Pensamento de Segunda

“A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.”
Carlos Drummond de Andrade

A andorinha decepcionada

ResearchBlogging.org

Naquela manhã, no consultório psicanalítico.

 

A doutora estava mostrando à nova secretária como funcionava o sistema de marcação de consultas. Era um mau começo de dia para a psicanalista, que estava novamente às voltas com uma secretária por treinar. Sua última funcionária pedira demissão depois de ter se identificado com um caranguejo ermitão e ido morar sozinha numa casinha simples no alto de uma montanha.

A primeira cliente do dia chegou ainda bem cedo. Era uma andorinha do barranco que vinha sempre passar as férias de inverno pelas bandas do Brasil.

– Bom dia, dona Riparia. – Acolheu-a a doutora. – quer ir se acomodando enquanto eu termino com a secretária aqui?

Ao entrar no consultório a doutora já havia percebido o semblante mal-humorado da andorinha. – Como foi de viagem? – Perguntou a analista tentando ser simpática.

– Longa, cansativa e monótona, doutora. – A avezinha migrava até 11 mil km todos os anos dos Estados Unidos até o Pantanal.

– É, estou vendo que a senhorita não está nada bem hoje. O que foi que houve? – A andorinha não conseguia ver direito a doutora na contra-luz do abajur de chão.

– Ah, doutora, vim invernar com ódio no coração. Ódio da minha mãezinha.

– Que sentimento mais triste. E o que levou uma filha tão dedicada a se sentir assim? Saturou-se de ajudar seus pais a cuidar de seus irmãos? – A doutora bem sabia que a mães e filhas sempre tinham seus atritos.

– Nada disso, não aguento mais morar com meus pais. Em casa só sirvo de babá. Não tenho uma vida minha própria! A senhora acredita que na última ninhada mamãe colocou oito ovos e quem teve de chocar e depois dar de comer a todos fui quase sempre eu? – Piava a andorinha num tom melancólico e irritado.

– E nos anos anteriores não foi sempre assim, dona Riparia?

– Agora é diferente, tudo mudou. – Respondeu a andorinha reticente.

– Minha amiga, sinto que você não quer me contar tudo o que aconteceu. Deste jeito não temos mais o que conversar hoje e terei que encerrar a sessão. – Disse a terapeuta com voz doce, mas assertiva.

A andorinha deu um longo suspiro e baixou os olhos. – Doutora, desconfio que minha mãe anda traindo meu pai. Sabe estes oito pretensos irmãos de que cuidei? Pois alguns ali não tinham nada a ver comigo ou com papai. Eram criaturinhas estranhas, intransigentes e apressadas. Não me deixavam em paz um minuto e o pior é que eu tenho certeza de que nem meus irmãos mesmo eles eram. Ai que ódio! Como eu sou burra, devia ter deixado eles morrerem de fome ou minha mãe que os alimentasse. Depois que ela começou a demorar em suas saídas do ninho, receber visitas. Nunca imaginei que minha própria mãe… Humpf! E pior é que o bobo do meu pai não desconfiou de nada. Mas comigo que ela não irá mais poder contar, ela que arranje outro trouxa para enganar.

– Mas, Riparia, independentemente das escapadas de sua mãe, os filhotes não são seus irmãos do mesmo jeito? – Provocou a analista.

– O que? Aquelas pragas? Se fossem meus irmãos de todo, filhos de papai e mamãe, eu saberia. Mas não vou me dedicar a criar falsos irmãos que quase nada têm a ver comigo. Não mesmo! Nunca mais cuido de filhotes que não sejam meus parentes próximos. Ai, doutora, não sei mais o que fazer.

– Bom, por que não sai do ninho dos seus pais? Não procura sua própria toquinha no barranco e um marido só seu? – Depois da pergunta da psicóloga a andorinha permaneceu alguns momentos em silêncio e uma gota lhe escorreu das glândulas de sal.

– É, doutora, acho que você está certa. Vou é ter meus próprios filhotinhos, arranjar um bom marido que me respeite e a quem eu respeite como minha mãe não respeitou meu pai. Estou decidida a não voltar mais para o ninho dos meus pais este verão. – Decidiu-se a avezinha pegando mais um lenço de papel para enxugar os olhos. – Obrigada, doutora.

