Adestrador de Cães, Profissão Biólogo
Sarah Leandrini – Adestradora de Cães
Trabalho com adestramento e passeio de cães na cidade de São Paulo, acho que posso dizer na área de serviços para animais de estimação ou “pets”. Eu trabalho como autônoma, mas pretendo futuramente abrir uma empresa como Microempreendedor Individual.
Acredito que esse mercado tem mais espaço para biólogos. Não há uma formação universitária específica para trabalhar com cães. Conheço biólogos, veterinários e zootecnistas que fazem este trabalho, mas também conheço publicitários, bancários, pessoas sem formação universitária. Acho que o mais importante da profissão é gostar de animais e ter paciência, mas a formação do biólogo ajuda a compreender melhor os aspectos comportamentais e de aprendizagem dos cães.
Não diria que há uma habilidade especial exigida, mas uma qualidade fundamental é a paciência, para lidar com os cães e também com as pessoas relacionadas a eles. A mudança comportamental do animal depende muito do envolvimento dos donos, e fazer com que eles participem do processo de aprendizado do cão requer muita paciência. Outras habilidades/qualidades: saber se relacionar bem com as pessoas, ser educado, saber falar e se expressar de forma clara, assertividade, liderança com os cães, sensibilidade, resolução de problemas, disposição para aprender, saber lidar com frustrações, coordenação motora (para segurar a guia, brinquedos, petiscos, etc.), agilidade, capacidade de observação.
No adestramento eu ensino comandos básicos de obediência aos cães (como sentar, andar junto, dar a patinha, deitar, ficar e vir quando é chamado). Eu trabalho principalmente com o reforço positivo, que é dar algo agradável ao animal quando ele faz o comportamento certo (carinho, elogio, brinquedo, comida, etc.). Durante o treinamento de comandos básicos eu já começo a abordar alguns problemas comportamentais (como agressão, medo, falta de limites, etc.). Mas o foco na resolução dos problemas é dado depois do treinamento, quando há uma relação de confiança e o cão obedece mais.
No passeio eu levo os cães para passear (meio óbvio, mas é isso!). É um passeio estruturado, o cão tem que andar junto e me obedecer. Se ele já é treinado fica mais fácil, se não é tem que treinar os comandos junto, senta, fica e espera. Se ele gosta de alguma brincadeira (pegar bolinha, brincar com outros cães, etc.) eu procuro incluir isso no passeio, pois deve ser agradável e gastar a energia dele.
Não tenho horário de trabalho fixo, depende da quantidade de clientes e da disponibilidade deles. Eu procuro trabalhar durante a semana, enquanto ainda está claro. O bom é que eu consigo ter horários mais flexíveis, mas o ruim é que tem cliente que só pode fora do horário comercial (para entregar e receber o cão).
Não tenho um ambiente formal de trabalho. Eu trabalho na rua, em praças, parques ou na casa do cliente. No adestramento eu geralmente procuro lugares calmos, com pouca distração para o cão, o que acaba sendo agradável. É bom porque eu saio bastante, e vario os lugares. Mas quando chove eu não faço o passeio (deixo de trabalhar e de receber) e dependo da disponibilidade do cliente de fazer o adestramento em casa.
Com relação à formação, foram necessários dois cursos de adestramento e um curso de passeio. Também fiz um mini-curso de gestão e marketing. Na graduação eu gostei muito de Embriologia, mas não tem nada a ver com o trabalho. Gostava também de Zoologia, Neurofisiologia, Bioquímica. Fiz uma disciplina de Comportamento Animal, que na época era optativa. No ano anterior ela não foi oferecida, então a turma ficou muito grande, o que dificultou um aproveitamento maior. No trabalho, as disciplinas que mais uso são um pouco de Comportamento Animal, Zoologia e Evolução, e uma da Licenciatura (acho que era Psicologia da Educação) na qual eu aprendi um pouco sobre aprendizagem e condicionamento.
Como muitos biólogos formados por universidades públicas eu terminei a graduação com a iniciação científica e ingressei no mestrado, na área de Ensino de Ciências. Cheguei a atuar como professora durante a graduação e depois, durante o mestrado, mas percebi que não tenho o perfil de professora de sala de aula, não gostei muito da experiência. Também fui percebendo, durante o mestrado, que não queria seguir carreira acadêmica, e estava insatisfeita com o rumo que a minha vida estava tomando. Foi quando meu marido teve a ideia de eu levar os cães do condomínio para passear, pois eu passava muito tempo em casa e escutava vários cães latindo, sozinhos nos apartamentos. Com essa ideia eu comecei a procurar cursos, ler livros, artigos sobre o assunto. Consegui meus primeiros clientes quando mudei para a Vila Madalena. Estou divulgando o trabalho, fiz um blog (http://caopanhiadasarah.wordpress.com/) e estou trabalhando na captação de mais clientes.
