Tudo em um ano 12 – Mamíferos
O evento que ocorreria hoje se toda a história do universo se desenrolasse em um ano na verdade tem expressividade próxima a zero hoje mesmo (como boa parte dos eventos narrados nesta série). Seu efeito só começará a ser sentido daqui a quatro dias, no final da manhã do dia 30, quando um meteoro cairá perto da península de Yucatán no México. Novamente por culpa da competição, os mamíferos que surgem hoje serão ofuscados até daqui a 135 milhões de anos quando os dinossauros praticamente se extinguirem deixando vivos apenas um pequeno grupo deles menos ameaçadores ao qual iremos chamar um dia de aves.
Quem diria, você, um mamífero cheio de potencial, passou milênios subjugado ecologicamente pelos ancestrais daquele peru de ontem! Não é uma bela vingança? Felizmente esta supremacia terminou e nos permitiu sair do obscurantismo. Um meteoro, humpf, vai dizer se deus não joga dados.
Compras de natal e a teoria da mente
Sempre escuto todo mundo que escreve dizer o quanto busca inspiração nas coisas do dia-a-dia para escrever. Comigo, claro, não é diferente. Também é claro que não consegui escapar do furor das compras de natal. Na verdade nem me esquivo muito, adoro fazer a lista dos presenteados, entrar nas lojas e ficar pensando no que dar a cada um, o que combina mais com cada parente ou amigo e foi justamente isso que suscitou o ensaio natalino de hoje.
Ao parar diante de um produto e imaginar o quanto ele combina com alguém o que estamos fazendo é colocar à prova, talvez à prova mais difícil do ano, a teoria da mente. Teoria da mente é a habilidade de atribuir ao outro um desejo ou uma intenção.
Ninguém é capaz de provar a mente dos outros, só temos acesso a nossa própria mente com seus desejos e intenções (E olhe lá! Meu pai psicólogo e frequentemente indeciso, além de excelente companhia nas cerimônias natalinas, diria.) através da introspecção. Mas obviamente temos uma possibilidade de perscrutar, mesmo que imprecisamente, a mente alheia.
Quando olhamos para a cara de um deputado dando depoimento numa CPI e sacamos que ele está mentindo, esta é a teoria da mente. Quando deixamos de dizer uma coisa a alguém para não magoá-lo, esta é a teoria da mente. Quando escolhemos um presente com nossa parca renda para alguém de quem gostamos por combinar com aquela pessoa, esta é a teoria da mente outra vez.
Feliz natal a todos e espero que a teoria da mente de quem lhes presenteou tenha funcionado a contento.
Tudo em um ano 11 – Tetrápodes
Predadores e parasitas são ameaças ecológicas que aterrorizam qualquer um, mas nenhuma força ecológica é mais poderosa do que a competição. Há cerca de 365 milhões de anos, o que cairia no dia 22/12 de nosso ano cósmico, foi exatamente a competição que mudou nossa história para sempre.
Com a deriva continental grandes massas de terra submersas em um extenso e produtivo oceano começaram a, por um lado, colidir e formar grandes continentes emersos, e por outro se afastar e formar profundos oceanos pobres em nutrientes. Em ambos os casos a área disponível para todos aqueles organismos marinhos (plantas, invertebrados e vertebrados igualmente) viverem caiu drasticamente. Isto fez com que a competição na água se tornasse quase insuportável. Deram-se bem os organismos que conseguiram sobreviver à competição ou se adaptar à vida no meio de oceanos ou sobre os continentes.
Foi assim que um grupo de peixes que faziam respiração pulmonar passou a ocupar a terra, arrastando-se por aí usando nadadeiras modificadas em patas. Este grupo ainda precisará descobrir uma maneira de impermeabilizar suas peles sensíveis ao ar seco, inventar uma maneira de desvincular sua reprodução da água e adequar seus rins a funcionar com menos solvente. Mas estava dado o ponta-pé inicial para o abandono da água e a vida dos vertebrados terrestres.
