Catharine Macaulay

O mais novo verbete do Blog Mulheres na Filosofia é sobre Catharine Macaulay, uma filósofa e historiadora que viveu na Inglaterra do século XVIII e que ficou amplamente conhecida por escrever a História da Inglaterra. Mas ela não parou por ai. Também se dedicou também a escrever sobre filosofia moral e educação. Nesse interessante verbete, Camila Kulkamp perpassa conceitos centrais de algumas de suas obras, como é o caso de O Tratado sobre a Imutabilidade da Verdade Moral (1783), na qual Macaulay desenvolve um de seus principais conceitos, a noção de “princípios da razão natural” — ou verdades morais racionais — princípios que, segundo ela, são descobertos por meio da razão. Já em As Cartas sobre Educação com Observações sobre Religiões e Assuntos Metafísicos (1790) a filósofa inglesa dá à educação o importante papel de desenvolver as virtudes humanas através do entendimento dos princípios da razão natural.

Camila Kulkamp nos mostra ainda como, ao falar sobre educação, um dos temas centrais tratados por Macaulay em suas obras é a questão da igualdade entre homens e mulheres e a defesa de que ambos possuem as mesmas capacidades racionais as quais podem, e devem, ser desenvolvidas através da educação. 

Camila Kulkamp é doutoranda em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com área de concentração em Ética e Filosofia Política. É integrante do grupo de estudos Germina; e também do projeto “Uma filósofa por mês” — que tem por objetivo visibilizar a vida e as obras das filósofas, bem como realizar uma revisão feminista da história da filosofia. Integrante também do Grupo Christine de Pizan (UFPB). Quer saber mais sobre o pensamento de Catharine Macaulay? Então confira o verbete escrito por Camila Kulkamp aqui e acesse a entrevista com a autora aqui.

Catharine Macaulay

(1731?-1791)

Retrato: Jonathan Spilsbury, published by John Spilsbury, after Katharine Read
mezzotint, published September 1764. National Gallery of London

PDF – Catharine Macaulay

Por Camila Kulkamp – Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina, integrante do projeto Uma Filósofa por Mês e do Grupo Christine de Pizan. Bolsista Capes – Lattes

Catharine Macaulay (1731?-1791), ou bem, Catharine Sawbridge, que é o seu nome de batismo, nasceu em Olantigh, no condado de Kent, localizado no sudeste da Inglaterra. A mãe de Macaulay faleceu quando ela ainda era criança, deixando-a aos cuidados do pai, com mais uma irmã e dois irmãos. Existe dúvida sobre o dia exato que Macaulay nasceu, algumas fontes afirmam que foi no dia vinte e três de março, outras no dia dois de abril de 1731, e Mary Hays (1803) afirma que foi no ano de 1733.

Macaulay veio de uma família abastada, teve uma educação doméstica na companhia de uma governanta e junto à vasta biblioteca do seu pai. Ela foi uma leitora voraz, aprendeu muito de forma autodidata, e chegou a dizer, na sua primeira obra publicada, que adorava as histórias que exibiam a liberdade em seu estado mais elevado. A sua educação teve foco em história Greco-romana e nos ideais republicanos, o que contribuiu mais tarde na sua vida para que fosse reconhecida como uma fervorosa defensora da liberdade.

Da infância de uma menina solitária e obstinada, pulamos para a fase adulta, quando, em 1760, com vinte e nove anos, Macaulay casou com um médico escocês chamado George Macaulay, que também trabalhou como tesoureiro no Hospital Brownlow Lying-in e colaborou com publicações na London Medical Society. George ficou viúvo em 1760 e no mesmo ano engatou em novo casamento com Catharine Macaulay, de quem era quinze anos mais velho. Richard Baron, ministro inglês, panfletário Whig e editor de livros, chegou a dizer que Catharine Macaulay, “apesar de letrada”, era uma esposa dedicada e afetuosa e que George era grande devoto de sua mulher (HILL, 1999).

O casal convivia com pessoas ilustres como o já citado Richard Baron, Samuel Johnson, Thomas Hollis e Elizabeth Montagu. Montagu foi uma escritora inglesa e patrona das artes, que ficou conhecida por fundar e liderar, junto com outras mulheres, a Blue Stockings Society [Sociedade das Meias Azuis], em 1750, um salão de discussão literária feminino, que também aceitava homens em suas reuniões e que estimulava o debate sobre a educação e a cooperação mútua entre homens e mulheres. Outro fato interessante é que Montagu era irmã de Sarah Scott, membra do Blue Stockings, escritora reconhecida pela obra A Description of Millenium Hall and the Country Adjacent [Uma descrição do Millenium Hall e do país adjacente] (1762) ou apenas Millenium Hall, uma utopia direcionada especialmente ao público feminino. Contudo, a amizade entre essas mulheres estava assentada em bases fracas, Montagu e Scott, em cartas, criticaram a ousadia de Macaulay em publicar a sua primeira obra e em casar-se pela segunda vez (HILL, 1992).

Macaulay teve dois irmãos e uma irmã. O irmão mais novo entrou para igreja, outra irmã teve um casamento com um homem de elite. Já o irmão mais velho, John Sawbrigde, foi um parlamentar inglês na Câmara dos Comuns entre 1768 e 1780, com quem Macaulay compartilhou muitas lutas políticas relacionadas ao partido Whig, de tendências liberais e republicanas, que fazia oposição ao partido conservador Tory. Macaulay também era próxima de vários dissidentes de tendência republicana da sua época e foi reconhecida como uma radicalista do século XVIII por, dentre outros motivos, defender reformas radicais no sistema político e eleitoral.

