Francisca Josefa de la Concepción de Castillo y Guevara

Nosso verbete desta semana, escrito por Ángela Inés Robledo e traduzido por Carolina Araújo, está imperdível e é sobre Francisca Josefa de la Concepción de Castillo y Guevara. Também conhecida como Madre Castillo, ela foi uma freira que nasceu em Tunja, então Nova Granada, e cresceu sendo incentivada por sua mãe a ler obras piedosas. Durante sua vida escreveu diversos textos, entre eles composições em prosa, poemas, contos e autobiografia. No entanto apenas duas de suas obras foram publicadas: Su vida y Afectos espirituales (Sua vida e Afetos espirituais), onde, inspirada nas histórias sobre a vida dos santos, ela trata, dentre outros temas, de sua vocação para chegar a Deus. E também Afectos o Sentimientos espirituales (Afetos ou Sentimentos espirituais), uma coleção de reflexões sobre a vida religiosa e dos santos. As duas obras tratam a respeito das experiências religiosas e de vida vivenciadas por Castillo, e ambas foram publicadas apenas postumamente. 

Ángela Inés Robledo é professora associada e pesquisadora do departamento de Literatura da Universidade Nacional da Colômbia. Desenvolveu pesquisas em literatura colonial, literatura e produção feminina na Colômbia e estudos de gênero na literatura latino-americana.

Quer saber mais sobre o pensamento de Castillo? Então leia o verbete aqui e acesse a entrevista com a autora aqui.

Francisca Josefa de la Concepción de Castillo y Guevara

(1671 – 1742)

por Ángela Inés Robledo

Universidade Nacional da Colombia – Orcid

PDF – Madre Castillo

Informação biográfica

Pintura de autor anônimo do século XIX representando Madre Castillo

Francisca Josefa de la Concepción de Castillo y Guevara nasceu em 6 de outubro de 1671 em Tunja, Nueva Granada. Também conhecida como Madre Castillo, foi uma freira clarissa que ocupou os cargos de abadessa, mestra de noviças e zeladora do Convento de Santa Clara la Real em sua cidade. Pertencia a uma família muito importante da cidade de Tunja, próxima às missões jesuíticas. Seu pai, o jurista Francisco Ventura de Castillo y Toledo, era natural de Illescas, em Castilla la Nueva, foi corregedor e prefeito de Tunja; sua mãe María Guevara Niño y Rojas, natural de Tunja, era de ascendência basca. Sua mãe a ensinou a ler e desde pequena lia muitas obras piedosas, entre as quais a vida de santos como Santa Rosa de Lima, Teresa de Ávila, Catarina de Siena e Brígida da Suécia. Madre Castillo faleceu em 7 de agosto de 1742 em Tunja, Nueva Granada.

Obras

A pedido de seus confessores, Madre Castillo escreveu sua autobiografia espiritual, intitulada Su vida y Afectos espirituales [Sua vida e Afetos espirituais]. A autobiografia foi publicada pela primeira vez na Filadélfia, na imprensa de T.H. Palmer, em 1817, ao passo que a edição de referência de Afectos o Sentimientos espirituales [Afetos ou Sentimentos espirituais] foi realizada em Bogotá por Bruno Espinosa. A primeira é o relato, inspirado nas hagiografias, de seu cotidiano e de sua vocação para chegar a Deus, tema que ela narra com as imagens e metáforas do discurso místico que lhe permitem mergulhar em si mesma, em sua vida interior. O segundo livro é uma compilação de reflexões sobre a mística e a vida dos santos através de paráfrases e ampliações de vários livros sagrados e de uma linguagem poética e barroca típica da literatura conventual do século XVIII. Além dessas duas obras, que foram publicadas, ela escreveu 196 composições em prosa, alguns poemas, outros contos e o chamado “Cuaderno de Enciso” [Caderno Enciso] , que era um livro de contabilidade de seu cunhado no qual ela fez anotações.

