Dinossauros no Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho

Não tenho tido muito tempo para escrever mas ainda arranjei algum para ir ao Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho.

É na próxima 4ª feira dia 4 de abril em Coimbra.

Apareçam que eu prometo contar mais uma história paleontológica por cada golo que o Benfica marcar…

Dinossauros: Novas Técnicas, Velhos Mitos“, com o Paleontólogo Luís Azevedo Rodrigues.

RESUMO
A primeira parte desta palestra abordará sobretudo questões científicas da Paleobiologia de Dinossauros, com particular atenção às técnicas mais recentes de investigação nesta área do conhecimento.
A segunda parte lidará com o papel dos dinossauros na Cultura Pop, em campos tão distintos como o cinema, a música ou a mitologia.

Entrada Livre
Público-Alvo: Todos os interessados na matéria”

Do Museu ao Convento – passeio comentado

«Do Museu ao Convento» | Passeio comentado

Venha fazer uma visita ao Património Histórico de Tavira, (re)visto pelos olhos de uma Historiadora de Arte e de um Paleontólogo |  21 de Janeiro, 15h

Cartaz do passeio comentado "Do Museu Ao Convento" uma parceria entre o Centro Ciência Viva de Tavira e o Museu Municipal de Tavira.

Natal Geotérmico

O bafo era quente.
Mal fora, já que provinha de um mamífero. Ao lado outro, mamífero e bafo, completava o bestial serviço. O felizardo com o ar tépido pêlos não tinha, apenas um têxtil mal engendrado lhe cobria a pele nua. Não fora o mistral dos animais, a cria não aqueceria.
Burro e vaca estavam ao serviço do filhote, mantendo-lhe caldo o corpo. Quais alergias, qual quê, o que importava era o calor para que a cria sobrevivesse.
Bafejado pela sorte sê-lo-ia, pelo menos até aos 33, mas agora era-o pelo calor.
Calor de um corpo alheio.

ResearchBlogging.orgEste mísero intróito natalício, para além dos motivos sazonais óbvios, serve de introdução a breve descrição de uma descoberta científica.
Nas vastidões argentinas a presença de vários ninhos de dinossauros saurópodes já era conhecida. Paleontólogos argentinos apontam agora para que a fonte de calor necessária à incubação dos ovos daqueles animais tenha sido…a Terra.
Os investigadores apresentaram um conjunto de provas de que alguns dinossauros teriam utilizado a energia geotérmica como incubadora dos seus ovos.
A jazida de Sanagasta ofereceu vários ovos fossilizados de dinossauro, mais de 1000, com uma idade aproximada entre os 134 e os 117 milhões de anos. Para além desta actividade biológica passada, foi possível também identificar actividade hidrotermal da mesma época. As estruturas geológicas identificadas mostraram que naquela zona e na mesma altura teria existido actividade geotérmica.
Mas foram apenas estas informações que permitiram afirmar que um grupo de dinossauros utilizou o calor da Terra para incubar os seus ovos?
Não.

Análises geoquímicas revelaram também a influência de calor externo nos sedimentos onde foram encontrados os ovos fossilizados. Complementarmente, já se conheciam na Coreia do Sul ovos morfologicamente idênticos aos agora encontrados na Argentina. Os ovos coreanos procediam também de jazidas que geologicamente apresentavam a mesma influência hidrotermal. As coincidências reduzem-se…
Parece assim que a natalidade dos dinossauros saurópodes, mais concretamente dos Neosauropoda, está associada às condições ambientais, mais concretamente condições hidrotermais.

O Menino foi bafejado pelos mamíferos, já o sabíamos.
O que o passado do planeta nos revela agora é que os bebés dinossauros precisavam (também) do bafo da Terra para nela poderem caminhar.

P.S. Santo Natal, para todas as espécies!

