Big Five – Búfalo

Depois do leão e do elefante, o búfalo (Syncerus caffer) não é exatamente dos mais glamurosos animais africanos, ainda mais levando em conta que ficam de fora da lista dos big five animais como a girafa e o hipopótamo. Mas lembrem-se que os big five referem-se aos cinco animais mais difíceis de serem caçados ou fotografados na África. Nessa lista o búfalo certamente merece um lugar, apesar de suas manadas que podem atingir até milhares de indivíduos.

Os búfalos africanos são animais muito dependentes de água e capim fresco. A disponibilidade de alimento ainda afeta mais a população do que a predação ou os parasitas. É que, sem alimento por algumas horas, o búfalo não consegue manter sua temperatura corporal e acaba morrendo por motivos fisiológicos. Por isso o ciclo de vida desses animais, assim como muitos outros, é regido principalmente pelas estações de chuvas com grama verdinha e abundante.

A dificuldade em lidar com os búfalos reside em sua agressividade. Quando acuados ou perseguidos eles são coesos no grupo e bastante valentes. Retribuem o ataque sem muita dúvida usando como armas seus longos chifres que começam descendo a cabeça e logo curvam-se para cima.

Aqui no Mato Grosso, em Chapada dos Guimarães mora um casal que fundou a pousada do inglês. A aconchegante (porém cara) pousada é gerida pelo inglês que lhe dá nome que todas as tardes partilha o seu chá com os hóspedes entre narrativas de suas caçadas na África. Seus troféus estão espalhados por toda a pousada e inclui diversos pés de búfalo. O tal inglês veio para o Brasil depois de muitos anos na África como caçador que protegia os empregados de construções de rodovias e ferrovias. Aqui seu trabalho passou a ser livrar-se dos búfalos selvagens em Marajó que, ao que ele conta, atraiam os domésticos para a fuga. Atente para o fato de que os búfalos da ilha de Marajó nada têm a ver com os africanos, tendo sua origem nas Filipinas e sendo muito mais dóceis. Certamente a Chapada dos Guimarães merece uma visita e, se lhe permite o orçamento, ficar na Pousada do Inglês é recomendado por esse blogueiro que vos escreve.

Só mais uma coisa. Sou um entusiasta da etimologia dos nomes científicos, o que os torna bem mais fáceis de entender. O búfalo africano é chamado Syncerus caffer. Syn é o prefixo que significa “unido”, cerus é “chifre”. Repararam como os chifres do búfalo parecem unidos em sua base? Caffer representa apenas a região de ocorrência da espécie, a região de Caffara, na África do Sul.

Big Five – Elefante

 


Além de abanar as orelhas, os banhos de terra ajudam a evitar a insolação. www.arkive.org e www.amnh.org

Além de abanar as orelhas, os banhos de terra ajudam a evitar a insolação. www.arkive.org e www.amnh.org


 

O maior dos big five e maior animal terrestre atual, o elefante africano, está representado na fauna por duas espécies, uma habitante das florestas (Loxodonta cyclotis) e uma das savanas (Loxodonta africana). No museu de anatomia comparada da USP há um esqueleto de um elefante, no caso um asiático, montado. É quase irreconhecível. Acontece que o elefante é muito característico por sua longa tromba e grandes orelhas, ambos compostos de cartilagens e que não permanecem após os processos de preservação do esqueleto. O esqueleto é uma cabeçorra imensa que deixa ver a inserção das orelhas e tromba que não estão lá. As orelhas no elefante africano funcionam na verdade como dois grandes radiadores. Repleta de veias, elas ficam injetadas de sangue quando faz calor. O animal então começa a abaná-las para refrescar o sangue que retorna mais frio para o interior do corpanzil que, de tão grande, tem muita dificuldade de resfriar-se. Quanto à tromba, nada mais é do que um nariz alongado e musculoso cheio de invejáveis habilidades. O elefante pode aspirar água pela tromba só até certa altura, dobrá-la e esguichar essa água dentro da boca, ele pode fazer um movimento de pinça com as pontinhas da tromba para apanhar no chão um amendoinzinho, pode mesmo enrolar um objeto maior e pesado com a tromba inteira e levantá-lo do chão. Os incisivos do elefante africano também são modificados em duas longas presas pontudas que crescem continuamente tanto nos machos como nas fêmeas. Os elefantes usam seu marfim para revirar a terra e apoiar troncos.