A doutora acompanhou a cliente até o parapeito da janela da sala de espera, de onde ela alçou voo rumo ao norte.

– Doutora, já ligaram cinco vezes passando trote. Telefonam, eu atendo e não dizem nada. – Avisou a recepcionista.

– Não, querida, é um tamanduá cliente meu.

 

Cornwallis CK, West SA, Davis KE, & Griffin AS (2010). Promiscuity and the evolutionary transition to complex societies. Nature, 466 (7309), 969-72 PMID: 20725039

Pensamento de Segunda

Idiotas! Pensam que jornalistas escrevem com as mãos.
Antônio Maria (Jornalista após ter suas mãos esmagadas por seus inimigos para deixar de escrever sobre eles)

Tudo em um ano 4 – Via Láctea

Reza a lenda que enquanto a deusa Hera dormia, Hermes colocou Hércules para mamar em seu seio para torná-lo imortal. Quando a deusa acordou deixou o herói cair e um jorro de seu leite espalhou-se pelo céu, formando a via láctea. Já os índios Tupi dizem que a Via Láctea é na verdade uma trilha de anta por onde passam as estações do ano, segundo o caderno de educação indígena aqui da UNEMAT

Se toda a história do universo fosse compactada dentro do ano de 2010, então no dia 18 de agosto teria surgido a nossa galáxia. Desde fevereiro que a poeira espalhada pela grande explosão vem se adensando em diversas partes do universo, por esses dias esta poeira tem se adensado nessas bandas aqui que um dia iremos chamar de lar. É como partículas flutuando em uma pia cheia de água que vai descendo pelo ralo, estas partículas vão cada vez mais se adensando no centro do vórtice, colidindo, aumentando sua massa e com isto sua atratividade gravitacional. Assim, quanto maior o aglutinado, mais ele tende a crescer.

A Via Láctea é hoje um cinturão de estrelas (de fato, todas as que vemos ao integrantes da Via Láctea, as outras estão distantes de mais para serem vistas da Terra) que contém nosso sistema solar. Se olharmos para a constelação de Sagitário estaremos olhando exatamente para o centro de nossa galáxia, Estamos apenas em um braço dela a aproximadamente 35 mil anos luz do centro. A Via Láctea vai girando a uma velocidade de 30 km/s, o que faz o sol levar 250 milhões de anos para completar uma volta.

Arte e Ciência – Nova série de Posts

Esta nova série de posts busca mostrar como arte e ciência podem viver de forma integrada. Não bastasse atribuirem à ciência o assassinato da religião, muitos alegam que ela também matou a arte, a beleza no mundo. Só a título de dois exemplos rápidos. Niko Timbergen narra em sua autobiografia, “the curious naturalist”, que sofreu duras críticas por sua visão analítica da coloração de camuflagem das lagartas nas florestas de coníferas européias. Seu mais ilustre aluno, Richard Dawkins, responde ao mesmo tipo de acusação em seu livro “desvendando o arco-íris”, baseado na acusação do poeta John Keats de que Isaac Newton teria destruído o arco-íris ao desvendar sua formação. Em ambos os casos a visão dos autores se parece bastante com a minha: acredito que haja beleza no conhecimento, explicações engenhosas de como o mundo funciona me parecem extremamente belas. É assim que surge está série de textos, com o objetivo de mostrar casamentos bem sucedidos entre a arte e a ciência.