Tudo em um ano 10 – Vertebrados
Dentre a diversidade da vida há uma gigantesca miríade de organismos singulares e interessantíssimos em sua maneira de resolver os problemas que sobreviver e deixar descendentes impõem. Um dos grupos singular de espécies surge hoje em nosso ano cósmico. Seria uma covardia ressaltar a origem das singularidades apenas deste grupo sem um motivo claro se não fosse este grupo o nosso próprio. Então, hoje, 17 de Dezembro, começamos a narrar a evolução dos vertebrados.
Há apenas dois dias cósmicos os animais tornaram-se multicelulares e hoje uma série de características já nos tornam únicos. Temos um bastão de tecido flexível, mas não elástico, ao longo de todo o eixo de nosso corpo, temos fendas na faringe que não só nos permitem respirar como capturar alimento como uma peneira captura pedaços de laranja, temos uma cauda após o ânus.
Por estes dias surgirão outras mudanças fantásticas em nossos corpos que nos permitirão realizar coisas que nenhum animal sonharia. Uma mandíbula nos fará deixar o posto de presas e nos tornarmos predadores temidos. Apêndices pares nos permitirão nadar com maior eficiência, atingirmos outras formas de nos deslocarmos pelo mundo e, um dia, manipular objetos ao nosso redor. Uma caixa rígida protegerá o principal de nosso sistema nervoso, permitindo-lhe se desenvolver e especializar. Não mais importante do que tudo isto, agora passamos a ter um conjunto de vértebras que ajudam a sustentar nossos corpos que podem crescer bem mais.
Tudo em um ano 9 – Metazoários
Uma explosão de vida maravilhosa ocorreu há 580 milhões de anos. Se toda a história do universo coubesse em um ano, o surgimento dos organismos multicelulares teria ocorrido por volta do dia 15 de Dezembro apenas. Hoje foi a primeira vez que grupos de células, em vez de viverem separadamente, passaram a uma vida colonial mais complexa, com divisão de tarefa e dependência entre estas células a tal ponto de algumas delas separadas não sobreviverem.
É basicamente nisto que consiste a multicelularidade dos metazoários. São organismos que se alimentam de outros e têm corpos formados por diversas células interdependentes. O que, no entanto, resultou em mais um leque de possibilidades para estes organismos. Ao tornarem-se multicelulares eles passaram a resistir mais ao ambiente, a explorar melhor os recursos, a se diversificar a ponto de dar a impressão de durante o Cambriano, período do surgimento dos metazoários, a vida ter florescido em abundância estonteante o suficiente para impressionar um paleontólogo cético.
Por que o Lago Paranoá de repente se enche de plantas?
“Nada es más simple
No hay otra norma
Nada se pierde
Todo se tranforma”
(Jorge Drexler – Todo se Transforma)
Adoro crianças e suas perguntas. Uma vez escrevi que todo o mundo nasce cientista, somos nós adultos que assassinamos o espírito indagador das crianças reprimindo suas perguntas, assim, encomendei de uma amiga minha uma coletânea das melhores perguntas que o Víctor Gabriel, filho dela, fez e ficaram sem resposta na certeza de ser uma fonte inesgotável de bons posts. Desta forma, dou por inaugurada a série “Víctor Gabriel pergunta e o Tio Bessa se vira para responder”! A pergunta que intitula este post me foi enviada por ele.
Víctor, quando li a sua pergunta logo me lembrei do enunciado de Lavoisier musicado pelo Jorge Drexler no trecho que transcrevi acima. Na verdade o Einstein subverteu um pouco isto, mas para todos os efeitos em nossa realidade mais simples ele ainda vale. Nada vem do nada, matéria não surge do nada, oxigênio não surge do nada e nem plantas aquáticas. Tudo são peças de um grande quebra-cabeças, mesmo que não saibamos que peça está faltando. Veja se eu estou certo: O lago Paranoá é uma represa artificial no meio da cidade de Brasília feita para amenizar a baixa umidade do inverno candango. Há nele algumas plantas, mas vez por outra, especialmente assim que voltam as chuvas, essa população de plantas explode sem uma razão aparente. É isso?
