Conceitos

Dois vídeos.
Dois conceitos.
A mesma forma de os colocar em prática.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=9L4MOHpOLWo]

Quanta vida por descobrir…

Uma nova espécie de pecari foi descoberta e descrita. O baptismo científico concedeu-lhe o nome de Pecari maximus, se bem que é informalmente designado de pecari-gigante.
Igualmente é de saudar que o primeiro autor da descoberta é Marc van Roosmalen, primatólogo holandês naturalizado brasileiro, e que tem tido problemas com a justiça brasileira pela sua acção na defesa da Amazónia. A primeira chamada de atenção que li foi de Palmira F. da Silva, aqui.

A confirmação desta nova espécie foi feita através de análises genéticas no Leiden Centre for Environmental Sciences, Holanda.

Na cultura Tupi, o Pecari maximus é chamado Caitetu Munde, que significa porcos que vivem em pares.

Artigo da descoberta – aqui
Imagens – daqui

P.S. – na imagem superior direita observa-se caçadores que abateram o exemplar tipo.

Planeta Terra…num Museu de História Natural perto de si

“Sessão de lançamento da série da BBC “O Planeta Terra” em DVD”

20 Novembro 2007 18h00
Laboratório Chimico dos Museus da Politécnica R. da Escola Politécnica, 58 Lisboa

“Para além da sessão de lançamento, iniciar-se-á um ciclo de conferências alusivas aos vários episódios da série, que poderão ser visionados no Museu durante os próximos meses.

Biodiversidade
Maria José Costa
A Terra, Planeta Vivo
Fernando J.A.S. Barriga”

Imagens – BBC/DISCOVERY Channel


[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=rUBOuNELsiw]

A César o que é de César…menos em Portugal!

Até que ponto devem ser atribuídos os créditos pelas correcções/informações de âmbito profissional que se fazem a uma exposição ou a uma notícia de jornal?
Esta questão por várias vezes tem cruzado a minha atitude profissional perante a divulgação científica.
Explico.
Após ter organizado e produzido uma revisão científica (pois eram mais do que muitos os erros…) da exposição “Monstros Marinhos”, do Oceanário de Lisboa, e de ter enviado a dita aos responsáveis da instituição, recebi, ao fim de mais de 4 meses, um agradecimento “A participação positiva dos nossos visitantes e «amigos» é de facto uma mais valia para o Oceanário de Lisboa e para a manutenção da sua qualidade.”
Igualmente fui informado de que as várias correcções que tinha feito não poderiam ser-me referenciadas, pois o contrato que tinham com a empresa responsável pela montagem da exposição não lhes permitia uma referência externa, i.e., à minha pessoa.
Aproveitavam para me dizer que me iriam enviar um convite para a exposição – a primeira visita paguei-a eu; desta vez ofereci o convite recebido…
Fizeram-no. Obrigado.
Meus caros, se quiserem mais correcções façam-nas vocês, que, apesar de ainda não me ter cansado de trabalhar à borla, o mínimo de creditação, espero-a!

Ontem decidi cair na mesma “patice”.
O Público on-line (aqui em versão cached num outro site, pois a versão errada já não está on-line) publicou, no dia 15 de Novembro, uma notícia referente a novos dados sobre um saurópode.
Como a versão feita pelo Público do artigo publicado pela agência noticiosa AFP apresentava alguns erros, decidi enviar um comentário. Entre os erros contava-se, por exemplo, o facto de o nome da espécie estar errado, para além de cientificamente mal grafado, o nome do paleontólogo que o descobriu estar incorrecto, e, finalmente, afirmar que o animal em questão era bípede, quando é quadrúpede.
Preciosismos, pensa a maioria das pessoas e, às vezes, quase o penso também eu.
Preenchi o formulário on-line de comentários e esperava vê-lo aparecer publicado. Passadas algumas horas, recebi mail de um jornalista que me agradecia as correcções. Bom, deixa cá ver se aparecem publicadas, pensei eu. Como não apareciam, decidi questionar quem me tinha contactado, por mail, sobre esse facto. A resposta, lacónica e seca, transcrevo-a em parte:

“o ponto 6 dos «Critérios para publicação de comentários dos leitores»:
6 – Por regra devem ser publicados os comentários que criticam a nossa abordagem noticiosa. São excepção os casos em que essa crítica se refere a um aspecto que pode e deve ser corrigido (ex.: um erro ortográfico ou em matéria de facto.) Não teria sentido manter o erro na notícia após a sua detecção e não teria sentido publicar o comentário uma vez a correcção realizada.”

