A Natureza do Amor

fig4.jpgProvavelmente estarão desactualizadas as interpretações psicológicas.
Ainda assim, é uma daquelas experiências que atestam o reservatório de metáforas e analogias com que enriquecemos ou anestesiamos o dia-a-dia.
Em breves palavras: alguns macacos-bebés foram colocados num ambiente experimental, afastados das suas progenitoras. Como substituto existencial daquelas, os macacos tinham à disposição duas mães artificiais:
-uma, feita de rede metálica, que fornece alimento;
-outra, que não alimenta, mas que é quente e tem uma textura suave.
Este estudo clássico revelou que os juvenis passavam a maior parte do tempo junto da mãe suave e quente, deslocando-se apenas para a fria e metálica mãe-substituta para se alimentarem.
Qual o significado existencial para o ser humano?
Não me atrevo a dissertar.
fig14.jpgRefiro apenas que me recordei desta experiência quando li um artigo no jornal Público que relatava diversas opiniões de emigrantes que vivem em Portugal.
Um deles dizia ” Em Portugal não há dinheiro, mas há sentimentos.”
Rash Aher Jalal, é a graça do desterrado que declarou o seu amor à jangada de pedra onde habitamos.
“Num hospital de um país grande pedem a identificação e se uma pessoa não tem, não a tratam, mesmo que esteja a morrer.”
Em Portugal não é assim, constatou, depois de ter sido assistido num hospital público português.

Pelos vistos há qualquer coisa que tapa e olvida as muitas que não funcionam no nosso país. Esse indizível será idêntico à opção do macaco, que prefere a mãe-artificial quente e suave à generosa mas metálica concorrente artificial?
Uma vez mais não sei.
Tão pouco tenho a certeza de que a analogia seja apropriada.
Mas que um indizível me fez associá-las, ninguém o pode negar.

P.S. – para além de ser um estudo clássico não posso deixar de referir a beleza, ainda que um pouco pretensiosa, do título do artigo original: “The Nature of Love”.

 

Referências:
Harlow, Harry. 1958. The Nature of Love. American Psychologist, 13, 673-685.
Público, 8 de Novembro de 2009, p.7.
Imagens:
Daqui

Força, Força, companheiro Vasco

Som da Frente

Quando um professor se vai, ficam as suas lições.
Essas não fogem, não se vão.
A António Sérgio, um divulgador que não o querendo ser, foi um professor.
1950-2009
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“Sérgio era o homem que de voz gravíssima passava os discos mais espantosos à hora do lobo na Rádio Comercial, depois na XFM e Radar. O John Peel português, que nos trazia tudo o que escapava aos holofotes nas décadas de 1980/1990. Nos meus tempos da faculdade, sobretudo em época de exames, ouvia sempre o programa dele, à noitinha, anotava nomes, entusiasmava-me com uma linha de baixo ou um refrão impiedoso. Gostava da paixão sereníssima daquela voz, daquela selecção irrepreensível, emocionava-me e aprendia. Recentemente encontrava-o às vezes no Snob, ao balcão, e por timidez não lhe agradecia, nunca lhe agradeci, e agora é tarde, ou talvez não seja.”

Pedro Mexia, aqui

Aqui, uma lista de 500 músicas passadas no Som da Frente, memórias de um passado orientado pelo António Sérgio.
Imagem:
daqui

Ardipithecus ramidus

ARDI_1.jpgUm dia a recordar, o de hoje, em que foi publicada mais uma página da história da evolução do Homem.
Ardipithecus ramidus, assim baptizado, vem iluminar o caminho da compreensão do nosso percurso biológico no planeta.
Deixo apenas algum material gráfico, bem como o resumo do artigo.

“Hominid fossils predating the emergence of Australopithecus have been sparse and fragmentary.
The evolution of our lineage after the last common ancestor we shared with chimpanzees has therefore remained unclear. Ardipithecus ramidus, recovered in ecologically and temporally resolved contexts in Ethiopia’s Afar Rift, now illuminates earlier hominid paleobiology and aspects of extant African ape evolution. More than 110 specimens recovered from 4.4-million-year-old sediments include a partial skeleton with much of the skull, hands, feet, limbs, and pelvis.
This hominid combined arboreal palmigrade clambering and careful climbing with a form of terrestrial bipedality more primitive than that of Australopithecus. Ar. ramidus had a reduced canine/ premolar complex and a little-derived cranial morphology and consumed a predominantly C3 plant-based diet (plants using the C3 photosynthetic pathway). Its ecological habitat appears to have been largely woodland-focused. Ar. ramidus lacks any characters typical of suspension, vertical climbing, or knuckle-walking. Ar. ramidus indicates that despite the genetic similarities of living humans and chimpanzees, the ancestor we last shared probably differed substantially from any extant African ape. Hominids and extant African apes have each become highly specialized through very different evolutionary pathways. This evidence also illuminates the origins of orthogrady, bipedality, ecology, diet, and social behavior in earliest Hominidae and helps to define the basal hominid adaptation, thereby accentuating the derived nature of Australopithecus.”
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Referências:
Tim D. White, et al. 2009. Ardipithecus ramidus and the Paleobiology of Early Hominids. Science 326, 64. DOI: 10.1126/science.1175802
Imagens:
do artigo

Pousio

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Nos próximos tempos estarei, como muitos, afastado (tanto quanto possível) do blog e do twitter.
Estarei por aqui, aqui , aqui e aqui.
Reaparecerei quando menos esperar…
P.S.- quem quiser partilhar experiências de pousio, esteja à vontade: nos comentários.
Imagem:
daqui

Escantor

GOVERNO – Meio Bicho e Fogo from 8 e Meio on Vimeo.

