A cantada, o ditador e os prodígios de lógica

Harry: “Um homem não pode dizer que uma mulher é atraente sem isso ser uma cantada?”
Sally: “Certo, certo”.
Harry: “Que quer que eu faça? Retiro o que disse, OK? Retiro”.
Sally: “Não pode retirar”.
Harry: “Por que não?”
Sally: “Porque já foi dito”.
Harry: “O que devemos fazer? Chamar a polícia? ‘Já foi dito!’”.

Dizer “empiricamente, você é atraente” pode não ser a melhor das cantadas, mas é uma cantada. E Sally não gostou do avanço porque Harry ainda estava saindo com Amanda, sua amiga. Por mais que ele tentasse retirar o que foi dito, bem, já foi dito. Nem chamar a polícia adiantaria.

Hipoteticamente, se Harry começasse a contar que gosta de fotografia e comentasse casualmente que Sally deveria ser muito fotogênica, as situações embaraçosas que compõem toda a comédia romântica de “Harry e Sally” (1989) poderiam ser evitadas. O que leva a um paradoxo aparente: seja dizendo direta e enfaticamente que acha Sally atraente, seja comentando casualmente algo sobre a simetria do rosto de Sally ou a iluminação incidindo sobre sua pele, a informação trocada parece a rigor a mesma. E mesmo no segundo caso hipotético, tanto Sally quanto Harry saberiam da mesma forma que Harry estava passando uma cantada.

Em um fabuloso RSAnimate, uma série de animações da RSA, Steven Pinker explica como o paradoxo se relaciona com os conceitos de conhecimento individual e mútuo usados na Teoria de Jogos.

Conhecimento individual é você saber que Steven Pinker é um fabuloso divulgador de ciência. Conhecimento individual também é que eu, por uma feliz coincidência, também saiba que Pinker é um fabuloso divulgador de ciência. Mas agora que você leu estas linhas, você sabe que eu sei, e eu sei que você sabe, que Pinker é um fabuloso divulgador de ciência. É agora um conhecimento mútuo. E ele pode fazer toda a diferença.

Como Pinker nota, quando toda uma população questiona a autoridade de um ditador, mas dentro de suas casas, há algo como conhecimento individual de que o ditador não poderia se manter no poder. Quando toda a população sai às ruas, a (im)popularidade do ditador pode permanecer a mesma, mas agora todos podem se ver e reconhecer mutuamente seu descontentamento coletivo. Na história da Roupa Nova do Rei, todos sabiam, todos podiam ver que o Rei estava nu, mas foi necessária uma criança declarar em voz alta o que todos sabiam, mas ninguém compartilhava, para que o Rei finalmente se descobrisse nu. Da insatisfação à revolução, é necessário um reconhecimento mútuo, compartilhado.

O que nem sempre é desejável, como mostram Harry e Sally, e como Pinker explica o paradoxo aparente da diferença entre uma cantada direta e uma indireta. Por que uma pode ofender e outra não?

Porque uma cantada direta faz com que Harry e Sally saibam claramente que Harry está interessado em Sally. Não há como retirar, não há como negar. “It’s out there”, já foi dito. É um conhecimento mútuo.

Mas uma indireta permitiria “manter a ficção de amizade”. Harry pode fingir que Sally não entendeu sua indireta, e Sally pode fingir que Harry realmente gosta muito de fotografia. Enquanto não surgir um menino para dizer em voz alta que Harry está a fim de Sally, ambos podem fingir que não há nenhuma tensão nessa amizade quase colorida.

Se você sabe que eu sei que você sabe, você leu o texto publicado aqui no final do mês passado que, por serendipidade, lidava basicamente com a mesma questão de conhecimento mútuo na Teoria de Jogos através da fábula das crianças prodígios de lógica com lama na testa. Com uma diferença.