O que me motiva profissionalmente é a paixão pelos animais, principalmente os cães. Eu gosto muito de interagir com eles e observá-los. Também me motiva muito saber que o meu trabalho ajuda as pessoas a terem um relacionamento melhor com os seus cães, seja porque eles ficam mais calmos depois do passeio ou porque as pessoas aprendem a se comunicar melhor e têm um cão mais educado com o adestramento. Um grande desafio para mim é a parte de gestão do negócio e divulgação. Eu entendo pouco disso, e na faculdade não tive formação nessa área. Acho que falta muito nos cursos de Biologia uma visão mais empreendedora da profissão. Outro desafio é conseguir envolver os donos na educação do cão. Algumas pessoas tendem a achar que o adestrador faz milagres, e deixam toda a responsabilidade em cima dele e do cão. É um pouco frustrante ver o cão me obedecendo muito bem e sendo “mal educado” com o dono. Um problema da profissão é que, como autônomo, você trabalha sozinho. Eu fiz cursos, leio muito, mas às vezes sinto falta de discutir com alguém que tenha mais experiência sobre as dificuldades. É importante criar uma rede de relacionamento profissional, para ter pessoas com quem discutir sobre os problemas que você enfrenta no dia a dia.
Que recomendação eu daria a um aspirante a seguir a mesma carreira que escolhi? Estudar muito, procurar livros e artigos (grande parte da literatura está em inglês, por isso é necessário pelo menos saber ler nesta língua), fazer vários cursos e conhecer diferentes metodologias de adestramento. Aqui em São Paulo existem empresas que oferecem cursos de adestramento e passeio. Vale a pena também investir em cursos de administração, gestão e marketing, porque é um negócio como outro qualquer. Outra possibilidade é procurar emprego em creches caninas ou empresas que oferecem o serviço de adestramento ou passeio. O salário não é alto, mas alguns lugares dão um treinamento, o que já conta muito para a experiência.
Empresário, Profissão Biólogo
Karina Tatit
Atuo em desenvolvimento humano e organizacional na Iandê, uma empresa criada por mim e meu companheiro. Há sim espaço para o biólogo em empreendimentos próprios, mas tive que correr atrás de muitos conhecimentos que eu não tive na faculdade, como por exemplo, como abrir uma empresa, escrever plano de negócio, comunicação, etc. Embora eu use muitas ferramentas e metodologias que aprendi fora da faculdade, ter diploma de biologia me ajuda a fechar alguns contratos. Entre as habilidades que exercito no trabalho cotidianamente estão: habilidade como facilitador de processos participativos, conceitos de ecologia, visão sistêmica, colheita (pegar essência) de conversas e eventos, boa sistematização, boa escuta, flexibilidade, conhecimento de muitas ferramentas, metodologias, dinâmicas. Em meu trabalho eu desenho e facilito processos colaborativos para a sustentabilidade por volta de 9 horas por dia, 45 h semanais.
Para reuniões uso um escritório (The Hub – incubadora de negócios sociais). Para produção, trabalho em casa. Faço muitas reuniões nos escritórios de clientes. Hoje estou trabalhando num projeto dentro de uma cooperativa de resíduos, vou para lá duas vezes por semana. Com relação à formação, foram necessárias diversas formações complementares, as quais hoje fazem parte da área de atuação da Iandê. Esses cursos não eram uma pós-graduação nem lato nem stricto sensu.
Na graduação me interessava pelas matérias: Processos evolutivos; ecologia; fisiologia (vegetal e animal). Hoje uso muito os conceitos de ecologia. No final da faculdade percebi que a pesquisa básica não era meu caminho. Comecei a ter vários questionamentos socioambientais. Fiz uma formação em educação ambiental que me fez muito sentido, pois trabalha muito com a conexão com a Natureza, não só com informação. Comecei também um estudo de práticas sustentáveis (agroecologia, permacultura, agricultura biodinâmica) e trabalhei como voluntária por um ano na estruturação de uma ONG, NAPS. Este é um núcleo de aprendizado para a Vida. Nesse processo pratiquei muito ferramentas participativas e me dei conta que minha paixão são as relações (homem-homem; homem-ambiente). Ganhei uma bolsa de estudo e fiz um treinamento sobre liderança participativa na Turquia. Voltei para o Brasil e integrei as ferramentas que me faz sentido. Hoje trabalho com meu companheiro e, por necessidade, abrimos uma empresa, Iandê.
No começo prestava serviço como autônoma, mas além dos impostos serem altíssimos, havia muitos casos que só aceitavam pessoas físicas. Como o escopo do trabalho já estava relativamente bem estabelecido, não foi difícil sistematizar em um site. Sempre busquei as alternativas mais simples e baratas, como por exemplo, usar a plataforma do Google Sites. Gostei de como os fatos foram acontecendo, de forma natural, orgânica. Abrimos uma Microempresa Individual (MEI) para cada, pois como estávamos começando o trabalho juntos, não queria dar um passo maior que as pernas. É bem mais em conta e tem menos impostos, além de não precisarmos pagar contador todo mês. Uma boa alternativa para quem está no começo, mas pelo fato de não ter contador, passei por vários apuros. Hoje entendo mais de MEI do que muitos contadores que entrei em contato. Costumo falar que tenho uma empresa, e não sou uma empresa. É para ela estar a nosso serviço, não o contrário. Muitos clientes com quem converso ficam impressionados com a quantidade de cases que Iandê tem em tão pouco tempo. No começo é bastante investimento de tempo, trabalhos voluntários, mas isso vai mudando com o tempo e maturidade. Chega um momento que você precisa valorizar seu trabalho e saber colocar um preço justo. Claro que tenho bastante flexibilidade, mas se eu não valorizar meu trabalho, quem valorizará?