Crânio de elefante. O orifício central único é onde insere-se a tromba, mas confundia os antigos parecendo a cabeça de um ciclope

Crânio de elefante. O orifício central único é onde insere-se a tromba, mas confundia os antigos parecendo a cabeça de um ciclope

 

Os elefantes andam em enormes grupos de até centenas de indivíduos guiados por uma fêmea, em geral a mais velha do grupo. É ela que define a direção a seguir, a hora de se alimentar, de tomar banho ou dormir. Quando está velha a matrona é abandonada pelo grupo ou deixa-os ela mesma e vaga solitária até que morra. Já os rapazes elefantes têm uma história bem diferente, ao alcançarem a maturidade sexual, por volta dos 25 anos, deixam as barras das saias das mães e vão tentar a sorte. Eles definem territórios lutando violentamente com outros machos. Essas brigas são tão feias que assustam humanos por toda a África. Os machos permanecem solitários ou em pequenos grupos em seus territórios. Eventualmente os bandos de fêmeas cruzam esses territórios e cabe à matrona recordar-se se o macho dali é amigável ou não, o que elas fazem com grande habilidade. Daí a expressão “memória de elefante”.

 

Outro aspecto interessante da vida social dos elefantes é sua habilidade em comunicar-se pelo solo. Vibrações geradas pelo bater de pés de um grupo distante em fuga, por exemplo, podem ser percebidas através das patas ou trombas do elefante, uma habilidade que os cientistas chamam de comunicação sísmica. Elefantes também podem produzir sons em freqüências extremamente baixas e que se deslocam por longas distâncias para comunicar a presença de uma ameaça, água, alimento ou uma fêmea no cio. Essa forma de comunicação só foi descoberta nos anos 80 acidentalmente enquanto a pesquisadora Katy Payne acelerava fitas K7 nas quais tinha gravado elefantes. Partes que em velocidade normal pareciam não ter nada gravado revelaram um longo diálogo em infra-som entre animais separados por mais de 3 km.

Big Five – Leão

Selo da Blogagem Científica da África

Selo da Blogagem Científica da África

Falar em África e pensar em grandes mamíferos é na verdade um grande clichê, mas não pude evitar. Minha formação de zoólogo me proíbe de pensar automaticamente em qualquer outra coisa quando se fala em África. Depois do livro sobre África que li percebi que tem muito mais coisa no continente além de grandes mamíferos, mas não vou fugir da expectativa e aproveitarei a blogagem coletiva sobre África para falar dos “Big Five”, os cinco grandes mamíferos mais procurados da África. Originalmente referia-se aos animais mais difíceis de serem caçados, hoje são os mais difíceis de serem vistos nos safáris fotográficos.

o comprimento, cor e extensão das jubas varia muito entre populações e de acordo com o clima

O comprimento, extensão e cor da juba variam muito com a idade, dieta e clima

Começarei pelo leão (Panthera leo). O rei da selva habita savanas muito parecidas com o nosso cerrado, cheia de gramíneas e árvores baixas e retorcidas, nada de uma selva densa e alta como as que ocorrem na África equatorial. Outro mito interessante é que o leão muitas vezes toma a caça de outros predadores ou alimenta-se de carniça. Apenas metade da alimentação do leão é caça abatida por ele, menos do que a hiena, por exemplo.