Macaulay e George Macaulay tiveram uma filha, Catharine Sophia, nascida em vinte e cinco de fevereiro de 1765, e permaneceram juntos por seis anos, até a morte de George, em 1766. Sabemos pelas cartas encontradas recentemente, em 1992, de Sophia e Macaulay, que as duas mantiveram um relacionamento afetuoso e próximo, e que Sophia sofreu bastante com as longas viagens e com o estado de saúde frágil de sua mãe, o que questiona rumores de que Macaulay foi uma mãe fria e negligente.

Sabe-se que a saúde de Macaulay já não estava tão boa em 1977. Cogita-se que ela já não apresentava boa saúde desde quando se mudou para Bath. Por este motivo, Macaulay decidiu viajar com a sua amiga Elizabeth Arnold para o sul da França, que era o destino mais recomendado pelos médicos da época, mas a filósofa acabou ficando em Paris, aproveitando a vida cultural da cidade e conhecendo ali Benjamin Franklin, Jacques Turgot, Madame Geoffrin e Madame du Boccage.

Aos quarenta e sete anos, Macaulay casou novamente, em 1778, com o irmão da sua amiga Elizabeth Arnold, William Graham, passando a morar em Leicester, na Inglaterra. Graham, mais novo que ela, era difamado por ser também irmão de um médico, Dr. James Graham, conhecido por prescrever remédios não convencionais e que, segundo Karen Green (2020), foram utilizados para o tratamento da saúde de Macaulay. A grande exposição dela nos meios intelectuais e políticos, aliada à má reputação do irmão do seu marido e o fato dele ter apenas vinte e um anos na data do casamento, fizeram com que Macaulay e Graham fossem objeto de fofoca. Macaulay passou a receber críticas públicas em jornais e comentários maliciosos em cartas. Ainda assim, o prestígio de Macaulay, para muitas pessoas, não foi abalado.

Com o seu segundo marido, Macaulay viajou para os Estados Unidos em 1784, visitando nove estados. Lá ela manteve grande e afetuosa amizade com a escritora política, poeta e historiadora Mercy Otis Warren (1728-1814), uma intelectual nascida em Massachusetts, que fez parte da liderança da Revolução Americana e que também criticou as políticas coloniais britânicas (cf. Davies, 2005). Posteriormente, em 1805, Warren publicou o livro History of the Rise, Progress and Termination of the American Revolution [História da ascensão, progresso e término da Revolução Americana] e passou a ser lembrada como a primeira mulher norte-americana a publicar um livro de não-ficção.

Durante a viagem, o casal também conheceu e se hospedou com George e Martha Washington, no edifício de Mount Vernon, em Virgínia. Existem registros de troca epistolar entre Macaulay e George Washington, desde 1786. No ano de 1789, ela o felicita por ser o primeiro presidente atuando sob a nova constituição. Em 1790, Washington responde a Macaulay, agradecendo a parabenização, e informando sobre a estabilização da situação política e o crescimento econômico do país. Macaulay respondeu Washington, revendo alguns posicionamentos sobre o melhor sistema político que havia defendido em obras anteriores.

Foram sessenta anos de uma vida intensa, que terminou em 22 de junho de 1791, na vila de Binfield, na região de Berkshire, na Inglaterra. Pouco se sabe sobre o falecimento dessa filósofa, que diziam ter uma saúde frágil, e que mesmo assim viajou por vários países e escreveu muitos livros, panfletos, tratados e cartas, apresentados nos tópicos a seguir.

Obras

Macaulay publicou o primeiro volume da sua primeira obra, intitulada A History of England from the Accession of James I to that of the Brunswick Line [A História da Inglaterra desde a adesão de Jaime I até a Linha Brunswick], em 1763. Os volumes dois, três, quatro e cinco foram publicados em 1765, 1767, 1768 e 1771, respectivamente. Durante o período entre a publicação dos volumes cinco e seis, Macaulay escreveu o volume um da obra A History of England from the Revolution to the Present Time [A História da Inglaterra desde a Revolução até os Tempos Atuais]. Entretanto, conforme a explicação de Hill (1992), a autora percebeu que não daria conta de ir além dos fatos históricos do ano de 1733. Por isso, voltou a publicar a sequência dos volumes da obra anterior, agora com um novo título, A History of England from the Accession of James I to the Revolution [A História da Inglaterra desde a adesão de Jaime I à Revolução]. Assim, os volumes seis e sete foram publicados dez anos depois, em 1781, e o volume oito em 1783. A publicação de mais de três mil e quinhentas páginas sobre quase todo o século XVII da história inglesa foi muito prestigiada pelo público e Macaulay ficou imediatamente famosa.

Esses volumes abarcam, principalmente, os fatos históricos e políticos ingleses entre 1603 e 1689, que perpassam o reinado de Jaime I, Carlos I, a Guerra Civil Inglesa com a luta dos Comuns contra o absolutismo, a ascensão e declínio do Lorde Protetor Oliver Cromwell, a instauração da República e as contínuas dissoluções do parlamento, o retorno da dinastia Stuart com Carlos II, a fuga de Jaime II para França e a formação da monarquia parlamentarista com a Declaração de Direitos (Bill of Rights) em 1689, limitando os poderes de Maria II e Guilherme de Orange.

Macaulay ainda escreveu, em 1778, A History of England from the Revolution to the Present Time in a Series of Letters to a Friend [A História da Inglaterra da Revolução ao tempo presente em uma série de cartas a um amigo], volume na forma de uma série de cartas destinadas ao Reverendo Thomas Wilson, onde buscou explicar os fatos históricos entre 1688 até 1733, em tom menos formal e conversacional. Sua intenção era popularizar esses importantes fatos da história inglesa.

Deve-se notar que o filósofo e historiador David Hume publicou entre 1754 e 1762 a obra História da Inglaterra, da invasão de Júlio César à Revolução de 1688, um best-seller da sua época, com seis volumes. George Macaulay chegou a enviar uma cópia da História escrita por sua esposa para Hume ler, com os seus cumprimentos. Diferente de Macaulay, Hume acreditava no convencionalismo da autoridade fundada nos costumes, algo considerado por Macaulay como insuficiente para assegurar a justiça e a liberdade de um povo. A História de Macaulay, ao menos os primeiros volumes, foram tomados como uma interpretação Whig que fazia uma contraposição ao que Macaulay considerava ser um argumento político conservador de Hume.

