Ornitorrinco via os dinos passar
Quando escrevi “Chernes e ornitorrincos”, este estudo ainda não tinha vindo a público.
Paleontólogos do Museu de Vitória, Austrália, descobriram fósseis de ornitorrinco muito mais velhos do que até agora se sabia. Estes materiais paleontológicos datam do Cretácico inferior, Aptiano, entre os 112 e os 125 milhões de anos, e “puxam” a história evolutiva deste mamífero ainda mais para o passado da Terra.
Embora não sejam idênticos ao modernos ornitorrincos, Ornithorhynchus anatinus, as características anatómicas observadas (através de tomografia computadorizada) nas mandíbulas fossilizadas permitiram identificá-las como pertencentes à mesma família – Ornithorhynchidae.
Ao contrário dos actuais ornitorrincos que têm uma estrutura semelhante a bico, os seus antepassados possuíam dentes.
Os ornitorrincos viram os dinossauros a passar…
O artigo é hoje publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.
Imagem: daqui
Mangas e evolução
Achei este post interessante (mais as imagens que o texto…), não só em termos artísticos mas sobretudo ao nível dos conceitos de biologia evolutiva inerentes – já o havia abordado alguns em A Evolução escondida nos Cartoons.
Alguns dos traços básicos da ilustração manga (ou mangá) podem ser caracterizados como conduzindo a uma infantilização da anatomia e proporções dos seres humanos adultos, ou seja, verifica-se o retomar de características físicas juvenis – olhos grandes, crânio arredondado/ovóide e proporcionalmente muito maior que nos adultos.
Este fenómeno evolutivo de retomar características físicas juvenis ancestrais num organismo adulto denomina-se pedomorfose.
Exemplos extremos de “pedormorfose” em manga são o Chibi, que significa, em japonês, “pessoa pequena” ou “criança pequena”, tendo o seu significado sido expandido graças à utilização em manga e anime. Neste tipo particular de ilustrações, as formas humanas são infantilizadas de um modo radical.
Verifiquei na prática o efeito que um animal com características físicas juvenis quando publiquei este post – não imaginam a quantidade de pedidos de informação sobre o “animal tão fofinho” – Cercartetus nanus – que recebi!
P.S.- um das alterações pedomórficas não observadas nos desenhos manga é o carácter alongado do pescoço, que nos bebés é muito reduzido.
Imagens – do post
Na China II – Marte é um Dragão
Philip K. Dick estava certo quando construiu diálogos na língua híbrida futurista em Blade Runner: misto de chinês e espanhol.
Voltei à Terra e não fiz bem a descompressão.
Rodeiam-me neons embrulhados em pauzinhos;
búfalos puxados por cabos USB;
incapacidades de dizer não negadas com sorrisos de olhos rasgados;
miríades de gentes aos berros cheias de ausências;
calmas nervosas em acelerações esperadas;
surpresas incontáveis e inenarráveis;
cheiros a nada e de tudo;
estar do outro lado da jaula;
coreografias kitsch em cibercafés;
pedido de roupa lavada pelo Google translator nos confins do mundo;
pratos de fungos divinos com ninfas melíferas…
P.S. – texto de Dezembro de 2006, acabado de chegar do oriente…
De formiga a…framboesa
Não é nenhum milagre conhecido, muito menos o da multiplicação das framboesas.
Um parasita, pertencente ao Filo Nematoda, infecta a formiga Cephalotes atratus, do Panamá, e origina quer a alteração morfológica do abdómen (ver foto abaixo) quer a alteração comportamental.
Os adultos não são infectados directamente, sendo-o na fase larvar, comportando-se distintamente de uma formiga não infectada, elevando o ruborizado abdómen .
O nemátode origina, assim, não só uma alteração morfológica, mimetizando o abdómen fórmico numa estrutura semelhante a uma framboesa, mas igualmente uma alteração comportamental no seu hospedeiro.
Estas modificações têm como “objectivo” aumentar as probabilidades de as formigas serem capturadas por aves, e desta forma, perpetuar o ciclo de vida deste parasita, já que os dejectos das aves (restos de frutos e de insectos) irão ser fazer parte da dieta de outras formigas.
A taxa de infecção pelo nemátode numa colónia de C. atratus é de cerca de 5%.
A Cephalotes atratus já tinha sido alvo da atenção dos entomólogos dado apresentar a capacidade de planar entre diversos locais (ver vídeos).
