Pensamento de segunda Zoological series

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Bicho Bizarro: Sapo de Darwin

O pequenino sapo de Darwin numa "floresta" de musgos. Fonte: www.savedarwinsfrogs.org

 Aquela versão de que os anfíbios se reproduzem fazendo um amplexo (abraço) e colocando ovinhos numa lagoa que não serão cuidados, para mim, é a versão zoológica da lenda da cegonha. De verdade a vida sexual dos sapos é muito mais divertida do que nos contam na escola. Um exemplo disso é o bicho bizarro da semana. Sabe aquela bolsa que o sapo enche de ar na hora de cantar, os sacos vocais? Pois os sapos de Darwin, depois de seduzir uma parceira, a usam para proteger os filhotes. Os ovos que a fêmea coloca e o macho fecunda se desenvolvem nas folhas no chão da mata, mas girinos não vivem no seco. Exatamente por isso os machos não saem de perto desses ovos que, assim que eclodem, são “engolidos” por ele (lembrando que eles não vão para o estômago) e se desenvolvem nos sacos vocais. Ao se metamorfosearam o pai abre a boca e lá de dentro saem saltitando sapinhos de Darwin miniaturas. O sapo de Darwin, que tem esse nome por ter sido descoberto pelo naturalista na Argentina em sua viagem no Beagle, está vulnerável à extinção graças ao desmatamento e às mudanças climáticas.

ARKive video - Darwin's frog carrying tadpole in mouthGirino entrendo na boca do pai. A saída é bem mais dramática.

Fonte: www.arkive.org

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Um lugar para chamar de seu – Blog Action Day

Toda afirmação dessas que dizem que nós fazemos parte de um todo acionam em mim um alarme de ‘papo de bicho-grilo que se abraça em árvore’. Papo de bicho-grilo ou não, o fato é que inegavelmente somos parte de um todo interdependente, pelo menos no que diz respeito à nossa ecologia. Temos um lugar só nosso no superespaço das relações ecológicas.

Cadeia trófica no atlântico norte

Uma versão simplificada da cadeia trófica no atlântico norte, só para dar ideia da complexidade das relações alimentares possíveis que nos envolvem (Fonte: fisherycrisis.org)

Nossa natureza animal nos faz seres heterótrofos, ou seja, não sintetizamos nossa própria energia a partir da luz do sol (fotossíntese) ou da quebra de ligações químicas (quimiossíntese), somos obrigados a obter essa energia queimando alimento com a respiração, mais ou menos como um motor a combustão faz com a gasolina. Assim, somos intrinsecamente dependentes do que comemos, da mesma forma que uma água-viva, um besouro ou um peixe.

À primeira vista a relação é muito simples, porque dependemos daquilo que comemos, mas aquilo que comemos depende de nós. Somos nós que semeamos nosso arroz, criamos nosso frango. Não há tanta dependência assim. Opa, mas o frango precisa de milho para comer. Ei, e esse milho também serve de alimento a lagartas e a nós mesmos. Essa lagarta, quando adulta pode ser o alimento de um sapo, que também come mosquitos que se alimentam de nós humanos. Vamos pegar, por exemplo, só meu café da manhã de hoje: mel, iogurte, granola de aveia, passas, castanhas e flocos de milho, banana, mamão e uma xícara de café adoçada com estévia, só aí já temos dez espécies, cada uma dependente de, suponhamos, outras dez. A rede de interações vai se alastrando exponencialmente!

Banner do Blog Action Day 2011

Ao passo que aumentamos essa rede ecológica (isso só pensando nas relações alimentares, nem estou falando em competição, cooperação ou qualquer outra interação) vemos que ela logo irá envolver todos os organismos da Terra. Como queríamos demonstrar! O homem é um elo numa grande rede de interações entre os seres vivos. Nossa permanência acima do ostracismo da extinção biológica depende desses fios de interação que nos ligam aos outros organismos. Corte-o fio errado e despencamos para o esquecimento. Parece que ignoramos isso, já que a cada dia cortamos ou puímos essas conexões. Ainda há tempo e espero que esse post ajude.

Bicho Bizarro: Linguado

 

Cadê o linguado?

Linguados ganham de longe dos camaleões em troca de cor graças à migração de cromatóforos

Os linguados são um grupo grande de peixes marinhos com raros representantes em águas doces. Sua maior bizarrice reside na total assimetria entre os dois lados do bicho. O linguado eclode do ovo um peixe normal e simétrico, só que durante seu crescimento um lado cresce mais e mais rápido do que o outro, tornando-o assimétrico. Esse peixe vive encostado ao fundo com seu lado mais desenvolvido e pálido para baixo, do outro lado ficam os dois olhos do animal. Linguados são predadores bastante vorazes que se camuflam muito bem no fundo do mar, pegando as presas de surpresa com uma bocarra que se expande absurdamente (hiostilia, primeira questão da prova de hoje para os meus alunos!). Devido à sobrexploração pesqueira estes predadores tiveram sua população reduzida a possivelmente 10% do original, levando a organização Seafood Watch a recomendar os consumidores a evitá-los.