Só faltou dizer: não leu os critérios de publicação? Problema seu!!
Esta atitude de Chico-esperto tem como único resultado que não volte a tentar que o Público seja rigoroso no tratamento que dá aos conteúdos científicos que aborda.

Não pretendo que o meu nome seja referenciado por si só.
Mas porque desejo ver tratados, de forma correcta, assuntos que profissionalmente me dizem respeito, nos órgãos de comunicação social ou em exposições.

A pergunto que deixo: vale a pena perder este tempo?

P.S. o que me deixou satisfeito foi que entre as duas versões da notícia a corrigida está mais detalhada.

Já agora fica aqui a história pela agência Reuters – perdi vontade de a dissecar.
E envolvia o meu orientador.
Imagens – Daqui e daqui

http://www.reuters.com/resources/flash/includevideo.swf?edition=US&videoId=70909

Peixes e tugas

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 15/11/2007)
Pela segunda vez num curto espaço de tempo, a nomenclatura zoológica ocupa este espaço, depois de “Chernes e ornitorrincos”.

Explico: num hilariante artigo de Ferreira Fernandes no DN, soube da troca de galhardetes, entre o colunista Tony Parsons, do Daily Mirror e o embaixador português em Londres. Por motivos que aqui não repetirei, o cronista britânico dirigiu-se ao representante luso nos seguintes termos: “Feche a sua estúpida boca de comedor de sardinhas.” Não terá tomado muito chá este Tony Parsons.
O provérbio português afirma que “A mulher e a sardinha nem a maior nem a mais pequenina”, apoiando que o ponto médio da distribuição de tamanhos da sardinha será a melhor em termos gastronómicos. Quanto às mulheres talvez não seja tão verdade como isso. Ao jornalista inglês faltou um pouco de meio-termo, pois ansiava que o embaixador tivesse afastado a brasa da sua sardinha e, já agora se possível, sem a comer…
Peixe não puxa carroça, mas neste caso o cronista Daily Mirror sem dúvida que a puxou …
Estes mimos zoo-gastronómicos acordaram outras memórias da relação cultural dos portugueses com os peixes.

Em visita familiar ao Brasil, e para além de habitual repertório de anedotas sobre lusitanos, foi avisado de que os nossos conterrâneos eram frequentemente chamados de “papa-bacalhau” devido à nossa paixão por aquele peixe.
Há cinco anos atrás, encontrava-me a trabalhar no American Museum of Natural History, quando outra referência ao fiel-amigo e os portugueses, foi-me introduzida por uma zoóloga canadiana. Durante a nossa apresentação, fui brindado com “Ah, vocês comem muito bacalhau, não comem? É que os stocks estão quase a desaparecer por vossa causa!” Depois do aperto-de-bacalhau literal, tentei argumentar que o bacalhau era muito mais do que um mero alimento em Portugal, que o papel deste peixe na vida dos portugueses não se limitava apenas a satisfazer a gula de uma qualquer refeição. Como castigo desta argumentação, pouco tempo depois andava eu, desesperado de desejo, pelos supermercados mexicanos de Brooklyn à procura de uma mísera posta de bacalhau…

Continuando em ambiente ictiológico, sempre que num congresso ou numa revista científica um grande especialista opina, é habitual que os colegas portugueses o designem por truta. Não imagino a origem de tal designação nem o porquê de sermos um povo que apesar de venerar dois peixes de mar – o bacalhau e a sardinha – utilizarmos um peixe de rio como sinónimo de perito.
Paradoxalmente ao que se diz no ambiente académico, aprendi que “A truta e a mentira, quanto maior melhor”. Resta-me apenas continuar a aprender com os trutas da minha área…já agora, de todas as áreas.

Apesar de se poder cair na brejeirice, a alusão piscícola que mais me agrada, é a proferida pela comunidade masculina sempre que se avista uma representante do sexo feminino de bela morfologia: “Mas que faneca!”.
Concluindo só me resta concordar com o dito “ O peixe deve nadar três vezes: em água, em molho e em vinho.”