O que me motiva a exercer a profissão é participar de uma transformação positiva de realidade, lidar com o melhor do ser humano, nossa essência. Acompanhar a evolução de um grupo. Sentir que meu trabalho faz a diferença. É difícil explicar minha área de atuação, a experiência seria, talvez, a melhor forma de compreendê-la. Isso dificulta um pouco quando faço consultorias para executivos. No começo vejo resistência pela minha falta de cabelos brancos. Minha recomendação? Não desista, pois apesar de toda incerteza, a trajetória é apaixonante. Estar a serviço de algo que você acredita profundamente, não tem preço! A vida ganha um significado que ninguém pode tirar.
Biotecnologia – Profissão Biólogo
Fernando Nodari
- Fernando Nodari, especialista de aplicação de produtos em Biotecnologia
Trabalho na área comercial de uma empresa de Biotecnologia chamada Affymetrix. O mercado de trabalho em que atuo tem espaço para biólogos no futuro. Em meu cotidiano profissional são exigidos raciocínio lógico, bom relacionamento com clientes, inglês fluente e conhecimentos de biologia molecular.
Aqui na Affymetrix sou o especialista de aplicação, responsável pelo suporte pré e pós venda dos produtos da empresa na América Latina. Ministro palestras em eventos e participo de reuniões com clientes antes da venda para tentar definir qual o melhor produto para sua pesquisa. Após a compra, treino os pesquisadores a utilizar o equipamento e a realizar os ensaios. Se o cliente encontra algum problema, eu o ajudo a encontrar a fonte do problema e a solucioná-lo.
Em teoria trabalho 40 horas semanais, mas eu acabo sempre trabalhando mais que isso. Meu regime é de home-office, então sou eu quem faço os meus horários. Porém, como meus clientes estão trabalhando no horário comercial, preciso estar disponível nesse horário. Quando não estou no laboratório de um cliente, eu trabalho de casa. Devo dizer que, como tudo, tem suas vantagens e desvantagens trabalhar em casa. Vantagem: não pegar trânsito numa cidade caótica como São Paulo; estar em casa e poder resolver pequenas coisas do dia-a-dia. Desvantagens: não ter muita hora para parar de trabalhar, se bobear você acaba ficando até tarde trabalhando. Exige muita disciplina.
Na graduação gostava das disciplinas da área de zoologia, mas atualmente meu trabalho está muito voltado para as de biologia molecular e bioquímica. Depois da graduação fiz mestrado em genética. Isso me ajudou a conseguir meu emprego porque aprendi as técnicas dos produtos que passaria a representar e conheci pessoas que me levaram ao cargo que ocupo. No entanto, o mestrado não foi uma exigência do contratante, era apenas desejável.
Durante meu mestrado percebi que não queria seguir carreira acadêmica e assumo que só entrei no mestrado pela inércia das faculdades públicas de biologia. Mas, isso foi bom, porque foram os conhecimentos do mestrado que me permitiram chegar aonde cheguei hoje. Bom, quando depositei minha dissertação comecei a procurar emprego. Anunciei meu CV na Catho e, nos sete dias gratuitos, fui chamado para uma entrevista na Uniscience (empresa nacional distribuidora de equipamentos e reagentes de biologia molecular) para uma vaga de vendedor. Fui selecionado e trabalhei por três meses nessa função. Em pouco tempo pude ver que eu não sou um vendedor. Então, abri o jogo com minha chefe. Falei que eu não estava me adaptando ao cargo e queria saber se a empresa poderia me aproveitar em outro setor. Como ela tinha gostado do meu trabalho, me indicou para a equipe de suporte. Consegui a transferência e, na equipe de suporte, passei a cuidar dos produtos da Affymetrix (na época, representada pela Uniscience no Brasil). Permaneci no mesmo cargo por dois anos e meio até que consegui uma vaga de especialista de produto na Perkin Elmer. Trabalhei lá por dois meses quando tive uma “crise dos 30 anos”; larguei tudo e comecei a dar aula de biologia para o ensino médio.
Após quatro meses, vi que tinha feito um movimento errado. Foi então que a Affymetrix decidiu abrir um escritório no Brasil e, graças ao bom trabalho e aos bons relacionamentos que desenvolvi na Uniscience, eles entraram em contato comigo para que eu ocupasse a vaga de especialista de aplicação. A “crise dos 30” foi essencial para que eu tirasse uma dúvida antiga da minha cabeça: como seria minha vida como professor? Sempre gostei de ensinar e achei que a minha felicidade estivesse nas aulas. Porém, quando me vi tendo que ser mais disciplinador do que professor, vi que esse caminho me reservaria mais estresses do que alegrias. Essa experiência também me ajudou a valorizar muito meu atual trabalho. Estou trabalhando na Affymetrix há seis meses e pretendo construir uma carreira longa e de muito sucesso aqui.