(texto publicado também no jornal Sul Informação)

Referência:
Fiorelli, L., Grellet-Tinner, G., Alasino, P., & Argañaraz, E. (2011). The geology and palaeoecology of the newly discovered Cretaceous neosauropod hydrothermal nesting site in Sanagasta (Los Llanos Formation), La Rioja, northwest Argentina Cretaceous Research DOI: 10.1016/j.cretres.2011.12.002

Imagens:

1 – Aspecto da jazida de Sanagasta – do artigo referido.
2 – A-C Esquema do arranjo espacial dos ovos encontrados; D-F – imagens dos ovos fossilizados encontrados. Imagem do artigo referido.

Coscuvilhar Histórias Com Milhões de Anos – NEI2011 CCV de Lagos

Coscuvilhar Histórias Com Milhões de Anos – NEI2011 CCV de Lagos

O registo vídeo da conversa que tive no passado dia 23 de Setembro, durante a Noite Europeia dos Cientistas 2011, no Centro Ciência Viva de Lagos.

Dinossauros: Velhos Mitos (2)

Gertie, the dinosaur

(texto publicado no jornal Diário de Coimbra, 20 de Setembro de 2011, integrado no projecto “Ciência na Imprensa regional – Ciência Viva”)

A primeira vez que um dinossauro fez a sua estreia no mundo do cinema ocorreu muito antes de Spielberg ter estreado Parque Jurássico, em 1993. Um dos primeiros filmes de animação tinha como principal intérprete um dinossauro, de cauda e pescoço compridos, que se chamava Gertie. Esta dinossauro saurópode desfilou nos ecrãs a preto-e-branco pela mão de Winsor McCay, em 1914, sendo esta a estreia dos dinossauros no mundo do cinema [1].

“The Valley of Gwangi” (1969) ou “When Dinosaurs Ruled the Earth” (1970), são dois exemplos em que se pode verificar tanto a sincronia existencial de homens e dinossauros, como, sobretudo, a ruptura da estabilidade social que o dinossauro vem trazer.

When DInosaurs Ruled the Earth (1970)

Se na cinematografia ocidental o dinossauro é representado de forma fiel, a cultura cinematográfica oriental, nomeadamente a japonesa, altera a anatomia do dinossauro, transformando-o numa entidade diferente. Um monstro pós-nuclear é criado e vem destruir cidades e culturas. Vários autores apontam que o monstro, Godzilla, não é mais do que um fenómeno catártico colectivo da sociedade japonesa às explosões de Hiroshima e Nagasaki. A morfologia do dinossauro é alterada, quase como um efeito de mutação de origem nuclear.

O dinossauro desempenha assim, pelo menos no ocidente, um papel que era tradicionalmente representado pelo dragão, monstro que encarnava todo o tipo de mal nas culturas judaico-cristãs. A actualização iconográfica, com a substituição do dragão pelo dinossauro, não é consensual para a maioria dos investigadores, embora seja sem dúvida apelativa, encontrando-se facilmente inúmeros exemplos deste fenómeno.

Gojira (1954)

A influência dos dinossauros na literatura surgiu pela mão de Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes. A descoberta de uma pegada de Iguanodon fossilizada, em 1909, impressionou de tal forma Conan Doyle que o inspirou na criação de um mundo fantástico, cheio de criaturas extintas e gigantescas, na América do Sul, no seu livro de 1912  “O Mundo Perdido” [2].

“O político X é um dinossauro”, já todos lemos por mais do que uma vez. Este baptismo pejorativo, na maioria dos casos, pretende sublinhar o carácter ultrapassado e decadente do nomeado. Há, assim, a associação do termo dinossauro a todo o tipo de pessoas e realidades que há muito deveriam estar reformadas ou apenas desaparecidas. Incorpora-se a realidade da extinção biológica na dimensão humana, conotando-se o dinossauro com o arcaico e ultrapassado humano. Os dinossauros diversificaram-se e sobreviveram durante quase 200 milhões de anos, mas a sobranceria de um grupo de mamíferos que escreve há poucos milhares de anos, para além de biologicamente embaraçosa, é injusta.

O ser humano apenas caminha sobre a Terra há uma pequena fracção do tempo em que os dinossauros percorreram todos os ambientes terrestres.