Temas e conceitos da obra de Madre Castillo

  1. Mística

A “noite escura da alma” ou “caminho purgativo”, o “caminho iluminador” e a “via unificadora ” ou “casamento místico” são as etapas ou jornadas que o espírito humano passa na experiência mística. Eles equivalem a experiências de insignificância e vivências de despertar que culminam em estabilização e autocontrole. O primeiro passo desse movimento é o reconhecimento da falta de forma e de sentido e, às vezes, do ódio e do desprezo por si mesma. Madre Castillo se sente “pobre, sozinha, desprezada e triste” (1942, p. 44). Outras vezes ela se vê como uma mulher desprezível, como nada diante da imensidão de Deus: “Eu vi Nosso Senhor em sonhos como quando Ele andava no mundo, mas nenhuma criatura humana será capaz de descrever como era Sua beleza e graça ao vestir uma roupa pobre e humilde, nem aquele olhar amoroso e gentil, nem a beleza e a suavidade de seus olhos, que ele pousava em mim ao caminhar por todo o claustro, sem tirar os olhos de sua pobre escrava, vil e desprezível” (1942, p. 45). Nesse caminho de sofrimento, Francisca sente terror e é tentada de várias maneiras: “Padecia também de outra tentação, que era um contínuo e grande medo e pavor de tudo, mesmo das coisas muito pequenas; embora, dita assim, pode não parecer nada, quando se sofre dela é muito, porque é um contínuo morrer e estremecer; como os presos por grandes crimes que, a cada pequeno barulho, têm a impressão de que a cadeia se abre para notificá-los da sentença de morte” (1942, p. 154). Francisca também sofre de muitas doenças e martiriza seu corpo para apagar os pecados do mundo: realiza muitas ações disciplinatórias com vários instrumentos, chegando a derramar muito sangue. Andava carregada de cilícios e correntes de ferro que formavam sulcos profundos em sua pele, sobre os quais a carne crescia. Ela dormia vestida, ou em pranchas.

Francisca Josefa continua seu caminho em direção a Deus e narra os contatos da alma com o sobrenatural: visões, representações, locuções, intelecções. Ela descreve a conversa com sua irmã morta, a aparição de São Francisco Xavier, premonições, virgens com crianças nos braços, imagens de Cristo crucificado e momentos de tranquilidade que lhe indicam que ela está se aproximando de seu objeto de amor.

Finalmente, a freira Clarissa se funde com a divindade, chega ao “casamento místico” ou “via unificadora”. Francisca descreve este encontro de amor em que intui Deus, aniquila a sua alma e se une ao Todo: “É um dia de oração, senti que minha alma se desfazia e queimava, e então parecia sentir ao meu lado uma pessoa muito gentil, toda vestida de branco, cujo rosto eu não via; mas ela, lançando os braços sobre meus ombros, carregava ali um peso que, embora grande, era tão doce, tão suave, tão forte, tão sereno, que a alma só queria morrer e acabar nela e com ela: mas não podia fazer nada além de receber e queimar em si.” (1942, p. 65).

Sua jornada de amor para si mesma chega ao seu ápice e ela se aproxima do mistério. As fronteiras entre o exterior e o interior tornam-se indistintas: “A minha alma caminhava como uma pluma leve, que é levada pelo vento suave. Assim me parecia que eu não tinha parte alguma em mim mesma, mas que caminhava como se não tivesse alma, que minha alma havia entrado em seu Deus e que era governada por outro impulso, suave, doce, amoroso e eficaz. Tudo o que via e ouvia era Deus, era o Bem Supremo; e era um bem acima de todo sentido e conhecimento. Nada que fosse externo me impedia; ao contrário, tudo era como sopros que faziam aquela chama arder, e ardia ainda mais com tudo isso que era desprezo e humilhação a mim própria.” (1942, p. 123).

Madre Castillo alcançou o conhecimento do todo e do mistério que supera qualquer outro conhecimento.

  1. Autobiografia 

As duas obras de Madre Castillo têm características autobiográficas. Nelas observam-se os traços de um sujeito feminino em formação, condicionado pelas imposições da contrarreforma.

Considerações críticas sobre a obra de Madre Castillo

Francisca Josefa de Castillo y Guevara tem chamado a atenção da crítica literária desde meados do século XIX. Pensou-se que ela era uma “rara avis” que havia escrito textos fascinantes, redigidos à maneira dos grandes autores da Idade de Ouro espanhola, na circunstância da solidão de uma cela conventual, fora de todos os circuitos culturais. Para estes intérpretes, sua obra era apenas religiosa. Mais tarde, as obras de Madre Castillo foram associadas ao projeto de construção da nação, pois promoviam a imagem da mulher e da cidadã desejável para a república, além de dotar a nova república de uma escritora que lhe conferiria identidade. Por volta das décadas de 70 e 80 do século XX, surgiram teorias literárias feministas que permitiram interpretar a produção das freiras como resultado de políticas contrarreformistas, com seu retorno à ortodoxia católica e à exacerbação do controle do corpo feminino e, ao mesmo tempo, como o lugar em que se expressam as nascentes subjetividades femininas. Isso aumentou o interesse acadêmico por esta autora, de modo que várias novas edições de suas obras surgiram, várias teses e inúmeros artigos foram escritos. No século XXI, Madre Castillo continua a cativar: sua vida foi tema de uma série de televisão, “Na luz da minha escuridão“, suas experiências religiosas foram reunidas em um documentário, em quatro capítulos, e há um vídeo com seus poemas musicados. O documentário e o vídeo se concentram em demonstrar a santidade de Madre Castillo.