Pensamento de Segunda

“Há um ditado que diz que “o gênio é uma grande paciência”; sem pretender ser gênio, teimei em ser um grande paciente. As invenções são, sobretudo, o resultado de um trabalho teimoso, em que não deve haver lugar para o esmorecimento.”
Santos Dumont

Manchetes comentadas 26 – Infalível polvo Paul termina copa invicto

taca espanha

A fúria levou o caneco

Foto obtida em www.ig.com.br

A Espanha acabou de erguer a taça da copa do mundo de futebol e teve gente que nem se preocpupou em assistir o jogo porque o resultado já havia sido previsto pelo maior vidente deste mundial, o polvo Paul. Não teve para comentarista nenhum, pai, mãe ou avós de santo, astrólogos ou matemáticos, a maior zebra dos bolões desta copa foi o polvo! Um bom cético não haveria de se surpreender com o desempenho do polvo, pensemos que a copa é composta de 64 partidas, pensemos também que existem três resultados possíveis com iguais probabilidades de ocorrerem: vencer, perder ou empatar, 33,3333…% de chance para cada resultado. Assim, a chance de acertar por acaso um jogo é de 33,33%, dois jogos seriam 33 x 33%, uns 10% de chance de acertar, três jogos dão pouco mais de 3% de chance de acertar e assim por diante. Tudo bem, a probabilidade de acertar os 64 jogos é da ordem de 1,5 x 10-31. Altamente improvável! Seria mais fácil acertar três vezes na mega-sena do que vencer este bolão. Mas veja bem, Paul não acertou os resultados das 64 partidas, ele só deu seu palpite infalível nos sete jogos disputados pela Alemanha, onde vive o oractópode, e a grande final. Isto resulta em algo como um acerto em cada dez mil tentativas. Certamente muitos bolões tiveram participantes com rendimento semelhante, oito acertos. Fica ainda mais fácil se imaginarmos que só há duas opções, vencer ou perder, descartando-se o empate, aí a probabilidade cai para cerca de um acertador em cada 250 apostadores. Poderia ter acontecido com sua tia-avó de cadeira de rodas, com um bebezinho, com a Larissa Riquelme, mas aconteceu com o Polvo Paul.

paulPaul escolhendo o mexilhão que estava na caixa da Espanha na véspera da final, decifro-te ao devorá-lo

Foto obtida em www.folha.com.br 

Mais interessante do que isso para mim foi ver no que pode resultar publicamente o enriquecimento ambiental. Enriquecimento ambiental é o aprimoramento do ambiente que um animal cativo habita de acordo com seu comportamento natural com o objetivo de melhorar seu bem-estar, segundo a Shape of Enrichment, ONG internacional dedicada a esta finalidade. O enriquecimento alimentar consiste em oferecer aos animais formas alternativas de se alimentarem. Por exemplo escondendo-o dentro de caixas de acrílico para que o animal precise retirá-lo ali de dentro. Uma das vantagens de aplicar o enriquecimento ambiental é que os visitantes ficam bem mais interessados no animal em questão. Depois que as apresentações de falcoaria e adestramento dos leões marinhos começaram no Zoológico de São Paulo estas tornaram-se algumas das principais atrações de lá. Se o objetivo de todo zoológico ou, no caso do polvo Paul, aquário é chamar a atenção para a fauna que eles abrigam, aumentar seu carisma e, com isto, a preocupação da população com a preservação das espécies. Então o jogo de adivinhações que o Aquário Sea Life, de Oberhausen, montou funcionou que foi uma beleza.

Parabéns aos espanhóis pela conquista. A esta hora estarão comemorando num banquete de paella, mas sem polvo!

Moção de repúdio

Este blogueiro manifesta-se aqui em repúdio à falta de gols do jogo de hoje que simplesmente arruinou as ideias de prosseguimento à série “anatomia de um gol”. Aprovieta-se do ensejo o autor para afirmar que neste ritmo as próximas postagens da série terão de ficar engavetadas até 2014.

O peixe cachimbo grávido

Naquela manhã no consultório psicanalítico

 

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– Ah, que gracinha! Quanto falta para a senhora dar à luz? – Perguntou a secretária novata tentando causar uma boa impressão e interagir com o paciente que acabava de entrar.

– Ora pois! Eu sou macho. Estás a estranhar-me? – O peixe cachimbo respondeu com forte sotaque português e muito mal humor.

A secretária, ligou para a analista: “Doutora, está aqui uma senhora grávida que diz ser macho. Mando entrar?”

– Entre, meu colega d’além mar. – Acolheu-o a psicóloga com um sorriso largo. – Há quanto tempo? Pois vejo que me traz boas novas, está grávido.