Referências:

[1] Sanz, J.L. 2002. Starring T. Rex – Dinosaur Mythology and Popular Culture. 153pp. Indiana University Press.

[2] Lockley, M. 1991. Tracking Dinosaurs: A New Look at an Ancient World. 238pp. Cambridge Univ. Press, Cambridge.

Imagens:

a) Cartaz do filme de animação “Gertie, the Dinosaur” (1914), de Winsor McCay. Fonte: http://bit.ly/7ZusdN; b) Cartaz do filme “When Dinosaurs Ruled the Earth” (1970), de Val Guest. Fonte: http://bit.ly/g2785g; c) Cartaz do filme “Gojira” (1954), de Ishirō Honda. Fonte: http://bit.ly/2DjRBX

Este texto é a continuação de “Dinossauros: Velhos Mitos (1)”

Versão Impressa do texto – download do PDF aqui:

Dinossauros: Velhos Mitos (I)

Depois do período de férias, alguns percalços e mudanças a nível profissional (que a seu tempo revelarei), retomo o Ciência Ao Natural com o texto que publiquei ontem no Diário de Coimbra.

Este texto surge como resultado do projecto de António Piedade “Divulgação de Ciência na Imprensa Regional”. A ele e ao Diário de Coimbra o meu obrigado.

Dinossauros e as Aves

ResearchBlogging.orgContinuação de Dinossauros: Novas Técnicas, Velhos Mitos (2)
Desde a descoberta, em 1861, do Archaeopteryx lithographica, animal que apresentava características comuns às aves e aos répteis, os paleontólogos percorreram uma verdadeira cruzada científica para provar que as aves descendiam dos dinossauros. O Archaeopteryx apresentava verdadeiras asas e penas, o que o classificava como ave, mas, simultaneamente, podia-se observar que as suas asas apresentavam garras e o seu bico tinha uma série de dentes.
A partir de meados da década de 80 do século passado, várias descobertas têm completado o traArchaeopteryx (Large).jpgjecto de parentesco entre aves e dinossauros. A maioria dessas descobertas foi feita em jazidas chinesas, mas não só. Contudo, antes de apresentar estas novas “contratações” é importante referir que tanto o Archaeopteryx, como a maioria dos exemplares chineses, procedem de um tipo especial de jazida designada, a partir do alemão, de Konservat-Lagerstatten.
Estas jazidas, pelas suas características geológicas, apresentam a propriedade de preservar em detalhe estruturas frágeis como, por exemplo, asas de insecto, pêlos de mamíferos e, importante para se perceber a evolução das aves, também as penas e os seus ossos frágeis. Se o Archaeopteryx procedia de um Konservat-Lagerstatten da Baviera alemã, a maioria das preciosidades paleontológicas que foram descobertas apenas a partir de 1984, são oriundas das jazidas de Liaoning, no nordeste da China [8].
500px-Archiesizeall1.svg.pngOs paleontólogos de vertebrados costumam afirmar, em jeito de brincadeira, que podemos esperar quase tudo de Liaoning. A inveja salutar subjacente a este comentário não minimiza, contudo, a realidade científica excepcional que os achados de Liaoning representam, tendo estes servido para comprovar quase todas as etapas evolutivas dos dinossauros para as aves, numa realidade científica sem precedentes.

