Brincadeiras Encenadas
Saio para fumar, já que os livros amontoados nas prateleiras não desejam a poluição.
E, já agora, a bibliotecária também não.
Nas escadas, três catraios andam aos pulos.
Fazem-me sinal para que me afaste.
“Raio dos putos”, resmungo.
“Só me faltava que fossem como o outro…”.
Um que me atacou o cigarro, às portas do Museu de História Natural de Nova Iorque, sob o olhar aprovador do pai radical da saúde.
Não eram.
Pediam-me que me afastasse porque o meu cigarro, e já agora o resto de mim, estavam no seu set de filmagem.
Sim, os catraios, dos seus 10-12 anos, estavam em plena filmagem das suas brincadeiras.
“Vens a correr bué, agarras nas escadas…”, corrimão, deveria querer dizer… “…e saltas com as pernas tipo aquele gajo do filme…”.
Quem assim falava era o mandão.
Uma mão no telemóvel, a outra a coreografar a brincadeira, tudo filmando, apenas variando cada plano.
O puto. Com os outros putos.
Agarrado ao meu vício, observava-os, tentando respeitar a distância que o realizador me havia imposto.
Irra.
As brincadeiras são parecidas com as de outrora, mas estas podem ser vistas e revistas.
E minimalmente, os putos repetiam-nas.
Para uma perfeição exigida pelo YouTube, julgo.
Abandonei o meu companheiro químico e regressei ao poiso.
Os livros estavam nas prateleiras e eu não queria interromper as filmagens.
E muito menos as brincadeiras.
Imagem: Shazeen Samad
Vou a Castelo Branco.
A convite do Geopark Naturtejo, e no âmbito da Semana Europeia de Geoparques 2010 e da Dino.Expo “Dinossáurios Invadem o Geopark”, vou proferir a palestra “Dinossauros: Novas Técnicas, Velhos Mitos”, no dia 22 de Maio, pelas 15h30, no Dino.Expo/Núcleo Empresarial de Castelo Branco.
Apareçam, quanto mais não seja para verem a “Exposição de Dinossauros, considerada a maior do mundo”.
Interpretar a Biodiversidade
Informação recebida de António M. de Frias Martins, Universidade dos Açores:
“Interpretar a Biodiversidade a partir do ser-se humano
Ciência & Sociedade: como a evolução influencia ambas
O ano de 2009 foi justamente dedicado a Darwin e ao impacto que a sua obra Sobre a Origem das Espécies teve, não só no campo científico, como na maneira como o próprio Homem passou a interpretar o seu lugar no contexto do mundo vivo. Em boa hora foi decidido que o ano seguinte, 2010, fosse internacionalmente dedicado à Biodiversidade. Trata-se de uma continuidade de acção que assim se enriquece e fortalece, pois o modo como a espécie humana escolher para lidar com a Biodiversidade será determinado fundamentalmente pela maneira como encara o seu enquadramento no mundo vivo, desde a dimensão biológica ao domínio intelectual até à dimensão espiritual.
Com o intuito de facultar esse aprofundamento filosófico do relacionamento da sociedade, na complexidade dos níveis que a caracteriza, com os desafios lançados pela revolução científica originada pela aceitação da teoria da evolução, a Universidade dos Açores, através do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais, da Pó-Reitoria para a “Aprendizagem ao longo da vida”, do Departamento de Biologia e do Grupo de Investigação CIBIO-Açores, convidou o conhecido filósofo e darwinista Michael Ruse para uma série de acções e palestras.
Assim, escolhendo a ocasião das festividades em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, oferece-se à população uma oportunidade de reflexão sobre o relacionamento fé/ciência, que se quer esclarecedora e motivadora. Enriquece-se ainda a comunidade, sobretudo a académica com a intervenção Professor Michael Ruse no programa escolar, abrindo-a aos corpos docente e discente das escolas secundárias. Pelas suas publicações e pela competência que lhe é internacionalmente reconhecida, o Professor Michael Ruse afigura-se como o dinamizador ideal para este nível de diálogo.
Programa
-10 de Maio (18:00) – Apresentação da edição portuguesa da obra Pode um Darwinista ser Cristão?, de Michael Ruse (Livraria Bertrand, Parque Atlântico)
-11-12 de Maio (11:00-12:30) – Duas aulas (90 minutos cada, em cada um dos dias) aos
estudantes de “Evolução” e “Introdução à Sistemática” (abertas à comunidade académica, incluindo os corpos docente e discente das escolas secundárias) sobre o tema “Evolution in Science, Evolution in Society: how the theory affects both” (Anfiteatro I, Complexo Científico)
-12 de Maio (16:00) – Palestra para o público em geral: Science and Spirituality: Making
Room for Faith in the Age of Science. (Anfiteatro C, Univ. Açores) (com tradução)
-14 de Maio – Regresso.”
No final é só o que resta
No final é só o que resta.
