Somos um epifenômeno

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Toda a humanidade foi infectada pelo vírus zumbi, que mata em 24 horas. Não há cura, todos irão morrer. Todos os mortos, depois de mais 24 horas, se tornam zumbis e podem vagar indefinidamente exigindo “cééérebros”. Mas há esperança.

Nem todos foram infectados ao mesmo tempo, e se duas pessoas vivas conseguirem agarrar um zumbi, podem revivê-lo como uma pessoa normal em um dia. Infelizmente, o tratamento é um paliativo que só funciona temporariamente, mais precisamente por 24 horas, após as quais a pessoa morre outra vez. E mais um dia depois, volta a se tornar um zumbi.

Pode soar como um enredo elaborado de um péssimo filme de zumbis, mas são as regras do “Jogo da Morte”, um apelido para uma variante criada por Brian Silverman para o “Jogo da Vida” – não, não o de roletas e tabuleiro –, uma das mais populares aplicações de autômatos celulares (CAs). Você confere mais sobre CAs, o Jogo da Vida de John Conway e a possibilidade de que o Universo seja um programa em um grande computador em “O Universo é Matrix?”.

Por aqui, convido você a apreciar a animação abaixo:

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Ela ilustra a situação já vários dias após a infecção, onde cada pixel representa uma pessoa. O cenário começa já com uma vasta área de pixels pretos, os zumbis, destino que aguarda a todos. Contudo restam algumas pessoas vivas, os pixels brancos, e algumas mortas que ainda não se converteram em zumbis, em azul. Cada quadro da animação representa a passagem de um dia. Ao todo, são 201 dias.

Note como a mudança de estado das pessoas de vivas, para mortas, para zumbis, e eventualmente de volta à vida se propaga pela área com grande rapidez. As formas que parecem viajar pela animação não são zumbis correndo em busca de “cééérebros”. Nesta representação, os pixels, as pessoas, permanecem imóveis e o que está se propagando é o padrão de pessoas/cadáveres/zumbis. O que se desloca na animação é a infecção, não as pessoas.

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Se você ainda está lendo este texto, talvez por pura paixão por zumbis, ainda assim já pode estar se perguntando aonde se quer chegar. Bem, a forma como um padrão inicial (a semente) rapidamente se espalha por toda a área e gera uma enorme variedade de padrões em verdade indica como esta representação, este autômato celular, é capaz de representar complexidade. Tanto é assim que seu nome original não era “Jogo da Morte”, envolvendo infecções e mortos-vivos.

O autômato celular foi inicialmente batizado como “Cérebro de Brian”, porque ao invés de zumbis você pode imaginar neurônios prontos para disparar – os pixels pretos. Os neurônios disparando, brancos, estão “vivos”. Os neurônios que acabaram de disparar precisam de um ciclo de descanso, estão “mortos”, são azuis. E, finalmente, um neurônio dispara se dois neurônios adjacentes estão disparando. Exatamente as mesmas regras, exatamente a mesma ilustração, mas se este texto começasse falando de neurônios você talvez não tivesse chegado até aqui. Confesse.

Além da brincadeira e da coincidência entre zumbis e cérebros, este texto fala de epifenômenos. Na animação acima, por exemplo, o fenômeno observado de um padrão de infecção propagar-se de maneira estável, cruzando a tela, é um epifenômeno da infecção zumbi. Isto é, que a humanidade está sendo afligida por esta terrível doença que só um péssimo roteirista ou matemático imaginaria, este é o fenômeno principal, todos podemos concordar. Que um padrão de pessoas vivas, mortas e zumbis se propague entre a população é um fenômeno secundário, paralelo. É um epifenômeno.

Agora, relembremos que a animação também é uma analogia do “Cérebro de Brian”, ou o seu cérebro, ou o meu cérebro. Que neurônios andam disparando para lá e para cá segundo alguma regra, esse é o fenômeno. Que padrões de neurônios disparando se propaguem por este modelo de cérebro, que aumentem em complexidade aparente e gerem uma pletora de imagens, esse será um fenômeno secundário, paralelo. Será um epifenômeno.

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Seríamos um epifenômeno? Consciência e inteligência em si mesmas são epifenômenos de outras adaptações evolutivas. Se fossem o fenômeno principal da vida, da evolução, esperaria-se que tudo fosse consciente e inteligente, quando em verdade poucas espécies dedicam muitos recursos à inteligência, e nós permanecemos largamente isolados em nossa consciência, inclusive, da solidão. Sentimentos e pensamentos que partilhamos apenas parcialmente com alguns de nossos parentes símios e mamíferos mais próximos.

