Brasil Ameaçado – Jararaca de Alcatrazes (Bothrops alcatraz)

Jararaca de Alcatrazes, ameaçadora, mas só se você teimar em entrar em sua ilha sem a autorização do ICMBio. (Foto: ufmg.br)

Parece mentira, mas até animais ameaçadores estão na lista das espécies ameaçadas pelo bicho homem. A Jararaca de Alcatrazes, Bothrops alcatraz, é endêmica (restrita) à ilha de Alcatrazes, no litoral de São Sebastião, São Paulo. Ela mede cerca de meio metro e tem o hábito de subir em árvores e se alimenta de lagartos e artrópodes. Seu veneno é dez vezes mais forte do que o de outras jararacas, causando paralização nervosa (dos receptores neuronais colinérgicos) e toxicidade ao músculo. Mesmo assim, aplicações medicinais da toxina têm sido estudadas. A espécie é considerada ameaçada devido à sua distribuição restrita em uma área de cerca de 10 km², sendo que a ilha vinha sofrendo com exercícios de guerra da Marinha. Para proteger a jararaca de Alcatrazes você deve respeitar as regras de gerenciamento ambiental de unidades de conservação, em especial os parques marinhos. Outra dica é ir treinar tiro ao alvo com simuladores em vez de destruindo paredões de granito com dinheiro público.

Brasil Ameaçado-Cuíca de colete (Caluromysiops irrupta)

Cuíca de Colete: tímida ou ameaçada? (imagem: agriculturaeambiente.com.br)

Esse simpático marsupial é conhecido como cuíca de colete. Cuícas e gambás são marsupiais sul-americanos, parentes frequentemente esquecidos dos cangurus, coalas e tantas outras espécies de marsupiais australianos. Sua situação é controversa, tendo deixado a lista vermelha da IUCN em 1996, já que a instituição entendeu que a espécie é raramente registrada não por ter uma população pequena, mas porque tem hábitos de vida tímidos, sendo noturna, vivendo apenas em florestas virgens e nunca descendo do alto das árvores. No Brasil, no entanto, o ICMBio preferiu ser conservador, até porque essa espécie no Brasil está vendo seu habitat ser esfacelado pelo avanço da pecuária extensiva. Nos países vizinhos onde essa cuíca também ocorre, por exemplo o Peru, é provável que suas populações estejam mais saudáveis. Alimentam-se de pequenos animais, frutos e néctar, este último o torna um dos poucos mamíferos polinizadores que não voam. Possuem uma cauda preênsil e são relativamente grandes, pesando o dobro da média das espécies próximas (450 g). Quer ajudar a Cuíca de colete? Procure comprar apenas carne com selo verde, cuja produção não decorre de desmatamento mais atual.

Brasil Ameaçado – Baleia Azul (Balaenoptera musculus)

Baleia Azul, um castelo construído sobre areia movediça, um predador dependente de uma presa sendo dizimada. (Foto: wikipedia.org)

Até o maior animal que já vagou sobre esse planeta está sofrendo atualmente. Tudo é superlativo nelas. As baleias azuis, Balaenoptera musculus, mamíferos de 30 m de comprimento e 170 toneladas cujo coração cabe uma pessoa e a aorta permite engatinhar dentro. É o animal que produz os sons mais altos também, e a maior diferença de tamanho entre predador e presa, já que ela se alimenta de microcrustáceos. Graças à caça indiscriminada para obtenção de gordura e talvez a mudanças climáticas as populações vêm diminuindo desde o fim do século retrasado. Atualmente são cerca de 3 mil animais distribuídos principalmente no Norte do Pacífico. Quer ajudar na conservação desse gigante? Cuide do krill que ela come. Suplementos nutricionais com Ômega 3 derivados do Krill reduzem as populações desses animais que servem de base para a cadeia alimentar que inclui as grandes baleias.

Brasil Ameaçado – Lambari Astyanax eremus

Astyanax eremus, um lambari solitário com um futuro duvidoso. (Foto: Neotropical Ichthyology/scielo.br)

Uma das coisas mais tristes dessa lista de espécies ameaçadas do ICMBio foi ver tantas espécies recém-descritas, é o caso do lambari Astyanax eremus dessa semana, que foi descoberto pelos cientistas apenas ano passado (2014). Isso significa que tem grande chance de que espécies estejam se extinguindo antes mesmo de serem descobertas. Astyanax eremus só foi descrito pelos cientistas e reconhecido como uma espécie diferente, quase nada se sabe sobre seu papel na natureza. Não conhecemos de que eles se alimentam, quem se alimenta deles, como é sua reprodução, é um ilustre desconhecido. E quem me dera Astyanax eremus fosse uma exceção, ao contrário, muitas espécies estão assim e teremos outros exemplos até o final do ano. Um dos principais problemas que levou esse lambaria à situação em que se encontra foi sua distribuição geográfica restrita. Ele vive num córrego de cabeceira afluente do Rio Iguaçú no Paraná, num trecho curto de rio isolado por duas cachoeiras e margeado por um capão remanescente de Mata de Araucária. Era o único peixe presente ali (daí o eremus, de eremita, em seu nome científico), uma paisagem muito frágil e efêmera, que numa ação de um fazendeiro pode dizimar toda a espécie. Mesmo assim, ainda podemos fazer alguma coisa por ele, valorizem o trabalho dos cientistas taxonomistas e não desmatem as margens dos rios obedecendo ao código florestal.

