Brasil terá seu primeiro trem de levitação magnética
A Faperj liberou recursos para implantar na Universidade Federal do Rio de Janeiro o primeiro protótipo funcional de um trem maglev no Brasil, em um trecho inicial de 114 metros. O MaglevCobra, como foi batizado o trem desenvolvido no país, deve estar operacional até meados de 2010, com um trajeto ampliado para 3 km.
A notícia vem direto do artista Philipe Kling David, do blog MundoGump. Artista? Ocorre que Philipe é filho de Eduardo Gonçalves David, um dos engenheiros líderes da equipe do projeto. Confira mais detalhes todos orgulhosos do filho em seu blog, e mais um tanto aqui. Também no LASUP da UFRJ.
O projeto não é motivo de orgulho apenas para o Philipe, claro. Além de ser nacional, o MaglevCobra se diferencia de similares no exterior por ser composto de inúmeros módulos pequenos, o que permitirá que faça curvas mais acentuadas, e reduzirá o custo de implantação indo da fabricação do veículo a eventuais túneis.
Faz muito sentido, ao aproveitar uma propriedade que a levitação magnética oferece – módulos pequenos assim em trens com rodas comuns não seriam praticáveis.
Algo um tanto diferente do infame Aerotrem em São Paulo.
Fria solidão, suja imoralidade: nem tão metafóricas
O Rafael do RNAm já havia blogado sobre a pesquisa indicando que o sentimento de exclusão, a solidão, realmente leva as pessoas a sentirem mais frio. A metáfora não é meramente abstrata, ela se traduz literalmente em sensações corporais reais.
Há pouco a Scientific American publicou uma entrevista com Chen-bo Zhong, da Universidade de Toronto e um dos autores da pesquisa, onde ele menciona outras descobertas fascinantes.
Em um trabalho anterior, Zhong mostrou que outras metáforas, como a de “mãos sujas” ou de “história limpa”, também têm uma base psicológica. No que chamaram de “efeito Macbeth”, notaram que pessoas que vêem sua moralidade colocada em cheque são induzidas à vontade de se limpar fisicamente.
Ao mesmo tempo, rotinas de higiene diárias comuns como lavar as mãos resultavam em um alívio poderoso à moralidade questionada, como se as pessoas “pudessem lavar seus pecados”. Lavando as mãos, as pessoas se sentiram tão expiadas de sua “sujeira” que se sentiram menos obrigadas a comportamentos pró-sociais como o voluntariado.
Outras pesquisas curiosas do psicólogo social mencionadas envolvem sua investigação de que o inconsciente pode facilitar a criatividade – no “efeito incubação”, onde permitir que sua mente se desvie de foco por algum tempo leva ao encontro repetino de uma solução – e de que a identidade racial pode influenciar votos, ainda que seja uma “negativa”.
Não posso deixar de notar que essas associações muito mais profundas do que imaginamos entre idéias e sensações lembram a sinestesia, e outros trabalhos publicado recentemente.
Ferrine Spector e Daphne Maurer, da McMaster University no Canadá, conduziram experimentos que sugerem que todos nós, mesmo aqueles que não se consideram sinestetas, podemos ter em verdade algum grau de sobreposição de sentidos. Várias pessoas, de forma significativa, associaram o cheiro de cogumelos com as cores azul ou amarelo, por exemplo. Lavanda suscitou a cor verde e a textura de um líquido pegajoso, enquanto gengibre foi percebido como preto e pontiagudo.
Em outro experimento, conduzido por Ursina Teuscher da Universidade da Califórnia, os sujeitos foram capazes de associar meses em um arranjo espacial de forma similar a sinestetas.
Os trabalhos foram mencionados na New Scientist, e embora não provem realmente que sejamos todos de fato sinestetas, sugerem sim que pode haver mais sinestetas entre nós do que se imagina.
Referências
– Cold and Lonely: Does Social Exclusion Literally Feel Cold? (PDF);
– Washing Away Your Sins: Threatened Morality and Physical Cleansing;
– The colour of Os: naturally biased associations between shape and colour;
– Neural constraints on synesthetic mappings and conceptual metaphors: The case of time and space.