Ok, não deveria ser tão esquisito assim. A grama volta a crescer, as árvores retomam suas folhas, tudo fica mais verde depois que as chuvas voltam. A água deveria explicar isso. O que parece não se encaixar é que são plantas que vivem na água, elas não estavam sofrendo com a seca. Por que então elas crescem mais? Vamos pensar na chuva, ela não leva apenas água. Repare que a chuva carrega consigo, depois que cai no chão, um monte de coisas como folhas, lixo, esgoto. Cientistas, que são pessoas que adoram inventar nomes estranhos dizendo que é para facilitar, chamam isto de lixiviação. Misture cocô de galinha, restos de comida e folhas com terra e deixe passar algum tempo. O que temos? Adubo! E se misturarmos os mesmos ingredientes à água? É adubo igual, mas adubo para plantas aquáticas! Novamente os cientistas inventores de nomes chamaram isso de hipereutrofização, mas no fundo é adubo mesmo. E adubo faz plantas crescerem, até os aguapés do lago Paranoá. O lixo e esgoto viram adubo que viram planta que enchem o lago, tudo se transforma. CQD!
Búfalos no meio de um camalote, um banco de aguapés no pantanal. A eutrofização pode ser um processo natural!
Não se deixe enganar, porém. Aguapés são naturais, chuvas são naturais, transformar-se é natural. O que não é natural é ter tanto lixo e esgoto nas ruas para a chuva levar para o lago. Sei que o governo de Brasília já tentou vários projetos para melhorar as condições do nosso lago, algumas tentativas bem desastradas, outras boas. Mas se as pessoas não colaborarem jogando lixo e seus esgotos do jeito certo, não há governo que dê conta de despoluir o lago. Assim, as plantas que, de uma hora para outra, surgiram no lago podem ser consideradas um termômetro para mostrar quanta poluição existe naquela água.
O díptero traído
à minha colega, Profa. Celice Silva,
sim, há coisas legais nas plantas também
Naquela manhã, no consultório psicanalílico…
Já haviam se passado cinco minutos e nada do cliente aparecer. A doutora foi conferir na ante-sala e teve um sobressalto. Sua secretária, rolo de jornal em riste, se preparava para golpear uma mosquinha de asas murchas que havia pousado sobre sua mesa. A doutora deu um ágil pulo e tomou a arma da mão da secretária, salvando assim seu cliente da morte súbita.
-Pode entrar e ir se acomodando, Sr. Megapalpus. Eu vou num segundo. – Disse a analista sem tirar o olhar de repreensão da secretária.
A mosquinha pousou bem no encosto do divã, alheio aos gritos do lado de fora da sala, no máximo percebeu uma leve vermelhidão no rosto da terapeuta e suas carótidas saltadas ao entrar na sala.
-Bom dia. Como tem andado o senhor?
-Estou sofrendo de amor, doutora! Num momento nunca tive tanta sorte com as garotas, no seguinte todas me abandonaram. Não tenho mais motivo para viver. A senhora deveria ter me permitido o alívio eterno debaixo daquele rolo de jornal – E o pequeno díptero pontuou a frase com um muxoxo do labro.
-É mesmo? Que coisa. Quer me falar mais sobre esta maré de azar? – A terapeuta era treinada em ignorar rompantes depressivos.
-Olha, doutora. Nunca fui um rapaz de muito traquejo com as fêmeas. Sabe como é, há tantos outros machos por aí com os tergitos sarados de academia. Quase nunca me dava bem. De uns tempos para cá, em uma floreira perto de casa não paravam de aparecer mosquinhas lindas pousadas sobre as belas pétalas alaranjadas que nos serviam de lençol. Elas eram perfumadas como uma flor. Tão lindas, tão acessíveis e tão… tão… tão pouco seletivas!
– E como era a vida de vocês longe da floreira? – Indagou a psicóloga.
-Relacionamento fora da floreira? Doutora, isso praticamente não existia. Elas eram insaciáveis, sempre dispostas a mais e mais. Me aceitavam como sou, me enchiam de amor e prazer. No mais, elas me escutavam e me compreendiam como ninguém. Se eu começava a falar de mim elas eram excelentes ouvintes, jamais me interromperam. Mas era só um interlúdio entre uma sessão de sexo e outra. Nós nos amando no jardim e uma chuva dourada de pólen jorrando sobre nós com o frenesi dos meus movimentos.
É o que não pode ser que não é
Fonte: Ellis e Johnson, 2010
-Menos detalhes, meu amigo. Menos detalhes. Quantas eram as suas amigas especiais? Quando começaram estes casos?