Naquele texto iniciei com uma citação da série de ficção científica (?) V – A Invasão (1983), onde um alienígena reptiliano comenta como:

“Esses terráqueos são estúpidos. Isso os torna imprevisíveis”.

Uma simples cantada revela que em nossas relações sociais, e especialmente nossas relações afetivas, somos prodígios de lógica lidando imediatamente com as nuances entre o que sabemos, o que sabemos que a outra pessoa sabe, e o que sabemos que a outra sabe que sabemos.

Curiosamente, a imprevisibilidade continua a mesma. [via Roberto Moschen, Alenônimo]

Das propriedades físicas de uma fumaça

Primeiro pensei que a fumaça deve ser comportar dessa forma porque está misturada ao ar viciado que exalamos, repleto de gás carbônico.

Mas então, a fumaça em si mesma deve ser também mais pesada que o ar, como um aglomerado de partículas, contribuindo para o efeito.

Ou não? [via Nerdcore]

Gnarls Barkley – Gone Daddy Gone (e cores falsas)

O clipe brinca com a ideia de pequenos insetos repugnantes, usando a estética de micrografias coloridas artificialmente. Porque pulgas e moscas não são laranjas ou roxas ou verdes. É ciência aplicada a Gnarls Barkley. De certa forma.

As cores em tons de roxo, verde e laranja quase fosforescentes são uma referência às cores falsas usadas para dar mais vida e facilitar a compreensão de imagens em tons de cinza, como as produzidas por microscopia eletrônica de pequenos insetos. Você confere um monte de belíssimas imagens do mundo micro e nanoscópico no blog da Scibling Fernanda, o Bala Mágica, mas apresentamos aqui mesmo esta singela pulga. Que não é rosa de verdade.

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Como o nome diz, microscópios eletrônicos funcionam através de elétrons, que permitem uma resolução muito maior do que raios de luz visível. Infelizmente, elétrons não são refletidos como a luz visível, em um espectro de cores, mas simplesmente como áreas de maior ou menor intensidade. As imagens geradas por essa técnica são assim, quando cruas, em tons de intensidade, cinza, em preto e branco.

Cientistas costumam colorir as imagens tediosas para destacar certas partes. A forma como o fazem não é arbitrária: termografias, por exemplo, costumam representar a radiação térmica emitida em uma cena, com imagens em um arco-íris de cores em que cada cor indica uma temperatura. Comumente cores frias começando com o preto e azul indicam menor radiação e cores mais quentes até o branco, maior. Você também deve conhecer termografias como a visão do “Predador”.

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Não são cores reais, são cores falsas de uma paleta multicolorida dando vida a dados originalmente em tons de intensidade. Em preto e branco.

Mesmo imagens astronômicas fabulosas como as produzidas pelo telescópio espacial Hubble contam com uma paleta de cores que não é equivalente a uma visão em “cores reais”. Como microscópios eletrônicos modernos e câmeras térmicas, o Hubble captura imagens através de sensores eletrônicos com particularidades próprias. Ele o faz com diferentes filtros de cor, gerando imagens com informações de cor reais, com o detalhe de que os filtros que usa não são os mesmos que reproduziriam uma visão humana comum.

É por isso que imagens do Hubble podem ser mais interessantes que as captadas por telescópios óticos comuns, não apenas por sua maior resolução, mas porque as paletas de cores buscam realçar ao máximo a informação que pode ser transmitida. Os resultados são mesmo um tanto psicodélicos, pois permitem enxergar algo comumente oculto a simples vista.

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Psicodélico como um clipe do Gnarls Barkley com pulgas multicoloridas. Artificialmente.

Agora você sabe que pulgas não são roxas de verdade, o Predador é um alienígena que usa uma falsa paleta de 256 cores para realçar uma imagem em tons de preto e branco e as mais belas imagens do Hubble têm cores que não poderiam ser vistas a olho nu. Nada disso é realmente segredo, mas para descobrir estes detalhes é preciso mergulhar um pouco na fonte dos muitos arco-íris do muito pequeno e do incomensuravelmente grande que a ciência nos apresenta.