Me motiva em minha profissão estar sempre atualizado sobre a biotecnologia e encontrar a fonte do problema onde ninguém encontra. O que invariavelmente ajuda os pesquisadores das mais diversas áreas. Com relação às dificuldades que alguém como eu encontra na carreira estão duas principais: as viagens constantes e competição desleal com os concorrentes. Se você pretende seguir uma carreira como a minha tenho três conselhos: estudar, networking e estudar.
*Um agradecimento especial do autor do Blog ao Gabriel Cunha que me apresentou o Fernando Nodari
Produção de material didático – Profissão Biólogo
Vivian Lavander
Meu nome é Vivian Lavander Mendonça e sou Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da USP, São Paulo. Também fiz mestrado em Ciências pelo Departamento de Zoologia do IBUSP. Hoje atuo na produção de livros didáticos e de outros materiais (jogos, planos de aula etc.) destinados ao ensino de Ciências Naturais e Biologia. Sou uma profissional autônoma; a coleção de livros de Biologia para Ensino Médio da qual sou co-autora foi publicada pela Editora Nova Geração. O mercado de trabalho em que atuo hoje tem espaço para biólogos. Para elaborar materiais didáticos com temas de Biologia é necessário ser biólogo. Há muitos colegas trabalhando em editoras – podem ser contratados para elaborar apostilas, revisar textos e fazer leituras técnicas.
Na minha área é necessário estudar e manter-se constantemente atualizado, tanto nos temas de Biologia quanto nos de Pedagogia. Além disso, deve-se gostar muito de escrever e ser criativo na hora de elaborar atividades. Também é importante ter disciplina e organização para cumprir os prazos exigidos.
O trabalho é intenso. Como trabalho em casa, posso organizar meu tempo, mas quando os prazos finais de entrega se aproximam chego a trabalhar mais de 12 horas por dia, todos os dias! E mesmo quando não estou escrevendo, estou ligada no trabalho, estudando um tema, lendo um livro, tendo ideias para novas atividades… Trabalho no escritório que montei em minha casa, com computador, acesso à internet e diversas obras de referência para consultar.
Com relação à formação, não é necessária nenhuma formação extra além da biologia. Ao contrário da maioria dos meus colegas de turma, eu gostava muito de Botânica e das disciplinas específicas da Licenciatura. Como tenho que escrever sobre os mais variados temas (Evolução, Botânica, Zoologia, Genética, Fisiologia, questões ambientais e outros), estou sempre consultando as obras de referência adotadas nas diversas disciplinas da graduação. Por isso não consigo apontar uma área que mais me seja cobrada em meu cotidiano profissional.
Comecei minha carreira profissional como professora de Ciências e Biologia, um sonho que cultivava desde a infância. Como sempre gostei muito de escrever, fui procurar orientação da Profa. Dra. Sônia Lopes, que é autora de livros didáticos. Ela foi minha orientadora no mestrado, que consistiu na elaboração de um texto didático sobre anfíbios, e foi quem me deu as primeiras oportunidades de elaborar materiais como sua colaboradora.
Quando criança, eu gostava muito de ler, inclusive os livros didáticos. Posso dizer que aprendi mais com os livros do que com as aulas, que consistiam basicamente em copiar matéria da lousa… Assim, minha motivação é imaginar um aluno, em qualquer ponto do Brasil, estudando e aprendendo algo novo ao ler ou resolver uma atividade que eu elaborei. Por outro lado, o livro didático deve ser apenas uma das diversas ferramentas que auxiliam o trabalho do professor, assim como, do ponto de vista do aluno, o livro deve ser apenas um de seus meios de estudo. Considero grande desafio a elaboração de outros tipos de materiais didáticos (principalmente digitais), de boa qualidade e feitos para a realidade brasileira. Esses recursos ainda são muito escassos no Brasil.
Se algum leitor quiser escrever materiais didáticos minha principal dica seria “Leia muito!”. Livros e revistas de divulgação científica, livros diversos destinados ao público para o qual se pretende escrever, livros que inspiram quem deseja ensinar (eu recomendo Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire). E acho importante ter experiência em sala de aula – o professor exercita a transposição didática de conceitos científicos, algo fundamental para escrever materiais que sejam ao mesmo tempo corretos e compreensíveis pelo aluno.
Erbos a atircse ad eset – Ou de como se escrever de trás pra frente
Essa semana o Mauro Rebelo publicou no Você que é Biólogo um texto com a tese dele sobre como escrever uma tese. Eu ia fazer um comentário no texto dele, mas aí o comentário foi crescendo tanto que resolvi transformá-lo num post apresentando minha própria tese sobre como escrever uma tese.
Perito Criminal – Profissão Biólogo
Elias Lopes de Freitas
Sou Perito Criminal, realizando exames periciais em casos de crimes. Trabalho, portanto, na produção de provas em investigações criminais. Sou funcionário do Núcleo de Perícias Criminalísticas de São José do Rio Preto, SP, que pertence ao Instituto de Criminalística, da Superintendência de Polícia Técnico-Científica de nosso Estado.
