Priapúlida – A criptozoologia que existe

Esta bizarra criatura habita o fundo dos mares, passa sua vida chafurdando na lama ou entre os grãos de areia. Acreditava-se que eles só viviam nos mares frios e profundos, mas, para desespero de todos, mais e mais pessoas têm relatado encontros com priapúlidos em águas rasas por todo o mundo.

Priapúlida, o bicho-piroca dos mares profundos (imagem: Shunkina Ksenia)

Seu estranho nome tem uma origem ainda mais assustadora. Priapus era o deus grego do pênis, uma referência direta a sua anatomia peculiar. De fato, vários humanos que já encontraram priapúlidos relatam que sua visão causou gritos e reações que oscilaram da euforia ao pavor em decorrência do corpo alongado, roliço e dotado de uma probóscide entumescente com uma abertura única (a boca) que explica a analogia entre os animais deste falo, digo, Filo e um órgão masculino. Para completar, diversas espécies (como a da foto) ainda têm filamentos semelhantes a pelinhos na extremidade posterior. Outra bizarrice é que esses animais vagam entre nós quase despercebidos desde o Cambriano médio, muito antes dos dinossauros, e permanecem até hoje quase idênticos ao que foram 400 milhões de anos atrás.

Os priapúlidos possuem uma simatria corporal bilateral como a nossa, o que demonstra um parentesco muito antigo com os humanos. O ancestral comum entre nós e eles provavelmente era um verme de corpo achatado semelhante a um platelminto. Apesar do baixo metabolismo, os priapúlidos são grandes o suficiente para precisar de um sistema circulatório e até de um pigmento de transporte de oxigênio, a hemeritrina. Os órgãos estão arranjados numa cavidade corporal que se assemelha à nossa cavidade abdominal, mas tem uma origem embrionária muito diferente, sendo um resquício da fase embrionária de blástula. Esses animais alimentam-se de matéria orgânica em meio ao sedimento ou predam outros invertebrados lentos. Por sua vez, servem de alimento para peixes. A despeito de todas as comparações entre priapúlidos e pênis, a maioria dos animais desse grupo não ultrapassa os 3 cm, embora alguns poucos afortunados possam chegar a quase 40 cm.

A criptozoologia que existe

Criptozoologia é, supostamente, a “ciência” que estuda animais fantásticos. É ela a responsável pelas “pesquisas” sobre o pé-grande, a mula sem cabeça, o monstro do lago Ness e outras criaturas fantásticas derivadas de mentes criativas, desocupadas e carentes de atenção.
No entanto, existe toda uma série de animais que existem, mas que são muito pouco estudados, quase desconhecidos e ignorados pela maioria da humanidade. Nos próximos meses conheceremos a criptozoologia que existe, animais quase inacreditáveis, mas reais, e saberemos mais sobre o que eles têm a ver com você e comigo. Não percam, aqui, no Ciência à Bessa!

A imaginação gera obras maravilhosas, mas que fique claro que são imaginativas! (Imagem: Walmor Corrêa)

De volta à vida

É primavera. Aqui no cerrado as chuvas começam a voltar. Na parte mais ao sul do Brasil são as temperaturas que sobem. Por todo lado a vida recomeça.

Sempre que o ambiente impõe condições difíceis demais à vida, uma opção disponível para os animais (e as plantas também) é abrir mão da vida. Não no sentido de se deixar, ou de se fazer, morrer, mas no sentido de abdicar dos processos vitais pelo menos enquanto as coisas andarem difíceis demais. Nesse caso, os organismos reduzem drasticamente seu metabolismo, o consumo de nutrientes, oxigênio e água, paralisam seu crescimento e o investimento reprodutivo e ficam ali, esperando as coisas melhorarem para retomar tudo isso depois. Estes processos são conhecidos por dormência.

Tem hora que não tem jeito, é preciso despertar. (imagem: John Connell)

Há diversos processos diferentes relacionados à depressão metabólica dos animais, como a diapausa, o torpor, a hibernação e a dormência. A duração, intensidade da economia energética e os gatilhos que desencadeiam cada processo de dormência diferem de um tipo para o outro.

Também existem diferentes espécies que entram em dormência metabólica nos mais diversos grupos animais. Mesmo protozoários podem se encistar para evitar a perda de água, a falta de um hospedeiro nas espécies parasitas ou a escassez alimentar. Outros animais que encistam (e insistem em continuar vivos) são os vermes nematóides e platelmintos, assim como os legendários e indestrutíveis tardígrados. Moluscos, minhocas e até peixes pulmonados evitam a morte por congelamento e a perda de água entrando em estivação. Mamíferos se escondem do frio e da desnutrição hibernando. Pequenos mamíferos e aves de metabolismo extremamente alto, como morcegos, camundongos e beija-flores, diariamente entram em torpor para evitar o desperdício energético. Os insetos e os embriões dos peixes anuais entram em diapausa durante períodos de seca intensa. Todos estes grupos são salvos da morte a cada ano (ou mesmo diariamente) graças aos processos de dormência.