Ah sim, a mosca com óculos do clipe já foi criada por cientistas.

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O óculos foi cortado a laser para servir na cabeça de dois milímetros da mosca, como forma de promover a precisão de superior a um milésimo de milímetro da companhia alemã. E não, a mosca não é azul de verdade, mas isso você já sabia.

Gagasaurus rex

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Lembro de ter lido quando criança como nunca saberíamos quais seriam as verdadeiras cores dos dinossauros. Como outras declarações sobre os limites da ciência, esta não durou muito: cada tipo das principais formas de pigmentação por melanina é contida em organelas de forma diferente. E elas se fossilizam! Analisando assim estruturas celulares fossilizadas, uma boa indicação das cores de pelo menos alguns dinossauros de até 125 milhões de anos já foram realizadas. Por sua vez, elas também dão maior suporte à tese de que dinossauros possuíam penas. Penas coloridas.

Esta é a ciência, é bem verdade, e os métodos para estimar as cores e mesmo as penas de dinossauros não são ainda universalmente aceitas, embora já sejam hoje amplamente consideradas. É uma revolução paleontológica em pleno andamento. Tão recentemente quanto em Jurassic Park (1994), os velociraptors eram retratados como terríveis répteis, mas descobertas em anos recentes evidenciam como estes répteis estão entre aqueles que também deviam possuir penas.

Ainda deviam ser terríveis, mas com penas. Multicoloridas.

Foi brincando com isso que o artista Gerson Witte criou essa nova ilustração (clique para ampliá-la), onde também explora com humor a ideia de que dinossauros teriam pêlos. Que seriam “proto-penas”.

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Cores, penas, pêlos, tudo outra vez segundo novas teorias e evidências paleontológicas, que vêm revisando inclusive a ideia de que seriam criaturas de sangue frio, ou que várias espécies famosas de dinossauros seriam em verdade formas diferentes de uma mesma espécie.

Curiosamente, outras técnicas de microscopia e análise também indicam que esculturas gregas clássicas não eram formas totalmente brancas e sóbrias do mármore puro, como as obras da Renascença as imaginaram. Essa aparência seria em verdade o resultado de mais de um milênio de cores desbotando. Eram originalmente estátuas repletas de cores gritantes, e você confere abaixo, uma reconstrução da estátua de um arqueiro no Templo de Afaia na ilha grega de Aegina, 490 A.C.:

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Apesar do que filmes e livros em preto e branco nos fizeram pensar, a antiguidade, mesmo aquela de milhões de anos, era inundada de cores.

– – –

[Gerson Witte também havia ilustrada Manadas de Homo Sapiens. O Gagasaurus rex foi criado por estudantes do Instituto de Arte de Pittsburgh]

O Deus Relojoeiro

Cercados como estamos de tecnologia derivada da física de semicondutores, onde tudo é digital e vem embalado em chips e cápsulas, já nos distanciamos de alguns ícones da sofisticação da tecnologia no passado. Mas nada que câmeras digitais e as maravilhas da rede de computadores não possam compensar:

Charlie Visnic capturou a beleza de um relógio mecânico e seus mecanismos bem de perto, complementada por uma trilha sonora também própria. Aprecie e compreenda melhor como religiosos compararam, e continuam comparando, um “Criador” do Universo a um relojoeiro.

Se tiver mais dez minutos, assista também ao vídeo abaixo, um documentário de 1949 explicando melhor como cada uma das peças funciona.

Nenhum destes mecanismos é divino, sobrenatural, inexplicável. São todas criações humanas, fruto de séculos de desenvolvimento, e em certos aspectos remontando mesmo à Grécia Antiga, espelhando o movimento dos planetas pelo céu.

