Darwin, IgNobel e Nobel: Annus Mirabilis para o Brasil?

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Bem, por enquanto é apenas um Annus Horribilis, porque os prêmios que garantimos foram o Darwin e o IgNobel – ainda que o IgNobel tenha seu charme. O arqueólogo Astolfo Araujo, o ganhador do IgNobel, lembra que "não é porque é engraçado que não é boa ciência. Por exemplo, uma das pesquisas vencedoras, aquela das strippers [que ganhou na categoria Economia, mostrando que as dançarinhas de strip-tease recebem mais gorjetas quando estão no período fértil], é muito interessante para entender a relação entre a biologia e o comportamento humano. Isso é superlegal".

Mas como o Rafael comenta, há chances de que o neurocientista Miguel Nicolelis leve o Nobel de medicina. Ele já é candidato há alguns anos, o que significa que se não for agraciado neste ano, poderá ser no próximo (ou no próximo, ou…).

Entrevistado em 2006 por Ronaldo Bressane, Nicolelis comentou:

“Não entendo essa fixação com o Nobel! Acha que, no instante em que Santos-Dumont o primeiro homem a voar, estava preocupado em ganhar uma medalhinha dos suecos? Se eu fizer um paraplégico andar, e essa tecnologia se espalhar pelo mundo e possibilitar a milhões de pessoas voltarem a andar, perto disso o que pode significar um Nobel? Trazer o impossível para o plano concreto é o prêmio”.

Saberemos nesta segunda-feira se este será finalmente o ano em que o país terá um prêmio Nobel. Por enquanto, confira mais sobre a lista completa de ganhadores do IgNobel.

Efeitos indescritivelmente gigantescos

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Contando a história do encontro com um renomado pesquisador do campo de inteligência artificial… que era criacionista, Eliezer Yudkowsky lança este parágrafo imortal no meio do ensaio:

“o fato inegável dos efeitos indescritivelmente gigantescos: condições iniciais e padrões em desenvolvimento cujas conseqüências ressoarão por tempos tão longos quanto as cadeias causais continuem até a Terra, até que todas as estrelas e galáxias no céu noturno tenham queimado ao ferro frio, e talvez muito além disso, ou pela eternidade até o infinito se as verdadeiras leis da física acabem permitindo tal.

Lançar nosso cérebro mortal deliberadamente a tal estágio, enquanto se desenrola na Terra antiga a primeira raiz da vida, é um ato tão além da ‘audácia’ que a palavra deve se incendiar, um ato que só pode ser evitado pelo conhecimento aterrorizante de que os céus vazios não oferecem nenhuma autoridade maior”.

De fato, este blogueiro que escreve aqui também é um devotado crente na idéia de que o desenvolvimento da Inteligência Artificial deve lançar uma compreensão de nossa própria consciência e “espírito” que colocará em cheque-mate todos os fundamentos religiosos – e em cheque boa parte dos éticos e morais.

Não que tais fundamentos já não tenham sido refutados ou questionados, evidentemente, todavia robôs espirituosos devem ser no mínimo algo um tanto mais engraçado que criacionistas usando antibióticos de última geração.

Não que eu tenha ainda a esperança de que isso extingüirá a religião, também. É mais provável que sejam criados robôs religiosos.

Enfim, leia (em inglês), o ensaio de Yudkowsky: Above-Average AI Scientists

Waseda Talker: um robô com cordas vocais

Com vocês, o "Waseda Talker-5" pronunciando as vogais aiueo. O som não vem de nenhum alto-falante ou sintetizador, mas sim de cordas vocais de silicone e aparatos simulando órgãos humanos, de dentes à língua, passando pelo nariz. Ainda soa fanho.

Confira mais imagens e vídeos na página oficial do laboratório Takanishi, incluindo um vídeo do Waseda Talker-7, completo com óculos nerds.

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A pesquisa tem uma venerável ascendência: desde o século 18 busca-se criar autômatos capazes de falar como nós, e um dos pioneiros na área foi o inventor alemão Wolfgang von Kempelen, mais conhecido pelo seu Turco Mecânico.
[via QL]