A ciência descobre seus limites
“A mais fabulosa descoberta feita pelos cientistas é a própria ciência. A descoberta deve ser comparada em importância à invenção da pintura nas cavernas e da escrita. Como estas criações humanas anteriores, a ciência é uma tentativa de controlar nosso ambiente entrando nele e entendendo-o a partir de dentro. E, como elas, a ciência com certeza representou um passo crítico no desenvolvimento humano que não pode ser revertido. Não podemos conceber uma sociedade futura sem ciência” – Jacob Bronowski
Pois se a mais fabulosa descoberta científica é a própria ciência, de forma auto-referente, este post atrasado para o Carnaval Científico é sobre como a ciência encontrou os limites de seus limites.
Flor de pensamentos
Com vocês, as conexões de um cérebro, ou pelo menos como elas podem ser capturadas através da técnica DTI. Ela rastreia o movimento da água pelo cérebro através de imagens de ressonância magnética, e através da tractografia, pode destacar a matéria branca dentro do cérebro.
“Penso que a técnica produz algumas das mais belas imagens na neurociência”, escreve Vaughan Bell no Mindhacks. “Você consegue ver as conexões do cérebro, desconectadas e suspensas no espaço”.
A imagem acima vem de um trabalho de Marek Kubicki. Bell indica ainda mais imagens de tractografia DTI via Google.
A Duquesa Feia
“Uma Velha Grotesca”. É o nome da obra de Quinten Massys, c. 1523-30. Retrato extraordinariamente belo da feiúra, “você ou a ama, ou a odeia, e eu a amo, é parte do cenário e iconografia de Londres”, diz Michael Baum, professor emérito de cirurgia da University College London, que investigou a pintura. E para ele, a mulher retratada pode ter sido bem real, e não apenas um estudo artístico do grotesco.
Ela poderia ser vítima da doença de Paget, ou osteitis deformans, um problema crônico que resulta em ossos deformados, geralmente atingindo pessoas com mais de 40 anos de idade. No caso da inspiração de Massys, a doença poderia ter se manifestado de forma particularmente extensa, afetando a mandíbula, órbitas oculares, testa, queixo e em particular, os dedos, curiosamente destacados na imagem.
Estudos recentes sobre a obra pela National Gallery também sugerem que a velha grotesca poderia ser real. Ou pelo menos, uma obra original de Massys, ao contrário do que se acreditava há muito, uma vez que ninguém menos que Leonardo Da Vinci teria deixado caricaturas idênticas.
Baseada em indicações de que Massys retocou a pintura várias vezes enquanto a criava, além do detalhamento muito maior, a curadora Susan Foister assegura que “podemos agora dizer com confiança que Leonardo copiou a maravilhosa pintura de Massys, e não o contrário. Esta é uma descoberta excitante”.
[via Cabinet of Wonders]
Ilusão Ponzo
As duas barras vermelhas têm exatamente o mesmo tamanho. Não acredita? O tira-teima na continuação.
As Aventuras de Anselmo Curioso
Quadrinhos em português explicando a Teoria da Relatividade, Buracos Negros, o Big Bang ou geometria, informática e economia? É a série de livros do francês Jean-Pierre Petit, com As Aventuras de Anselmo Curioso (Les Aventures d’Anselme Lanturlu).
Algumas das obras já foram publicadas e recomendadas no Brasil e exterior, mas Petit agora oferece essas e outras mais para download gratuito, como parte da organização Savoir sans frontières (Conhecimento sem Fronteiras).
Clique na imagem acima para o download gratuito e integral de
– Einstein e a Teoria da Relatividade
– Einstein e o Buraco Negro
– O Sonho de Voar
– Os Mistérios da Geometria
– A Magia da Informática
– Big-Bang
– A Gata-Borralheira 2000
– Os Mistérios da Economia
– Energeticamente Vosso
– Feliz Apocalipse
Os quadrinhos são imperdíveis, e a iniciativa merece muito aplauso, com traduções a 33 línguas, toda oferecidas abertamente.