No Estado de São Paulo e em vários outros, o Biólogo é um dos profissionais de nível superior que podem prestar concurso e ingressar na carreira de perito. Porém, podem atuar em diversas áreas, que não necessariamente a biológica, como, por exemplo, acidentes de trânsito, furtos, análises de documentos, etc. Em alguns Estados e na Polícia Federal, os concursos são específicos para as diferentes formações.
Entre as habilidades que me são exigidas em meu cotidiano profissional estão um bom preparo não só na área biológica, mas também em outras, principalmente exatas, pois muitas perícias envolvem análises físicas e matemáticas. Quando o trabalho é específico para a área biológica, pode envolver análise de DNA, Bioquímica e atualmente, exames com abordagens sistemáticas e ecológicas, nos casos de crimes ambientais. E o esforço pelo bom Português, como em todas as demais áreas, é fundamental. Nossos Laudos Periciais serão utilizados pelos profissionais que decidirão se um crime de fato ocorreu ou não, qual sua gravidade, se há um culpado, qual pena deverá ser aplicada. É muito importante que apresentemos a redação mais clara e correta possível, para evitar erros de interpretação.
Participo da equipe plantonista, conhecida no jargão policial como “clínica geral”. Faço perícias em diversos tipos de casos, como acidentes de trânsito, furtos, roubos, homicídios, suicídios, danos e também em casos de crimes ambientais. Geralmente, realizo os exames periciais nos locais onde ocorrem os crimes. Contudo, sou pós-graduado na área de zoologia e em casos de crimes contra a fauna, realizo perícias em exemplares vítimas de caça, maus tratos e outros, bem como em instrumentos utilizados para a prática desses crimes.
Normalmente, passo por um ou dois plantões semanais, com 24 h de duração cada. Mas, atendemos a 23 Municípios, com um total de 34 delegacias de polícia, quase não sobra tempo para as análises detalhadas e elaboração dos diferentes tipos de laudos periciais durante os plantões. Assim, trabalho em casa ou em nossa sede, utilizando, aproximadamente, 12 h semanais. Esse tempo varia em função da quantidade de casos mais ou menos complexos que surgem durante os plantões. Às vezes, passo dias trabalhando em um único caso, pesquisando, analisando, principalmente quando envolve análises físicas (por exemplo, acidentes de trânsito) ou em casos que envolvam análises mais complexas sobre sistemática e/ou ecologia.
O ambiente onde trabalho envolve muitos compromissos e exigências típicos dos trabalhos no setor policial. Trabalhamos para auxiliar na solução de problemas da população, que muitas vezes envolvem situações dramáticas. Obviamente, acabamos sujeitos ao desconforto consequente desse tipo de tarefa. Como nossa missão é fornecer análises imparciais, técnicas, é fundamental o preparo para evitar interferências subjetivas, que comprometam a qualidade da prova produzida. E, no caso do plantonista, que atua em loco, onde um crime acabou de ocorrer, analisando detalhes recentes daquele fato, esse preparo é fundamental. Como qualquer estudo direto no ambiente, há sempre variáveis que não podemos controlar e que podem interferir no resultado da coleta dos dados e de sua análise final.
Nenhuma preparação foi exigida além da minha graduação em Biologia antes do concurso. A experiência nas disciplinas favoreceu, mas não era uma exigência. Depois do concurso, para nossa preparação profissional, passamos por um curso de formação, principalmente teórica, na Academia de Polícia. Depois, passamos por um período de estágio, sendo acompanhados por peritos já atuantes, em locais e situações reais de crimes. O tempo de academia pode variar de três até vários meses, dependendo da instituição, isso também quanto ao estágio, que pode ocorrer junto à sede central do órgão ou no próprio posto de trabalho onde cada profissional atuará após sua nomeação.
As disciplinas que mais me interessavam durante a graduação eram Anatomia, Fisiologia Humana, Fisiologia Animal Comparada, Zoologia. O comportamento animal, que também gostava e gosto, era incluso nas fisiologias e zoologia. No entanto, atualmente lido frequentemente com disciplinas como Matemática e Física, além da Anatomia e Fisiologia que já me interessavam.
Apesar dos vários problemas de nosso Sistema Judiciário, o trabalho pericial é um dos alicerces para produzir a investigação adequada nos casos de crimes. Isso é fundamental para a análise feita por aqueles que julgarão e decidirão sobre o resultado final de cada fato examinado. Assim, faço parte de uma parcela profissional importante na luta pela garantia da justiça em nosso País, o que me motiva nas horas difíceis da minha profissão.
Especificamente em São Paulo, que é onde atuo, apesar dos incrementos e melhorias nas condições de trabalho, ainda necessitamos de mais recursos, tanto humanos, como tecnológicos e de infraestrutura. Afinal, vivemos no Brasil e nossas deficiências, principalmente no setor público em geral, todos nós conhecemos.
