AOS PROFESSORES MEUS
Neste dia, também da Mulher, dedico um post aos Professores…
Ao Professor Matos, que me obrigava a fazer cópias e ditados, enquanto nos falava de música clássica (que eu achava chata, mas também com 7 anos…) e de como iríamos gostar de a ouvir quando tivéssemos a idade dele; de como eram importantes as frases curtas; que a fazer algo, o deveríamos fazer bem feito; e, sobretudo, de tudo aquilo que ainda vou retirando das suas idas palavras da Escola Primária…
Ao Professor José Fernando Monteiro (que apesar de não ter “merecido” a maiúscula, a merecer mais do que outros catedráticos…), me fez sonhar com mundos passados e longínquos…
A todos os professores, bons e menos bons, que me ensinaram algo, como colegas e mestres…
Voltarei em breve…após oito anos de pausa
Imagem – Nikos Economopoulos/Magnum Photos
GEOLOGIA MÓRBIDA
Depois de ignorarem as linhas de água como locais ideais para lares anfíbios.
Depois de não evitarem a erosão costeira.
Numa das aulas de geologia de campo foi-me dito, não me recordo por quem, que quando os geólogos tentam descobrir zonas de falha em terrenos menos familiares, normalmente procuram saber onde está o cemitério da vila ou aldeia.
Isto não se deve a uma tendência científico-mórbido deste profissionais. Deve-se antes à observação do conhecimento ancestral do chamado Povo. Esta entidade abstracta, mas com um conhecimento real, sempre soube onde devia fundar os seus cemitérios; e quase sempre o fez em zonas de falha.
As zonas de falha (zonas de descontinuidade dos blocos rochosos) proporcionam uma maior infiltração de águas, bem como uma maior movimentação dos solos.
Estas condicionantes geológicas fomentam a necessária decomposição dos corpos dos entes queridos, o imprescindível deixar da corporalidade para que o luto seja devidamente feito.
Mas os patos-bravos que constroem as nossas cidades não falam com o Povo. Apenas o enterram em terrenos enfastiados…
“Cemitério de Carnide sem capacidade Terrenos muito argilosos e níveis freáticos elevados atrasam decomposição dos corpos Empreiteiro não aceita assumir responsabilidades Autarquia pede ao LNEC para estudar solução” |
Imagem – Ilkka Uimonen,Magnum Photos
CIÊNCIA, ÉTICA E BLOGS
Três artigos interessantes e relacionados, apesar de distintos nos conteúdos.
Os dois posts de Janet D. Stemwedel, do seu blog Adventures in Ethics and Science, abordam questões éticas como a que recentemente “abalou” a comunidade paleontológica- uma disputa sobre a primazia na descrição de uma nova espécie de Aetosauria
“Doctoral students in the United States and Poland are accusing scientists at the Albuquerque-based New Mexico Museum of Natural History and Science (NMMNHS) of publishing articles that allegedly pilfered their research.” |
Aqui o resumo, feito na Nature desta situação concreta.
Utilizando essa situação como ponto de partida, é feita uma sistematização das atitudes a tomar em casos de falta de ética na Ciência.
E o que transmitir ao alunos, potenciais vítimas de atitudes menos éticas no duro ambiente da investigação científica.
E o tema continuou neste post.
Dois bons textos a serem lidos com atenção, pois todos conhecemos situações pouco éticas…
No último número da revista The Scientist é avançado um artigo curioso sobre os blogs científicos poderem funcionar como impulsionadores da pesquisa científica.
Como a maioria sabe, os blogs são ambientes muito promíscuos ao nível das ideias e a Ciência vive de ideias.
1+1=2?
Finalmente, um artigo do The Guardian que pode ser encarado como uma fusão dos anteriores: peer-review, ética e novas formas de comunicação científica.
Fontes – Nature 451, 510 (2008) | doi:10.1038/451510a
The Scientist
The Guardian
Imagens – John Eckmire; The Scientist
FONTES…OSTEOLÓGICAS
Eu que pensava que fontes osteológicas eram apenas os museus ou as jazidas por onde andei!
Afinal também existem outras fontes osteológicas…
Imagens – Björn Johansson
Candidatura Ibérica a Património Mundial da UNESCO – jazidas de dinossáurio
Em relação a esta notícia – aqui – só poderei, para não ser acusado de opinar excessivamente sobre assuntos que me são tão próximos, acrescentar o seguinte:
faltou falar do papel absolutamente fundamental da investigação feita nos últimos 15 anos por Vanda Faria dos Santos e que culminou na sua tese de doutoramento Cum Laude.
