A REVISTA DO ANIMAL MODERNO
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 13/12/2007)
Devido a inúmeras manhãs passadas a folhear e fatigado pelas revistas de fim-de-semana dos jornais portugueses, ocorreu-me lançar o número 0 de uma publicação exclusivamente dedicada ao “Animal Moderno”.
Com secções similares a tantas outras revistas absolutamente para “encher-chouriços”, a “Revista do Animal Moderno” contará no seu número de estreia com os seguintes artigos:
EVASÕES
– Migrar – prós e contras das viagens – o outro lado de viajar em bando.
– Como evitar os engarrafamentos do Serengeti.
COMPORTAMENTO/VIDA AMOROSA
Albatroz – manter viva a chama ao fim de mais de 20 anos a amar o mesmo bico.
Ame o mesmo, viva mais tempo.
Na ordem Procellariiformes a que pertence o albatroz, foi identificada uma relação entre longevidade e fidelidade masculina.
Esta ordem de aves é a que apresenta maior longevidade. Em aves de grande longevidade, a fidelidade masculina aumenta com a idade provavelmente devido ao facto que a aparência se degrada com a idade sendo sendo, assim, mais difícil conseguir uma nova parceira.
Espécies de aves com baixas longevidades apresentam valores de fidelidade masculina mais baixas pois a percentagem de “viúvos” é alta. Esses indivíduos têm grandes possibilidades de voltar a acasalar.
Entrevista a António, Lobo Ibérico (Canis lupus signatus) – como não perder a posição Alfa de liderança na sua matilha.
TENDÊNCIAS DE MODA/VAIDADES
Pelagem para este Inverno – o branco fica sempre bem…
Mudas de pele em répteis – como e quando fazer
Entrevista ao pavão
DECORAÇÃO
Ideias para tocas esconsas ou como optimizar o espaço do seu covil diminuto.
Etapas na escolha do seu primeiro ninho.
Gangues de jovens machos – etapas até ter o seu primeiro harém. Um olhar sobre a difícil etapa da passagem à vida adulta.
SAÚDE
Regeneração de membros – maravilhas de anfíbios, esperança para mamíferos.
GADGETS
Ecolocalização, as últimas versões – testámos o morcego e o golfinho.
GOURMET/RECEITAS
Necrófagos – mais slow-food que isto é impossível.
Carnívoros – adicione vegetais às suas presas e obtenha uma vida mais saudável.
Imagens – links nas mesmas.
Boiar
Toda a vida apenas boiou.
Saiu do grupo iniciático com as ferramentas básicas que permitiriam deslocar-se em ambiente aquático. Ondear ao sabor da corrente seria a mais básica das suas competências. Tinha tantas esperanças. Iria mostrar aos seus pares como se nadava. Melhor. Como ninguém tinha nadado até aí.
Os anos foram passando. Na realidade a sua capacidade de boiar era notável. Excelente mesmo. Desculpava-se afirmando que sem ser capaz de boiar nunca atingiria a excelência na natação. E era para isso que o seu destino estava marcado. As águas foram mudando e sempre foi capaz de se manter à tona. Boiava. As contingências afundavam-na. Mas ela sobrevivia. Boiava. Via à sua volta e até mais distante, outros que não o mereciam mas que, na verdade, nadavam.
Eles vão ver. Tenho perdido tempo porque sem boiar nunca conseguirei os desígnios da natação para que nasci, dizia.
E via-os afastar. Alguns, em momentos de maior ondulação tentavam fugir à intempérie mas eram afundados porque não se afastavam a tempo da excelência da sua flutuação. Em momentos de crise boiar é indispensável, nem que os outros se afundem à minha volta, justificava. E hei-de nadar, após esta tempestade, cogitava.
Apenas boiava.
Avistava nadar de costas. De bruços. Mariposa, até. Hei-de ser melhor do que eles, porque mereço, remoía. Alguns tentavam levá-la no rasto da sua natação mas quais tubarões, incapazes de sobreviverem sem nadar, acabavam por se afundar, impelidos pela excelência do seu boiar. Tinha-se tornado mestre no boiar. Nada a afundaria.
Pouco a pouco o inicial anseio de se movimentar para outras águas abalou. Tenho que me ir mantendo à tona. Boiar. Porque sem boiar nunca conseguirei nadar como quero, mentia-se. E boiava.Os anos foram passando. Apenas boiava. Dizia que nadar já não era tão importante. Que boiar era indispensável. Que assim nunca se afundaria. Como tinha ocorrido a outros que circularam nas suas águas.
Que ridículos lhe pareciam agora. A nadarem!
O mais afortunados tinham-se afastado, nadando.
Os desastrados que mergulhavam devido à energia da água, não tinham voltado à tona. Porque não eram boiadores como ela. Como se aprazia que aqueles nadadores se afundassem. Era mestre no boiar e vinham agora aqueles nadadores para as suas águas. Tinha perdido tanto para dominar as técnicas que lhe abriam o caminho para a superfície. Queriam nadar? Então que pagassem o preço! Nunca se iria afundar porque apenas boiava e era excelente.