Imagens:
EGEAC
Pieter Bruegel – “Les gros poissons mangent les petits” (1557)
Prato de bacalhau com grão
Cate Blanchett, actriz de “Little Fish”
Gustave Klimt – “The Blood of Fish” (1898)

Morcegos e companhia no Morfoespaço

Às voltas com estes exemplares no meu morfoespaço
Ossos do meu ofício!

Imagens – Pteropus anetianus e Phoebastria albatrus
– do livro “Evolution (in Action)”, de Patrick Gries e Jean-Baptiste Panafieu.
O Natal aproxima-se e adoro livros…

Grupo Lobo

“A trabalhar na conservação do lobo desde 1985.

Grupo Lobo é uma associação que promove o estudo e a conservação do lobo Ibérico em Portugal. A nossa
actividade depende do interesse e apoio de todos.
Contamos consigo. Venha conhecer-nos.
Faça-se sócio do Grupo Lobo e contribua para o conhecimento e conservação deste predador.

GRUPO LOBO ACÇÃO DE FORMAÇÃO

O Grupo Lobo e una organização não governamental que procura dar a conhecer os aspectos menos conhecidos do lobo
De entre as suas actividades de divulgação ambiental, o Grupo Lobo participa em todo o país em debates, exposições e conferências através das quais divulga o outro lobo – aquele que é conhecido por apenas uma pequena parte da opinião pública
Com a presente acção pretendemos formar colaboradores que no futuro queiram voluntariamente participar nas referidas acções.
Para tal estão abertas inscrições no Grupo Lobo, gabinete 2.144 do Edifício C2 (1° piso) ou ainda por telefone (21 7500073) ou e-mail globo@fc.ul.pt.

Imagens – Luís Casiano; Grupo Lobo

P.S.- ainda me recordo de ir ao Porto, penso que ao Grupo Lobo, procurar referências bibliográficas para um trabalho sobre o Lobo-ibérico (Canis lupus signatus).

🙂

10000 A.C.

Parece-me pipoqueiro mas não é isso que me chateia.
O que me chateia é antever que não o vou ver da mesma forma que veria um qualquer outro desliga-cérebros-do-tipo-perseguição-e-tiros-e-ai-que-o-herói-morre-etc.
Por puros motivos profissionais.
Tipo Buescu quando via o Star Trek

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França – 95 milhões de anos atrás – as jazidas de fósseis de Charentes

Alguns dos fósseis encontrados nesta região estão preservados de uma forma excepcional, como é o caso de insectos em âmbar. Também interessantes são os dentes de mamíferos, bem como os fósseis de répteis (crocodilos, ofídios, tartarugas e dinossáurios) e de seláceos e outros peixes encontrados nessa região.

Foram ainda encontrados restos de plantas, algumas delas com uma preservação excepcional, bem como diversos invertebrados marinhos, de que são exemplo os equinodermes e os bivalves. Por este motivo, podemos considerar que a biodiversidade nesta região francesa, há 95 milhões de anos atrás, era muito elevada.

Romain Vullo vem a Portugal efectuar trabalho de campo, em conjunto com equipa de paleontólogos do MNHN, para conhecer e comparar o Cenomaniano da região de Lisboa. Igualmente irá dar uma conferência no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa sobre os estudos que realizou.

A conferência terá o título “A região de Charentes (SW de França), 95 milhões de anos atrás: Floras, Faunas e Ambientes excepcionais.” onde irá falar sobre os fósseis, tanto de plantas como de animais, que foram identificados nas jazidas daquela região, bem como sobre os paleoambientes que se desenvolveram ao longo desta série transgressiva cretácica.

Romain Vullo é doutorado, em 2005, em Biologia (Especialização em Paleontologia) pela “Université de Rennes”, tendo realizado a sua tese sobre os vertebrados do Cretácico Superior da região de Charentes (SW de França).

Tem trabalhado com a equipa do “Laboratoire de Paléontologie, Géosciences, Université de Rennes” e, neste momento, encontra-se a fazer um Post-doc na “Unidad de Paleontología, Departamento de Biología, Facultad de Ciencias, Universidad Autónoma de Madrid”.