Durante esses anos de escrita e publicação dos volumes de História da Inglaterra, Macaulay publicou, em 1767, a obra Loose Remarks on Certain Positions to be found in Mr. Hobbes’s Philosophical Rudiments of Government and Society, with a Short Sketch of a Democratical Form of Government, In a Letter to Signor Paoli [Observações soltas sobre certas posições a serem encontradas nos Rudimentos filosóficos do governo e da Sociedade, do Sr. Hobbes, com um breve esboço de uma forma democrática de governo, em uma carta ao Signor Paoli].

Macaulay criticou o conservadorismo político de Thomas Hobbes e delineou os princípios de uma república democrática com um sistema bicameral formado pelos representantes do povo e pelo senado, com uma necessária rotação de representantes, para impedir a corrupção. Macaulay defendeu também uma lei agrária para impedir o acúmulo excessivo de propriedade privada e o crescimento da aristocracia rural, tendo em vista o problema da desigualdade econômica e política.

Em contraposição ao pensamento monárquico de Hobbes, Macaulay construiu uma “concepção mais moralizada da natureza da autoridade política” (GREEN, 2020) ao criticar a tese de Hobbes sobre a carência de sociabilidade da natureza humana e da necessidade de uma monarquia absolutista. Segundo a filósofa, os seres humanos são aptos para viver em sociedade, pois possuem a capacidade de desenvolver a razão e conhecer as verdades morais imutáveis. Os seres humanos não nascem sabendo utilizar a razão, mas nascem com os meios necessários para desenvolvê-la através da educação. A potencialidade em desenvolver a razão é o que sustenta a sociabilidade humana e a autoridade política justa.

Ademais, dentre outras reflexões, Macaulay criticou o entendimento de Hobbes acerca do pacto contratual entre o povo e o monarca. A filósofa entende que um contrato é sempre um pacto entre duas partes, de forma igualmente vinculativa, e que não se pode cogitar a dissolução de uma das partes em benefício da outra parte ou, como Hobbes propõe, o poder absoluto do monarca sobre o povo. Macaulay argumenta que, quando uma parte do contrato, o povo, dissolve-se, então a sua obrigação é nula para com o governante. Deste modo, o povo pode anular o contrato quando o governante não cumpre com as suas obrigações. Macaulay ainda expõe que um contrato não pode existir sem estabelecer as vontades dos contratantes; que um contrato com vontades supostas ou hipotéticas não é vinculativo e, por fim, que não é racional abrir mão do seu direito natural ao fazer um contrato sem propor vantagens a serem desfrutadas.

Em 1770 Macaulay publica Observations on a Pamphlet entitled “Thoughts on the Cause of the Present Discontents” [Observações sobre um panfleto intitulado “Pensamentos Sobre a Causa do Atual Descontentamento”], obra em que critica o panfleto político de autoria de Edmund Burke, publicado também em 1770. Burke se posicionara, neste panfleto, no sentido de que os partidos políticos, especialmente de tendência aristocrática, representam o meio mais efetivo para o parlamento exercer controle sobre o poder executivo. Macaulay, por sua vez, afirma que Burke escreve com grande eloquência, mas suas palavras carregam um veneno capaz de destruir toda virtude e entendimento político que ainda existe na nação inglesa, isso porque, de acordo com ela, a intenção de Burke é apoiar o partido aristocrático, fundado e apoiado sobre o princípio corrupto do auto interesse, impedindo as reformas necessárias para extinguir os vícios presentes no governo. Contra Burke, Macaulay entende ser necessário uma rotação maior dos representantes eleitos.

Ao comentar ironicamente sobre Observações de Macaulay em carta particular, Burke a chamou de “nossa virago republicana”. Virago é um termo utilizado, muitas vezes de forma pejorativa, para denominar uma mulher que tem a aparência ou o comportamento semelhante ao gênero masculino. Karen Green (2016) enxerga nesse título atribuído a Macaulay uma expressão das dificuldades que ela viria a enfrentar por ser mulher num meio intelectual masculino e excludente. É de se notar que, em outras cartas, Burke fez chacotas perversas sobre diversas mulheres intelectuais da sua época, como Mary Wollstonecraft.

Macaulay publicou, em 1774, A Modest Plea for the Property of Copyright [Um Apelo Modesto em prol da Propriedade de Direitos Autorais], uma obra pouco comentada na sua trajetória literária e que trata da proteção dos autores através da aplicação dos direitos autorais. Em 1775, escreveu An Address to the People of England, Scotland and Ireland on the Present Important Crisis of Affairs [Discurso ao Povo da Inglaterra, Escócia e Irlanda sobre a Atual e Importante Conjuntura de Crise], onde criticou a política de taxação inglesa sobre a colônia norte-americana e dois Atos aprovados pelo Parlamento Britânico: fechar o porto de Boston e mudar o governo de Quebec.

Perdidas todas as tentativas de reconciliação com a Grã-Bretanha, em 1776, ocorria a Revolução Americana com a independência das treze colônias, que se tornaram estados federados unidos pela sua primeira constituição política. Macaulay defendeu a independência americana para o público europeu e manteve contato epistolar com vários radicais norte-americanos, como Benjamin Franklin , Richard Henry Lee, Benjamin Rush, Samuel Adams, John e Abigail Adams.

Em 1783, publicou seu grande tratado filosófico, intitulado Treatise on the Immutability of Moral Truth [Tratado sobre a Imutabilidade da Verdade Moral], o qual abordarei no próximo tópico. Em 1790, Macaulay publicou seu grande livro sobre a educação de meninas e meninos, The Letters on Education with Observations on Religions and Metaphysical Subjects [As Cartas sobre Educação com Observações sobre Religiões e Assuntos Metafísicos], que também abordarei mais adiante.