Um relógio eletrônico digital baseado nas vibrações de um cristal de quartzo pode ser mais preciso, e a ciência e tecnologia envolvida em sua criação é mais sofisticada, mas eu sempre admirei essas maravilhas mecânicas. Lamento o dia em que martelamos com iPhones. [via MAKE]

Baleias, ovelhas e cavalos no espaço

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“Também não se falou mais no fato de que, contra todas as probabilidades, uma cachalote havia de repente se materializado muitos quilômetros acima da superfície de um planeta estranho. E como não é este o ambiente natural das baleias em geral, a pobre e inocente criatura teve pouco tempo para se dar conta de sua identidade ‘enquanto’ cachalote, pois logo em seguida teve de se dar conta de sua identidade ‘enquanto’ cachalote morto”. – Douglas Adams, O Guia do Mochileiro das Galáxias

Se uma baleia cachalote em pleno espaço é um dos eventos mais improváveis que se pode imaginar, o que você diria da seguinte história: o óleo de baleia, especificamente o espermacete de cachalotes, seria prezado por suas propriedades únicas como o baixíssimo ponto de congelamento, e assim estaria sendo usado para lubrificar desde o telescópio espacial Hubble até a sonda interestelar Voyager? Algumas variantes chegam até a especular que estas sondas espaciais usariam óleo de baleia como combustível!

Adorável e absurda como possa parecer, infelizmente a anedota deve ter pouco tempo para se dar conta de sua identidade enquanto anedota para logo em seguida se dar conta de sua identidade enquanto mito desmentido. Com mais rumores circulando a respeito nos últimos meses, o perfil oficial da NASA para o Hubble no Twitter esclareceu que a história simplesmente:

“Não é verdade. Falei com o Gerente de Sistemas Astrofísicos da NASA que trabalhou no Hubble. Ele diz que não há óleo de baleia na nave”.

A importação de óleo de baleias foi proibida nos EUA a partir de 1976, e fornecedores de lubrificantes vinham se adaptando à regulação bem antes disso. Segundo a última fornecedora de óleo de baleia lubrificante nos EUA, a Nye Lubricants, “foi fácil encontrar um substituto para óleo de espermacete”. Óleo de jojoba, uma planta americana, “de onde pode ser expresso um óleo virtualmente idêntico em estrutura molecular”.

O óleo de baleia sim era apreciado por suas propriedades, mas quaisquer que fossem pelo visto jojoba o substituiu. E óleos sintéticos podem ter substituído a jojoba. Afinal, as propriedades do óleo de baleia também não eram tão únicas assim. Ao contrário da lenda, o espermacete sim se congela, de fato muito facilmente, a ponto de que parte pode se solidificar e formar velas.

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Mas afinal, não sabe ainda o que é o espermacete de que falamos? Em espanhol, Felix Ares explica “De velas y ballenas” tudo sobre o óleo e algo de sua história, incluindo como a unidade de medida do padrão SI para a intensidade luminosa, a candela (cd), foi estabelecida derivada da intensidade de luz de uma vela de espermacete inglesa.

Enquanto os alemães definiam sua unidade de luminosidade a partir de uma lamparina queimando acetato de amila e os franceses queimavam azeite de colza, quando um comitê internacional decidiu em 1948 padronizar a unidade através de meios mais confiáveis, foi a vela de espermacete inglesa a referência escolhida.

Mesmo hoje, a intensidade luminosa do monitor que você deve estar observando neste exato momento é definida em candelas, e assim se o espermacete de cachalotes não viaja entre as estrelas, ele ao menos encontra seu caminho como padrão de medida que deve se estender ainda por um bom tempo.

Unidades de medida nos levam às ovelhas. Em outra anedota curiosa, Carl Pyrdum lembra que o tamanho dos sofisticados e-readers, do Kindle ao tablet iPad, deriva do tamanho padrão de livros, por sua vez derivados… do tamanho de ovelhas medievais!