O Perito Criminal encontra situações desagradáveis durante seu trabalho; muitas vezes, extremamente dramáticas. Isso exige certo preparo e autodomínio diante dos desafios enfrentados. Assim, para aqueles que pretendam ingressar na carreira, seria muito conveniente uma visita a alguma sede da Polícia Científica, onde poderiam conversar e ter melhor percepção das reais condições de trabalho e desafios que poderão ter pela frente. Outro aspecto que devem ter em mente é a adequação aos métodos utilizados nos trabalhos de cunho legal. A legislação tem um desenvolvimento antropocêntrico e muitas vezes, apenas a argumentação baseada em nossa formação tradicional nas Ciências Biológicas é insuficiente para gerar os resultados esperados. É necessário entender e se expressar na linguagem e argumentação forense. Esses detalhes não devem ser encarados como desanimadores. Apenas refletem o que considero como fato: nenhuma profissão é para todos; nenhuma é para ninguém. O ideal é que cada um procure aquilo que irá lhe satisfazer. O trabalho pericial, certamente, satisfaz e satisfará muita gente.
Analista de meio ambiente – Profissão Biólogo
Allan Crema
Trabalho como analista de meio ambiente no governo federal desde 2006. Sou funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, cuja missão é executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, responsável pela criação, gestão e fiscalização das unidades de conservação instituídas pela União. Há no ICMBio muitas oportunidades profissionais para biólogos, inclusive poderia afirmar que grande parte dos meus colegas de trabalho possuem graduação em biologia. Este campo do conhecimento é fundamental para gerir de forma adequada estas áreas protegidas, assim como, para implementar e supervisionar ações de conservação das espécies ameaçadas, recuperação de áreas degradadas, manejo das florestas nativas, monitoramento do uso sustentável dos recursos naturais renováveis, entre outras diversas atividades. No entanto, para concorrer a uma vaga de analista de meio ambiente basta ter nível superior. Além disso, a carreira de analista de meio ambiente ainda não conta com gratificação por titularidade.
Em meu cotidiano no trabalho é exigido o conhecimento profundo da legislação ambiental, com ênfase na Política Nacional de Meio Ambiente e no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Além disso, noções de ecologia da paisagem e técnicas de geoprocessamento são constantemente requeridas para a criação, planejamento e monitoramento das unidades de conservação. Outra questão fundamental é possuir uma boa base sobre administração pública e gestão de projetos de forma a conseguir ter sucesso na execução dos projetos e gerenciar de maneira responsável os escassos recursos financeiros destinados ao meio ambiente.
Atualmente sou chefe de uma divisão do ICMBio. Meu trabalho é técnico e centrado na temática: “corredores ecológicos e mosaicos de unidades de conservação”, que são instrumentos de ordenamento e gestão territorial para a conservação. Como trabalho na sede de uma instituição responsável por 310 unidades de conservação e 11 centros de pesquisa espalhados por todo o território nacional, meu trabalho é muito focado na articulação interinstitucional, análise de processos, planejamento, pesquisa, supervisão e execução de atividades em campo.
Em conjunto com o MMA, também promovemos capacitações para as equipes técnicas do ICMBio e outras instituições parceiras e auxiliamos a traçar diretrizes e normativas para implementar ações relacionadas aos corredores ecológicos e mosaicos. É bastante trabalho para ser realizado em oito horas diárias e quarenta semanais.
Apesar de trabalhar no escritório em Brasília, viajo com freqüência para participar de reuniões, oficinas, seminários e atividades de campo nas unidades de conservação. Além disso, o Brasil é referência mundial por sua megabiodiversidade e muitos países possuem o interesse de contribuir com o trabalho de conservação deste patrimônio natural. Por isso, surgem algumas valiosas oportunidades de realizar intercâmbios de conhecimento sobre a gestão de áreas protegidas e/ou desenvolver trabalhos técnicos conjuntos com instituições internacionais a partir de projetos bilaterais de cooperação técnica.
Na graduação sempre tive muito interesse nas matérias de Ecologia, Biologia da Conservação, Zoologia e Evolução. Hoje, no trabalho, estou sempre recordando de tudo que aprendi. Enquanto fazia o curso de Biologia, sempre tive muita disposição para fazer estágios. Estagiei na Fundação Zoológico de Brasília, na Área de Relevante Interesse Ecológico do Riacho Fundo, na EMBRAPA e no IBAMA, onde aprendi muito e pude vivenciar o trabalho na prática. Acredito que os estágios ajudam a nos orientar e são fundamentais para descobrir a área que realmente gostamos de trabalhar.
Depois me dediquei ao mestrado. Sempre gostei muito de trabalhar em campo com animais, por isso optei em desenvolver minha pesquisa na área de herpetologia, junto ao Departamento de Biologia Animal da UnB. Enquanto fazia mestrado, prestei alguns concursos públicos e consegui passar no IBAMA. Terminar o mestrado trabalhando foi um desafio enorme, mas com certeza, valeu a pena. Após a divisão do IBAMA em 2007 decidi permanecer no ICMBio, uma vez que meu interesse sempre foi trabalhar com unidades de conservação.
Eu tenho enorme fascínio e muito respeito pela natureza. Aprendo todos os dias coisas incríveis sobre ela. Isso me deixa motivado para trabalhar pela preservação da biodiversidade. No entanto, trabalhar com a conservação da natureza, na prática significa gerenciar conflitos, por isso, são muitos os desafios para quem pretende seguir esta profissão, como por exemplo: 1) escassos recursos humanos e orçamentários, 2) falta de interesse político para dotar as unidades de conservação de estrutura necessária, 3) dificuldade em conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação da natureza, 4) carência de apoio para desenvolver alternativas econômicas sustentáveis.