-Na primavera. Foram dois meses de muita paixão. Tinha no total dezesseis amantes. – Respondeu o díptero quase orgulhoso.
– E quando e por que tudo terminou?
-Me parte o coração só de lembrar. Ontem pela manhã voltei para minhas deusas na floreira e tudo havia mudado. Nossos lençóis de pétalas alaranjadas caídas sobre a terra, assim como os cacos do meu coração. Todas haviam partido juntas, só restava na floreira os frutos compostos das margaridas em início de amadurecimento. Fiquei tão preocupado com elas, perguntei a uma aranha de jardim que passava por ali. Mas, em vez de me responder, a maldita riu de mim. Não sei se minhas amantes foram raptadas, se me usaram e se cansaram de mim.
-Senhor Megapalpus, tenho outra má notícia para o senhor. – Instantaneamente o rosto da mosca se deformou de preocupação e uma lagrima escorreu do ocelo esquerdo. – Acho que o senhor estava sendo enganado desde o início da primavera. Fêmeas meio inertes, sempre acessíveis, cheirosas como uma flor, encontros sobre as pétalas, tudo começou na primavera, chuva de pólen. Elementar, meu caro díptero, estás sendo ludibriado por flores precisando de um polinizador. Em algumas orquídeas as pétalas simulam em odor e forma uma fêmea que atrai machos para copular. Ao tentar isto os machos se cobrem de pólen que é levado a outra planta quando este macho novamente é enganado. Nunca havia ouvido falar de margaridas fazendo isto com moscas, mas é a única explicação que me ocorre.
Na saída do consultório mosca e secretária se defrontaram novamente. Desta vez ambas estavam com cara de humilhadas; esta por ter sido enganada por uma flor, aquela pela bronca que levara. O Sr. Megapalpus capensis nem se deu ao trabalho de marcar outra sessão, aquela questão seria resolvida com sangue, ou melhor, neste caso com seiva bruta.
Ellis, A., & Johnson, S. (2010). Floral Mimicry Enhances Pollen Export: The Evolution of Pollination by Sexual Deceit Outside of the Orchidaceae The American Naturalist, 176 (5) DOI: 10.1086/656487
A foca superprotetora
Naquela manhã, no consultório psicanalítico…
A Dra. aguardava a chegada da próxima cliente de portas abertas, o que muito a incomodava. Seu consultório deveria ser uma alcova para estimular a falar quem em seu divã se deitasse. Consultório psicanalítico não é que nem botequim que todo o mundo que passa diante da porta deve ver o que tem lé dentro. Ainda mais um consultório para animais de todas as espécies. Estes que escondem os mais reconditos segredos aos quais só a doutora teria acesso. Estes que nela confiam. Mas desta vez a secretária estava de licença médica. Havia pego malária de um gorila que vinha tendo problemas com seu harém de quatro esposas, todas ovulando juntas. Agora a moça exigia um adicional de insalubridade e periculosidade ao seu soldo.
O sinal sonoro do elevador foi o prenúncio da chegada, mas a doutora ainda teve que esperar quase um minuto para a cliente desta manhã atravessar aos tabefes os doze metros que separavam a porta do consultório e o elevador. Era uma foca de pelagem e humor cinzentos que atravessou a antessala sem responder o “Bom dia” que a doutora lhe dirigiu. Foi direto ao divã onde subiu como pode e deitou-se de lado.
– Meu filho, doutora. Não sei o que fazer com ele. Vocês psicanalistas vivem dizendo que é tudo culpa da mãe, pois eu queria ver o que seria do Sr. Freud sem sua mãe judia! Isso não é culpa da mãe, né? – Foram as primeiras palavras da foca naquela sessão.
– Sra. Halichoerus, bem vinda. Como é que a Sra. está? – Perguntou a terapeuta com um sorriso forçado, ciente do histórico da cliente.
– É impressionante que eu precise pagar alguém para me perguntar como estou. Ninguém se preocupa com como é que eu estou! Meu filho? Um desnaturado. Não fica ao meu lado, nada pela praia com outros filhotes que não lhe são boa companhia, entra na água e some por aí, nem mamar ele mama. Ele é jovem demais para sair de casa.