O peixe cachimbo entrou no consultório e logo se fez confortável no divã. Era longo o seu histórico de terapia, um caso clássico de crise de identidade, desses de ilustrar livro-texto. A despeito dos anos de terapia o bicho não conseguia quebrar o ciclo de repetir, recordar e reelaborar, talvez não fosse da sua natureza.

– Doutora, até sua secretária me confunde, no estuário todos se põem a rir de mim, caranguejos, camarões, vieiras. Ninguém me dá o devido respeito. Estou farto disto! – Desabafou o peixe cachimbo.

– Sei. E o que o senhor pretende fazer a respeito, Sr. Syngnathus?

– O que eu posso fazer, se nem minha parceira me respeita? – O peixe fez o bico mais comprido do reino animal.

– O senhor se respeita? – Perguntou a analista em tom de desafio.

– Ora pois! É claro que sim. – As nadadeiras dorsais do Sr. Syngnathus agora estavam eriçadas. Após o rompante de ira os longos segundos de silêncio fizeram o peixinho pensar de fato na pergunta à medida que suas nadadeiras baixavam novamente.

– A senhora acha que eu deveria me impor mais? Mas como? A mãe dos filhotinhos que carrego agora é uma fêmea grande, forte, tem quase 3 cm a mais que eu. É prepotente, agressiva. Ela me oprime! Não tem quem se imponha diante dela, espanta a todos os que se aproximam de mim. Na verdade, sei que estão todos a rir de mim dizendo que não sou eu o macho do casal. Só não escuto isso mais constantemente porque ela põe para correr todos os que resolvem criticar nossa relação.

– Então ela te protege vez por outra? – A analista perguntou num tom quase de afirmação.

– Sim, é muito protetora. Lhe adimiro neste ponto, quem me dera saber me impor desta maneira. Quando é assim com os outros não me importo, mas passa que o mesmo modo de lidar com os outros animais do estuário é o jeito dela em casa. Chega a me colocar medo. – Confessou o peixe cachimbo à boca miúda

– Sr. Syngnathus, a relação de vocês é de muita complementaridade, não é? Um é bastante o oposto do outro. Estou certa? – O peixe se restringiu a acenar afirmativamente com a cabeça, meio envergonhado do que assentia.

– O pior é que de uns tempos para cá apareceram mais fêmeas no pedaço. Nunca a vi tão agressiva. Sempre acabava sobrando uma grosseiria para mim. Ela criava confusão com casais a namorar, arrumava casos por aí, até em brigas se envolveu. Eu, por minha vez, só queria saber de romance. – O peixe cachimbo com aquela barriga cheia de filhotes e aquela cabeça cheia de problemas era uma imagem aterradora para a analista.

– O senhor é responsável pela sua vida. Não adianta se queixar, faça por merecer ou aceite a frustração desta relação de vocês. O senhor já considerou mudar-se para um lugar com menos fêmeas, talvez um lugar onde houvesse muito mais mulheres do que homens? – Perguntou a doutora.

Um lampejo de alegria varreu o rosto do peixe cachimbo de opérculo a opérculo e ele abriu o primeiro sorriso desde que a sessão começara.

– A Sra. acha que daria certo? Sabe, vou agora mesmo procurar um novo lugar para ir morar. Faz todo sentido, doutora. Muito obrigado, prometo que irei tentar.

Silva, K., Vieira, M., Almada, V., & Monteiro, N. (2010). Reversing sex role reversal: compete only when you must Animal Behaviour, 79 (4), 885-893 DOI: 10.1016/j.anbehav.2010.01.001

O opilião aproveitador

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Naquela manhã no consultório psicanalítico

 

– Ah, que horror! – A doutora, preocupada, correu para a antessala ao ouvir o grito de sua nova secretária. Desde que sua última pedira demissão, apavorada com um tubarão martelo enorme que estava deprimido pelo fim da simbiose de limpeza com uma peixinha recifal, ela decidiu contratar uma estudante de veterinária para o cargo. Pelo menos veterinários seriam mais acostumados à fauna que comparecia ao consultório. Na recepção sua secretária estava de pé sobre a cadeira, com um tamanco na mão pronta para atirá-lo. No outro canto do cômodo uma criatura cheia de longas pernas se encolhia contra a parede com os omatídeos arregalados.

pseudopucrolia

O Sr. Pseudopucrólia sobre o divã da doutora.