Quando, em 1790, Burke publicou Reflexões sobre a Revolução na França, Macaulay respondeu, no mesmo ano, com Observations on the Reflections of The Right Hon. Edmund Burke on the Revolution in France [Observações sobre as Reflexões do Exmo. Edmund Burke sobre a Revolução na França]. Nessa obra, Macaulay defendeu a legitimidade da Revolução Francesa e da Assembleia Nacional, além de criticar novamente aspectos conservadores da filosofia de Burke e Hobbes. Assim escreveu Macaulay: “(…) é a sabedoria, e não a loucura da Assembleia Nacional, que ofende os seus inimigos; e força até mesmo o Sr. Burke a contradizer, neste caso, a regra que ele estabeleceu” (MACAULAY, 1790, p. 8). A regra de Burke da qual Macaulay fala é de que os monarcas não devem ser depostos em razão da má-conduta, mas somente quando a sua conduta for tão criminosa que coloque em risco a segurança do povo.

A preferência e admiração de Macaulay, ao longo dos anos, foi mudando do sistema de governo estadunidense para o francês, apesar de pontuar que a experiência política estadunidense representa um exemplo sem paralelo para a história da humanidade. Ademais, por causa do seu frágil estado de saúde, cogita-se que Macaulay tenha desistido de fazer uma edição norte-americana da sua História da Inglaterra, e também de escrever um livro sobre a Revolução Americana.

O Tratado sobre a Imutabilidade da Verdade Moral

Em A Treatise on the Immutability of Moral Truth [O Tratado sobre a Imutabilidade da Verdade Moral] (1783), Macaulay apresenta uma defesa da sua complexa metafísica teológica contra as opiniões céticas, voluntaristas e os defensores da filosofia do livre-arbítrio que ganhavam cada vez mais apoio na sua época. Os principais pontos discutidos no livro versam sobre a liberdade humana, a questão do mal e a benevolência divina. Por se tratar de uma obra extensa, apresentarei somente a sua tese principal, qual seja, a defesa dos “princípios da razão natural” (MACAULAY, 1783, p. viii) ou verdades morais racionais, que podem ser descobertos através do uso da razão, sendo, portanto, independentes da vontade de Deus ou das volições humanas.

Macaulay define a sua doutrina como a “doutrina da necessidade moral” e se contrapõe ao voluntarismo, uma perspectiva em que a verdade moral é determinada pela vontade de Deus; ao subjetivismo, onde o que determina a vontade são, por exemplo, as paixões e os afetos; e ao ceticismo, que, no entender de Macaulay, é originado do conflito das faculdades humanas e do medo diante dos atributos morais da deidade. Os principais alvos da crítica de Macaulay são o Dr. William King, que escreveu uma teologia voluntarista em De origine mali [Um Ensaio sobre a Origem do Mal] (1702), e o Lorde Bolingbroke, com sua filosofia cética e deísta estabelecida em The Philosophical works of the late Right Honorable Henry St. John, Lord Viscount Bolingbroke [As Obras Filosóficas do Falecido Honorável Henry St. John, Lorde Visconde Bolingbroke] (1754). Macaulay não cita, mas aqui também poderíamos adicionar o subjetivismo da filosofia de David Hume e o egoísmo moral em Thomas Hobbes. O posicionamento teórico de Macaulay é caracterizado como intelectualista (GREEN, 2020), no sentido de que os atos de Deus, com a sua inteligência e bondade infinita, estão em conformidade com as verdades morais eternas, e os seres humanos, criaturas finitas e de inteligência limitada, aperfeiçoam-se moralmente quando escolhem agir conforme os princípios da razão natural, aproximando-se do comportamento e da inteligência divina.

É nesse sentido que a educação é importante para o desenvolvimento das virtudes humanas, pois é através do entendimento dos princípios da razão natural que podemos cultivar um comportamento virtuoso, o que traz benefícios não apenas para os indivíduos mas também para o coletivo. E o sistema político democrático defendido por Macaulay necessita de mecanismos que estimulem o povo a agir segundo as verdades morais imutáveis. A doutrina da necessidade moral fundamenta as bases epistemológica e metafísica da concepção educacional de Macaulay (O’BRIEN, 2009) e aparece na terceira parte da sua obra Cartas sobre Educação, onde ela discute o tipo de educação necessária para este cultivo, o que será melhor explicitado no tópico seguinte.

As Cartas sobre Educação

Em Letters on Education with Observations on Religions and Metaphysical Subjects [Cartas sobre Educação com Observações sobre Religiões e Assuntos Metafísicos] (1790), Macaulay escreve uma série de cartas ficcionais para uma mulher chamada Hortência, onde discute variados assuntos. O livro é divido em três partes. Na parte I, que contém vinte e cinco cartas, Macaulay discorre acerca dos cuidados maternais, amamentação, alimentação e lazer; os livros adequados para a leitura das crianças, dança, música, bordado e costura; a indução de hábitos de independência e força moral na infância; as necessárias qualidades de um tutor; da simpatia como fonte de toda virtude humana, etc. Macaulay também define algumas questões impróprias para a educação das crianças, como histórias de terror, a aplicação de punições violentas, a excessiva severidade na educação das crianças, a indulgência indiscriminada em relação aos erros, etc.

Na parte II, que contém treze cartas, Macaulay escreve sobre a educação doméstica e nacional; a experiência educacional dos antigos, como em Atenas, Esparta e Roma; o dever do governo na construção da civilização; e expõe sua opinião sobre as casas penais, casas de correção e sobre a caridade. Na parte III, com dezoito cartas, Macaulay retoma debates, já expostos em seu Tratado, sobre a liberdade, a origem do mal e os atributos morais de Deus.