Na Europa, livros eram feitos de pergaminhos, e os pergaminhos feitos de pele de ovelha dependiam do tamanho das criaturas. “Despele, corte as partes curvas das pernas, e você fica com um gigantesco pergaminho, muito grande para a maior parte dos usos em livro”, conta Pyrdum.

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Mas está tudo bem, porque você pode dobrá-lo no meio, e terá um par de folhas (quatro páginas contando a frente e verso) que você pode juntar com várias outras folhas de mesmo tamanho para fazer um livro de tamanho ‘folio’. Dobre de novo e você obtém um livro de oito páginas chamado ‘quarto’, que é o livro do tamanho de um dicionário ou enciclopédia”. E assim por diante.

O tamanho da tela do iPad deve algo ao tamanho da pele de ovelhas medievais dobradas duas vezes. Talvez três. A história, que ainda não pude confirmar ou refutar, lembra uma das já clássicas sobre a origem da bitola dos trilhos americanos. Diz a lenda que a medida foi herdada dos ingleses, que a herdaram de suas carroças, por sua vez herdadas da largura das estradas do império romano, finalmente determinadas pela largura ocupada por dois traseiros de cavalos. Como a bitola ferroviária determinou a largura máxima de foguetes transportados por trens, os traseiros de cavalos romanos teriam determinado a largura de foguetes lançadores.

Fabulosa como seja a lenda, aqui está mais uma oportunidade para que ela se dê conta de sua identidade enquanto mito parcialmente desmentido. Como Cecil Adams, um dos mais famosos destruidores de mitos, “lutando contra a ignorância desde 1973”, já abordou o tema há dez anos, a linhagem de traseiros de cavalos romanos até foguetes lançadores da NASA não é contínua como quer dizer a lenda. Ao final, por outro lado, traseiros de cavalos sim foram o padrão mais ou menos constante e informal que fez com que estradas romanas, inglesas, e então ferrovias no Velho e Novo Mundo tivessem a mesma bitola aproximada que têm. Dois traseiros de cavalos são uma medida conveniente para a largura de uma estrada.

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Ao pesquisar os diversos nexos para este texto que já ficou mais longo do que esperava, encontrei ainda outra hist
ória de como óleo de baleia teria desempenhado um papel crucial na conquista espacial. E uma um tanto inacreditável.

Bem, na década de 1980, a NASA perdeu muitos de seus dados, incluindo as gravações originais em alta qualidade do pouso na Lua. Por quê?

“Suas primeiras estações registravam dados de satélite em fitas mestre de alta resolução que usavam óleo de baleia para aglutinar partículas de ferro no acetato. O óleo de baleia tornava as fitas muito mais duráveis, mas quando a pesca comercial de baleias foi proibida em meados dos anos 1980, a NASA não pôde mais adquirir essas fitas de longa durabilidade. Então ela reutilizou as antigas. Engenheiros da NASA gravaram em cima de 200.000 fitas mestre, incluindo registros em alta resolução de espaçonaves diversas como os primeiros satélites Landsat e a Apollo 11, preservados apenas em cópias de baixa resolução. ‘Enorme quantidade de dados foi perdida’”.

Poderia ser apenas mais uma lenda sobre óleo de baleia e a NASA, não fosse o fato de que o parágrafo vem diretamente da Science. Será mesmo esta a explicação para a perda do que pode ter sido um dos mais importantes registros na história da humanidade? Falta de fitas de gravação com óleo de baleia?

Chamem-me Ishmael”.

Vida

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“Aceitamos que satélites, planetas, sóis, o universo, não, sistemas de universos inteiros sejam governados por leis. Mas o menor dos insetos, nós desejamos que tenha sido criado por um ato especial” – Charles Darwin

Ainda sobre a variedade sempre surpreendente da vida, dois outros achados no Reader. Primeiro, um sapo do tamanho de um ervilha, com pouco mais de um centímetro de tamanho.