A verdadeira inspiração para este texto, contudo, é notar como o próprio Universo pode ser um epifenômeno. Em “O Universo é Matrix?”, abordamos a questão de que, se o Universo é um programa em um computador, não é necessário presumir que este programa tenha sido projetado para processar nossa existência. Retorne à animação da infecção zumbi ou de um cérebro. Note como a complexidade que se vê é um epifenômeno, algo secundário que ocorre casual e paralelamente a um fenômeno primário.

Pois bem, autômatos celulares como o “Jogo da Morte”, ou o “Cérebro de Brian”, já foram demonstrados como computadores universais. Pode-se criar um padrão inicial de pessoas vivas/mortas/zumbis em um grande cenário que seja capaz de processar informação – representada por mais padrões de pessoas – exatamente como qualquer computador. Se o Universo é um programa computável, ele poderia ser computado pelo “Jogo da Morte”. Ele poderia ser computado como padrões de infecção zumbi.

Jürgen Schmidhuber, do Instituto Dalle Molle de Estudos em Inteligência Artificial na Suíça, nota que uma xícara de chá, simplesmente ao existir, estaria efetuando cálculos. Epifenômenos ocorrem na interação entre o chá e a xícara, o ar e tanto mais. O que computam? Provavelmente nada muito interessante, mas se ela pode ser vista como um computador efetuando cálculos quaisquer, nosso próprio Universo poderia estar tendo lugar em Outro como algo tão desinteressante quanto uma xícara de chá é para nós.

O padrão de infecção zumbi é algo bem mais interessante que uma xícara de chá, por outro lado, e ilustra talvez de forma ainda mais poderosa como epifenômenos complexos podem emergir. Nosso Universo pode não só ser Matrix, pode ser um padrão de infecção zumbi em outro Universo. Alheio a todo o o drama, o pr

Baleias, ovelhas e cavalos no espaço

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“Também não se falou mais no fato de que, contra todas as probabilidades, uma cachalote havia de repente se materializado muitos quilômetros acima da superfície de um planeta estranho. E como não é este o ambiente natural das baleias em geral, a pobre e inocente criatura teve pouco tempo para se dar conta de sua identidade ‘enquanto’ cachalote, pois logo em seguida teve de se dar conta de sua identidade ‘enquanto’ cachalote morto”. – Douglas Adams, O Guia do Mochileiro das Galáxias

Se uma baleia cachalote em pleno espaço é um dos eventos mais improváveis que se pode imaginar, o que você diria da seguinte história: o óleo de baleia, especificamente o espermacete de cachalotes, seria prezado por suas propriedades únicas como o baixíssimo ponto de congelamento, e assim estaria sendo usado para lubrificar desde o telescópio espacial Hubble até a sonda interestelar Voyager? Algumas variantes chegam até a especular que estas sondas espaciais usariam óleo de baleia como combustível!

Adorável e absurda como possa parecer, infelizmente a anedota deve ter pouco tempo para se dar conta de sua identidade enquanto anedota para logo em seguida se dar conta de sua identidade enquanto mito desmentido. Com mais rumores circulando a respeito nos últimos meses, o perfil oficial da NASA para o Hubble no Twitter esclareceu que a história simplesmente:

“Não é verdade. Falei com o Gerente de Sistemas Astrofísicos da NASA que trabalhou no Hubble. Ele diz que não há óleo de baleia na nave”.

A importação de óleo de baleias foi proibida nos EUA a partir de 1976, e fornecedores de lubrificantes vinham se adaptando à regulação bem antes disso. Segundo a última fornecedora de óleo de baleia lubrificante nos EUA, a Nye Lubricants, “foi fácil encontrar um substituto para óleo de espermacete”. Óleo de jojoba, uma planta americana, “de onde pode ser expresso um óleo virtualmente idêntico em estrutura molecular”.

O óleo de baleia sim era apreciado por suas propriedades, mas quaisquer que fossem pelo visto jojoba o substituiu. E óleos sintéticos podem ter substituído a jojoba. Afinal, as propriedades do óleo de baleia também não eram tão únicas assim. Ao contrário da lenda, o espermacete sim se congela, de fato muito facilmente, a ponto de que parte pode se solidificar e formar velas.