Foto de Glauco Machado

 

A terapeuta se colocou entre a secretária e o aracnídeo. – Calma, abaixe o tamanco. Ele é um cliente e é inofensivo. Não é uma aranha, mas um opilião. – Depois voltou-se para o bichinho sorrindo e convidou-o a entrar no consultório. Ela não imaginou que uma veterinária não teria familiaridade com animais menores.

Agora o opilião, um macho cheio de espinhos e bolotas nas pernas posteriores estava seguramente deitado no divã – O que tem a me contar, Sr. Pseudopucrolia? – Perguntou a dra.

– É a danada da culpa, doutora. Não sei mais o que fazer com ela.

– E o que te causa tanta culpa? – A doutora estava com um vestido até os joelhos e os cabelos, meio revoltos, soltos por cima dos ombros. Não havia um cliente que não a achasse linda.

– Doutora, sou um pai dedicado, protejo dos predadores meus futuros filhotes em seus ovos, mas no fundo sei que só estou me aproveitando disso. – O opilião respondeu fazendo um muxoxo de tristeza com as pedipalpos.

– E como é que você se aproveita dos seus filhotes? – A analista perguntou enquanto cruzava as pernas e reclinava o corpo para ouvi-lo melhor.

– Cuido bem dos meus ovinhos, mas é tudo uma desculpa para seduzir as mulheres. Tem um monte de fêmeas que ficam caidinhas por um bom pai e eu me aproveito disso. Desde que consegui minha primeira leva de ovos desta estação reprodutiva já acasalei com outras cinco! – Disse o aracnídeo, gabando-se.

– Entendi. É comum que as fêmeas gostem de rapazes que saibam cuidar bem dos seus filhotes, protegê-los e ajudá-los a sobreviver. Não há do que se envergonhar por ser um bom pai, você não está obrigando elas a nada.  Pode ter certeza de que, enquanto você cuida dos seus ovinhos, elas estão por aí, se alimentando, tem até muitos outros ovos mais para deixar com outros machos, se assim preferirem.

– Exatamente, doutora. Às vezes até invejo os machos sem cria, que passam o dia vadiando, sem ninguém a se preocupar além de si mesmos. Mas tenho certeza que na hora do amor é o meu ninho que estará cheio e eles estarão tristes e solitários. Sabe que tem uns caras que, tamanho o desespero, chegam a roubar os ovos de outros pais para fingir que são seus? Um verdadeiro horror! – Confidenciou o cliente.

– Pois acredito em você. Aliás, isso é mais comum do que o senhor pensa aqui no consultório. – Disse a analista.

– A senhora quer ver uma foto dos meus filhos? Olha que lindos. – O Sr. Pseudopucrolia sacou de um bolso da carteira a foto abaixo. Nada muito visualmente atraente.

 

pseudopucrolia ovos

O bom pai e seus filhinhos

Foto de Glauco Machado

 

-Hum, que gracinha. – Disse a terapeuta sem conseguir disfarçar muito bem o desinteresse.

-Você achou? Quem sabe não gostaria de passar lá em casa um dia desses para conhecê-los melhor? – O opilião estampou um sorriso sedutor nas quelíceras encarando a doutora.

A terapeuta lançou-lhe um olhar de repreensão encaminhando-se à porta. – Estamos conversados por hoje, senhor Pseudopucrolia. Passar bem!

O opilião saiu visivelmente envergonhado do consultório enquanto a doutora dava um profundo suspiro ao notar a escrivaninha da secretária vazia exceto por um bilhete onda a palavra DEMISSÃO podia ser lida à distância.

 

Nazareth, T., & Machado, G. (2010). Mating system and exclusive postzygotic paternal care in a Neotropical harvestman (Arachnida: Opiliones) Animal Behaviour, 79 (3), 547-554 DOI: 10.1016/j.anbehav.2009.11.026