Retomo a primeira parte da obra, onde Macaulay explica que a cultura do ser artificial, que ela chama de “homem social”, é muito complexa, pois existem muitos fins importantes a serem perseguidos e males a serem evitados. O “homem social” pode ser moldado pela educação, pois os vícios e virtudes não são atributos da natureza, mas construções sociais. Os seres humanos, enquanto seres finitos em sua inteligência, mesmo podendo desenvolver a razão e os poderes da imaginação, ainda produzem misérias no mundo, até mesmo para os animais de outras espécies. Entretanto, Macaulay entende que essa não é uma consequência necessária e que a produção do mal ocorre por causas incidentais. Por isso, é necessário cultivar a educação e a excelência das faculdades humanas para assegurar a busca da felicidade.

Os princípios e regras sobre a educação de Macaulay são fundados nas suas observações metafísicas. Para remediar erros e irregularidades que surgem de um sistema ético mal embasado, a moral deve ser ensinada com base nos princípios racionais imutáveis. Na terceira parte da obra, Macaulay levanta a discussão já apresentada no seu Tratado e defende a necessidade do ensino dos princípios imutáveis:

“Para tirar do sentimento público uma lição que deixa uma marca profunda no caráter humano, e para corrigir quaisquer irregularidades e até enormidades que surgem de sistemas incorretos da ética, devemos ter o primeiro cuidado de ensinar a virtude sobre princípios imutáveis, e evitar a confusão que deve surgir ao confundir as leis e os costumes da sociedade com as obrigações baseadas nos princípios corretos da equidade” (MACAULAY, 1790, p. 200-201).

Um sistema educacional fundado em um sistema ético guiado por princípios racionais imutáveis impede irregularidades que derivam da falta de conexão entre todas as noções de certo e errado. Nesse sentido, Macaulay também faz uma defesa da educação pública, que ela considera que, quando bem planejada, pode evitar o aumento dos crimes, expandir a boa moral e gerar vantagens políticas para a felicidade pública e privada.

Os opositores da educação pública afirmavam que se tratava de um dano à liberdade, uma medida autoritária que feria o direito inalienável e natural da autoridade parental sobre o desenvolvimento dos seus filhos(as). Macaulay entende que é um absurdo opor um direito natural a qualquer medida política que seja para aumentar a felicidade de uma sociedade, como o combate à corrupção e o espírito pequeno que permeiam os governos. Apesar de fazer essa defesa e de afirmar que o dever mais importante de um governo é garantir a educação, Macaulay temia que nenhum governo fosse confiável no sentido de garantir esse tipo de sistema público educacional, sustentado por impostos cobrados de acordo com a posição social de cada cidadão. E por causa disso, de forma ambígua, a filósofa considera que a educação doméstica e parental, com responsabilidade e dedicação, seria a melhor via para o desenvolvimento das crianças.

Macaulay continua a obra fazendo uma defesa da racionalidade e da educação das mulheres, com base no argumento de que não cabe falar sobre vícios e virtudes exclusivos do sexo masculino. Existe apenas uma regra de direito para a conduta dos seres racionais, mulheres e homens, formados do mesmo material, organizados da mesma maneira e sujeitos a leis da natureza similares. A verdadeira sabedoria pode ser alcançada por ambos, pois ela leva ao caminho da felicidade, que nunca pode ser atingido através da ignorância. Ainda, Macaulay entende que o desfrute da vida vindoura depende do nível de aprimoramento das virtudes que tivemos neste mundo, e isso não pode ser exclusividade dos homens. Mulheres também devem ter a oportunidade de aperfeiçoar a sua sabedoria e desfrutar desse estado futuro de recompensas e punições.

Segundo Macaulay, todos os vícios e imperfeições que dizem ser inerentes ao sexo feminino, não são de nenhuma maneira derivados de causas sexuais, mas da educação e da situação. Tal posição aparece, por exemplo, na famosa obra Letters to his son [Cartas para seu Filho], do Lorde Chesterfield (1694-1773), que afirma que as mulheres são apenas crianças, mas com uma estatura maior, e que nunca conheceu uma mulher que conseguisse raciocinar por vinte e quatro horas seguidas. Sobre os estudos acerca da educação na sua época, Macaulay afirma que existem muitos preconceitos frívolos em relação à educação das mulheres, mesmo sabendo que não há uma educação que não tenha ajudado a aperfeiçoar o ser humano, eliminando da mente o erro e aumentando a utilidade do conhecimento adquirido. Ela nota que muitas pessoas acompanham um argumento até certo ponto, para não ferir o embasamento dos seus preconceitos.

Entre os defensores exaustivos da diferença sexual, Macaulay cita Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que no Emílio (1762) afirma que a mulher foi feita especialmente para agradar e ser subjugada pelo homem, com base na lei da natureza, Que o sexo feminino, consequentemente, tem um intelecto inferior ao masculino, e que a Natureza, tentando equalizar as diferenças, deu às mulheres graças atrativas e insinuativas. Macaulay critica Rousseau no sentido de que ele contraditoriamente defende a ideia de uma “Natureza confusa”, uma Natureza que define características superiores ao sexo masculino, mas que retrocede em suas intenções ao sujeitar o sexo masculino a uma influência feminina que gera caos e desordem no mundo. No entender de Macaulay, para remediar essa objeção, Rousseau criou uma pessoa moral da união dos sexos, o que seria uma contradição, na medida em que é o orgulho e a sensualidade, e não a razão, que fundamentam a perspectiva de Rousseau, transformando o gênio masculino em um licencioso pedante. Afinal, qual seria a racionalidade e o propósito da sabedoria divina ao criar algo confuso assim?

