul-americanas, asiáticas ou africanas, com vista à compreensão da evolução daquele grupo de animais extintos.
Como se pode compreender os MHN têm um papel fundamental não só na protecção da Biodiversidade como da sua compreensão, quer a passada quer a presente, com vista a um melhor futuro ambiental.

DIVULGAÇÃO/EDUCAÇÃO

Para além das funções de investigação e preservação do Património Natural, um MHN deve constituir um espaço acessível de educação científica em diversos campos e a diversos níveis. Protecção do Património Natural, Educação Ambiental e Educação para a Cidadania são áreas em a intervenção destes espaços museológicos deve ocorrer.
Apesar de todo o potencial atractivo de que gozam e sempre gozaram os MHN, também enfrentam hoje em dia uma série de desafios que passam pelos “inimigos” de muitas áreas: a Televisão, a Internet, entre outros.

Hoje em dia podemos observar quase tudo e de uma variedade enorme de maneiras. Os MHN
têm assim que ter a capacidade de reagir às exigências dos novos públicos, cada vez mais informados e exigentes. Estes públicos procuram saber mais do que o nome e a proveniência quando visitam uma exposição de história natural – procuram saber qual o papel daquele actor natural no seu ambiente natural; qual o papel que essa entidade natural tem ou teve na vida actual do visitante. Este conjunto de informações deve também procurar evitar um dos perigos comuns – o do espírito parque temático como a Disneylândia.
Cada vez mais na base na base de uma exposição de história natural devem estar ideias e temas actuais, mais do que as colecções.
Estas devem servir antes para contar uma história do que serem elas próprias a história.

Os MHN têm, assim, que se adaptar a novas realidades para que não sejam eles próprios novos Dodós.
Tenho trabalhado e feito investigação em diversos Museus de História Natural mundiais – de Nova Iorque a Marraquexe, de Berlim a Trelew na profunda Patagónia, passando por Londres e Pequim.
Encontrei condições de trabalho muito diferentes; profissionais melhor preparados que outros; espaços físicos maiores ou mais pequenos; de estilo clássico ou do mais puro vanguardismo arquitectónico.

Mas em todos eles se procura preservar, compreender e divulgar o Património Natural nas suas diversas vertentes para que um dia saibamos não só o que foi um Dodó mas também porque não podemos observar um hoje em dia.

Imagens daqui e Luís Azevedo Rodrigues

Referências
Keith S. Thomson. Natural History Museum Collections in the 21st Century. – daqui

Corrigimos o avô

O meu amigo Hugo Gante chamou-me a atenção para uma incorrecção no post “Avô salva neto”.
Diz respeito à relação filogenética entre os actuais elefantes e o mamute (Mammuthus primigenius) que eu deixo implícita no título.

O Hugo tem razão quando diz que elefantes e mamutes “serão 2 linhagens evolutivas distintas.”

É verdade.

Análises filogenéticas ao nível mitocondrial (1, 2) estabelecem um relação de parentesco mais próxima do mamute com o elefante asiático (Elephas maximus) do que daquele com o elefante africano (Loxodonta africana). A família Elephantidae terá tido origem em África há cerca de 6 milhões de anos sendo constituída por três linhagens distintas – os actuais elefantes africano e asiático e o mamute. As três espécies iniciaram a sua divergência pela separação do elefante africano sendo seguida, 440 mil anos depois (2), pela separação dos outros dois membros da sub-família Elephantinae.

Ao analisarmos o cladograma gerado a partir de (1), podemos constatar que o elefante asiático e o mamute são mais próximos entre si do que com o elefante africano.

Do que acabei de dizer não posso deixar de concordar com o Hugo Gante e me penitenciar pela metáfora familiar que utilizei não ter sido a mais correcta.

Usei-a no sentido temporal, ou seja, tentei dar a ideia de que um parente próximo, mas extinto, dos actuais elefantes os estava a salvar. Quando utilizei o vocábulo “avô” foi nesse sentido, temporal, mas obviamente pode deixar a ideia incorrecta de que Mammuthus primigenius é o antepassado directo dos actuais elefantes.

É apenas uma linhagem irmã, e como vimos, mais próxima dos asiáticos do que dos africano.

Obrigado Hugo, por me chamares a atenção para as metáforas e a sua correcta utilização em divulgação científica!

REFERÊNCIAS

(1) Rogaev EI, Moliaka YK, Malyarchuk BA, Kondrashov FA, Derenko MV, et al. 2006. Complete Mitochondrial Genome and Phylogeny of Pleistocene Mammoth Mammuthus primigenius. PLoS Biology Vol. 4, No. 3, e73 doi:10.1371/journal.pbio.0040073

(2) Johannes Krause, Paul H. Dear, Joshua L. Pollack, Montgomery Slatkin, Helen Spriggs, Ian Barnes, Adrian M. Lister, Ingo Ebersberger, Svante Pääbo and Michael Hofreiter .2006. Multiplex amplification of the mammoth mitochondrial genome and the evolution of Elephantidae. Nature 439, 724 – 727.

IMAGENS

Cladograma de (1);
Loxodonta africana juvenil – foto de Luís Azevedo Rodrigues, Universidade de Viena, 2006

ESCALAS

Por vezes é necessário um terceiro elemento para dar escala aos restantes…

Imagem – Luís Azevedo Rodrigues

Peso dos Geólogos

Tem o mesmo peso a voz dos geólogos em Portugal?

P.S. – O AVE é o o comboio de alta-velocidade espanhol.
Imagem – La Vanguardia (diário catalão) – 3 de Abril de 2008