O multifacetado escritor valter hugo mãe (sim, com minúsculas) cola-se a Antony, mas supera-o, em tons cuja técnica é superada pela emoção.
Letra e música deixam-me com vontade saltar atrás de um nenúfar, de carpir como rochedo, de silenciar o vento.
Gosto.
Projecto musical: governo; tema: meio bicho e fogo

Asas Velhas

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De um tempo em que não eram aves ou mamíferos os voadores.
Outros cavalgavam os ventos, em florestas cerradas.
Com alas imensas.
Ventos passados, outras asas.
“The largest insect to have ever lived was Meganeuropsis permiana, from the Early Permian of Elmo, Kansas, and Midco, Oklahoma (…). This magnificent griffenfly attained wingspans of approximately 710 mm, which dwarfs the largest odonates found today. Protodonatans were almost certainly predaceous, as all nymphal and adult odonates are today.
Most fossils of these insects consist only of wings, but among the few preserved body parts are large, toothed mandibles, enormous compound eyes, and stout legs with spines, thrust forward in a similar manner to Odonata – all indicative of their being aerial predators.”

Evolution of Insects, pp. 175-176

Referrências:
David Grimaldi and Michael S. Engel. Evolution of the Insects. Cambridge University Press 2005

Imagem:
Megatypus schucherti (Meganeuridae: Protodonata), Evolution of the Insects.

A história de Licélia

Giraffes (Small).jpg
Por vezes, menos do que as que seriam desejáveis, povos e países estão siamesados por palavras e nomes.
Licélia atendeu-me correcta e eficazmente, dando-me o espaço para a minha compra.
Enquanto esperávamos pela resposta digital que me permitiria sair da loja sem ser preciso chamar a polícia, entretive-me a mirar a placa identificativa.
Verifiquei que o arranjo das letras não fazia parte da minha base de dados.
Licélia.
A demora impeliu-me à pergunta óbvia:
“De onde vem o nome?”
Sorriu.
Pensei que o fizesse pelo prosaico da resposta.
Mas não.
Um batalhão português, nos idos anos 60, deslocava-se próximo de Nova Lisboa, durante a guerra colonial em Angola.
Embrenhados num mar de capim, quando a clorofila lhes permitiu verificaram estar rodeados de combatentes. Cercados, de fauna e flora, desesperavam.
Despediam-se entre si, simulando fazerem-no com amados distantes.
Nesses momentos de acosso, surgiu uma jovem, em aparição mais telúrica que divina.
Conduziu-os para fora daquele pré-inferno, longe de capim e armas.
Não se chamava Maria, a aparecida, mas sim Licélia.
O altar de homenagem à menina salvadora foi feito de coisa etérea: apenas um nome, Licélia, dado pelo pai de quem me atendia.
O pai da Licélia lusa queria fazer mais pela angolana. Levou-a, posteriormente, para longe da neo Ulissipo, para o Lobango.
Quarenta anos depois, a Licélia angolana enviou uma foto à homónima portuguesa, por familiares.
A lusa conheceu, por fim, a feição de quem lhe determinou a existência: física e nominal.
Imagem – Nick Brandt

Não me Chiles

squirrel.jpgO cerne do actual modelo de avaliação de professores, imposto pelo Ministério da Educação, assenta (ou foi plagiado, segundo alguns) de um modelo oriundo do Chile.
Segundo o jornal i, de 17 de Junho, a “coligação de centro-esquerda no Governo” selou um acordo eleitoral com os comunistas chilenos.
No próximo período eleitoral português será adoptado, pelo PS, mais um modelo chileno?
Imagem – daqui

Novo Poiso

evo_ove.jpgDepois de vários anos na plataforma blogger, desafiaram-me a migrar o Ciência Ao Natural para o outro lado do mar.
É o que agora faço.
Com prazer
Quem há algum tempo me acompanha conhece já o texto que abaixo “linko.
O texto inicia-se com um excerto do trecho do livro “A Menina do Mar”, de Sophia de Mello Breyner.
Tem-me servido de motivação quer para o blog, quer para a actividade científica.
Aqui fica:
“Para quê estudar Dinossáurios e outros fósseis que tais?”
P.S.1 – o meu enorme agradecimento ao Carlos Hotta e ao Atila Iamarino pelo convite para integrar o ScienceBlogsBr; ao Atila um especial agradecimento pela enorme paciência na transferência de todo o material e apoio técnico…
P.S. 2 – ao longo das próximas semanas conto limar as arestas do blog no que diz respeito ao aspecto gráfico, links, etc…obrigado pela compreensão.
Imagem – aqui