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Mas afinal, não sabe ainda o que é o espermacete de que falamos? Em espanhol, Felix Ares explica “De velas y ballenas” tudo sobre o óleo e algo de sua história, incluindo como a unidade de medida do padrão SI para a intensidade luminosa, a candela (cd), foi estabelecida derivada da intensidade de luz de uma vela de espermacete inglesa.

Enquanto os alemães definiam sua unidade de luminosidade a partir de uma lamparina queimando acetato de amila e os franceses queimavam azeite de colza, quando um comitê internacional decidiu em 1948 padronizar a unidade através de meios mais confiáveis, foi a vela de espermacete inglesa a referência escolhida.

Mesmo hoje, a intensidade luminosa do monitor que você deve estar observando neste exato momento é definida em candelas, e assim se o espermacete de cachalotes não viaja entre as estrelas, ele ao menos encontra seu caminho como padrão de medida que deve se estender ainda por um bom tempo.

Unidades de medida nos levam às ovelhas. Em outra anedota curiosa, Carl Pyrdum lembra que o tamanho dos sofisticados e-readers, do Kindle ao tablet iPad, deriva do tamanho padrão de livros, por sua vez derivados… do tamanho de ovelhas medievais!

Na Europa, livros eram feitos de pergaminhos, e os pergaminhos feitos de pele de ovelha dependiam do tamanho das criaturas. “Despele, corte as partes curvas das pernas, e você fica com um gigantesco pergaminho, muito grande para a maior parte dos usos em livro”, conta Pyrdum.

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Mas está tudo bem, porque você pode dobrá-lo no meio, e terá um par de folhas (quatro páginas contando a frente e verso) que você pode juntar com várias outras folhas de mesmo tamanho para fazer um livro de tamanho ‘folio’. Dobre de novo e você obtém um livro de oito páginas chamado ‘quarto’, que é o livro do tamanho de um dicionário ou enciclopédia”. E assim por diante.

O tamanho da tela do iPad deve algo ao tamanho da pele de ovelhas medievais dobradas duas vezes. Talvez três. A história, que ainda não pude confirmar ou refutar, lembra uma das já clássicas sobre a origem da bitola dos trilhos americanos. Diz a lenda que a medida foi herdada dos ingleses, que a herdaram de suas carroças, por sua vez herdadas da largura das estradas do império romano, finalmente determinadas pela largura ocupada por dois traseiros de cavalos. Como a bitola ferroviária determinou a largura máxima de foguetes transportados por trens, os traseiros de cavalos romanos teriam determinado a largura de foguetes lançadores.

Fabulosa como seja a lenda, aqui está mais uma oportunidade para que ela se dê conta de sua identidade enquanto mito parcialmente desmentido. Como Cecil Adams, um dos mais famosos destruidores de mitos, “lutando contra a ignorância desde 1973”, já abordou o tema há dez anos, a linhagem de traseiros de cavalos romanos até foguetes lançadores da NASA não é contínua como quer dizer a lenda. Ao final, por outro lado, traseiros de cavalos sim foram o padrão mais ou menos constante e informal que fez com que estradas romanas, inglesas, e então ferrovias no Velho e Novo Mundo tivessem a mesma bitola aproximada que têm. Dois traseiros de cavalos são uma medida conveniente para a largura de uma estrada.

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Ao pesquisar os diversos nexos para este texto que já ficou mais longo do que esperava, encontrei ainda outra hist
ória de como óleo de baleia teria desempenhado um papel crucial na conquista espacial. E uma um tanto inacreditável.

Bem, na década de 1980, a NASA perdeu muitos de seus dados, incluindo as gravações originais em alta qualidade do pouso na Lua. Por quê?

“Suas primeiras estações registravam dados de satélite em fitas mestre de alta resolução que usavam óleo de baleia para aglutinar partículas de ferro no acetato. O óleo de baleia tornava as fitas muito mais duráveis, mas quando a pesca comercial de baleias foi proibida em meados dos anos 1980, a NASA não pôde mais adquirir essas fitas de longa durabilidade. Então ela reutilizou as antigas. Engenheiros da NASA gravaram em cima de 200.000 fitas mestre, incluindo registros em alta resolução de espaçonaves diversas como os primeiros satélites Landsat e a Apollo 11, preservados apenas em cópias de baixa resolução. ‘Enorme quantidade de dados foi perdida’”.

Poderia ser apenas mais uma lenda sobre óleo de baleia e a NASA, não fosse o fato de que o parágrafo vem diretamente da Science. Será mesmo esta a explicação para a perda do que pode ter sido um dos mais importantes registros na história da humanidade? Falta de fitas de gravação com óleo de baleia?