Confuciusornis
, Changchengornis, Eoconfuciusornis ou Sinornis são algumas das espécies de aves primitivas que foram descobertas nas jazidas chinesas, podendo as morfologias corporais das aves actuais ser observadas nestes exemplares fósseis.
Para além das penas, outras características anatómicas, como um bico córneo, banal nas aves da actualidade, pode ser observada pela primeira vez no grupo de aves primitivas a que pertencem Confuciusornis ou Eoconfuciusornis, espécies que viveram num intervalo temporal que se estendeu entre os 120 e os 131 milhões de anos.
A presença de penas assimétricas, características de um voo activo, já pode ser observada nalgumas aves primitivas de Liaoning.
Confuciusornis sanctus and Eoconfuciusornis (Large).jpg
Apesar da enorme diversidade de aves primitivas provenientes da China, outros países têm contribuído para esta saga de conhecimento da transição evolutiva dinossauros-aves. Na jazida de Las Hoyas, em Cuenca, Espanha, foram descobertos os vestígios que permitiram classificar outra ave primitiva – Iberomesornis romerali [9].
Esta espécie contribuiu para a compreensão dos mecanismos de voo das primeiras aves, já que é uma ave que apresenta o que se designa por fúrcula, estrutura óssea que permite que os membros anteriores das aves executem os movimentos de voo semelhantes aos das aves modernas. Iberomesornis apresentava também as vértebras caudais distais fundidas, tal como as aves modernas.
Mas outros exemplares de aves primitivas foram descobertos e descritos pela equipa de paleontólogos da Universidad Autónoma de Madrid, como Concornis lacustris e Eoalulavis hoyasi.
Recentemente, Las Hoyas revelou outra das etapas evolutivas, desta vez não das aves, mas ainda dos dinossauros não-avianos, com a apresentação de Concavenator corcovatus, o mais antigo dinossauro com evidências de penas na sua anatomia [10].
Se os exemplos de aves primitivas apresentados e respectiva sequência de características anatómicas próximas às modernas atestam parte do percurso evolutivo destes animais, também é possível verificar nos dinossauros ditos não-avianos algumas particularidades anatómicas comuns à linhagem aviana, das quais saliento a presença de penas em várias espécies de dinossauros.
A maioria dos não-especialistas apontaria a presença de penas como condição suficiente para a classificação de um animal como ave, já que esta estrutura não é encontrada actualmente em mais nenhum grupo zoológico. Contudo, o registo fóssil de penas em grupos de dinossauros não-avianos tem vindo a crescer, quer na quantidade de dinossauros descritos, quer na sua antiguidade.
Dinossauros como Sinosauropteryx, Shuvuuia, Beipiaosaurus, Caudipteryx, Sinornithosaurus ou Microraptor apresentavam penas, de diversos tipos e em zonas corporais distintas.
Microraptor, dinossauro datado de há 128 milhões de anos, revelava penas não só nos membros anteriores, mas também nos membros posteriores, avançando alguns paleontólogos que este dinossauro poderia ter apresentado um padrão de voo planado semelhante ao observado em alguns mamíferos planadores actuais.
No próximo post abordarei o aparecimento do voo e das penas.
Para já um vídeo sobre o Archaeopteryx que apesar de algumas pequenas imprecisões serve para introduzir este importante exemplar da história evolutiva das Aves aos mais novos

Referências:
[8] Hou, L. & Liu, Z. 1984. A new fossil bird from Lower Cretaceous of Gansu and early evolution of birds. Scientific Sinica (Series B) 27(12): 1296-1302.
[9] Sanz, J., Bonapartet, J., & Lacasa, A. (1988). Unusual Early Cretaceous birds from Spain Nature, 331 (6155), 433-435 DOI: 10.1038/331433a0
[10] Ortega F, Escaso F, & Sanz JL (2010). A bizarre, humped Carcharodontosauria (Theropoda) from the lower cretaceous of Spain. Nature, 467 (7312), 203-6 PMID: 20829793
Imagens:
1Archaeopteryx lithographica a) vista lateral do esqueleto; b, c) crâneo em vista lateral; d) mandíbula inferior direita com dentes; e) penas.
Imagem compósita adaptada de figura 9.2. de Benton, M. J. (2004) Vertebrate Palaeontology, 3rd Edition ISBN: 978-0-632-05637-8 e de figura 10.5 de Fastovsky, D. E. and Weishampel, D. B. (2009) Dinosaurs: A Concise Natural History. Cambridge University Press ISBN 978-0-521-71902-5.
2– os vários exemplares de Archaeopteryx comparados com o ser humano. Daqui.
3– a) Esqueleto de Confuciusornis sanctus, reconstituição (canto inferior esquerdo) e detalhe de pena caudal (canto superior direito). Imagem compósita adaptada de Chiappe et al. 1999. b) Crâneo e mandíbula de Eoconfuciusornis zhengi. Imagem de Zhang et al. 2008.