Para nós, elas tendem ao português de Portugal, o que dificulta um tanto a leitura, e mesmo algumas das histórias podem incluir idéias não muito convencionais – Petit é ele mesmo um interessado por OVNIs e outros temas heterodoxos, mas isso não surge em nenhuma das obras oferecidas em português até agora.
Anselmo Curioso é provavelmente aquilo pelo Jean-Pierre Petit será lembrado, ou como já deve ser, já que suas aventuras são publicadas há mais de vinte anos. Elas ainda devem ser um ótimo presente para qualquer criança – devem ser mais apreciadas do que um par de meias, e um dia podem ser percebidas pelo valor imenso que têm.
É só baixar e imprimir.
Falta de controle motiva pensamento mágico
“Tribos das ilhas Trobriand que pescam no mar profundo, onde tempestades repentinas e águas desconhecidas são preocupações constantes, têm muito mais rituais associados à pesca do que aquelas que buscam peixes em águas mais rasas. Pára-quedistas vêem mais facilmente uma figura não-existente em um monte de ruído pouco antes de pular do que quando em terra. Jogadores de beisebol criam rituais em proporção direta à caprichosidade de sua posição – por exemplo, lançadores são particularmente propensos a enxergar conexões entre a camisa que vestem e seu sucesso. … Mesmo em nível nacional, quando os tempos são economicamente incertos, as superstições aumentam”.
O trecho é parte de um trabalho publicado na Science nesta semana, que não se resume apenas a relatos. Jennifer Whitson e Adam Galinsky conduziram seis experimentos que confirmaram a tese de que a sensação de falta de controle aumenta a percepção de padrões ilusórios, fazendo pessoas verem algum significado onde realmente não há.
A série de experimentos é interessante pela variedade de padrões ilusórios que averigüou, como ver imagens em ruído, enxergar conspirações, desenvolver superstições e… formar correlações ilusórias sobre informações de bolsas de valores. Esta última parte, dado o contexto econômico atual, virou notícia.
“Experimentar uma perda de controle levou os participantes [do experimento] a desejar mais estrutura e a perceber padrões ilusórios. A necessidade de estar e sentir-se em controle é tão forte que os indivíduos produzirão um padrão a partir do ruído para levar o mundo de volta a um estado previsível”, escrevem os pesquisadores.
Tão interessante quanto o achado principal é o detalhe de que os participantes do estudo que foram incentivados a se auto-afirmar, lembrando de um evento importante em suas vidas, viram menos imagens e conspirações ilusórias. Simples assim. [via Mindhacks]
Referência
– Lacking Control Increases Illusory Pattern Perception
Chindogu: mais invenções inúteis
Maravilhe-se com a genialidade de Kenji Kawakami, mestre do Chindogu – invenções que à primeira vista parecem solucionar problemas… mas que na prática são inúteis, ou “inusáveis”, seja porque causam mais problemas do que solucionam, ou por serem simplesmente ridículas demais.
No vídeo, Kawakami mostra em ordem: um guarda-chuva para proteger da chuva a ponta dos pés; um secador de roupa para praticantes de golfe; um apoio portátil para trem; uma sola de sapato para pegar bolinhas de pachinko sem provocar suspeita; uma mesa de chá móvel.
Esses não são os ápices do chindogu, alguns dos quais você confere aqui. No Brasil, a Associação Nacional dos Inventores exibe alguns exemplos de Chindogu, intencionais ou não. E na continuação, um videoclipe do grupo Polysics, com ótimas demonstrações da nobre arte criativa.
Yo no soy yo! Os ecos da consciência
Uma senhora chamada Maruja Martinez Ferri participa ao vivo pelo telefone de um telejogo espanhol. O atraso entre o que ela diz pelo telefone e o que ela escuta pela TV faz com que insista exasperada que há uma impostora com seu mesmo nome gritando os mesmos números que ela. O resultado é muita confusão na sessão da madrugada.
A segunda parte do vídeo, e uma dissecção protocientífica da piada e suas implicações filosófico-religiosas, na continuação.