Os leões são a exceção que valida a regra no que se refere aos hábitos solitários dos felinos. Enquanto a maioria dos felinos vive isoladamente exceto no momento do acasalamento e cuidado à prole, os leões “inventaram” um sistema de caça cooperativa, o que lhes permite capturar presas muito maiores do que eles próprios, como rinocerontes, girafas e hipopótamos. Os grupos são formados por cerca de 13 indivíduos, dois ou três machos que defendem seis fêmeas e seus filhotes. Os machos são, em geral, aparentados e têm o hábito de matar os filhotes quando tomam para si um grupo de fêmeas, o chamado efeito Bruce. Assim, essas fêmeas voltarão a ficar férteis gerando filhos dos novos machos. As fêmeas cuidam da prole e realizam mais de 80% da caça enquanto os machos defendem o território e a posse de suas fêmeas.

Outra curiosidade interessante é que leões podem ficar dias sem beber água na estação seca. Já foram vistos alguns desses animais bebendo a água que estava no estômago de suas presas recém abatidas. Os leões são ímpares também por suas jubas, mais longas nos indivíduos distribuídos em climas mais frios. Essas jubas são decorrentes da testosterona nos testículos do leão, o que impede a realização de castrações nos zoológicos, onde os felinos costumam acasalar-se demasiadamente. A saída tem sido vasectomias.
e para o almoço: estrelas hollywoodianas

e para o almoço: estrelas hollywoodianas

O temível leão, na verdade tem sua maior ameaça em nós humanos. O aumento da área agriculturável e das alterações na savana africana pela presença humana tem levado muitas populações ao colapso. Os leões não são grandes ameaças a nós humanos, há uma lenda sobre leões comedores de humanos que diz que, após provar nosso sabor um leão nunca mais se contenta com bisteca de zebra. Um simples fruto de nossa prepotência. Que eu saiba nunca fizeram experimentos de preferência alimentar de leões usando carne humana, mas isso me parece uma grande bobagem. Apesar disso, em 1890 dois leões vitimaram cerca de 140 funcionários de uma ferrovia antes de serem abatidos, o que deu origem ao filme: “A sombra e a Escuridão”. Hoje esses animais estão concentrados em grandes reservas naturais no Quênia, Tanzânia, Zimbábue, África do Sul e Botswana, além de uma população pequena de leões na Índia.

Leão no Parque Gir, Índia

A porta

Eu sou feita de madeira

Madeira, matéria morta

Mas não há coisa no mundo

Mais viva do que uma porta.

 

(…)

Eu fecho a frente da casa

Fecho a frente do quartel

Fecho tudo nesse mundo

Só vivo aberta no céu!

(Vinícius de Moraes)

 

Tem tempo que a porta da casa onde moro se deteriorou bastante e estava precisando trocá-la. Não imaginava o trabalho que é trocar uma porta. O serviço bastante sujo começou ontem, tiramos a porta antiga, amassadinha, e estávamos aguardando a entrega da nova porta. Ela não veio. Passei a noite sem porta em casa num misto de protetor das minhas coisas e medroso. Se fechava a porta do quarto ficava com medo de alguém entrar e levar minhas coisas. Se a deixava aberta temia por mim mesmo. Foi uma noite tensa.

o que restou da minha porta, snif

o que restou da minha porta, snif

Por que será que tanto me afligiu essa situação? Somos bichos territoriais! Essa noite um desses fenótipos estendidos que criamos para expressar nossa natureza humana mais animal me faltou. Meu território estava desprotegido, sem porta. Nosso DNA, atualmente considerado o principal nível de atuação da seleção natural, é simplesmente um codificador de proteínas e peptídeos. Teoricamente ele nada diz sobre açúcares, gorduras ou qualquer outra molécula do mundo que integra seres vivos, que dirá seus comportamentos ou conseqüências dele. A teoria do fenótipo estendido, proposta pelo inglês Richard Dawkins, sugere que, apesar do DNA só codificar proteínas, tudo em nossas vidas está definido nos genes. É que as proteínas advindas do DNA podem afetar a formação de outras moléculas orgânicas como gorduras, açúcares ou outras moléculas, podem ainda definir um comportamento e até efeitos desse comportamento no ambiente. Seus exemplos preferidos de fenótipo estendido no livro são os cupinzeiros e as barragens dos castores. O meu hoje é a minha porta. Tudo bem, essa teoria do Richard Dawkins é bem determinista e coloca os genes como o centro de tudo, aliás, como tudo o que ele escreve. Mas hoje essa porta está me fazendo falta como uma enzima digestiva!