Chamem-me Ishmael”.

Um grão, muitas galáxias

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A Primavera Silenciosa da Nature (parte II)

“Houve outrora uma cidade no coração da América onde toda a vida parecia viver em harmonia com o ambiente. Então uma estranha moléstia avançou sobre a área e tudo começou a mudar. Um feitiço maligno foi lançado sobre a comunidade. Por todo o lugar se via a sombra da morte.

Fazendeiros falavam de muitas doenças em suas famílias. Na cidade, os doutores ficaram mais e mais intrigados por novos tipos de moléstias aparecendo em seus pacientes.

Havia uma estranha calmaria. Os pássaros, por exemplo, para onde teriam ido? Os poucos vistos estavam moribundos, tremiam violentamente e não podiam voar. Aquela era uma primavera sem vozes. Pelas manhãs, que outrora haviam vibrado com o coro dos papos-roxos, dos tordos-dos-remedos, dos pombos, dos gaios, das corruíras e de vintenas de outras aves canoras, não havia agora som algum, somente o silêncio pairava.

Nas fazendas, os galos cruzavam mas os pintinhos não chocavam. As macieiras floresciam mas nenhuma abelha voava entre as flores, não havia polinização e não haveria frutos.

Nas sarjetas e nas calhas, entre as telhas, um pó branco granulado ainda podia ser visto. Algumas semanas antes ele havia caído como neve sobre os telhados e jardins, os campos e rios. Nenhuma bruxaria, nenhuma ação inimiga havia silenciado o renascimento de uma nova vida naquele mundo golpeado pela morte. Fora o povo, ele próprio, que fizera aquilo”.

Com esta assustadora “Fábula para Amanhã” começa a “Primavera Silenciosa” (1962) de Rachel Carson, saudado como um dos marcos iniciais do movimento ambientalista. Aproximando-se dos 50 anos desde sua publicação, você pode jamais ter lido o livro de capa verde, mas sem dúvida já escutou alguma versão desta fábula apocalíptica, e é bem possível que o cenário do silêncio dos pássaros e das doenças misteriosas causadas por produtos químicos sintéticos façam parte de seus temores mais primordiais.

Como contou um amigo, quando o aluno comentou, “Bah, o Shakespeare é um clichê atrás do outro!”, o professor respondeu, “Claro, foi ele que criou eles”. A “Primavera Silenciosa” de Carson, com seus alertas sobre o abuso de componentes sintéticos, a manipulação do público incauto pela grande indústria e a delicada teia da vida em que vivemos pode soar como um amontoado de clichês ecológicos.

Claro, foi em grande parte este best-seller ainda lido em escolas que os levou a milhões de mentes. Primavera Silenciosa foi eleito recentemente como um dos 25 maiores livros de ciência pelos editores da Discover Magazine.

“Biocidas”

Em meio à poesia, havia sim ciência: com a comoção popular, o presidente John Kennedy ordenou que seus cientistas investigassem as alegações de Carson. Quando em maio de 1963 o relatório foi finalmente divulgado, nada menos que a própria Science opinaria como:

“O tão esperado relatório sobre pesticidas do Comitê de Assessoria Científica do presidente foi divulgado na semana passada, e embora seja um documento moderado, mesmo em tom, e cuidadosamente equilibrado em seu julgamento de riscos versus benefícios, ele se soma a uma vindicação razoavelmente completa da tese da Primavera Silenciosa de Rachel Carson”.

A tese do livro, novamente hoje um clichê, era realmente simples. O uso irresponsável e irrestrito de pesticidas exterminava não apenas insetos, como afetava animais como pássaros e mesmo seres humanos. Carson argumentava como não seriam “pesticidas”, e sim “biocidas”, porque sua ação não se limitava às pestes e sim se estendia a toda a vida. O DDT em particular podia ter uma ação muito restrita a insetos, mas por ser lipofílico e não se degradar facilmente, tendia a se concentrar cada vez mais na gordura de animais no topo da cadeia alimentar, com efeitos não desprezíveis por exemplo em algumas espécies de pássaros como o falcão peregrino.