Bibliografia primária de Madre Castillo

Castillo, F. J. C. (1956). Afectos espirituales de la venerable Madre y observante religiosa Francisca Josefa de la Concepción… según primera copia hecha por Don Antonio María de Castillo y Alarcón en Santafé de Bogotá, año de 1896, Bogotá: Ministerio de Educación Naciona, Ediciones de la Revista Bolívar, Editorial ABC (Biblioteca de Autores Colombianos; pp. 104-105). 

____________. (1942). Afectos espirituales. 2 vols Bogotá: Ministerio de Educación Nacional de Colombia, Editorial ABC (Biblioteca Popular de Cultura Colombiana; clásicos; pp. 2-3). 

____________. (1956) Su vida: escrita por ella misma por mandato de sus confesores, Biblioteca de Autores Colombianos, Bogotá: Ministerio de Educación Nacional de Colombia. Ediciones de la Revisa Bolívar, Editorial ABC.

____________. (1996) Vida (autobiografía novelada). Prólogo Enrique Medina Flórez, Ilustraciones Luis Antonio Buitrago Bello. Tunja: Consejo Editorial de Autores Boyacenses, Instituto de Cultura de Boyacá.

____________. (1968) Obras completas de la Madre Francisca Josefa de Castillo, Obras completas de la Madre Francisca Josefa de la Concepción de Castillo: según fiel transcripción de los  manuscritos originales que se encuentran en la Biblioteca Luis Ángel Arango, 2 volúmenes. Introducción, notas e índices: Darío Achury Valenzuela. Bogotá: Banco de la República. 

____________. (1942) Mi vida.  Biblioteca Popular de Cultura, Clásicos Colombianos I.  Bogotá: Ministerio de Educación Nacional de Colombia.

____________. Mi vida (manuscrito). c. a.: 1700, 108 folios. Biblioteca Luis-Ángel Arango, Libros Raros y Manuscritos. 

____________. Sentimientos espirituales. (manuscrito). c. a.: 1700, 268 folios. Biblioteca Luis-Ángel Arango, Libros Raros y Manuscritos.

____________. (1843) Sentimientos espirituales de la venerable Madre Francisca Josefa de la Concepción de la ciudad de Tunja en la República Neo-Granadina de Sur-América. Bogotá: Imprenta de Bruno Espinosa, por Benito Gaitán.

____________. (2007) Su vida. Francisca Josefa de Castillo y Guevara. Cronología por María Eugenia   Hernández.  Caracas: Biblioteca Ayacucho.  Publicación electrónica: Biblioteca  Ayacucho Digital No. 239  <http://www.bibliotecayacucho.gob.ve> Reseñado por Bernard Lavallé.

 ____________. (2011) Fronteras de la Historia 15.2 (2010): 427-430 y por María Himelda Ramírez. Anuario Colombiano de Historia Social y de la Cultura 38. 1: pp. 338-339.

 ____________. (2009) Vida de Sor Francisca Josefa de Castillo, Beatriz Ferrús Antón y Nuria Girona Fibla, edición filológica, transcripción y notas, Madrid: Vervuet-Iberoamericana, Biblioteca Indiana. 

   

Bibliografia secundária

Antoni, Claudio Gabrio. (1982). A comparative examination of style in the works or Madre Castillo. Disertación doctoral CUNY, 1979.  University Microfilms International. 

Aristizábal Montes, Patricia. (2004). “La madre Francisca Josefa de la Concepción de Castillo y Guevara” em Autobiografías de mujeres: María Martínez de Nisser, Jerónima Nava y Saavedra, Francisca Josefa de Castillo y Guevara, Rosa Chacel, María Zambrano, Luis Fernando Escobar Velásquez, editor, Manizales, Editorial Universidad de Caldas, pp. 63-87.

Barreto Prada, Edwin Alfonso. (2020) “Un Pilar de la Literatura Colombiana: la madre Francisca Josefa de la Concepción del Castillo y Guevara”. Tesis Universidad Santo Tomás, Bogotá, Colombia. 

Carrasquilla, Rafael María. (1955) “Discurso pronunciado al recibirse el autor como Miembro   de Número de la Academia Colombiana, el 6 de agosto de 1890”, Sermones y discursos escogidos del doctor Rafael    María Carrasquilla.   2ª edición.  Bogotá: Biblioteca de Autores Colombianos,  Publicación del Ministerio de Educación Nacional, bajo la dirección de la Revista Bolívar, pp. 359-383.

