Image in Science and Art

Informação recebida da Fundação Calouste Gulbenkian.
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The Problem of a Picture of an Atom
image005.pngChristopher Toumey

Resumo

A credibilidade da nanotecnologia advém em grande parte do facto de produzir imagens detalhadas e atraentes de átomos, moléculas e outros objectos da nanoescala. Mas essas imagens não são como as fotografias. No caso da fotografia, pode comparar-se a foto de um objecto com o objecto em si, de forma a verificar se a foto constitui uma imagem fiel do objecto. As nanoimagens, porém, são interpretações visuais de dados electrónicos, e geralmente incluem uma série de melhorias artificiais. Isto significa que uma imagem de um átomo ou de uma molécula não é uma imagem fiel de um átomo ou de uma molécula.
Christopher Toumey irá falar-nos sobre a história da microscopia electrónica até aos nossos dias e da situação actual da nanoimagens. Em seguida, para explorar o modo como se pode obter o máximo benefício a partir do conhecimento visual contido nas nanoimagens, irá rever alguns princípios da teoria Cubista inicial. Pode-se aplicar esses princípios às nanoimagens: em vez de abandonar nanoimagens problemáticas, poderá entender-se melhor as imagens de objectos à nanoescala olhando para eles da mesma forma com que os primeiros Cubistas olharam os objectos por eles pintados.
Ciclo de Conferências Image in Science and Art
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN |AUDITÓRIO 2 | 18.00
15 Dezembro 2010 | 18.00
The Problem of a Picture of an Atom
Christopher Toumey
PRÓXIMAS CONFERÊNCIAS:
19 Janeiro 2011| 18.00
Visiting Time: The Renegotiation of Time through Time-Based Art
Boris Groys
2 Fevereiro 2011 | 18.00
Functional Images of the Brain: Beauty, Bounty, and Beyond
Judy Illes
Tradução simultânea
INFORMAÇÕES:
Rita Rebelo de Andrade | SERVIÇO DE CIÊNCIA | FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Av. de Berna, 45 A – 1067-001 LISBOA
T. 21 782 35 25 | E. scienceandart@gulbenkian.pt | W. www.gulbenkian.pt
Videodifusão | http://live.fccn.pt/fcg

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Imagem – Luís Azevedo Rodrigues, Ann Arbor, 2005.

Daniel Rodrigues (1931-2010)

Pai. Jornalista. Homem de coração sem tamanho.

Transcrevo a dedicatória que lhe escrevi na minha tese:
“Pai – possui o dom mais importante: pensa com o coração. E de quem recebi o gosto de escrever.”

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Imagem – David J. Nightingale