Boiava.
Para quê nadar?
E via-os passar, mais ou menos distantes. A nadar.
O importante é boiar, resmungava.
Boiar, apenas.
Dinossáurios bizarros, explicados e Feira de…Minerais, Gemas e Fósseis
Perdoem-me a promoção a este número fantástico da National Geographic mas, para além de confiar plenamente na revisão científica – auto-promoção -, tem excelentes imagens e textos.
Sábado, dia de 8 Dezembro, pelas 18h, palestra no Museu Nacional de História Natural, com Jeffrey A. Wilson, da Universidade do Michigan, um dos descobridores e autores do Nigersaurus taqueti.
Este investigador é responsável pela actual filogenia dos dinossáurios saurópodes e um dos especialistas mundiais nestes animais.
A palestra está integrada nas actividades da XXI Feira de Minerais, Gemas e Fósseis, organizada pelo MNHN.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=m8lJKXn6MmQ]
Breves – pele de dino e Populi evolução
Duas breves mais uma.
Um ornitópode descoberto no estado norte-americano do Dakota apresenta o que a maioria dos restos de dinossáurios não apresenta – tecido moles preservados, nomeadamente pele.
os tecidos preservados permitirão inferir sobre a massa muscular do animal, uma das questões polémicas em paleontologia de vertebrados, e compreender melhor padrões biomecânicos e respectivos desempenhos.
Um inquérito realizado em 34 países, em 2006, sobre a aceitação pública da Evolução apresentou os seguintes resultados:Segundo os investigadores os resultados nos EUA devem-se, sobretudo, ao “poor understanding of biology, especially genetics, the politicization of science and the literal interpretation of the Bible by a small but vocal group of American Christians”.
Portugal está no “meio” da tabela mas, curiosamente, muito abaixo no nível da aceitação da Espanha. Não tenho dados sobre a “taxa de religiosidade” nos dois países mas parece-me que deverão ser semelhantes.
Quanto à literacia científica as coisas já serão diferentes concerteza…
Pensar e fazer Ciência – ideias
A cadeia de rádio canadiana CBC tem levado a cabo diversas entrevistas entituladas “How To Think
About Science. “
Uma breve sinopse:
“If science is neither cookery, nor angelic virtuosity, then what is it?
Modern societies have tended to take science for granted as a way of
knowing, ordering and controlling the world. Everything was subject to
science, but science itself largely escaped scrutiny. This situation has
changed dramatically in recent years. Historians, sociologists,
philosophers and sometimes scientists themselves have begun to ask
fundamental questions about how the institution of science is structured
and how it knows what it knows. David Cayley talks to some of the
leading lights of this new field of study. “
Podem ser escutadas aqui.
Vários vídeos de ciência, simples, ilustrativos e pedagógicos.
Física, química biologia e geologia.
Aqui ficam dois exemplos de geologia e paleontologia: vídeo relativo à erosão e às alterações que a Terra sofre(u) ao longo do tempo.
Robert Krampf’s Science videos.
Código de barras
Hoje acordei e tinha um código de barras tatuado.
Ainda que no recanto do meu quarto.
Fui para a sala e no lugar da proibida árvore da Natal estava um enorme monte de branco.
Inodoro, frio e imóvel.
Na cozinha mais branco.
Nem vestígios de sangue, espinhas, ossos ou algo que recordasse vida.
Apenas plástico a embrulhar branco.
Branco por todo o lado e igual a todo o branco.
Excepto o negro do meu código de barras.

Bioformas – Peek-A-Boo
De quem é este embrião, na fase “Peek-A-Boo“?
Curioso o nome dado – “The distal extremities of the forelimbs
overlap, obscuring the face completely and giving this stage its name.”
A recordação que tenho é adolescente e de outro “Peek-A-Boo”…
Quanta Vida por descobrir – Escorpião com mais de 2,5 metros
Um escorpião marinho (Eurypterida) fossilizado com mais de 2,5 m foi descoberto em Prüm, no oeste da Alemanha. Este mega escorpião viveu há 390 milhões, numa época em que os insectos, aranhas e crustáceos tinham tamanhos gigantescos.
O “recém-baptizado” Jaekelopterus rhenaniae apresentava pinças com 46 cm de comprimento, o dobro das maiores até hoje encontradas.
Já se conheciam outros gigantes, como libélulas, baratas e centopeias, mas esta descoberta confirmou que antes dos dinossáurios, existiu outra época de gigantes.
Com base nos fósseis encontrado calculou-se que este escorpião teria pesado 180kg.
Em Portugal há registo de escorpiões marinhos do Ordovícico da Serra do Buçaco – Dithyrocaris longicauda.
Os euripterídeos são artrópodes quelicerados e grupo irmão de Arachnida e os seus parentes mais próximos são os escorpiões e aranhas.
A descoberta foi publicada a 21 de Novembro na revista científica Biology Letters (DOI: 10.1098/rsbl.2007.0491)
Aqui o vídeo da BBC