O território é uma forma de nós, animais, resolvermos em parte o problema da competição. Pegamos recursos escassos como área ideal para se viver, alimento, talvez até a nossa parceira sexual, guardamos naquele território e pronto, estamos seguros. Às vezes esses recursos podem ser tão raros e valiosos que outros bichos nas cercanias tentam tomá-los de nós. Daí nós guardamos melhor e melhor nossos recursos. Só nas cercanias aqui de casa hoje, mobilizado por esse tema, me saltaram aos olhos o tanto que nossa vida é pautada pela territorialidade. Na esquina tem uma revenda de portões e cercas de madeira, em frente um chaveiro, na outra rua uma empresa de seguranças e nos fundos uma academia que dá aulas de Muay Thai (!?!).

Uma aluna minha, a Larissa, está trabalhando com comportamento canino. Outro dia estávamos conversando sobre como evitar que um cão ataque pessoas ou outros cães. Imediatamente sugerimos tirá-lo de casa e fazer as apresentações na rua. Isso surpreende muita gente, mas é bastante lógico na verdade. Imagine-se em sua casa quando de repente aparece um cara de 1,90m com bíceps da grossura das suas coxas e uma cara meio brava. Me deparei com esse cara na academia outro dia e isso não me surpreendeu muito. A situação é totalmente diferente. Para o cachorro também. Cães, como nós humanos, são animais territoriais.

No momento em que digito esse final ouço o ruidinho áspero do concreto sendo assentado nas margens da minha porta nova e sinto o cheiro tão peculiar do cimento úmido. A casa está uma zona, toda suja, ainda terei que esperar o pintor reparar os estragos na pintura, mas essa noite dormirei melhor. Meu genótipo voltou a se expressar por inteiro, tenho uma porta novamente.

Ciência cotidiana 4 – Por que o feijão cozinha mais rápido na panela de pressão?

Alguns alimentos mais duros freqüentemente têm que ser preparados numa panela de pressão, uma verdadeira arma dentro de casa, responsável por inúmeros acidentes todos os anos. É uma panelona mais robusta, feita em aço inox ou alumínio, com uma tampa que se fecha hermeticamente (sela com perfeição) e uma válvula no alto que fica girando e esguichando vapor pelos furinhos. Uma engenhoca e tanto.

Basicamente, o que acontece no interior da panela de pressão é que, à medida que o fogo aquece o material ali dentro, as moléculas começam e se agitar mais rápido (você deve se recordar disso do post sobre o microondas) e, com isso, aumentam a pressão ali dentro. Numa panela normal essa pressão vazaria pelas frestas entre a panela e a tampa, mas a panela de pressão é vedada.

A pressão ali dentro aumenta cada vez mais. Agora vem a grande sacada. Talvez o leitor se lembre da fórmula Clapeyron (P x V= n. R. T onde P é a pressão, V o volume do recipiente, n é o número de mols presentes no recipiente, R uma constante de conversão chamada constante internacional dos gases e T a temperatura). O que essa verdadeira sopa de letrinhas significa, e que quase nenhum professor de física consegue explicar de forma menos indigesta, é que a pressão é diretamente proporcional à temperatura. Quanto maior a pressão, maior a temperatura e mais rápido o cozimento, o que torna a panela de pressão um verdadeiro inferno portátil a serviço da culinária.

Mas a pressão dentro da panela não pode aumentar indefinidamente. Por isso existe a válvula no alto da tampa, além de permitir a evasão da pressão na hora de abrir a panela. Os acidentes ocorrem quando essa válvula deixa de funcionar por algum motivo. A pressão aumenta no interior da panela além do que o metal ou a tampa conseguem suportar e o conjunto todo explode, fazendo uma grande sujeira além de colocar em perigo alguém que esteja por perto.