A existência é um processo delicado que precisa se equilibrar numa corda bamba entre e existência e o desaparecimento. Cruelmente, a sina de todo ser vivo (pelo menos dos sexuados, mas isso fica para uma outra postagem) é sempre acabar morrendo, a diferença entre o sucesso ou o fracasso biológico está no que você conseguiu realizar enquanto se equilibrava. A dormência animal aparelha diferentes organismos a se manterem vivos ainda que o ambiente esteja hostil num dado momento, um verdadeiro alívio para a manutenção da biodiversidade. Todos passamos por isso, momentos mais difíceis nos quais suspendemos partes de nossas atividades e mantemos apenas o que for vital, mas chega uma hora em que é possível e necessário seguir em frente. O Ciência à Bessa está de volta!

Nomenclatura binomial

Vídeo novo do Ciência à Bessa. Em tempos de guerra ao mosquito quem morreu foi o Lineu!

A política é mais antiga que o homem

Clique na imagem que o infográfico interativo abre!

Celacanto, a volta dos que não foram

A partir de hoje o Ciência à Bessa irá experimentar uma nova mídia que está bombando na Internet. Está no ar o primeiro vídeo da série. Espero que vocês gostem! Começamos com a história de como um peixe que se acreditava extinto desde o mesozóico apareceu em 1932 num museu da África do Sul graças ao trabalho de uma jovem e dedicada naturalista.

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Brasil Ameaçado – Tubarão Lagarto

O tubarão lagarto está extinto no Brasil, parte disso se deve ao fluxo de grandes navios. (Imagem: Elasmolab)

O tubarão lagarto é uma espécie considerada extinta no Brasil. Esse tubarão alimenta-se prioritariamente de crustáceos e habita águas de 10 a mais de 300 m. São fortemente dimórficos, sendo que os machos são esguios e as fêmeas mais pesadas; os machos também têm dentes maiores. Medem cerca de 70 cm, sendo uma espécie pequena de tubarão. O declínio dessa espécie foi atribuído a modificações das áreas reprodutivas devido ao tráfego naval. Dessa forma, preferir produtos nacionais a importados pode ser uma forma de estimular a economia do Brasil e ainda ajudar espécies em condições semelhantes à do tubarão lagarto.

Brasil Ameaçado – Sauím de Coleira

Este lindo primata está ameaçado pela fragmentação de nossa maior floresta. (Imagem: Udo Schröter)

O sauím de coleira é um pequeno primata que vive próximo à cidade de Manaus. Como é comum entre os primatas, rios servem de barreira geográfica e isolam populações. O sauím de coleira está isolado ao norte do Amazonas, leste do Negro e sul do Cuieiras. Uma espécie aparentada, Saguinus midas cerca o sauím de coleira e parece estar excluindo nosso personagem de hoje por competição. O sauím de coleira vive em grupos de cerca de dez indivíduos, apenas uma fêmea do grupo se reproduz e dá à luz dois filhotes no início e no fim do ano. Mesmo assim sua população vem declinando nos últimos anos, o que deixou essa espécie criticamente ameaçada de extinção. Isso se deve principalmente à fragmentação do habitat na periferia de Manaus. O controle de natalidade é uma saída para o crescimento populacional humano que ameaça essa espécie, assim como para a maioria das que apresentei nessa série.

Brasil Ameaçado – Proceratophrys sanctaritae

Esse sapo folha é vítima do uso irracional da água, mas também do chocolate. (Imagem: Rafael Abreu)

Esse sapo folha é vítima do uso irracional da água, mas também do chocolate. (Imagem: Rafael Abreu)

Essa espécie de sapo-folha habita a Serra do Timbó, Bahia. São sapos diurnos que vocalizam em coro nos dias chuvosos para atrair parceiras. Acasalam em poças rasas onde seus girinos irão se desenvolver. Vivem quase o tempo todo no chão do interior de matas densas. Habita a floresta tropical semi-decidua em altitudes de 800 a 900 m acima do nível do mar. A principal ameaça à espécie é o desenvolvimento de culturas como a banana e o cacau, que ocupam as matas onde esses animais vivem. Secundariamente, as nascentes da Serra do Timbó estão secando devido à exploração exagerada nas cidades que cercam a unidade de conservação. Dessa forma, usar água com mais consciência é uma medida simples e que pode ajudar espécies como esse sapo-folha.

Brasil Ameaçado – Toninha Franciscana

Toninha franciscana, pequenas e encurraladas em águas rasas são alvo fácil da captura acidental em redes de pesca. (Imagem: Wurtz-Artescienza)

A Toninha franciscana é um golfinho marinho, mas que entra em estuários. São animais relativamente pequenos (1,80 m e 50 kg). Ele vive em águas rasas onde caça peixes como as corvinas. Essa espécie ocorre desde o norte da Argentina até o Espirito Santo onde a água e a alimentação são adequadas. Ao contrário da maioria dos golfinhos, as toninhas não formam grupos numerosos, vivendo geralmente isoladamente. Sua maior ameaça é a captura acidental nas redes de arrasto. Por isso, para preservá-las compre apenas peixes de pescadores que usam tecnologia dolphin safe. O lixo que jogamos nas praias também é frequentemente ingerido por esses animais.