Vídeos do voo planado da Cephalotes atratus– aqui
Vídeo da infecção parasitária – aqui
Referências –
Dudley, R., G. Byrnes, S. P. Yanoviak, B. Borrell, R. Brown, and J. McGuire. 2007. Gliding and the functional origins of flight: biomechanical novelty or necessity? Annual Review of Ecology and Systematics 38: 179-201.
Yanoviak, S. P., M. Kaspari, R. Dudley, and G. Poinar, Jr. 2008. Parasite-induced fruit mimicry in a tropical canopy ant. The American Naturalist (in press)
Imagens – K.T. Ryder Wilkie; Steve Yanoviak/University of Arkansas
Os Museus também se abatem…!
“Museu dos dinossauros é fechado em Uberaba
Prefeitura da cidade informou que vai reabrir o local e assumir a direção
Foram fechados, nesta terça-feira, o museu dos dinossauros e o centro de pesquisas paleontológicas de Uberaba, no Triângulo Mineiro. A fundação responsável pelo local não renovou o convênio com a prefeitura, que garantia o repasse de recursos para manter o museu. O acervo do centro de pesquisas já começou a ser retirado e todos os funcionários foram demitidos.
O prefeito de Uberaba, Anderson Adauto, disse que a prefeitura vai reabrir o Museu de Peirópolis. A direção também será assumida temporariamente. Em duas décadas, o local já foi visitado por 300 mil pessoas.”
FONTE – Globominas.com
Ciclo de Palestras de Geologia – DO GRÃO AO PLANETA
PALESTRA DO PROFESSOR MÁRIO CACHÃO, hoje, 17 de Janeiro de 2008, 21h30
Ciclo de Palestras de Geologia
“DO GRÃO AO PLANETA”
na Galeria Matos Ferreira – Rua Luz Soriano, 14 e 18, Bairro Alto, 1200-247 Lisboa
“A palestra, integrada nas celebrações do Ano Internacional do Planeta Terra 2008, visa dar a conhecer, alguns dos valores do Património Natural geológico (essencialmente de natureza paleontológica, i.e. fósseis de corais tropicais e das “laranjas” num cenário pretérito de ilha vulcânica activa) que irão servir de base à futura candidatura de Porto Santo a Geopark UNESCO Europeu.”
Disparates
Depois de em Novembro aqui ter referido a descoberta de um mega escorpião marinho, verifiquei que o Oceanário voltou a meter a “pata na poça”.
Não sei quem fará a revisão destas notícias mas afirmar “Cientistas ingleses descobriram um insecto que, por mais que quiséssemos, não conseguíamos dar cabo dele com o mata-moscas! Os cientistas encontraram uma das garras do insecto e esta é tão grande que rapidamente concluíram que terá pertencido ao maior insecto de todos os tempos!“ é um bocadinho exagerado!
É que Insecta é diferente de Eurypterida (escorpiões marinhos, extintos), apesar de ambos pertencerem a Arthropoda.
Seria como noticiar a descoberta de uma nova espécie de porco gigante e classificá-la como o maior morcego já existente.
Enfim…preciosismos de quem tem que descansar a descobrir erros nos materiais do Oceanário.
Imagens – Ernst Haeckel’s “Kunstformen der Natur”; daqui
Quem és tu, Zé rato? Josephoartigasia monesi
Josephoartigasia monesi é a sua graça. Viveu durante o Pliocénico no Uruguai e é o maior roedor que já viveu.
Este “rato” podia atingir as 2.5 toneladas.
Referência – Andrés Rinderknecht and R. Ernesto Blanco. The largest fossil rodent (2008). Proceedings of the Royal Society, B | doi:10.1098/rspb.2007.1645 [PDF grátis]
Imagem – daqui
Quanta vida por descobrir – Idioneurula donegani
Uma nova espécie de borboleta – Idioneurula donegani – descoberta nos Andes.
Já agora a exposição “Borboletas através do tempo” continua em exibição no MNHN.
Referência (PDF grátis):
Huertas, B. and J. J. Arias. 2007. A new butterfly species from the Colombian Andes and a review of the taxonomy of the genera Idioneurula Strand, 1932 and Tamania Pyrcz, 1995 (Lepidoptera: Nymphalidae: Satyrinae). Zootaxa 1652: 27-40.
Saudades
Não tenho tempo para comentar esta notícia.
Apenas para a recordação emotiva do primeiro dinossáurio que estudei – o Tenontosaurus – no American Museum of Natural History, em Nova Iorque.
Mais do que um Museu, uma casa de Ciência.
Às vezes dá-me para isto…
Referência: Lee, A.H. and Werning, S. 2008. Sexual maturity in growing dinosaurs does not fit reptilian growth models. PNAS. January 15, vol. 105 | no. 2, 582-587.