Macaulay denuncia a situação da educação das mulheres da sua época, que lhes fazia tender à corrupção e à debilidade dos poderes da mente e do corpo. Se os princípios e a natureza da virtude são mal ensinados aos meninos, para as meninas, são apenas longínquos mistérios. Todos os ensinamentos que enobrecem o ser não são apresentados às mulheres. Ao contrário, uma falsa noção de beleza e delicadeza, mais os vícios da vaidade, inveja, aliados à ignorância, formam os elementos prezados na educação das mulheres. De acordo com Karen Green, “embora a retórica feminista não fosse central em suas histórias e panfletos anteriores, ela estava totalmente convencida de que a sujeição das mulheres aos homens não era compatível com os princípios racionais da justiça” (GREEN, 2020).

Mary Wollstonecraft (1759-1797), filósofa inglesa, leu e foi influenciada pela obra de Macaulay. Em seu livro Reivindicação dos Direitos da Mulher (2016), publicado originalmente em 1792, Wollstonecraft cita Macaulay, com as seguintes palavras:

“A palavra ‘respeito’ traz a sra. Macaulay a minha lembrança. Sem dúvida, uma das mais talentosas mulheres que este país já apresentou; e, no entanto, morreu sem que se prestasse o devido respeito a sua memória. A posteridade, contudo, será mais justa e lembrará que Catharine Macaulay foi um exemplo de qualidades intelectuais que se supunham incompatíveis com a fragilidade de seu sexo” (WOLLSTONECRAFT, 2016, p. 138).

Mesmo sabendo que Wollstonecraft admirava esta obra de Macaulay, até recentemente não haviam evidências de que Macaulay e Wollstonecraft se conheceram. Bridget Hill (1995), no entanto, apresenta cartas, recentemente encontradas, e que foram trocadas entre as duas filósofas, apenas seis meses antes do falecimento de Macaulay. Wollstonecraft escreveu para Macaulay para enviar a segunda edição da sua obra, Reivindicação dos Direitos dos Homens, em uma Carta para o muito Honorável Edmund Burke; ocasionada por suas Reflexões sobre a Revolução Francesa (1790), bem como para prestar sua grande admiração pela filósofa.

Em todos esses sentidos, Macaulay foi e continua sendo uma filósofa para não ser esquecida. Que ouçamos Mary Wollstonecraft, duzentos e trinta anos depois, e façamos justiça à obra de Catharine Macaulay.

Referências

 

DAVIES, Kate (2005). Catharine Macaulay and Mercy Otis Warren, Oxford: Oxford University Press.

DONNELLY, Lucy Martin (1949). “The Celebrated Mrs Macaulay,” William and Mary Quarterly, 6 (2): 172–207.

GREEN, Karen (2015). A Moral Philosophy of Their Own? The Moral and Political Thought of Eighteenth-Century British Women. TheMonist, 98, 89-101.

GREEN, Karen (2012). When is a contract theorist not a contract theorist? Mary Astell and Catherine Macaulay as critics of Thomas Hobbes. In: Feminist interpretations of Thomas Hobbes. –Pennsylvania State University. 

GREEN, Karen (2016). Reassessing the Impact of the “Republican Virago”. Redescriptions, Vol. 19, Nº. 1

GREEN, Karen (2020). Catharine Macaulay, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2020 Edition), Edward N. Zalta (ed.). Disponível em: < https://plato.stanford.edu/archives/sum2020/entries/catharine-macaulay/>.

GREEN, Karen; WEEKES, Shannon (2013). Catharine Macaulay on the Will, History of European Ideas, 39:3, 409-425.

HAYS, Mary (1803). Female Biography, or, Memoirs of illustrious and celebrated women, of all ages and countries: alphabetically arranged. Philadelphia: Printed for Birch and Small, 1803. Disponível em: < https://archive.org/details/femalebiography04haysgoog/page/166/mode/2up>.

HILL, Bridget (1992). The Republican Virago: The Life and Times of Catharine Macaulay, Historian. Oxford: Clarendon Press.

HILL, Bridget (1995). The links between Mary Wollstonecraft and Catharine Macaulay: new evidence, Women’s History Review, 4:2, 177-192

HILL, Bridget (1999). Daughter and Mother; some new light on Catharine Macaulay and her family. British journal for eighteenth-century, studies 22, p.35-49.

LOOSER, Devoney (2010). Catharine Macaulay : The ‘Female Historian’ in Context. Études Épistémè [En ligne], 17 | 2010, mis en ligne le 01 avril 2010, consulté le 04 février 2022. Disponível em: <http://journals.openedition.org/episteme/666 ; DOI : https://doi.org/10.4000/episteme.666>.

MACAULAY, Catharine (1767). Loose Remarks on certain positions to be found in Mr Hobbes’s “Philosophical rudiments of government and society,” with a short sketch of a democratical form of government, In a letter to Signor Paoli, London: T. Davies, in Russell-street, Covent Garden; Robinson and Roberts, in Pater-noster Row; and T. Cadell, in the Strand.

MACAULAY, Catharine (1770). Observations on a Pamphlet entitled “Thoughts on the Cause of the Present Discontents”, 4th edition, London: Printed for Edward and Charles Dilly.

MACAULAY, Catharine (1775). Address to the People of England, Scotland, and Ireland on the Present Important Crisis of Affairs, London: Dilly.

MACAULAY, Catharine (1783). A Treatise on the Immutability of Moral Truth, London: A. Hamilton.

MACAULAY, Catharine (1790). Observations on the Reflections of the Right Hon. Edmund Burke, on the Revolution in France, in a Letter for the Right Hon. The Earl of Stanhope, London: C. Dilly.

MACAULAY, Catharine (1790). Letters on Education. With observations on religious and metaphysical subjects, London: C. Dilly.

MCDONALD, Lynn (1998). Women theorists in Society and politics. Wilfrid Laurier University Press.

O’BRIEN, Karen (2009). Women and Enlightenment in Eighteenth-Century Britain, Cambridge: Cambridge University Press.