Miss Evolução

A pergunta colocada às candidatas a Miss América 2011 era:
“Deve a Evolução ser ensinada nas escolas?”
O resultado está abaixo e intitulei-o Miss Evolução.
Ou como compilar, apesar de as respostas serem pouco diversificadas, alguns chorrilhos sobre Evolução, Ciência e Religião.
Acrescento, e pergunto, quais seriam as opiniões se a pergunta fosse:
“Acha que a Gravidade deveria ser ensinada nas Escolas”?
Aceitam-se sugestões de outras perguntas/respostas…

P.S. – a única resposta minimamente não ofensiva, ainda que pouco argumentativa, veio curiosamente da única católica assumida…

Entre os 36 e os 38ºC…

ResearchBlogging.org…era a temperatura corporal dos dinossauros, pelo menos de alguns.
Estes dados foram obtidos através de termometria isotópica, onde se analisa a composição química dos dentes e daí inferindo estes parâmetros fisiológicos.
Demais informação apenas quando tiver acesso ao artigo…
“Abstract
The nature of the physiology and thermal regulation of the nonavian dinosaurs is the subject of debate. Previously, arguments have been made for both endothermic and ectothermic metabolisms based on differing methodologies. Here, we used clumped isotope thermometry to determine body temperatures from the fossilized teeth of large Jurassic sauropods. Our data indicate body temperatures of 36 to 38°C, which are similar to most modern mammals. This temperature range is 4 to 7°C lower than predicted by a model that showed scaling of dinosaur body temperature with mass, which could indicate that sauropods had mechanisms to prevent excessively high body temperatures being reached due to their gigantic size.”

Referência:
Eagle, R., Tutken, T., Martin, T., Tripati, A., Fricke, H., Connely, M., Cifelli, R., & Eiler, J. (2011). Dinosaur Body Temperatures Determined from Isotopic (13C-18O) Ordering in Fossil Biominerals Science DOI: 10.1126/science.1206196

Dinossauros: Novas Técnicas, Velhos Mitos (2)

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(Continuação)
fig3_a (Large).jpgPara além do cada vez maior número de espécies que todos os anos são descritas e publicadas, existem áreas da Paleontologia de dinossauros que não lidam directamente com a classificação e descrição de novas espécies. Esse grupo de conhecimentos resulta, por vezes, de campos do conhecimento directamente relacionados com o ser humano, como a Medicina, e envolvem cientistas que nunca antes imaginaram poder investigar restos fossilizados.
O enorme fascínio que a maioria das pessoas tem pelos dinossauros, bem como o facto de sermos animais essencialmente visuais, originaram que uma das áreas científicas que tivesse nos últimos anos uma grande aplicação na Paleontologia fosse a Imagiologia.
Recriar, reconstituir e simular quase todos os aspectos do corpo destes animais parece ser a grande “moda” entre os dinossaurólogos. A cada vez maior difusão e o cada vez menor custo dos equipamentos que permitem virtualizar e analisar com maior detalhe os restos fossilizados têm contribuído para esta tendência científica.
fig3_b (Large).jpgUm conjunto de técnicas de análise de resistência de materiais, inicialmente utilizadas na engenharia e genericamente denominadas Análise de Elementos Finitos, tem sido aplicada em fósseis de dinossauro.
Os trabalhos de Emily Rayfield [3], têm permitido, por exemplo, conhecer que áreas da mandíbula do Allosaurus estariam sujeitas a maiores tensões quando este carnívoro atacasse uma presa. Esse conhecimento sobre as forças associadas a uma mordidela permitem que os paleontólogos infiram padrões de comportamento de ataque, contribuindo, por exemplo, para que o modo de vida destes animais seja melhor compreendido.
Uma outra área em que a imagem tridimensional dos fósseis tem sido utilizada é a da reconstituição de áreas de tecido que não ficaram preservadas. Zonas do cérebro ou do ouvido interno dos dinossauros têm sido profusamente analisadas pela equipa de Larry Witmer [5].