Migração do olho do linguado, vídeo em stop-motion excelente do Jobediah, um anatomista americano

Raphael Dias – O Futuro do Doutorado

Raphael Dias - O futuro do PhD

Raphael Dias entre pica-paus e esperanças

Raphael Igor Dias é recém-doutor em ecologia pela Universidade de Brasília. Durante o doutorado  trabalhou com uma espécie de pica-pau (Colaptes campestres) para tentar responder algumas perguntas associadas à evolução da socialidade e seleção sexual. O trabalho de campo foi inteiramente desenvolvido na Fazenda Água Limpa. Raphael foi financiado por instituições como CAPES, CNPq,  DPP-UnB e Francois Vuilleumier Fund da Neotropical Ornithology.

1)      O que levou você a procurar a carreira científica? Como isto resultou no ingresso num programa de doutorado?

Ainda durante a graduação em biologia acabei me envolvendo em alguns projetos de pesquisa que despertaram meu interesse em seguir uma carreira acadêmica. No começo do último semestre da graduação, entrei em contato com a Profa. Regina Macedo (UnB) para conhecer a sua linha de pesquisa e discutir possibilidades de mestrado. Essa conversa inicial deu frutos e acabou resultando em seis anos de uma excelente orientação e uma ótima relação pessoal que se mantêm até hoje.

2)      Quais os seus planos para sua carreira depois da titulação? Até o momento essa expectativa tem se cumprido?

Meus planos futuros envolvem o ingresso em uma instituição pública para que eu possa manter minhas linhas de pesquisa, continuar publicando e orientar alunos. No momento venho trabalhando com docência em uma instituição particular de nível superior. Nesse sentido, considero que tive muita sorte, pois apesar do mercado estar saturado em algumas regiões do país, consegui ingressar em uma boa instituição logo após o término do meu doutorado.

  3)      Em linhas gerais, como foi sua rotina de trabalho no doutorado?

A rotina de trabalho durante o doutorado foi bem variável, mas foi composta basicamente de atividades diárias de campo envolvendo busca, captura e marcação de indivíduos, monitoramento de grupos, identificação de ninhos, entre outras. Adicionalmente, eu realizava levantamento de referências bibliográficas, analisava parte dos dados já coletados, participava das aulas da pós-graduação e eventualmente trabalhava em algum projeto paralelo. Durante o período em que eu realizei o doutorado-sanduíche na Universidade de Cornell, a rotina de trabalho foi completamente diferente. Durante seis meses eu trabalhei com análises moleculares com o objetivo de determinar o grau de parentesco entre os indivíduos dos grupos de pica-pau-do-campo, assim como, entender o sistema social e de acasalamento.

 4)      Quais os problemas que a pós-graduação no Brasil tem encarado?

Acredito que o principal problema que a pós-graduação no Brasil tem enfrentado diz respeito à falta de investimento nas próprias instituições responsáveis pelos programas de pós-graduação. Observamos varias instituições que estão sucateadas e muitas vezes apesar de apresentarem um bom programa de pós-graduação com um renomado corpo docente, não conseguem manter determinadas linhas de pesquisa por falta de recurso. É notável uma melhora nos últimos anos em relação à área de ciência e tecnologia, com aumento de bolsas, novas universidades, mas apesar desse cenário, penso que o Brasil ainda necessita passar por uma mudança de mentalidade em relação à pós-graduação. Essa mudança deveria começar na política do governo, primeiramente valorizando os profissionais que investiram anos em sua qualificação. Essa mudança deveria incluir a abertura de novos postos de trabalho para que um número maior de pós-graduados seja bem utilizado. Por outro lado, uma mudança ainda mais radical deve ser estimulada no pensamento da população brasileira, para que a mesma entenda que a educação é o melhor mecanismo para mudanças efetivas, tanto sociais quanto políticas.

 5)      Que conselhos você daria a alguém considerando agora ingressar na carreira acadêmica?

Eu acho que é uma área encantadora, que favorece a formação de um senso crítico e proporciona uma visão ampla do mundo, mas que não é fácil! São necessários muito esforço e dedicação.

 

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Ciência à Bessa no Top blog Brasil

Amanhã é o último dia para votar no Ciência à Bessa como o melhor blog de Zoologia. Não deixe de dar o seu voto!

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Bicho Bizarro: pinguim imperador


É na união do grupo que reside a resistência às condições extremas
Fonte: www.eol.org

Hoje o bicho bizarro vem do sul, quase do polo sul. O pinguim imperador é uma exceção entre os pinguins, eles não saem da Antártica nem para se reproduzir e nem para se alimentar, chegam a medir mais de um metro de altura, possuem uma faixa laranja, rosa ou lilás na lateral da cabeça cuja coloração depende do alimento e os machos podem ficar 115 dias sem comer cuidando do filhote. Aliás, o comportamento reprodutivo dessa espécie é formidável e foi belamente ilustrado no filme “A marcha do pinguim” de Luc Jacquet. Apesar do status de espécie não-ameaçada na lista da IUCN, o pinguim imperador poderá ser afetado pelas mudanças climáticas ocasionadas pela queima de combustíveis fósseis.