A Espiral de Ulam e o Gênio de Euler

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Olhe para os pontos acima. Não são aleatórios, de fato representam um padrão de importância fundamental para a computação, a tecnologia e a economia mundial. E embutem um pequeno, ou enorme, mistério.
Primeiro, o mistério, que deve ser o mais curioso. Olhe de novo para os pontos acima. Consegue enxergar algum padrão, alguma característica que se destaque? Algo como… uma série de linhas diagonais? É esse o pequeno, ou enorme, mistério.
E então, o que a série representa. É uma Espiral de Ulam, criada pelo polonês Stanislaw que, entediado, rabiscou-a em um papel (isso ele fez nas horas vagas, durante o trabalho inventou a bomba de hidrogênio e a propulsão nuclear por pulsos, entre outras coisas).
O grafo representa a série de números primos como pontos em uma espiral começando com o número 1 no centro e desenrolando-se a partir daí:
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Ulam logo notou as diagonais que saltam tanto aos olhos, e surpreendeu-se, porque não se conhece qualquer razão trivial para tantas delas, que continuam ocorrendo mesmo quando a espiral é estendida a números incrivelmente grandes. Mistério.
Ou não? Você pode pensar a princípio que, como todos os números primos são ímpares — exceto o 2 –, é de se esperar que números primos adjacentes na espiral só o podem ser na diagonal. Na vertical e horizontal, números ímpares estão cercados por números pares. E estará certo ao pensar assim.
Contudo, números primos podem encontrar outros números primos a duas casas adjacentes em praticamente todas as direções. Também poderiam surgir padrões a partir daí, mas aparentemente, não é o que ocorre, pelo menos não de forma tão comum quanto as diagonais próximas.
Elas, por sua vez, se relacionam com uma curiosidade descoberta em sua forma inicial pelo prodígio Euler, de que o polinômio 4n^2 + bn + c gera uma grande quantidade de números primos a partir de números consecutivos. Por quê? Não há uma resposta clara para todas as soluções (para a de Euler, há um tanto), até porque — e este é o gigantesco mistério — não existe nenhuma forma trivial de gerar todos os números primos.
Os primos são um dos fundamentos da teoria de números e o pilar que permite a criptografia e, assim, a segurança de sistemas computacionais modernos. As chaves de segurança trocadas quando você usa o banco online só são seguras graças aos números primos. Há muitas curiosidades a respeito deles, e as diagonais na espiral de Ulam podem ser apenas mais uma, sem nenhuma razão em especial.
Ou não. Há diversas questões fundamentais em aberto na matemática, boa parte delas está relacionada com os primos e uma delas pode um dia explicar a espiral de Ulam. Em outras palavras, estas diagonais podem representar um padrão relacionado com alguma série de equações e termos que podem revolucionar a matemática, e quebrar todas as senhas de computador do mundo.
Seja como for, por enquanto já há pelo menos uma grande utilidade pública para a espiral. Com esta representação gráfica, qualquer um pode ver um padrão matemático que antes só era visível claramente a um prodígio fabulosamente extraordinário como Euler (como ele enxergou tal padrão, ninguém sabe).
Isso é tanto um atestado de nossa capacidade coletiva, como seres humanos, de reconhecer padrões — ver essas diagonais “saltando aos olhos” não é uma tarefa tão trivial — quanto nossa potencialidade individual fabulosa, representada aqui pelo gênio suíço. Para ele, não foi preciso desenhar.
Se isso por si só já não é fascinante, então apelemos para o “místico”. Arthur C. Clarke, anos antes de Ulam, descreveu o padrão diagonal nos primos. Mas o fez em sua obra de ficção científica, “A Cidade e as Estrelas”, sem jamais desenhar o padrão em si mesmo, sem nem mesmo desconfiar que o padrão de fato existia.
Perguntado muito depois sobre de onde havia saído aquele trecho presciente, Clarke respondeu que “depois de meio século eu não tenho idéia do que me fez pensar nisso“. Talvez nem Euler.
Mais:
A whirlpool of numbers

Por que as maiores penínsulas apontam para o sul?

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É o que pergunta Clifford Pickover. Você provavelmente nunca pensou sobre a questão, mas agora que o meme foi lançado a seu cérebro, não há mais volta.

Até o momento, 43% dos leitores pensa que é uma “observação fantástica e curiosa”, enquanto 39% apontam que “a observação é incorreta”.

Penso que a observação está sim correta, mas é apenas uma trivialidade relacionada com a maior quantidade de terras no hemisfério norte. O mapa múndi ao inverso ajuda a visualizar várias exceções à regra:

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E você, o que acha?

Micrômegas vai à praia (tilt-shift video)

“Beached”, de Keith Loutit, uma aplicação da técnica tilt shift em um vídeo, dando um ar de miniaturas e maquetes às mais gigantescas paisagens.

O efeito curioso se traduz em verdade em um campo de profundidade estreito para as imagens capturadas, e como comentei há alguns anos, “a estranheza que essas imagens evocam também nos lembra de como estamos condicionados às imagens de nossa cultura e mídia”.

Isto é, por que isso nos lembra miniaturas? Porque estamos acostumados a ver miniaturas através de lentes que ao lidar com objetos pequenos acabam produzindo… um campo de profundidade estreito. Mais, em inglês, aqui.

Um homem das cavernas que não tenha sido inculcado inconscientemente em como uma imagem de uma maquete difere de uma paisagem a céu aberto provavelmente não teria a mesma impressão que nós temos ao ver esses vídeos.