Este investigador tem utilizado a ressonância magnética como metodologia de visualização e posterior análise funcional, procurando, por comparação e analogia com grupos de animais actuais e filogeneticamente próximos, reconstituir áreas do sistema nervoso destes animais. Incógnitas como o tamanho e funções cerebrais de vários dinossauros, ou mesmo a sua capacidade olfactiva, a postura do crâneo ou mesmo a capacidade de equilíbrio, têm sido estudadas pela equipa deste investigador da Universidade do Ohio. Todas as informações neurológicas, até há poucos anos absolutamente inacessíveis sem as técnicas imagiológicas descritas, contribuem para a diversificação do conhecimento sobre os dinossauros, bem como para a inferência de padrões de comportamento nestes animais até aqui desconhecidos.
Sendo a capacidade de se movimentar um dos factores de sucesso evolutivo da maioria dos animais, compreender a locomoção é fundamental para se perceber como é que os dinossauros ocuparam a maioria dos ecossistemas terrestres durante centenas de milhões de anos.
thailand2006-mocap-elephant1.jpgA verdadeira capacidade física de músculos e tendões é uma das questões biológicas que tem sido explorada pelo Laboratório de Locomoção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária de Londres. Para além da compreensão do modo como os animais actuais se movimentam, John Hutchison e a sua equipa têm liderado estudos de locomoção em vários grupos de dinossauros [6]. A reconstituição e simulação da anatomia locomotora destes animais têm sofrido um estudo aprofundado por parte desta equipa, contribuindo para, por exemplo, se especular se o T. rex teria ou não a capacidade de corrida que os filmes de Steven Spielberg vulgarizaram.
Segundo estes autores, parece que a corrida do grande dinossauro terá sido bastante ampliada por Hollywood [7].
Para além das novas tecnologias ao serviço de uma ciência que lida com seres com milhões de anos, têm sido igualmente importantes as novas descobertas de fósseis de uma das linhas evolutivas dos dinossauros: as aves.
Falaremos disso no próximo post.
Referências:
[3] Rayfield, E. (2004). Cranial mechanics and feeding in Tyrannosaurus rex Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 271 (1547), 1451-1459 DOI: 10.1098/rspb.2004.2755
Rayfield, E. (2007). Finite Element Analysis and Understanding the Biomechanics and Evolution of Living and Fossil Organisms Annual Review of Earth and Planetary Sciences, 35 (1), 541-576 DOI: 10.1146/annurev.earth.35.031306.140104
[5] Witmer, L.M, Ridgely R.C, Dufeau, D.L & Semones, M.C. 2008. Using CT to peer into the past: 3D visualization of the brain and ear regions of birds, crocodiles, and nonavian dinosaurs. pp. 67-88. In Anatomical imaging: towards a new morphology Endo, H. & Frey. R. (eds.). Tokyo, Japan:Springer.
[6] Hutchinson JR, & Gatesy SM (2006). Dinosaur locomotion: beyond the bones. Nature, 440 (7082), 292-4 PMID: 16541062
[7] Hutchinson, J.R. & Garcia M. 2002. Tyrannosaurus was not a fast runner. Nature 415: 1018-1021.
Imagens (numeração continuada do post anterior):
Figura 3) Representações do esqueleto craneal e estruturas cerebrais de vários exemplares de Amniota – dados obtidos a partir tomografia axial computadorizada (TAC). Imagem do Laboratório de Larry Witmer, Universidade do Ohio.
Figura 4) Modelo tridimensional de Análise de Elementos Finitos de Allosaurus. Adaptado [3].
Figura 5) Elefante asiático utilizado em trabalho laboratorial de locomoção. Imagem adaptada de Structure and Motion Laboratory, Royal Veterinary College.