Imagens – Paleoambientes do Cenomaniano de Charentes; Paleogeografia da Europa no Campaniano; Associações faunísticas de Charentes. Todas as imagens da tese de Romain Vullo.

9 de Novembro de 2007, 15.00h
Anfiteatro Manuel Valadares
Museu de Ciência da Universidade de Lisboa
Rua da Escola Politécnica, 56 – Lisboa

Sornas e viagens espaciais

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 01/11/2007)
Apesar de muito desejada, a hibernação não passa de um desejo inatingível pelos humanos. Já demos por nós, várias vezes e em alturas de maior cansaço, a cobiçar dormir por vários dias. Desligar e apenas descansar. Passar pelas brasas de forma longa e continuada.
Mas a hibernação é muito mais do que um simples dormir.
Pode definir-se como um estado em que o animal tem uma substancial redução quer na temperatura corporal quer nos gastos energéticos bem como na taxa cardíaca. A redução térmica verificada em animais que hibernam pode atingir mínimos de 5ºC – temperatura semelhante ao interior de um frigorífico, na zona dos vegetais.
A redução de gastos energéticos nos animais que hibernam pode atingir o 1% do habitual embora o mais habitual sejam reduções energéticas para níveis dos 10-20% do normal.
Era tão bom poder, da mesma forma, entrar em “hibernação” de despesas …
Os animais que utilizam esta estratégia fisiológica fazem-no com diversos objectivos: sobreviver em locais que apresentem Invernos com temperaturas muito baixas e/ou em alturas do ano em que a disponibilidade de alimentos seja baixa.
Previamente à hibernação verifica-se grande consumo alimentar pois os animais pretendem acumular gordura com vista à época de carestia que se avizinha.
Mais uma vez o paralelismo para a sociedade humana poderia ser estabelecido…

Um estudo, a ser publicado em Novembro, refere que um marsupial é capaz de hibernar mais de um ano; concretamente foram 367 dias em letargia fisiológica.

O Cercartetus nanus alimenta-se de néctar e insectos sendo arborícola, i.e., habita nas árvores, de zonas quentes e húmidas do sudoeste australiano. Ao contrário da maioria de outros mamíferos que hibernam para fazer face a baixas temperaturas, o Cercartetus fá-lo quando a carência alimentar surge pelas imprevisíveis condições climatéricas australianas. Este animal apresenta uma enorme capacidade de armazenamento alimentar, sob a forma de gordura, que lhe proporciona, em qualquer altura do ano, entrar em torpor fisiológico.

Contrapondo-se aos registados 367 dias do Cercartetus já tinha sido observado um período de 342 dias em Zapus princeps, um roedor norte-americano.

Poderá questionar-se o leitor sobre o interesse prático destes recordes de inércia…
Para além do conhecimento da diversidade de estratégias no mundo animal, o estudo dos mecanismos fisiológicos utilizados por estes animais poderá contribuir para que viagens espaciais muito longas (até Marte, por exemplo) sejam feitas pelos astronautas em condições parecidas. A redução da actividade fisiológica possibilitará que a viagem seja feita de maneira mais confortável bem como, factor fundamental em viagens espaciais, reduzir as reservas de alimentos, água e oxigénio necessárias a tão longa viagem.
Para ajudar neste processo investigadores da Universidade da Carolina do Norte descobriram dois genes responsáveis pela regulação, em esquilos, de como os organismos usam as reservas energéticas. Estes genes, apesar de envolvidos noutros processos, estão também presentes nos seres humanos.

Referências:
Andrews, M. T., Squire, T. L., Bowen, C. M. & Rollins, M. B. 1998. Low-temperature carbon utilization is regulated by novel gene activity in the heart of a hibernating mammal. Proc. Natl. Acad. Sci. USA Vol. 95, pp. 8392–8397.
Geiser, F. Yearlong hibernation in a marsupial mammal. 2007. Naturwissenschaften 94:941–944
Geiser, F. 2004. Metabolic rate and body temperature Reduction during hibernation and daily torpor. Annu. Rev. Physiol..66:239-274.

Imagens: primeira imagem Cercartetus nanus – essa e as outras – links nas fotos