Brasil Ameaçado – Alouatta guariba

O bugio marrom caminha a passos largos para o desaparecimento. (Foto: wikipedia.org)

O bugio marrom, Alouatta guariba é mais um brasileiro ameaçado de extinção, em especial a subespécie A. guariba guariba, restrita ao norte do Rio Jequitinhonha. Algumas estimativas apontam apenas 250 indivíduos, o que geneticamente já pode ser um beco sem saída para eles devido à falta de diversidade. Esse rápido processo pode se dever à intervenção humana, através da caça e desmatamento, mas pode ter influência natural, por meio da competição e talvez hibridação com Alouatta caraya, com quem tem convive. Como outras espécies de bugio, estes vocalizam de forma ruidosa para defender seu território quando dois grupos se encontram. Também são dimórficos, com os machos em geral mais escuros que as fêmeas. Acredite, você pode ajudar esses macacos. Uma das principais culturas que são plantadas em áreas onde esse animal vive são os eucaliptais para produção de celulose. Como os bugios não conseguem viver nos eucaliptais, quanto mais eucalipto for plantado, menos bugios. Portanto, reduza o consumo de papel, reutilize folhas impressas e evite impressões desnecessárias.

Brasil ameaçado – Allobates brunneus

Allobates brunneus: poucos filhotes e futuro incerto (Foto: Albertina Lima/ppbio.inpa.gov.br)

O animal ameaçado dessa semana é o anuro Allobates brunneus. Esse animal criticamente ameaçado ocorre no norte e centro-oeste brasileiro, incluindo aqui em Mato Grosso. Apesar das fêmeas serem ligeiramente maiores que os machos (esse animal não passa de 2 cm), eles possuem uma cabeça mais larga, o que permite a produção de um canto grave, mais atraente para as fêmeas. Os machos cantam de dia, mas apenas na estação chuvosa. A reprodução nesses anfíbios é bem peculiar, ao invés de depositar ovos na água, os machos enrolam a desova numa folha no chão da mata ou os coloca numa folha na vegetação. Ali os ovos começarão a se desenvolver, em dado momento o macho recolhe esses ovos e os leva até uma poça para terminar o crescimento. Com toda essa dedicação, fica impossível ao pai produzir muitos filhotes, o que deixa a espécie ainda mais vulnerável. Muitas espécies ameaçadas partilham esse padrão de ter poucos filhotes e cuidar bem deles, o que os ecólogos chamam de estratégia K. As principais ameaças a esses sapinhos são a destruição de habitat para implantação de lavouras e pastos, a construção de hidrelétricas e a extração de madeira. Outro problema afeta essa espécie, a fragmentação das populações. Uma população isolada às Margens do Rio Manso (MT) foi extinta com a construção de sua barragem, outra população encontra-se isolada no norte do Pará, Amapá e nas Guianas. Para escutar seu canto clique aqui. Já para ajudar esse sapinho, recuse móveis e madeiras em geral sem comprovação de origem legal.

Brasil Ameaçado – Arara azul pequena

Começa hoje no Ciência à Bessa uma nova série de posts sobre a nova lista de espéceis ameaçadas da fauna brasileira: O Brasil Ameaçado. A lista foi publicada pelo ICMBio no final de dezembro do ano passado e teve diversas mudanças desde sua edição anterior.

Reconstrução digital de como deviam ser essas araras brasileiras, hoje provavelmente extintas. (Foto: wikipedia)

A Anodorhynchus glaucus é nosso primeiro personagem da série. Por não ser avistada na natureza há mais de 80 anos essa espécie é considerada extinta, sendo que não existem exemplares em cativeiro, os últimos morreram até 1936 no zoológico de Buenos Aires. Ela habitava o sul do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, mas ao que tudo indica sua população já estava em declínio desde o século retrasado. É possível que a caça e tráfico, além da destruição de seu habitat, tenham influenciado seu desaparecimento. Ela deve seu nome popular à cor azul-esverdeada e ao tamanho (65 cm), dez centímetros menor que a arara Canindé (amarela e azul). Para ajudar outras aves como esta, não compre animais silvestres.