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Mais do que seus efeitos colaterais, o próprio sucesso do DDT seria também seu fracasso, porque a evolução é literalmente uma força da natureza. Quase todos os insetos eram exterminados pelo DDT, mas os pouquíssimos indivíduos que por pequenas mutações eram mais resistentes ou mesmo imunes passavam então a se proliferar sem rivais. Enfatizando as ideias de Darwin para o desenvolvimento de resistência a pesticidas por insetos, Carson nota como “a guerra química nunca é vencida, e toda a vida fica encurralada no fogo-cruzado”. Insetos e pesticidas só se tornariam mais tóxicos e resistentes até que realmente não houvesse mais pássaros cantando pela manhã.

Dez anos após sua publicação, o DDT foi banido nos EUA e o uso e aplicação de pesticidas passou a ser melhor regulado por todo o mundo. A Convenção de Estocolmo, um tratado global do qual o Brasil faz parte e em vigor desde 2004, limita o uso de Poluentes Orgânicos Persistentes, incluindo além do DDT substâncias como as dioxinas.

Mas não há nada tão óbvio e ponderado que não possa ser distorcido para se transformar em algo abominável. A figura feminina de Rachel Carson e sua prosa repleta de referências poéticas seria transformada por alguns em um dos maiores males do último século, responsável pela morte de milhões.

No próximo texto.

A Primavera Silenciosa da Nature (parte I)

Imagine uma poção mágica capaz de aniquilar insetos transmissores das mais perniciosas doenças, salvando centenas de milhões de vidas. Jogue a poção mágica, e pouco tempo depois veja uma montanha de insetos caídos no chão. Talvez isso provoque o temor de que a poção pesticida seja altamente tóxica, afinal se mata insetos, o que mais pode matar? Mas imagine ainda que essa poção mágica tenha uma ação bem limitada aos insetos, e que seja tão segura que você poderia ingerir uma colher diariamente, sem nenhum efeito colateral significativo.

Não seria fantástico? O que é mais fantástico é que esta poção mágica já existe, e você talvez a conheça pelo nome de DDT, Dicloro-Difenil-Tricloroetano. A poção mágica foi contudo banida a partir da década de 1970 e desde então tem seu uso restrito inclusive no Brasil. Entender melhor por que isto aconteceu é entender algo das raízes do movimento ambientalista e de questões que foram e continuam sendo cruciais para o nosso bem-estar e o da vida no planeta.

Uma colher de sopa

Que o DDT é um pesticida de grande eficácia é um fato incontroverso: utilizado inicialmente para controlar vetores e surtos de doenças como malária e tifo durante a Segunda Guerra Mundial, durante a década de 1950 foi saudado literalmente como a poção mágica que erradicaria tais doenças por completo em todo o mundo e sozinho duplicaria a produtividade da agricultura, livre das pragas de seis pernas. Milhões de vidas foram realmente salvas e em várias áreas doenças foram efetivamente erradicadas após campanhas de dedetização. Em português, o DDT tornou-se mesmo verbo e profissão, ainda que hoje dedetizadores já não usem mais o Dicloro-Difenil-Tricloroetano.

Gordon.EdwardsSeria o DDT seguro à saúde humana? O entomologista americano J. Gordon Edwards dedicou sua vida a provar que sim, e de forma particularmente simples e corajosa. Edwards pegava uma caixa de DDT, enfiava uma colher de sopa no pesticida em pó e… botava goela abaixo, com alguns goles de água. A palestra que proferia depois sobre a segurança do DDT à saúde humana sem dúvida se tornava um tanto mais empolgante. Ao lado, uma fotografia de Edwards ingerindo mais uma colher de DDT ilustrando um artigo notório da revista Esquire em 1971.

J. Gordon Edwards faleceu em 2004, aos 84 anos de idade, enquanto escalava uma montanha com sua esposa. A causa da morte foi um ataque cardíaco.

Este, no entanto, é apenas o começo da história, e você não deve sair por aí tomando colheradas de DDT. A Primavera Silenciosa de Rachel Carson e os motivos muito razoáveis para o banimento do DDT, no próximo texto.

Vida

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“Aceitamos que satélites, planetas, sóis, o universo, não, sistemas de universos inteiros sejam governados por leis. Mas o menor dos insetos, nós desejamos que tenha sido criado por um ato especial” – Charles Darwin

Ainda sobre a variedade sempre surpreendente da vida, dois outros achados no Reader. Primeiro, um sapo do tamanho de um ervilha, com pouco mais de um centímetro de tamanho.

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É o Microhyla nepenthicola, encontrado por cientistas na ilha de Bornéu, e o menor sapo do Velho Mundo. Ele foi achado pelo seu coachar, e você confere o som desta ervilha anfíbia cantante clicando na imagem.