Manchetes comentadas 7 – Já passa de 100 o número de mortos pela chuva em SC

Nos últimos dias Santa Catarina tem passado por muitos problemas devido às chuvas torrenciais, alagamento de ruas, deslizamentos de terra e diversos outros problemas decorrentes das chuvas, como saques a mercados e contaminação da água potável. Pode-se aventar a responsabilidade das mudanças climáticas ou do El niño, mas não é sobre isso que vou escrever. Foi o crescimento populacional descontrolado que me veio à mente quando li essa manchete.

Em termos de ocupação territorial nós humanos não progredimos muito desde tempos remotos. A busca por um rio ou o mar na hora de estabelecermos nossas tribos/cidades continua até os dias de hoje. Minha cidade atual, Tangará da Serra-MT, foge um pouco disso. Mas também, foi criada em 1979. Parece que a população brasileira concentra-se cinco vezes mais nas proximidades do litoral do que no restante do país. Isso deve-se à idade das cidades, facilidade de acesso aos recursos pesqueiros e ao transporte por mar, entre outros. Isso não é muito diferente de diversos outros países, mas aqui tem conseqüências específicas.

 

Acontece que a maior parte do nosso litoral é acompanhado por um maciço montanhoso granítico conhecido como Serra do Mar. Essa serra de grande declividade fica muito próxima do litoral, espremendo diversas cidades contra seus paredões. Com o crescimento populacional e inchaço das cidades, a população começa a assentar-se morro acima. É o que se vê nas favelas cariocas, por exemplo. Aí entra um segundo fator decisivo. Devido à mesma declividade a quantidade de terra acumulado sobre essas encostas é relativamente pequena, o que torna instável qualquer coisa que se construa sobre ela. A terra tende a ficar ali desde que haja raízes e vegetação contendo-a, mas basta subtraí-la para construir casas que os deslizamentos são quase inevitáveis.

A água da chuva percola a fina camada de terra que cobre a serra do mar, em seguida encontra o maciço granítico impermeável e corre sobre ele depressa, levando consigo a terra acima, casas, pessoas e tudo o mais. Essa terra ainda irá depositar-se sobre o que estiver imediatamente no sopé do morro, soterrando-o.

A figura mais tosca que eu consegui fazer em 10 minutos para explicar percolação

É isso o que estamos observando em Santa Catarina. Efeitos do aquecimento global, possivelmente, somado a um crescimento populacional, provavelmente, e a uma má política fundiária, certamente. De fato o Brasil até conta com legislação específica para evitar esse tipo de ocupação desordenada das encostas. Mas a fiscalização e punição dos infratores, como sempre, deixa a desejar.

Nossos cidadãos vivem como os famosos lemingues do jogo de computador. Um caso que de fato ocorre nos penhascos da Noruega onde esses roedores habitam. Com comida abundante e poucos predadores alcançando seu habitat, o crescimento populacional deles é tão explosivo que os bichinhos muitas vezes despencam dos paredões superlotados, morrendo em virtude da queda. Nós humanos somos capazes de controlar boa parte dos fatores ecológicos que limitam nosso crescimento populacional. Chega, contudo, uma hora em que algum fator nos limita. No momento essa limitação restringe-se ao litoral catarinense. Quem sabe se está próximo o dia em que toda a população humana atingirá sua capacidade de carga no planeta e nossa população terá um baque como a dos lemingues?

 

Eles pelo menos têm a desculpa de que não pensaram em planejamento familiar.

Eles pelo menos têm a desculpa de que não pensaram em planejamento familiar.


Imagens obtidas em estadao.com.br, wikipedia.org e brasilescola.com

Ciência cotidiana 3 – Por que a pipoca estoura?