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É o Microhyla nepenthicola, encontrado por cientistas na ilha de Bornéu, e o menor sapo do Velho Mundo. Ele foi achado pelo seu coachar, e você confere o som desta ervilha anfíbia cantante clicando na imagem.

Outro animal inusitado é o peixe-tripé (Bathypterois grallator), que pode ficar literalmente de pé sobre três apêndices longos, de até mais de 30 centímetros, esperando suas presas. Assista no vídeo capturado a 1.443 metros de profundidade:

[via BoingBoing, Neatorama, pya]

GIFs animados de mecanismos

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A tampa de uma panela com água fervendo começa a pular: é uma máquina a vapor. Pode parecer rústica ao extremo, e realmente é, mas no GIF animado acima você confere o princípio de funcionamento da primeira máquina a vapor prática inventada por Thomas Newcomen em 1712, que não é muito diferente.

O vapor de uma caldeira levanta um pistão, isto nós reconheceríamos de praticamente qualquer motor. Mas a parte que hoje parece bizarra ocorre para que o pistão desça. Água fria é jogada a fim de que o vapor se condense, e o processo se reinicie.

Com o aquecimento e resfriamento do mesmo pistão a cada ciclo, a máquina a vapor era extremamente ineficiente – e foi justamente aperfeiçoando esse projeto que James Watt revolucionou o mundo impulsionando a Revolução Industrial. Mas podemos apreciar a simplicidade da idéia de uma máquina a vapor que é essencialmente uma tampa de panela gigante resfriada com baforadas de água fria a cada ciclo.

Na continuação, alguns outros GIF animados curiosos indo dos mistérios da máquina de costura aos canhões de um encouraçado.

 

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Mola Maluca

Pode não ser uma máquina de movimento perpétuo, mas é sem dúvida hipnotizante. Confira outras máquinas fascinantes de robotjim1951 em seu canal no Youtube.

Por aqui, o assunto do post é mesmo o “Slinky”, “Lazy Spring” ou “Mola Maluca”. Inventado por acaso pelo engenheiro naval americano Richard James durante a Segunda Guerra Mundial enquanto desenvolvia uma sistema de estabilização para instrumentos em navios sacolejantes, uma das molas caiu da estante e fez seu hoje conhecido malabarismo, caindo por uma série de degraus de livros, uma mesa até o chão. Com alguns ajustes para fazer a mola “andar” melhor, e vendida inicialmente logo após o fim da guerra, mais de 300 milhões de unidades já foram produzidas desde então.

A Mola Maluca é fascinante por sua simplicidade. É geralmente usada em sala de aula para demonstrar a propagação de ondas, principalmente a diferença entre ondas transversais e longitudinais. Mas há experimentos mais complicados.

Por exemplo, o que acontece com uma Mola Maluca suspensa em microgravidade? Tente adivinhar, é um tanto óbvio. Abaixo, a mola inicialmente sob efeito da gravidade, e então na microgravidade de um avião em um arco parabólico:

O que não é tão óbvio é curiosamente o que acontece sob efeito da gravidade. Em “A Slinky Problem”, o matemágico Martin Gardner pergunta: “Se você segurar uma extremidade de uma Mola Maluca, deixando o resto pendurado, e então soltá-la, o que acontece?”. Novamente, tente imaginar o experimento. “Estudantes dificilmente adivinharão a resposta e serão surpresos pela demonstração”, notou Gardner.

Bem, você confere o resultado no vídeo abaixo:

Axt, Bonadiman e Schmidt, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul, explicam o que acontece em um ótimo artigo sobre “O Uso de uma espiral de encadernação como mola” (PDF):

“Por estar ela esticada pela ação do próprio peso antes de ser solta, existem tensões internas no seu sistema de elos. Ao ser deixada cair, durante o breve intervalo de tempo em que a espiral recobra seu comprimento original, as tensões internas fazem com que sua extremidade superior se mova para baixo com aceleração maior do que g. Enquanto isso, a extremidade inferior permanece temporariamente contida no espaço. De qualquer modo, durante a queda, o centro de gravidade da espiral se move com a aceleração g da gravidade”.