– Que idade mesmo tem seu bebê?
Se fosse seu filho você o perderia de vista?
Fonte: Animal Diversity Web
– Só 17 dias, meu filhinho. Pode uma coisa dessas? Essas crianças de hoje não têm coração, nunca ajudam em nada e não se preocupam com suas velhas mães quando resolvem sair de casa. Sabe que eu já perdi peso desde que meu filhinho me abandonou? Estou me sentindo tão fraca. – Disse a foca com os olhos rasos d’água.
– É mesmo? E por que a senhora emagreceu?
– Porque não tenho saído para pegar peixes?
– E por que não? – Interrogou a doutora.
– E se meu filhinho retorna e eu estou no mar procurando comida? Não podia correr o risco! – Concluiu a foca.
– Mas Sra. Halichoerus, filhotes da sua espécie tendem a desmamar aos 15 dias de idade. São muito independentes desde cedo na maioria dos casos. A senhora não pode querer controlar a vida dele. – Ralhou a analista.
– A senhora diz isso porque não é o seu filho. Sabe que nem ganhar peso ele ganha? Os outros filhotes na praia estão grandes e gordos. Saudáveis. Meu filho está esquelético. O bebezinho de uma amiga ganhou 5 kg em uma semana, já meu filho perdeu 2 kg, pesa só 40 kg. A senhora sabe que ele pode até morrer por causa disso? Aposto que não, nem filhos deve ter! – Disse a foca com os bigodes eriçados e um ar que seria aterrorizante se sua aparência não fosse tão dócil.
A doutora adotou seu tom mais severo e recolheu-se para longe do abajur onde a foca não a podia enxergar. – Minha vida pessoal não lhe diz respeito. Estamos aqui para falar sobre a senhora. Além do mais, filhotes de foca mal nutridos podem sim ter problemas, mas seu filhote está saudável, 40 kg é mais do que suficiente para ele. Por que a senhora sente tanta culpa?
Agora todas as defesas da cliente pareciam ter desmoronado. Ela largou-se prostrada no divã e disse em um sussurro rouco: – Dra., acho que escolhi o pior ponto da praia para ter meu filhote, perto demais da margem. Temos muitas tempestades e quando o vento aumenta as ondas varrem a praia. A primeira vez que meu filhote foi para a água foi numa tempestade dessas, levado por uma onda. É tudo culpa minha! – Dito isto a foca pôs-se a chorar.
Passados uns dois minutos e meia caixinha de lenços a psicóloga recomeçou a falar.
– Tenho certeza que ele sabe como a competição por um lugar na praia é acirrada, Dona Halichoerus grypus. Se ainda não o sabe, logo descobrirá. A senhora não deve se culpar por isto. O que importa é que seu filho é mais franzino do que seus colegas, mas é saudável. Sabe do que mais? Estou certa de que nessas incursões marinhas que a senhora tanto se preocupa, seu filhote estava aprendendo muito sobre como capturar peixes. Logo mais todos os seus colegas irão perder o peso que ganharam sob as barras das saias de suas mães quando forem para o mar. E então será a vez do seu guri se destacar e engordar novamente.
– Ah, mas é tão duro deixá-los ir embora. Eu olho para meu filhote e não o vejo como uma foca adulta. Para mim ele será para sempre a coisinha branca e felpuda de grandes olhos negros que eu vi nascer e criei. – Dizia a mãe superprotetora quando o final da sessão foi anunciado.
– Até breve, Sra. Halichoerus. Não se preocupe nem se culpe tanto. Vá aproveitar a vida que ela é curta. – Despediu-se a analista com um sorriso ao ver as formas roliças da foca afastando-se pelo corredor.
Jenssen, B., Åsmul, J., Ekker, M., & Vongraven, D. (2010). To go for a swim or not? Consequences of neonatal aquatic dispersal behaviour for growth in grey seal pups Animal Behaviour, 80 (4), 667-673 DOI: 10.1016/j.anbehav.2010.06.028
Pensamento de Segunda
“O homem que começa com certezas está fadado a terminar em dúvidas. Mas se há alguém disposto a começar com dúvidas, sua recompensa será terminar com certezas.”
Francis Bacon