E falando em vídeos, Loutit tem mais alguns ótimos com a mesma técnica. [YBNY]

Rubik’s Mirror Blocks: Cubo Mágico Mutante

muitas variações do “Cubo Mágico”, este malévolo e impiedoso objeto multicolorido inventado pelo húngaro Erno Rubik.

Rubik’s Mirror Blocks é uma especialmente interessante, espécie de Transformer que pode adquirir milhares (milhões?) de formas físicas diferentes. Apenas uma delas é um polígono regular. E sem nenhuma cor.

O apelo é muito mais estético, já que a dificuldade e as técnicas para solucionar o cubo permanecem exatamente as mesmas, enquanto manipular o cubo fisicamente se torna mesmo mais difícil.

Mas ao ver um desses caótico por aí, o impulso de resolvê-lo será muito mais irresistível ao obsessivo-compulsivo em todos nós. [Neatorama]

WETI: o novo SETI

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1) WETI é o novo SETI
Encontrar nosso lugar no Universo tem sido um tema subjacente da exploração científica há mais de 5.000 anos. Grande parte deste empreendimento é descobrir se a vida e inteligência são bens raros ou comuns, um resultado comum da evolução cósmica. Em termos mais populares: Será que somos aberrações da Natureza ou a Galáxia está repleta de criaturas inteligentes, com olhos de inseto e muitos, muitos tentáculos?
Há apenas duas formas de obter uma resposta definitiva para a questão: Podemos ou buscar ativamente no ambiente galáctico e encontrar seres inteligentes; ou tais seres podem conduzir uma busca e nos encontrar. A primeira abordagem já é aplicada por uma grande variedade de projetos em grande escala. A segunda abordagem, por outro lado, tem sido até hoje deixada a amadores, e nunca foi tentada em uma configuração científica rigorosamente controlada.
Naturalmente, este é o objetivo do recentemente fundado Instituto WETI (Wait for Extraterrestrial Intelligence, ou Espera por Inteligência Extraterrestre).

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2) A Equação de Brake, e outras idéias sobre a verdade absoluta
A equação de Drake, formulada inicialmente por Frank Drake em 1960, é amplamente usada como uma ferramenta para quantificar as chances de encontrar vida inteligente em nossa Galáxia. Muito menos famosa, mas significativamente mais sofisticada, é a equação de Brake, desenvolvida nos anos 1970 pelo ciberneticista dinamarquês Michael F. Brake (1903-1984), que também inventou o popular aparato de desaceleração.
Ao introduzir o fator fs, a equação de Brake estabelece limites na eficiência da pesquisa: Para todo fs>1/N, o WETI é mais eficiente que o SETI. A equação de Brake é também muito mais transparente com respeito às incertezas inerentes da tarefa em questão. Finalmente, ao adicionar o termo B, a equação engenhosamente permite a própria não-existência

Mais, em inglês, no sítio oficial: weti-institute.org [via Posthuman Blues]

Fósseis alienígenas podem chegar à Terra

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A cápsula espacial Foton-M3 vista acima retornou são e salva, o que não é grande notícia. Ela também retornou abrigando passageiros vivos o que também não seria grande coisa, não fosse o detalhe de que os passageiros eram microscópicos e estavam localizados no seu desconfortável escudo de calor. Nos círculos que podem ser vistos na fotografia acima, cientistas inseriram antes do lançamento amostras de rochas contendo microfósseis e mesmo um tanto de bactérias vivas, Chroococcidiopsis.
Parte do experimento STONE-6, os resultados são animadores e não tão animadores para os entusiastas da teoria de panspermia, segundo a qual a vida na Terra teria sido semada de germes extraterrestres.
Os resultados animadores foram os de que parte das amostras chegou ao solo, depois de uma reentrada na atmosfera a mais de 27.000 km/h e temperaturas acima de 1.700 graus Celsius. Isso incluiu os microfósseis, o que sugere que achados como o famoso meteorito marciano ALH84001 realmente poderiam ser fósseis marcianos que viajaram até nosso planeta.
Já os achados não tão animadores foram os de que as bactérias não sobreviveram. Parafusos no escudo teriam afrouxado, e os microorganismos acabaram carbonizados em temperaturas de 300 a 500 graus. O fato não desprova a idéia de panspermia, mas indica que para que organismos sobrevivam à reentrada devem estar sujeitos a maior proteção que os dois centímetros que as amostras de rocha possuíam.
Referências
Can microfossils in a meteor survive atmospheric entry? (PDF)

Kaijus! Tokyo! Giant Robots!

É Negadon: The Monster from Mars. Bônus: 37 imagens de conceito para a armadura de Iron Man. [via io9]

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