Maluca mesmo.

Restart, Justin Bieber e a Pirâmide Etária

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Em 2050, mais de dois bilhões de pessoas terão 60 anos ou mais, e para destacar as tendências que “desafiarão as sociedades no futuro”, a GE produziu uma interessante visualização interativa, “Our Aging World” (Nosso Mundo em Envelhecimento), que você confere clicando na imagem acima.

Ela representa e compara a distribuição etária das populações de oito países industrializados ao longo do tempo, sempre na mesma proporção relativa. Você pode escolher dois países e então arrastar a barra cinza na parte inferior – ou clicar no botão play na parte esquerda – para assistir à evolução da pirâmide populacional de 1950 até 2050.

franca1950

Em 100 anos, 60 deles de história e 40 deles de projeções, podemos enxergar os efeitos de guerras e epidemias, por exemplo: em 1950, as pirâmides demográficas de França, Alemanha e Itália exibem uma queda súbita na faixa etária de 30-34 anos. Faça as contas, e são as pessoas que nasceram ao redor do fim da Primeira Guerra Mundial e em pleno pico da Gripe Espanhola.

1950-2050

Nas projeções, constatamos como o mundo realmente está envelhecendo, e em todos os países não só as pirâmides demográficas de 1950 (esquerda) se transformam em retângulos populacionais (direita), com uma quantidade aproximadamente igual de diferentes faixas etárias. Alguns países como o Japão e a Coréia do Sul se aproximam de uma nova pirâmide populacional, invertida, com mais idosos do que jovens!

Se o mundo está envelhecendo, por que este texto menciona fenômenos jovens como a banda Restart ou Justin Bieber? Porque um, paradoxalmente, explica o outro.

1920s-restart

A justaposição destas duas imagens talvez choque, e é justamente esta a ideia. São crianças, são jovens, com expressões não muito diferentes, mas vindas de condições completamente díspares. Um grupo viveu na época em que as pirâmides etárias eram extremamente acentuadas, o outro, de quase um século depois, onde as pirâmides dão lugar a retângulos, onde aqueles que nascem têm muito mais chances de viver, e aqueles que vivem, passam por muito menos riscos de morrer.

O primeiro impulso que a comparação entre as crianças pobres, trabalhadoras do início do século 20, e uma banda moderna fazendo pose pode causar é de insatisfação e crítica “à juventude hoje”. Mas deveria ser motivo de celebração. Aquelas crianças em preto e branco não possuíam direitos, e suas roupas eram roupas de adultos em miniatura. As taxas de natalidade eram altíssimas, mas as taxas de mortalidade eram igualmente altas. A pirâmide etária refletia a vulnerabilidade da vida humana, e consequentemente, o pouco valor de cada indivíduo, especialmente naquela faixa etária mais abundante: as crianças, os jovens. Apenas aqueles que sobrevivessem até a vida adulta teriam algum valor.

Foi valorizando a vida, através de revoluções culturais, tecnológicas e médicas, permitindo que crianças fossem crianças, que a pirâmide demográfica se transformou em um retângulo. E se antes esta era uma medida de investimento no futuro, hoje o valor que se dá à cultura infantil, jovem, talvez seja simplesmente reflexo do fato de que a relevância de cada indivíduo jovem, de cada criança, é maior do que nunca. Se a juventude colorida de hoje parece “perdida”, é porque esquecemos tão rapidamente os horrores da juventude em preto e branco de ontem.

As consequências sociais de todas estas transformações, inéditas na história humana, ainda estão se desenvolvendo. Restart e Justin Bieber são apenas um pequeno indicador – e, em 2050, serão eles mesmos tão ou mais velhos do que você ou eu somos hoje. [visualização via FlowingData]

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