Afinal desde o começo que já cá estava.
Apenas levemente suspensa, pela outra.
Mas sempre presente.
A única companheira.
No arrastar dos dias, tapada entre outras neblinas, é a única certeza.
Ou quase.
Olhamos o céu, o mar, ou espelho, e ei-la.
Julgamo-nos maiores que ela porque a pensamos e reconhecemos.
Maiores que todas as vidas que nos rodeiam e que temporariamente a encobrem.
Sozinhos com ela.
“(..) workers of the ant Temnothorax unifasciatus dying from fungal infection, uninfected workers whose life expectancy was reduced by exposure to 95% CO2 and workers dying spontaneously in observation colonies exhibited the same suite of behavior of isolating themselves from their nestmates days or hours before death. Actively leaving the nest and breaking off all social interactions thus occurred regardless of whether individuals were infected or not. Social withdrawal might be a commonly overlooked altruistic trait serving the inclusive fitness interests of dying individuals in social animals.”
«”When Pansy lay down in a nest that one of the other apes had made, the rest gathered around her and began grooming and caressing her. Shortly before she died, all three crouched down and inspected her face very closely. They then began to shake her gently. “It is difficult to avoid thinking that they were checking for signs of life,” said Anderson.
“After a time, it seemed that the chimpanzees arrived at a collective decision that she had gone. Two left immediately, but one, the other adult female, stayed and held her hand,” said Anderson.»
Referências:
Heinze, J., & Walter, B. (2010). Moribund Ants Leave Their Nests to Die in Social Isolation Current Biology, 20 (3), 249-252 DOI: 10.1016/j.cub.2009.12.031
Imagem:
Magdalen of the night light, Georges de La Tour
Nojo por Inês
Leio agora que à Sr.ª Inês de Medeiros, deputada do PS, irá ser paga uma viagem semanal a Paris, em executiva. Quatro viagens por mês, brilhantemente concluo.
Aquando da sua candidatura à Assembleia da República, a dita Inês apresentou como morada oficial um endereço de Lisboa.
Assim, iremos todos pagar, com voluntário deleite, uma viagem semanal da tribuna à cidade das luzes, uma vez que aquela se deverá encontrar desocupada.
A morada de Lisboa, não a deputada.
Feliz fico por o meu Estado recompensar tanto em viagens a Paris da parlamentar como o que paga a quatro professores, ou a seis bolseiros de investigação científica, ou mesmo a quase dez trabalhadores com o salário mínimo.
Delirante continuo, por o meu país investir em viagens executivas a Paris para uma meritosa Inês de Medeiros que oficialmente reside em Lisboa, mas suspeita ter a sua família em Paris.
Os quatro professores, ou seis bolseiros de investigação científica, ou os salários mínimos, que se calem. O seu valor não é comparável à Sr.ª Medeiros, que tanto tem feito pelo bem-estar de Portugal. Tanto, que necessita purgar-se semanalmente à beira Sena dos afazeres lusitanos.
Nojo.
É o que sinto.
Pelos invejosos quatro professores, seis bolseiros de investigação científica, ou dez trabalhadores com o salário mínimo, que se roem de inveja maledicente das viagens da deputada Inês de Medeiros.
Nojo por Inês.
P.S. – breve biografia da deputada do PS, Inês de Medeiros – do site da Assembleia da República:
“Habilitações Literárias – Frequência de Licenciatura em Literatura Portuguesa (Universidade Nova de Lisboa), Estudos Teatrais (Sorbonne Paris). Profissão – Autora”
Europa Ocupada
Há momentos que nos remetem para o passado, como se ele, de tão reconhecível e evidente, nos entrasse de novo pela compreensão adentro.
Tal como na década de 40 do século passado, a Europa encontra-se ocupada. No passado que relembro, um exército expansionista alargava a sua influência territorial, empurrando para as franjas da Europa, quem lhe procurava fugir. A ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial, implicou a movimentação maciça de muitos procuravam novos ares.
Portugal constituía, nos anos 40, uma porta de fuga para um novo mundo, liberto de exércitos e impedimentos, de todos os que eram perseguidos ou apanhados pelos acontecimentos bélicos.
Hoje, um novo exército ocupa os céus da Europa, vindo de norte, fechando à sua passagem os caminhos de ida e regresso de milhares de pessoas. Os pós vulcânicos, tal como antes o havia feito um outro exército, empurram muitos para a Península Ibérica.
Agora, por mera casualidade, Portugal encontra-se de novo na rota dos que tentam fugir, agora de uma nuvem de pó que ocupa grande parte dos países europeus, nuvem que impede as viagens aéreas.
Como há 70 anos, Portugal apenas os vê passar, gente que contorna obstáculos.
Antes, fugiam da guerra.
Hoje, apenas tentam voar, fugindo de outra nuvem.
Imagens:
daqui
e
daqui.