Uma cápsula de metal recheada com pólvora e um pavio. Algo tão simples já tirou a vida de milhares de pessoas na história da humanidade. A reação causada pelo fogo no explosivo gera uma expansão rapidíssima do conteúdo da cápsula, que retém a pressão o quanto dá. De repente ela não suporta mais e se estilhaça lançando cacos em alta velocidade para todos os lados. Aí está uma bomba. Troque o metal da cápsula por papel e acrescente alumínio ou ferro à pólvora para as faíscas ficarem brilhantes e vira fogos de artifício.

Curioso, o mesmo processo é o que leva a pipoca a estourar. A semente do milho é rica em água. Água aquecida vira vapor que, por ser mais quente, é também menos denso e mais volumoso. O vapor de água na semente de milho se expande e começa a fazer pressão para sair. Bem, mas a maioria dos alimentos tem água em seu interior e nem por isso sai explodindo por aí. O que o milho tem de diferente é o fato de ser uma semente. Toda semente é recoberta por um tegumento, uma camada de tecido vegetal resistente e impermeável. O tegumento funciona na semente de milho como a cápsula funciona numa bomba, ele irá reter a expansão do vapor de água até que não resista mais e exploda.

E se esse tegumento estiver rachado ou perfurado? Daí o vapor escapa e o milho não explode. Os famosos (e inconvenientes) piruás. Para os que gostam, segue o link para um ensaio muito sensível do Rubem Alves sobre a vida, o milho e o piruá. (http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp)

Manchetes comentadas 6 – Ataque de abelhas mata 1 e fere 10 em rodovia paulista

Trabalhadores de uma empresa terceirizada para a manutenção de uma rodovia no interior de São Paulo foram surpreendidos por um enxame de abelhas africanizadas enquanto roçavam o mato às beiras da rodovia. Um senhor de 65 anos morreu de insuficiência respiratória e muitos outros funcionários ficaram feridos. Alguns tiveram que se atirar num rio para evitar as ferroadas.


Imagem obtida de www.eol.org

Imagem obtida de www.eol.org


As abelhas são animais altamente sociais, inclusive atacando violentamente ameaças às colméias. Os ferrões são na verdade modificações do ovopositor, como são parte das vísceras do animal, a ferroada tende a levar à morte a abelha. Em sua base o ferrão tem uma glândula de veneno que costuma ficar na pele do ferroado. Por isso não retire o ferrão com o dedo ou você irá injetar mais veneno, uma pinça de ponta curva resolve isso.

Em 2007 eu mesmo tive uma experiência nada agradável com abelhas. Eu, uma segunda professora e outros 24 alunos em aula de campo passamos perto demais de uma colméia e despertamos a ira desses bichinhos, foi um baita susto. Nem é necessário tocar o ninho, fazer barulho próximo demais a um é suficiente. Cansei de contar as ferroadas quando cheguei em 120, tomei um antialérgico e um analgésico e tudo ficou bem. Entre os alunos tivemos muito inchaço, dificuldade de respiração, dor de cabeça, febre e até diarréia.

As abelhas que causam os maiores problemas no Brasil são as africanizadas. Abelhas melíferas africanas, introduzidas no Brasil na década de 50 por serem mais resistentes que as européias ao calor, fugiram das criações e começaram a acasalar-se com as abelhas européias trazidas ao Brasil no século XIX. Esse deve ser o evento melhor conhecido de invasão biológica no país, já que partiu de um laboratório em Ribeirão Preto, SP. Vivendo longe do manuseio constante das apiculturas a abelha africanizada torna-se muito agressiva e, devido ao seu grande número, pode chegar a matar, como ocorreu ontem.

Em campo sempre é vantajoso ter a maior parte do corpo coberto por roupa, mesmo que esteja calor. Isso evita um ataque mais eficiente das abelhas, mas também insolação e desidratação. Outra boa medida é manter outras pessoas informadas sobre o paradeiro da equipe e seu cronograma. Assim, caso haja alguma demora a ajuda pode ser acionada. Em ocorrendo um ataque de abelhas é válido cobrir a cabeça com a blusa, isso expõe o abdome a picadas, mas protege a cabeça, que é mais sensível. Afastar-se o mais rápido possível do local também salva vidas.