Este trabalho é um dos exemplos de investigação que sai da esfera do conhecimento puro e entra na aplicação quotidiana, por intermédio da divulgação do património Natural (como eu gostaria de ver comentada esta frase por Desidério Murcho ou Ludwig Krippahl!).
Sem esse trabalho, não teria sido possível levar à preservação e musealização in situ da Pedreira do Galinha ou o conhecimento das jazidas de Vale de Meios, Carenque ou Pedra de Mua (no cabo Espichel).
É um trabalho que não é visível a olho nu mas que está lá.
É um trabalho feito quer no contacto com os políticos, quer no contacto com o grande público.
Mas, acima de tudo, é um trabalho de divulgação e protecção do património natural feito contra os bem pensantes ou apenas contra a ignorância, sejam da casa ou de fora dela.
Parabéns Vanda!
Imagens – National Geographic Portugal; gráfico de Carlos Marques da Silva e Vanda Faria dos Santos
Mangas e evolução
Achei este post interessante (mais as imagens que o texto…), não só em termos artísticos mas sobretudo ao nível dos conceitos de biologia evolutiva inerentes – já o havia abordado alguns em A Evolução escondida nos Cartoons.
Alguns dos traços básicos da ilustração manga (ou mangá) podem ser caracterizados como conduzindo a uma infantilização da anatomia e proporções dos seres humanos adultos, ou seja, verifica-se o retomar de características físicas juvenis – olhos grandes, crânio arredondado/ovóide e proporcionalmente muito maior que nos adultos.
Este fenómeno evolutivo de retomar características físicas juvenis ancestrais num organismo adulto denomina-se pedomorfose.
Exemplos extremos de “pedormorfose” em manga são o Chibi, que significa, em japonês, “pessoa pequena” ou “criança pequena”, tendo o seu significado sido expandido graças à utilização em manga e anime. Neste tipo particular de ilustrações, as formas humanas são infantilizadas de um modo radical.
Verifiquei na prática o efeito que um animal com características físicas juvenis quando publiquei este post – não imaginam a quantidade de pedidos de informação sobre o “animal tão fofinho” – Cercartetus nanus – que recebi!
P.S.- um das alterações pedomórficas não observadas nos desenhos manga é o carácter alongado do pescoço, que nos bebés é muito reduzido.
Imagens – do post
Disparates
Depois de em Novembro aqui ter referido a descoberta de um mega escorpião marinho, verifiquei que o Oceanário voltou a meter a “pata na poça”.
Não sei quem fará a revisão destas notícias mas afirmar “Cientistas ingleses descobriram um insecto que, por mais que quiséssemos, não conseguíamos dar cabo dele com o mata-moscas! Os cientistas encontraram uma das garras do insecto e esta é tão grande que rapidamente concluíram que terá pertencido ao maior insecto de todos os tempos!“ é um bocadinho exagerado!
É que Insecta é diferente de Eurypterida (escorpiões marinhos, extintos), apesar de ambos pertencerem a Arthropoda.
Seria como noticiar a descoberta de uma nova espécie de porco gigante e classificá-la como o maior morcego já existente.
Enfim…preciosismos de quem tem que descansar a descobrir erros nos materiais do Oceanário.
Imagens – Ernst Haeckel’s “Kunstformen der Natur”; daqui
Quem és tu, Zé rato? Josephoartigasia monesi
Josephoartigasia monesi é a sua graça. Viveu durante o Pliocénico no Uruguai e é o maior roedor que já viveu.
Este “rato” podia atingir as 2.5 toneladas.
Referência – Andrés Rinderknecht and R. Ernesto Blanco. The largest fossil rodent (2008). Proceedings of the Royal Society, B | doi:10.1098/rspb.2007.1645 [PDF grátis]
Imagem – daqui
Saudades
Não tenho tempo para comentar esta notícia.
Apenas para a recordação emotiva do primeiro dinossáurio que estudei – o Tenontosaurus – no American Museum of Natural History, em Nova Iorque.
Mais do que um Museu, uma casa de Ciência.
Às vezes dá-me para isto…
Referência: Lee, A.H. and Werning, S. 2008. Sexual maturity in growing dinosaurs does not fit reptilian growth models. PNAS. January 15, vol. 105 | no. 2, 582-587.