Outro animal inusitado é o peixe-tripé (Bathypterois grallator), que pode ficar literalmente de pé sobre três apêndices longos, de até mais de 30 centímetros, esperando suas presas. Assista no vídeo capturado a 1.443 metros de profundidade:

[via BoingBoing, Neatorama, pya]

GIFs animados de mecanismos

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A tampa de uma panela com água fervendo começa a pular: é uma máquina a vapor. Pode parecer rústica ao extremo, e realmente é, mas no GIF animado acima você confere o princípio de funcionamento da primeira máquina a vapor prática inventada por Thomas Newcomen em 1712, que não é muito diferente.

O vapor de uma caldeira levanta um pistão, isto nós reconheceríamos de praticamente qualquer motor. Mas a parte que hoje parece bizarra ocorre para que o pistão desça. Água fria é jogada a fim de que o vapor se condense, e o processo se reinicie.

Com o aquecimento e resfriamento do mesmo pistão a cada ciclo, a máquina a vapor era extremamente ineficiente – e foi justamente aperfeiçoando esse projeto que James Watt revolucionou o mundo impulsionando a Revolução Industrial. Mas podemos apreciar a simplicidade da idéia de uma máquina a vapor que é essencialmente uma tampa de panela gigante resfriada com baforadas de água fria a cada ciclo.

Na continuação, alguns outros GIF animados curiosos indo dos mistérios da máquina de costura aos canhões de um encouraçado.

 

Continue lendo…

Mola Maluca

Pode não ser uma máquina de movimento perpétuo, mas é sem dúvida hipnotizante. Confira outras máquinas fascinantes de robotjim1951 em seu canal no Youtube.

Por aqui, o assunto do post é mesmo o “Slinky”, “Lazy Spring” ou “Mola Maluca”. Inventado por acaso pelo engenheiro naval americano Richard James durante a Segunda Guerra Mundial enquanto desenvolvia uma sistema de estabilização para instrumentos em navios sacolejantes, uma das molas caiu da estante e fez seu hoje conhecido malabarismo, caindo por uma série de degraus de livros, uma mesa até o chão. Com alguns ajustes para fazer a mola “andar” melhor, e vendida inicialmente logo após o fim da guerra, mais de 300 milhões de unidades já foram produzidas desde então.

A Mola Maluca é fascinante por sua simplicidade. É geralmente usada em sala de aula para demonstrar a propagação de ondas, principalmente a diferença entre ondas transversais e longitudinais. Mas há experimentos mais complicados.

Por exemplo, o que acontece com uma Mola Maluca suspensa em microgravidade? Tente adivinhar, é um tanto óbvio. Abaixo, a mola inicialmente sob efeito da gravidade, e então na microgravidade de um avião em um arco parabólico:

O que não é tão óbvio é curiosamente o que acontece sob efeito da gravidade. Em “A Slinky Problem”, o matemágico Martin Gardner pergunta: “Se você segurar uma extremidade de uma Mola Maluca, deixando o resto pendurado, e então soltá-la, o que acontece?”. Novamente, tente imaginar o experimento. “Estudantes dificilmente adivinharão a resposta e serão surpresos pela demonstração”, notou Gardner.

Bem, você confere o resultado no vídeo abaixo:

Axt, Bonadiman e Schmidt, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul, explicam o que acontece em um ótimo artigo sobre “O Uso de uma espiral de encadernação como mola” (PDF):

“Por estar ela esticada pela ação do próprio peso antes de ser solta, existem tensões internas no seu sistema de elos. Ao ser deixada cair, durante o breve intervalo de tempo em que a espiral recobra seu comprimento original, as tensões internas fazem com que sua extremidade superior se mova para baixo com aceleração maior do que g. Enquanto isso, a extremidade inferior permanece temporariamente contida no espaço. De qualquer modo, durante a queda, o centro de gravidade da espiral se move com a aceleração g da gravidade”.

Maluca mesmo.

Ilustrando o Grande Colisor de Hádrons (LHC)

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Em busca do Bóson de Higgs. Para uma abordagem mais informativa, confira nosso post de 2008: LHC Smörgåsbord: que, como, quando, para onde?

O Sistema Solar em 30 Megapixels

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O artista francês Licoti criou uma embasbacante ilustração do sistema solar com 30.000 pixels de largura. Acima, você confere um minúsculo trecho, clique para baixar o arquivo completo de 18Mb na Wikimedia, ou navegue pelo infinito e além através do vídeo abaixo.

[via Byte que eu gosto]

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