Ciência cotidiana 2 – Como funciona um forno de microondas?

Maravilhas da tecnologia! Hoje em minha cozinha prescindo de um fogão, mas acho que nunca mais sobreviverei sem um forno de microondas. Esse eletrodoméstico que já se infiltrou nas casas das mais puristas Amélias do país, apesar de sua utilidade, ainda tem seu funcionamento envolto em uma névoa de mistério. Abre a portinha, coloca ali o prato congelado, aperta meia dúzia de botões, assiste-se ao cronômetro regressivo ou à bandejinha a girar e, após três apitos, lá está o seu jantar pronto.

Feitiçaria? Não, é tecnologia. O forno de microondas é baseado em um princípio da física chamado ressonância. Segundo esse princípio duas ondas com a mesma freqüência tendem a aumentar sua amplitude. As microondas do nosso forno têm a mesma freqüência de vibração que as moléculas de água, gordura e açúcar, 2500 Mhz. No caso das microondas o que entra em ressonância com ela é a água. Variações dessa mesma técnica são usadas por uma criança para brincar no balanço, numa ressonância magnética médica ou na antena do rádio. O forno faz vibrar por ressonância as moléculas presentes no alimento. E o que essa vibração tem a ver com aquecer comida? Bem, o calor é simplesmente a forma como sentimos as partículas em movimento.

É por essa história da refração que não se pode usar material reflexivo dentro desse tipo de forno. As ondas incidiriam no recipiente e refletiriam “cozinhando” o eletrodoméstico em vez do alimento. Os recipientes chamados de refratários não são aquecidos pelas ondas e nem as refletem, por isso são ideais. Também é por isso que o microondas não é exatamente a melhor forma de secar seu gatinho. Ele não faria vibrar apenas a água dos pêlos do bichano, mas também aquela presente em seu sangue e órgãos, cozinhando-o. Por falar em cozinhar por dentro, o papo de que o microondas cozinha de dentro para fora é lenda. Ele aquece quase por igual a parte de fora e a de dentro, já que a radiação das microondas atravessa o alimento, o calor se expande por radiação, ao invés da condução do forno a gás. Daí que a casquinha do pão que você aquece ali não tosta mais que seu interior, dando à casca a textura tão molenga quanto o interior da massa.

Manchetes comentadas 5 – Juiz recusa promoção e fica no caso Dantas

Expirou ontem o prazo para o Juiz Fausto de Sanctis, responsável pelos dois mandatos de prisão expedidos contra Daniel Dantas em decorrência da operação Satiagraha, candidatar-se ao cargo de desembargador do Tribunal Regional Federal. Parece que causou grande surpresa o ato do juiz. Surpresa aos colegas, não a mim. Os benefícios de assumir tal cargo vão além do financeiro, que ao que consta é de apenas 5% acima do soldo atual. O principal atrativo vem do prestígio de ser um desembargador do TRF, os holofotes.
Ora, se o juiz já tem sido assunto de tantas reportagens com o bom trabalho que tem prestado nas operações da Polícia Federal (trabalho esse freqüentemente desfeito pelo Sr. Gilmar Mendes do STF e seus Habeas Corpus), os holofotes já estão com ele. Assumir o cargo seria recomeçar sua ascenção e ser afastado justamente do que lhe tem garantido popularidade.
Isso tudo me remete a um conceito famoso da ecologia. O de custo e benefício. Segundo ele, qualquer organismo só tende a realizar uma dada tarefa se os benefícios de realizá-la forem maiores do que seus custos. Por causa dela um guepardo sabe até onde insistir em perseguir uma gazela e quando parar de correr. Por causa dela um sapo sabe quão alto coachar para atrair uma fêmea sem acabar chamando a atenção de um predador. Também é por causa dela que nosso juiz não abriu mão do caso Daniel Dantas para concorrer ao TRF. O custo (deixar a projeção da Satiagraha) supera em muito o benefício (Desembargador). Ainda mais que não há garantias de que ele assumiria o cargo, apenas concorreria a ele.