Quem pretende seguir uma carreira como a minha deveria se dedicar aos estudos, estar sempre atualizado e buscar estágios em diferentes áreas.
Genética Clínica – Profissão Biólogo
Tania Matsumoto
Sou bióloga molecular na área de genética humana. Trabalho na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Acho que a maioria das pessoas na minha área de atuação são ou biólogos ou biomédicos. Portanto, sim, há muitas oportunidades de emprego para biólogos em áreas similares à minha.
No meu dia-a-dia profissional é importante ter experiência em laboratório de biologia molecular e conhecimentos de genética geral e humana. Faço diagnósticos de doenças genéticas, em especial doenças neuromusculares, para os pacientes do hospital. Existe uma rotina ditada pela demanda de exames, mas sempre estamos padronizando novos exames e tentado aprimorar os existentes. Trabalho 40 horas por semana e 8 horas por dia, uma carga horária normal. O laboratório em que trabalho é bem equipado e as pessoas muito bem qualificadas, tanto os biólogos quanto os técnicos de nível médio.
Para o meu cargo não foi necessária nenhuma formação extra após a graduação, mas ter realizado estágios em laboratórios a partir do terceiro ano de graduação me ajudou a ter mais visão da área. As disciplinas com as quais mais me identificava na graduação são as mesmas que mais me vêm à mente na minha rotina profissional: Genética e evolução. O ingresso profissional no Sarah Kubitschek é por concurso público, então prestei o concurso e fiquei em quarto lugar. Após um ano de espera me chamaram e aceitei a vaga.
A genética clínica é uma área da qual sempre gostei e acho que ter o diagnóstico de uma doença ajuda tanto no aspecto prático (tratamento, prognóstico) quanto no psicológico (sabendo-se qual o problema, ele pode ser melhor encarado) dos pacientes. E eu gosto do trabalho de bancada, pipetar DNAs, fazer reações de PCR. Nesta área necessita-se muita atenção a detalhes e cautela, pois estamos lidando com o diagnóstico de doenças de pacientes, então temos controles para garantir a exatidão dos resultados. Esse é o maior desafio. Para aqueles que gostariam de seguir a mesma carreira que eu recomendaria fazer estágios em biologia molecular para adquirir experiência prática e manter-se atualizado com relação à evolução das técnicas e conhecimentos sobre as doenças com as quais se trabalha.
Direito ambiental – Profissão Biólogo
Fabiana Freitas
Direito ambiental
Sou Bacharel em Direito, Advogada desde 1999 e bacharel em Ciências Biológicas desde 2007. Atualmente faço consultoria jurídica a um Município de São Paulo, atuando em diversas áreas como o direito ambiental.
O direito ambiental tem espaço para a atuação de biólogos. Os profissionais de direito, necessitam de profissionais de outras áreas, e no caso, os profissionais da Biologia podem atuar com a realização de perícias em diversas áreas, especialmente na criminal e ambiental, fornecendo pareceres, relatórios, avaliações, que irão dar embasamento às teses jurídicas. Cabe ressaltar que há muito tempo os conhecimentos relacionados à biologia são utilizados pelo mundo jurídico, como por exemplo, os exames de investigação de paternidade, perícias criminais, e hoje com a atenção voltada para as questões ambientais, o biólogo, pode desempenhar importantes trabalhos, que vão desde a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental até a emissão de pareceres a empresas preocupadas com o ambiente.
No direito a atuação do biólogo funciona como um complemento. O biólogo que presta serviços a um advogado necessita basicamente de conhecimentos técnicos, inscrição no Conselho de Classe (CRBio) e boa redação para elaboração de estudos e pareceres.
No meu caso, participo de trabalhos que envolvem a análise jurídica de estudos de impacto ambiental, audiências públicas e pareceres jurídicos na área ambiental. Trabalho 40 horas semanais, das 8:00 às 17:00 h, boa parte delas dentro de um escritório.
Primeiro me formei em Direito, e depois, decidi estudar Biologia. Logo que me formei em direito me envolvi com o Direito Ambiental, e na contramão de outros profissionais da área jurídica, que vão estudar Gestão Ambiental, aproveitei o fato de ter afinidade e curiosidade em relação a plantas, bichos, evolução de espécies, minerais e decidi estudar biologia, como um diferencial à minha área profissional.
Eu adoro árvores, agroecologia e sou mergulhadora, então logo de cara me encantei com as aulas de botânica e zoologia. Mas sempre gostei bastante das matérias interdisciplinares. Para que se faça a implantação de uma obra que cause impacto no ambiente, é necessária a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental, que na maioria dos casos envolve disciplinas como a zoologia, botânica, além de estudos em relação ao solo, à água, além do impacto humano/social naquele ambiente.
Para trabalhar em direito ambiental fiz as duas graduações em direito e em biologia. Hoje, por ocasião, meu trabalho não está focado somente nesta área, mas faz parte da minha trajetória, os dois cursos. Estou planejando para o próximo ano, uma especialização em Direito Ambiental.