REUTER, Martina (2007). “Catharine Macaulay and Mary Wollstonecraft on the Will,” in Virtue, Liberty and Toleration. Political Ideas of European Women 1400–1800, J. Broad and K. Green (eds.), Dordrecht: Springer, pp.149–169.

“To George Washington from Catharine Sawbridge Macaulay Graham, June 1790,” Founders Online, National Archives, Disponível em: <https://founders.archives.gov/documents/Washington/05-05-02-0380>.

WOLLSTONECRAFT, Mary (2016). Reivindicação dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo.

Obras de Catharine Macaulay

MACAULAY, Catharine (1763–83). The history of England from the accession of James 1. to that of the Brunswick line, 8 volumes, London: Printed for the author and sold by J. Nourse, J. Dodsley and W. Johnston. (Volumes 5–8 are titled The history of England from the accession of James 1. to the Revolution, London: C Dilly.)

MACAULAY, Catharine (1767). Loose Remarks on certain positions to be found in Mr Hobbes’s “Philosophical rudiments of government and society,” with a short sketch of a democratical form of government, In a letter to Signor Paoli, London: T. Davies, in Russell-street, Covent Garden; Robinson and Roberts, in Pater-noster Row; and T. Cadell, in the Strand.

MACAULAY, Catharine (1769). Loose Remarks on certain positions to be found in Mr Hobbes’ Philosophical Rudiments of Government and society with a short sketch of a democratical form of government in a letter to Signor Paoli by Catharine Macaulay. The Second edition with two letters one from an American Gentleman to the author which contains some comments on her sketch of the democratical form of government and the author’s answer, London: W. Johnson, T. Davies, E. and C. Dilly, J. Almon, Robinson and Roberts, T. Cadell.

MACAULAY, Catharine (1770). Observations on a Pamphlet entitled “Thoughts on the Cause of the Present Discontents”, 4th edition, London: Printed for Edward and Charles Dilly.

MACAULAY, Catharine (1774). A Modest Plea for the Property of Copy Right, Bath: R. Cruttwell.

MACAULAY, Catharine (1775). Address to the People of England, Scotland, and Ireland on the Present Important Crisis of Affairs, London: Dilly.

MACAULAY, Catharine (1778). History of England from the Revolution to the Present Time in a Series of Letters to a Friend, Bath: R. Cruttwell.

MACAULAY, Catharine (1783). A Treatise on the Immutability of Moral Truth, London: A. Hamilton.

MACAULAY, Catharine (1790). Observations on the Reflections of the Right Hon. Edmund Burke, on the Revolution in France, in a Letter for the Right Hon. The Earl of Stanhope, London: C. Dilly.

MACAULAY, Catharine (1790). Letters on Education. With observations on religious and metaphysical subjects, London: C. Dilly.

Literatura Secundária

BECKWITH, Mildred Chaffee (1953). ‘Catharine Macaulay: Eighteenth-Century Rebel’, Ph.D. Diss. (Ohio State University).

BOOS, Florence (1976). “Catharine Macaulay’s Letters on Education (1790): An early feminist polemic,” University of Michigan Papers in Women’s Studies, 2 (2): 64–78.

BOOS, Florence, and William Boos (1980). “Catharine Macaulay: Historian and political reformer,” International Journal of Women’s Studies, 3 (6): 49–65.

COFFEE, Alan (2019). “Catharine Macaulay,” in The Wollstonecraftian Mind, Sandrine Bergès, Eileen Hunt Botting, and Alan Coffee (eds.) London: Routledge, pp.198–210.

DAVIES, Kate (2005). Catharine Macaulay and Mercy Otis Warren: The Revolutionary Atlantic and the Politics of Gender. Oxford and New York: Oxford University Press, 2005.

DONNELLY, Lucy-Martin (1949). ‘The Celebrated Mrs Macaulay’, William and Mary Quarterly, 6, 172–207;

EGER, Elizabeth; PELTZ, Lucy (2008). Brilliant Women: 18th-Century Bluestockings, London: National Portrait Gallery.

FOX, Claire Gilbride (1968). Catharine Macaulay, an eighteenth-century Clio. Winterthur Portfolio 4: 129-42.

GARDNER, Catherine (1998). “Catharine Macaulay’s Letters on Education: Odd but Equal,” Hypatia, 13 (1): 118–137.

GARDNER, Catherine (2000). “Catharine Macaulay’s Letters on Education: What Constitutes a Philosophical System,” in Rediscovering Women Philosophers: Philosophical Genre and the Boundaries of Philosophy, Boulder, Colorado: Westview Press, pp.17–46.

GEIGER, Marianne B. (1986). Mercy Otis Warren and Catharine Macaulay: Historians in the Transatlantic Republican Tradition, Ph.D. Dissertation, New York University.

GREEN, Karen (2011). Will the real Enlightenment historian please stand up? Catharine Macaulay versus David Hume. In Hume and the Enlightenment edited by Stephen Buckle and Craig Taylor. London: Pickering & Chatto, 29–51.

GREEN, Karen (2012a). Liberty and Virtue in Catharine Macaulay’s Enlightenment Philosophy. Intellectual History Review, 22:3, 411–26.

GREEN, Karen (2012b). When is a Contract Theorist not a Contract Theorist? Mary Astell and Catharine Macaulay as Critics of Thomas Hobbes. In Feminist Interpretations of Thomas Hobbes, edited by Nancy Hirschmann and Joanne Wright. State Park: Pennsylvania State University Press, 169–89.

GREEN, Karen (2014). A History of Women’s Political Thought in Europe, 1700–1800. Cambridge: Cambridge University Press.

GREEN, Karen (2015). A Moral Philosophy of their Own? The Moral and Political Thought of Eighteenth-Century British Women. The Monist, 98:1, 89–101.

GREEN, Karen (2017). “Locke, Enlightenment, and Liberty in the Works of Catharine Macaulay and her Contemporaries.” In Women and Liberty, 1600–1800, edited by Jacqueline Broad, and Karen Detlefsen, 82–94. Oxford: Oxford University Press.