Cristina, María Teresa. (1982) “La prosa asceticomística de Sor Francisca Josefa del Castillo”, Manual de historia de Colombia, Bogotá, Instituto Colombiano de Cultura, I. pp. 559-566. 

Fonseca Zamora, Inés. (2013) “En los bordes de la escritura mística de la Madre Francisca Josefa de la Concepción del Castillo”, Tesis para optar el título de Magister en Estudios Literarios, Universidad Javeriana (Bogotá). 

Gómez Restrepo, Antonio, (1954) “La Madre Castillo”, Historia de la literatura colombiana, Bogotá, Ministerio de Educación Nacional,  II. pp. 50-126.

Lora Garcés, Martha Cecilia, (2004) “El goce místico y la escritura en una monja de la colonia”, Poligramas 22, pp. 21-40. 

María Antonia del Niño Jesús, (1993) Sor, Flor de santidad: la Madre Castillo. Tunja: Academia Boyacense de Historia.

Mc Knight, Kathryn Joy. (2003) “Vida y Afectos de la Madre Castillo”. Yo con mi viveza. Textos de conquistadoras, monjas, brujas, poetas y otras mujeres de la colonia. Luisa Campuzano y Catharina Vallejo; editoras. La Habana, Casa de las Américas. pp. 121-126.

____________. (1997) The Mystic of Tunja: the Writings of Madre Castillo 1671-1742, Amherst, University of  Massachusetts Press. 

____________. (1992) “Sister acts: subject, voice and intertextuality in the works of Madre Castillo(1671-1742)”.  Disertación doctoral, Stanford University.

Morales Borrero, María Teresa. (1968) La madre Castillo su espiritualidad y su estilo.   Bogotá: Instituto Caro y Cuervo.  

Mújica Velásquez, Elisa, (1991) Sor Francisca Josefa del Castillo, Bogotá, Procultura. 

Pérez Silva, Vicente; comp. “Francisca Josefa de Castillo”, (1996) La autobiografía en la literatura colombiana. Colección: Biblioteca familiar. Presidencia de la República, Santafé de Bogotá, Imprenta Nacional de Colombia. pp. 5-9. 

Robledo, Angela Inés, (1991) “La pluralidad discursiva como mecanismo de afirmación personal en Su Vida de la Madre Castillo”, ¿Y las mujeres? Ensayos sobre literatura colombiana, María Mercedes Jaramillo; Ángela Inés Robledo y Flor María Rodríguez-Arenas; editoras, Medellín: OTRAPARTE, Editorial de la Universidad de Antioquia, pp. 65-73.

____________. (1989) “La Madre Castillo: autobiografía mística y discurso marginal”, Letras femeninas (Nebraska), XVIII.1-2, (1992):  55-63.   También publicado como  “Disociación múltiple y juegos narcisistas en Afectos y Su vida de la Madre Castillo”,  Correo de los Andes, 57, pp. 34-50.   

____________. (1989)“Género y discurso místico autobiográfico en las obras de Francisca Josefa del Castillo y Francisco Castillo”, Texto Crítico (Xalapa, México), 40-41: 103-121.   

____________. (1987) “La escritura mística de la Madre Castillo y el amor cortesano: dos religiones de amor”.   Thesaurus (Bogotá), XLII pp. 379-389.   

Steffanell, Alexander. (2010)  “Sor Francisca Josefa de Castillo (1671-1742): una “rara avis” en el canon de la literatura colombiana fundacional”, Cuadernos de literatura, 14.28 : 100-129.

____________. (2012) El caso de la Madre Castillo. Discurso confesional hegemónico y canon en la literatura colombiana, Bogotá, Thomas de Quincy Editores.

Valencia Villamizar, David. (2006) “Escritura, identidad y mística en la Madre del Castillo” Las tres gracias”. Hallazgos 5, Revista de Investigaciones, Universidad Santo Tomás: 207-229. 

Vélez de Piedrahita, Rocío. (1988) “La Madre Castillo”. Manual de literatura colombiana. Bogotá: Procultura-Planeta, Vol 1. pp. 101-141.

Outras fontes sobre Madre Castillo e sua obra

Borda, Felipe, Hermano. Presentador, “La santidad de Dios en Sor Josefa del Castillo por su permanente unión con El”. Documentário em 4 capítulos, Canal Telesantiago, Tunja, 2019. 

Saldarriaga, Teresa (diretora) “A la luz de mi oscuridad” Serie de televisão. Produtora Yuma Video, 2020.  

“Cantares de la Madre Francisca Josefa del Castillo”. Canal Telesantiago, Tunja, 2020. ttps://www.youtube.com/watch?v=aq2ovSMOoL4

Tradução de Carolina Araújo