Escuva terras, ou o drama de se chamar toupeira

toupeira1.jpgNa terra do meu pai havia vários montes que sempre me intrigaram. Quando digo na terra, é mesmo na terra, essa que se lavra e suja os pés.
A outra, o sítio onde se cresce ou apenas se nasce, não importa para a história, apenas que era vizinha da de Aquilino.
Os montes de terra apareciam sem eu perceber como nem porquê. Surgiam nos lameiros, terrenos junto a cursos água, bons para erva fresca e sestas olhando vacas pastar.
Nos lameiros, aqui e ali, o verde era manchado de castanho, quais pintas em cara sardenta. O caos de cores alterava-me a ordem que tentava pôr em tudo: o lameiro era verde, ladeado pelo ribeiro, escuro pela sombra das árvores que aí se encostavam e, do outro lado, um outro verde, rasteiro, de um batatal.
E depois os montes castanhos.
Essas construções desordenadas, pequenos altos de terra, moeram-me o juízo durante os verões que passava nas Terras do Demo.
Um dos dias de Agosto, em brincadeiras com o Luciano, perguntei-lhe que raio era aquilo feito de terra, no meio dos lameiros.
“Escuva terras”, largou-me ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
“Ah…que era terra já eu sabia…”, avancei, tentando ver se o outro se explicava melhor.
“São uns ratos danados, esses bichos. Sempre a fuçar, a fuçar na terra. Depois dá nisto.”
“A maneira de dar cabo deles é cortar um bocado de plástico, enterrá-lo nesses montes com o gargalo para cima que o assobio do vento na garrafa dá logo cabo deles!”.
Toma e embrulha, faltou-lhe dizer.
Toupeiras.
E não deviam gostar que lhes assobiassem nas varandas, pensei eu.
Esta história foi assim mesmo, na sua maioria, e já lá vão mais de 30 anos.
Não tenho a certeza se seriam toupeiras europeias (Talpa europaea) as escuva terras que partilhavam o lameiro do meu pai, mas é bem provável.
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As toupeiras são mamíferos que pertencem à ordem Talpidae sendo mais facilmente observáveis as suas construções do que elas próprias. Vivem a maioria da sua vida debaixo do solo, escavando e construindo túneis de forma solitária, e defendendo agressivamente o seu território à excepção da época de acasalamento. Nessa altura, os machos tentam literalmente interceptar os túneis construídos pelas fêmeas, iniciando-se então o acasalamento.
As patas anteriores, com grandes garras, permitem-lhes o seu modo de vida subterrâneo, alimentando-se sobretudo de insectos ou minhocas, o seu manjar predilecto.
A anatomia especial deste animal, nomeadamente a capacidade de articulação do úmero e o grande desenvolvimento muscular nesta zona, associado às enormes garras e um osso semelhante a um polegar, colocam este animal entre os grandes construtores zoológicos. A maioria da força das patas anteriores é exercida a partir do antebraço, rádio e cúbito, sendo também necessária a colaboração das patas posteriores para empurrarem a terra que vai sendo escavada.
As construções das toupeiras garantem-lhes alguma inimizade por parte dos agricultores que se esquecem que os túneis construídos pelas toupeiras aumentam não só o arejamento dos terrenos, como contribuem para uma melhor fertilização dos mesmos.
A capacidade física destes animais é extraordinária, tendo sido observado uma toupeira, com cerca de 80 gramas, construir quatro montes de terra com cerca de 15 quilos em apenas 90 minutos. Se fizéssemos a comparação para a nossa espécie, seria o equivalente a um ser humano de 70 quilos escavar 10000 quilos numa hora.
Não consigo deixar de imaginar estas bichezas a trabalharem para o Metro de Lisboa…
Imagens:
ARKive – http://www.arkive.org
Hall, B. K. (ed). 2007. Fins into Limbs: Evolution, Development, and Transformation. Chicago: University of Chicago Press, 433 pp.

Vídeo – ARKive

Esta é Nossa

O pouco que se fez muito no meu sentir Portugal aconteceu quinta-feira.
Num mundo de homens-cópia* e países-clone, na quinta fomos diferentes.
Celebrámos um homem que não era cotado em Londres ou Tóquio, que não tinha valor em Nova Iorque.
Era rico em coisa nenhuma, vendia o que não dá lucro, esbanjava tempo, em tempos de crédito mal-parado.
Era homem num mundo de ratices.
Dizia adeus de braços abertos, sem nada em troca.
Há tempos assim.
Tempos em que sinto gana de não ser de outro lado que de um país que acena a quem passa.
País que tinha um bom louco que acenava.
Dá-nos pão?
Se calhar, mas pão para um alma desgastada.
Há maior poesia que esta?
Há.
Mas esta é nossa.

O Adeus, ao Sr. do ADEUS from João Nunes on Vimeo.

P.S. – para os meus queridos leitores do Brasil em baixo poderão perceber sobre quem falo no texto:
Aqui, aqui e aqui
* – palavra de José Manuel dos Santos, um dos melhores cronistas portugueses.

A Imortalidade de Um Saco Plástico

Sobre o vórtice do pacífico.
Sobre os dramas existenciais.
Sobre a morte e a necessidade de sermos desejados.
Sobre nós.
Tudo a partir da imortalidade de um saco plástico.
P.S. – uma lição de conservação planetária, bem melhor que lamechices à Al Gore.