O direito é uma área muito interessante e multidisciplinar, que necessita da atuação de profissionais de outras áreas. Eu sempre gostei de tudo o que envolvia o mundo natural, desde plantas, animais, evolução, preservação, à qualidade de vida. Acredito que para a aplicação do direito nas questões que envolvam o ambiente, o conhecimento da biologia é fundamental. Quando estudava biologia, muitas vezes fui criticada por vários colegas advogados, que achavam que o que eu estava fazendo era uma loucura. Nunca dei importância a isso, pois sempre acreditei na minha escolha. Acho que o mercado para os advogados que trabalham com o Direito Ambiental e biólogos (que em algum momento profissional vão esbarrar nas questões legais) tem que se expandir bastante ainda, não pode ficar restrito a questões relacionadas ao poder público. Acredito que haja um grande potencial para isso, já que vivemos o momento histórico em que temos que cuidar do ambiente para o hoje e para o futuro.
Para quem tiver interesse em seguir a carreira do direito ambiental recomendo gostar muito das duas áreas, já que vai ter que estudar por pelo menos dez anos, ser perseverante, e claro, acreditar no próprio potencial!
Consultoria ambiental – Profissão Biólogo
Ângelo Manzotti
Trabalho na área de consultoria ambiental, com ênfase em diagnósticos da fauna de peixes e avaliação de impactos ambientais sobre os organismos aquáticos. Sou contratado como autônomo por diferentes empresas do ramo, portanto, não sou empregado de uma única empresa. Apesar da grande representatividade de Engenheiros florestais e agrônomos, o mercado de consultorias ambientais tem amplo espaço para atuação de biólogos, principalmente no que diz respeito aos trabalhos envolvendo fauna.
Nas atividades cotidianas, é necessária disposição física para os trabalhos de campo (coleta e visitas às áreas sob influência do empreendimento que está sendo avaliado), conhecimento teórico sobre ecologia, diversidade e comportamento em relação ao objeto de estudo escolhido (por exemplo, peixes) e algumas metodologias de previsão de impactos. Além disso, o profissional deve possuir uma boa escrita e ler com frequência para se manter sempre atualizado em relação aos trabalhos que desenvolve. Tenho os peixes como modelo de estudos. Dentro da área ambiental, realizo trabalhos de Avaliação de impactos ambientais (Estudo de Impacto Ambiental – EIA ou Relatório Ambiental Preliminar – RAP) visando prever como a instalação ou ampliação de empreendimentos do setor agroindustrial poderão influenciar as espécies presentes nos ecossistemas aquáticos. Além disso, também existem atividades sazonais para avaliar o funcionamento desses empreendimentos e verificar se seu funcionamento não está prejudicando o ambiente. Em todos esses trabalhos, além da previsão de impactos, é necessário propor alternativas que sejam capazes de minimizar ou extinguir seus efeitos sobre a fauna. Por se tratar de um trabalho autônomo, a carga horária é bastante flexível e depende do tipo de serviço contratado. Em média, cada trabalho leva em torno de cinco dias de trabalho de campo além do tempo necessário para a elaboração do relatório técnico.
Via de regra não é necessário nenhum outro tipo de formação complementar para exercer as atividades que eu realizo. Entretanto, é importante que o profissional saiba utilizar aparelhos de GPS e realizar a leitura de mapas. Durante a graduação, as disciplinas de comportamento animal, ecologia e zoologia dos vertebrados eram minhas favoritas. As que mais utilizo hoje profissionalmente são, com toda certeza, Ecologia e Comportamento Animal. Sempre me interessei pela área de consultoria ambiental desde o período de graduação. Ainda na condição de graduando, auxiliava amigos biólogos durante os trabalhos de campo e fui adquirindo experiência. Depois de formado recebi o convite de um amigo para realizar trabalhos na área de consultoria ambiental e daí em diante, a cada trabalho surgia uma nova oportunidade.
Além de fazer o que gosto, acredito que o biólogo que trabalha com consultoria ambiental está mais próximo de conseguir atingir algumas metas conservacionista, mesmo que em pequena escala. Por meio de relatórios técnicos que são avaliados pelos órgãos ambientais de fiscalização, é possível propor planos de adequação ambiental a serem desenvolvidos pelos empreendedores a troco da obtenção das licenças ambientais necessárias para a implementação ou funcionamento do empreendimento.
Dentro da área ambiental, ainda é grande a desvalorização do trabalho realizado por biólogos. Apesar de existirem empreendimentos que reconheçam a importância dos estudos ambientais e estejam dispostos a pagar um valor justo, acredito que a ausência de um piso salarial estabelecido por lei, dificulte as negociações durante a fase de contratação dos serviços. Esse seria um dos principais problemas na área.
Toda pessoa disposta a ingressar nessa área deve procurar primeiro o conhecimento teórico, e com toda certeza a ecologia é quem rege esse universo. Depois disso, deve procurar contatos em empresas do ramo e a participar em trabalhos de campo, mesmo como auxiliar (isso pode lhe conferir grande experiência). Por fim, quando a primeira oportunidade aparecer, deve realizar um trabalho de qualidade para que outros convites apareçam.