ARKive video - Emperor penguin - overview
De elegantes a desajeitados num piscar de olhos

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Fabiana Nunes – O futuro do doutorado

Fabiana Nunes, paleontóloga

Fabiana Nunes, a Dra. Ellie Sattler do Museu Nacional

Fabiana Nunes é formada em Biologia na UNESP do litoral paulista. Ela concluiu o mestrado em Zoologia pelo Museu Nacional na UFRJ onde hoje cursa seu doutorado no Departamento de Geologia e Paleontologia. Sua pesquisa é sobre paleontologia de pterossauros (que não são dinossauros voadores) sob a orientação do Prof. Alexander Kellner. 

1)      O que levou você a procurar a carreira científica? Como isto resultou no ingresso num programa de doutorado?

Ao ingressar na graduação em Ciências Biológicas pela UNESP eu já tinha em mente a pretensão de lecionar em alguma universidade e trabalhar com pesquisa. Logo, eu sabia desde então que trilharia inevitavelmente o caminho da pós-graduação (Mestrado-Doutorado). Para mim era algo natural, ainda mais em se tratando da área a qual eu me dedicaria – Paleontologia – que é essencialmente acadêmica, a menos que se pretenda estudar microfósseis e se vincular a este mercado bastante promissor patrocinado pelas indústrias do petróleo – o que definitivamente estava fora dos meus planos.

2)      Quais os seus planos para sua carreira depois da titulação? Até o momento essa expectativa tem se cumprido?

Temos tido bastantes concursos pelo Brasil nos últimos anos, e isto é encorajador. Minha meta é, após a conclusão do doutorado ou até mesmo um pouco antes do término do mesmo, tomar parte nestes processos de seleção, preferencialmente para cargos em universidades públicas. Por ora estou focada no desenvolvimento da minha tese e no estudo do grupo ao qual me dedico (Pterosauria) porque agora é o momento – talvez único em toda a minha carreira acadêmica – de efetivamente aprender e ser pago para única e exclusivamente estudar, publicar e pesquisar. Uma vez assumindo o cargo de professor, estas atividades estarão diluídas em muitas outras que a nova função certamente irá requerer. Por esta razão, dedico-me hoje a formar este background da melhor maneira possível, o que me dará base não só para estes processos seletivos, como também para a pesquisa que pretendo desenvolver no futuro.

3)      Em linhas gerais, como é sua rotina de trabalho no doutorado?

Divido minha rotina de trabalho entre publicar e estudar Filogenia e Sistemática de Pterosauria e mais particularmente algumas matrizes que são a base do meu trabalho a fim de construir uma matriz própria e partir para a análise in loco do material que devo analisar em coleções fora do país, a partir de meados deste ano até o final do ano que vem. É preciso muita organização e comprometimento com o trabalho para que todas as etapas sejam desenvolvidas a seu tempo e todos os prazos cumpridos. Vale ressaltar que uma tese de doutorado não se faz em um ano, por isso é fundamental seguir um cronograma previamente especificado para cada atividade a ser desenvolvida em cada semestre a fim de que a finalização da tese não fique comprometida principalmente no quesito tempo. E a pressa, de longa data, é inimiga da perfeição.

4)      Quais os problemas que a pós-graduação no Brasil tem encarado?

As desigualdades regionais ainda são muito evidentes. É notório que as regiões Sudeste e Sul concentrem grande parte dos estudantes de pós-graduação, a despeito das demais regiões. O que temos na realidade são poucas universidades voltadas para o desenvolvimento da atividade de pesquisa em caráter permanente, o que as predispõem a serem preferidas por pesquisadores em detrimento de universidades menores; esse fato torna-as canalizadoras de recursos financeiros voltados para a pesquisa por parte das instituições de fomento. São estas universidades que acabam detendo grande parte dos programas de pós-graduação no Brasil, que continuam, por assim dizer, desigualmente distribuídos. Outro fator digno de nota é a questão da diversificação destes programas. Dentre as muitas causas deste problema chamo a atenção para grande parte das universidades não ser capaz de oferecer mais de um programa de pós-graduação em virtude da falta de especialistas que, em contrapartida – e caracterizando mais uma reconhecida dificuldade em nosso país – supõem um período de formação muito longo (em média, seis anos ou mais). Este fator, além de servir como desestímulo para grande parte dos graduandos, acaba impondo custos extraordinários ao sistema.

5)      Que conselhos você daria a alguém considerando agora ingressar na carreira acadêmica?

É fundamental o gosto pelos estudos, em primeiro lugar. A atividade de pesquisa pressupõe uma constante busca pelo conhecimento, uma atualização permanente sobre conceitos e técnicas desenvolvidos. E uma vez que muito do que hoje se tem publicado seja escrito em inglês, o conhecimento deste idioma torna-se imprescindível ao desenvolvimento da pesquisa, principalmente quando se quer dar à mesma um caráter de divulgação mais amplo. Mesmo revistas brasileiras hoje publicam em inglês para tornar seu conteúdo mais acessível ao “mercado” internacional. Portanto, o domínio deste idioma torna-se condição sine qua non para um bom pesquisador. E, por fim, ter a certeza de que todo o esforço será recompensado no futuro.