GREEN, Karen (2018). “Catharine Macaulay as Critic of Hume.” In Rethinking the Enlightenment, edited by Martin Lloyd, and Geoff Bowden, 113–130. Lanham, M.A: Lexington Books.

GREEN, Karen (2018). “Catharine Macaulay’s Enlightenment Faith and Radical Politics.” History of European Ideas 44: 35–48.

GREEN, Karen (2019). The Correspondence of Catharine Macaulay. Oxford New Histories of Philosophy. New York: Oxford University Press.

GREEN, Karen. (2021) Catharine Macaulay and the concept of “radical enlightenment”, Intellectual History Review, 31:1, 165-180.

GREEN, Karen, and Shanon Weekes (2013). Catharine Macaulay on the will. European History of Ideas, 39:3, 409–25.

GUNTHER-CANADA (2003), “Cultivating Virtue: Catharine Macaulay and Mary Wollstonecraft on Civic Education,” Women and Politics, 25(3): 47–70.

GUNTHER-CANADA (2006), “Catharine Macaulay on the Paradox of Paternal Authority in Hobbesian Politics,” Hypatia, 21(2): 150–173.

GUNTHER-CANADA, Wendy (1998), “The Politics of Sense and Sensibility: Mary Wollstonecraft and Catherine Macaulay Graham on Edmund Burke’s Reflections on the Revolution in France,” in Women Writers and the Early Modern Political Tradition, H. Smith (ed.), Cambridge: Cambridge University Press, pp.126–147.

HAY, Carla H (1994). “Catharine Macaulay and the American Revolution.” The Historian 56, no. 2: 301–16.

HICKS, Philip (2002). “Catharine Macaulay’s Civil War: Gender, History, and Republicanism in Georgian Britain.” Journal of British Studies 41, no. 2: 170–98.

HILL, Bridget (1999). ‘Daughter and Mother: Some New Light on Catharine Macaulay and her Family’, British Journal for Eighteenth-Century Studies, 22, 35–49.

HILL, Bridget (1992). The Republican Virago: The Life and Times of Catharine Macaulay, Historian, Oxford: Clarendon Press.

HILL, Bridget (1995). “The Links between Mary Wollstonecraft and Catharine Macaulay: new evidence,” Women’s History Review, 4 (2): 177–92.

HILL, Bridget; HILL, Christopher (1967). “Catharine Macaulay and the Seventeenth Century,” The Welsh History Review, 3: 381–402.

HILTON, Mary (2007). Women and the Shaping of the Nation’s Young: Education and Public Doctrine in Britain 1750–1850. Aldershot: Ashgate.

HUTTON, Sarah (2005). “Liberty, Equality and God: The Religious Roots of Catharine Macaulay’s Feminism,” in Women, Gender and Enlightenment, S. Knott and B. Taylor (eds.), Basingstoke: Palgrave Macmillan, pp.538–550.

HUTTON, Sarah (2007). “Virtue, God and Stoicism in the thought of Elizabeth Carter and Catharine Macaulay,” in Virtue, Liberty and Toleration: Political Ideas of European Women 1400–1800, J. Broad and K. Green (eds.), Dordrecht: Springer, pp.137–148.

HUTTON, Sarah (2009). “The Persona of the Woman Philosopher in Eighteenth-Century England: Catharine Macaulay, Mary Hays, and Elizabeth Hamilton,” Intellectual History Review, 18 (3): 403–12.

LETZRING, Monica (1976). “Sarah Prince Gill and the John Adams-Catharine Macaulay Correspondence,” Proceedings of the Massachusetts Historical Society, 88: 107–111.

LOOSER, Devoney (2003). “‘Those Historical Laurels which Once Graced My Brow are Now in The Wane’: Catharine Macaulay’s Last Years and Legacy.” Studies in Romanticism 42, no.  2: 203-225.

O’BRIEN, Karen (2009). “Catharine Macaulay’s Histories of England: Liberty, Civilisation and the Female Historian.” Chapter. In Women and Enlightenment in Eighteenth-Century Britain, 152–72. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. doi:10.1017/CBO9780511576317.005.

POCOCK, J. G. A. (1998). “Catharine Macaulay: patriot historian,” in Women writers and the early modern British political tradition, H. Smith (ed.), Cambridge: Cambridge University Press, pp.243–258.

RODRIGUES, Ana Patrícia (2007). O despertar da consciência cívica feminina: identidades e valores femininos na literatura proto-feminista do século XVIII. Revista Interacções, Nº. 5, PP. 46-59.

SCHNORRENBERG, Barbara B. (1979). “The Brood-hen of Faction: Mrs. Macaulay and Radical Politics, 1765–75,” Albion, 11: 33–45.

SCHNORRENBERG, Barbara B. (1990). “An Opportunity Missed: Catherine Macaulay on the Revolution of 1688,” Studies in Eighteenth-Century Culture, 20: 231–40.

STAVES, Susan (1989). “‘The Liberty of a She-Subject of England’: Rights Rhetoric and the Female Thucydides.” Cardozo Studies in Law and Literature 1, no. 2: 161–83.

WARREN, Mercy Otis (2009). Mercy Otis Warren: Selected Letters. Edited by Jeffrey H. Richards and Sharon M. Harris. Athens: the University of Georgia Press.

WISEMAN, Susan (2001). “Catharine Macaulay: history, republicanism and the public sphere,” in Women, Writing and the Public Sphere, 1700–1830, E. Eger, C. Grant, C. Ó Gallchoir and P. Warburton (eds.), Cambridge: Cambridge University Press,pp/181–199.

WITHEY, Lynne E. (1976). “Catharine Macaulay and the Uses of History: Ancient Rights, Perfectionism, and Propaganda, Journal of British Studies.