Fonte – “Future States”
Inspiração – Micaela Sousa, “a place to be”

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Defying Physics.JPG
Imagem: daqui

Pior que Portugal? (quase) Só o Haiti.

digitalizar0003.jpgPessoa afirmava que Jesus Cristo não percebia nada de finanças.
De mim, posso dizer o mesmo.
E de Sócrates, de mão dada com o Teixeira ministro.
Da leitura matinal e soalheira do periódico El País aprendi hoje bastante.
Nos últimos dez anos, e em 180 países, apenas Itália (179º) e Haiti (180º) fizeram pior do que Portugal em crescimento económico.
Sim, lugar 178º em crescimento económico.
Tudo bem, não serão as Finanças de que Sócrates parece nada saber, mas sim a Economia.
Mas desta, e já lá vão mais de 5 anos de navegação cheia de tretas, também o governo parece desorientado.
10 anos a nada crescer.
Porque não deixa o país em paz, sr. Engenheiro?
Pode ser que o país cresça mais sem a navegação tão entendida quanto a sua.
Ou mesmo sem qualquer navegação.
Citando o El País, sr. Engenheiro, foi uma época perdida.
(clicar na imagem para aumentar)
CRESCIMENTO_ECONOMICO_PORTUGAL_2000_2010 (Large).jpg
Imagens – jornal El País, 24 de Outubro de 2010, a partir de dados do FMI.

Bichinho-de-prata (Lepisma saccharina)

(texto escrito para o “Notícias do Gil”, jornal da Escola Secundária Gil Eanes)
tv300002.jpgQue sabia eu do bichinho-de-prata (Lepisma saccharina), para além das ténues memórias? Memórias que, não sendo de nojo ou repugnância, como as que tenho das baratas, ou mesmo de alegria, como as dos bichos-de-conta, ainda assim existem. Apesar de não impressionantes, as memórias que recordo desses bichos não se foram, estão impregnadas.
Mas por que motivo não olvidei esse bichinho? Pela semi-precisosidade do seu nome comum – bichinho-de-prata? Não me parece. Decidi então procurar nos livros.
Estes animais são aquilo que os biólogos designam por cosmopolitas. Não por irem assistir a passagens de modelos a Nova Iorque, ou jantar a Paris, porque também o fazem, mas antes porque são encontrados em ambientes domésticos um pouco por todo o mundo.
Fujo da luz, porque não me é boa. Há qualquer coisa no sossego da sombra que me faz bem. Discreto e fugidio como sou, é no escuro que me sinto em casa.
Quais ratos-de-biblioteca, abominam a luz, escapando-se para locais escuros mal são descobertos. Os seus olhos compostos são muito reduzidos, valendo-se este animal de outros sentidos para sobreviver.
Os bichinhos-de-prata, insectos da ordem Zygentoma, possuem o abdómen achatado e longas antenas. Esta ordem também inclui outras 470 espécies recentes, sendo encontrado o seu membro mais antigo em rochas que datam do Cretácico inferior do Brasil, com 108 milhões de anos idade.
Julgam que não como os compêndios, não devoro os manuais, não engulo papel, enfim. A verdade é que sou letrado, não pelo estudo, mas pelo estômago.
Literalmente letrados, porque é esse um dos seus ambientes humanos preferidos, entre palavras e letras. Refugiando-se da luz e procurando um ambiente ideal para se alimentarem, os bichinhos-de-prata instalam-se entre páginas de livros. Por aí andam, embora não só de celulose se alimentem, já que poeiras e outros restos orgânicos fazem parte da sua alimentação. Como poucos outros insectos que se alimentem de restos orgânicos, os bichos-de-conta possuem substâncias que transformam a celulose (enzimas), não necessitando de estabelecer parcerias com bactérias para digerir o material de que são feitos os livros.
Sempre que um desses bichos enormes abre os livros onde me escondo, fujo, e se por algum motivo me apanham, as bestas enormes ficam com as suas mãos cobertas de restos das escamas prateadas que revestem todo o meu corpo.
Sem asas e com apenas um centímetro de comprimento, safam-se rapidamente com as suas seis pernas sempre que regressamos a um livro há muito fechado. No último segmento abdominal têm três cerdas que lhes conferem o seu aspecto característico, para além da cor prateada que lhes valeu o nome comum.
E a fama de bicho letrado. Pelo menos para mim.
Apesar de não ser esquisito, há autores que prefiro para os meus repastos: o negrume das páginas de um livro de Saramago deixa-me, por vezes enfastiado; o branco em excesso dum poema da Sophia, apesar de satisfatório, causa-me algum desconforto, pois sinto-me desprotegido. Já a assimetria dos textos do O’Neill me deixa um pouco sem saber para que lado ir.
Imagem: daqui