Pensamento de segunda

“Não importa quão bela seja sua teoria, não importa quão esperto você é. Se ela não concorda com os experimentos, está errada.” (Richard Feynman)

Manchetes comentadas 20: 38 dependetes químicos morrem em incêndio em clínica

Saiu no “O Globo” de hoje o incêndio ainda sem causas definidas que matou 38 pessoas em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos no Cazaquistão. O incêndio ocorreu por volta de 5 h da manhã de sábado. Os bombeiros conseguiram resgatar 40 pessoas, mas muitas estavam trancadas nos quartos como forma de evitar fugas ou reincidências dos vícios.

Dia 30 de agosto tivemos uma palestra muito interessante no BIOTA, o evento em comemoração ao dia do biólogo aqui da UNEMAT, com o Prof. André Luis Ribeiro Lacerda, da UFMT. André nos falou sobre a função última da exclusão social; causas últimas foram colocadas pelo Niko Timbergen, laureado de 74 com o Nobel de fisiologia e medicina por sua contribuição à etologia, define causa última como a causa evolutiva de um dado comportamento, ou seja, que vantagem evolutiva aquele comportamento oferece a quem o realiza. Em sua palestra André discorreu sobre como a coesão de determinados grupos sociais, inclusive os humanos, se beneficia ao retirar de dentro deles, integrantes que fujam aos interesses do grupo todo. Há várias formas de exclusão, assim como várias formas de ser considerado inapto a permanecer no grupo. Em termos evolutivos, a vantagem de excluir um membro corrosivo ao grupo é que o grupo todo estará mais coeso e seguro. Assim, temos uma explicação distal, adaptativa para a exclusão social. O que de forma alguma significa que o preconceito deva ser apoiado ou incentivado, como discutimos depois da palestra com alguns pesquisadores humanistas meio estarrecidos com o rumo da prosa.

o-alienista

Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal. Eu do meu lado aprendendo a ser louco

Fonte: www.profmi.wordpress.com

Drogaditos são certamente uma categoria que sofre com a exclusão social constantemente; hoje até mesmo fumantes e alcoólatras sofrem este preconceito. A institucionalização de casos mais graves à margem da sociedade pode ser visto muitas vezes como uma exclusão destes membros da sociedade (outros defenderiam que é uma reabilitação ao convívio social, mas de qualquer forma estamos excluindo o personagem indesejável enquanto ele não se portar do jeito que esperamos. E viva O Alienista!). Foi esse nosso desejo de ocultar e excluir o que não se enquadra que levou à morte dessas 38 pessoas no Cazaquistão, uma higienização social acidental e definitiva.

Pensamento de segunda

“Não há uma categoria da ciência que se possa chamar de ciência aplicada. Há ciências e aplicações da ciência, grudadas juntas como um fruto numa árvore.” (Louis Pasteur)

Ciência à Bessa – Feliz aniversário de 1 ano de existência

Hoje cedo descobri que o Ciência à Bessa chegava ao seu primeiro ano no ar. Uma curta parte independentemente, logo a seguir fagocitado pelo lablogatórios que empupou e se metamorfoseou em Scienceblogs Brasil. Tenho que dizer que estou muito satisfeito com o blog. Me divirto escrevendo, vendo os comentários, pensando nas pautas e bolando analogias para deixar claro o que quero dizer. Um ano atrás era um blogueiro iniciante, inseguro sobre esta ferramenta nova para mim. Continuo sem saber dizer ao certo o que é um blog e se estou escrevendo no formato que um blog deve ter, mas sei que este é o formato que o MEU blog terá. E ver as estatísticas têm me mostrado que há alguns leitores fiéis e um bom interesse do público geral pelo que escrevo.

birthday-cake

Muito obrigado aos meus hospedeiros do Scienceblogs  e do Scienceblogs Brasil, espero estar sendo mais comensal do que parasita destes hospedeiros dando um pouco de qualidade a estes condomínios de blogs científicos que me orgulho em integrar. Obrigado aos leitores pelo tempo dispensado e principalmente aos fiéis comentadores, é pelos comentários de vocês que me inspiro a escrever sempre mais.

Em comemoração a este um ano de Ciência à Bessa postarei a segunda entrevista que fiz no encontro da Animal Behavior Society em Pirinópolis. Uma figura menos famosa do que o Richard Dawkins, mas interessantíssima, Marlene Zuk.

Nem os beija-flores são de fato livres

Um artigo recente da Proceedings of the Royal Society apresentou dados surpreendentes sobre a capacidade de voo dos beija-flores Calypte anna.obtido de: www.uol.com.br/sciam Os machos desta espécie fazem um voo em forma de “J” inclinado em cuja fase descendente estes animais atingem uma velocidade de 385 comprimentos do corpo por segundo. Seria o equivalente de uma pessoa se projetar no espaço a mais de 2300 km/h movido só com o poder de seus músculos! Ok, a gravidade ajuda também, mas ainda é espantoso. É este tipo de situação extraordinária que fêmeas exigentes causam ao fazer com que nós machos mostremos que merecemos seus preciosos óvulos.

Além da velocidade do voo dos beija-flores, sua manobrabilidade também impressiona. Na inflexão do voo em “J” que mencionei acima estes animais são submetidos a uma aceleração nove vezes maior do que a da gravidade, mais do que suportam pilotos de caça. Quando nos levantamos demasiado rápido podemos ter uma sensação de tontura ou até desmaios Obtido em: www.downloads.open4group.com/wallpapers devido à redução da pressão sanguínea na cabeça. Nos pilotos de caça a aceleração gravitacional faz com que o sangue se acumule na parte do corpo que estiver mais distante do centro da curva (por pura força centrífuga) expandindo os vasos sanguíneos destas partes do corpo (em geral o pé) e deixando de irrigar o cérebro. Nos beija-flores é provável que a seletividade das fêmeas tenha levado a veias com uma camada muscular mais espessa, capaz de expulsar o sangue que pretendia se acumular para irrigar o sistema nervoso do esforçado macho.

Ainda assim, não há liberdade total para estes beija-flores. Uma vez a Paula, do Rastro de Carbono, estava às voltas com um trabalho de Processos Evolutivos na faculdade sobre os limites da evolução, fomos juntos à biblioteca porque eu também me interessei pelo assunto. Nossa conclusão foi que a principal limitação à evolução vem do passado daquele organismo. Por exemplo, por muito tempo acreditou-se que os beija-flores tinham tanta manobrabilidade de voo porque a biomecânica de suas asas se assemelhava à dos insetos (outro grupo capaz de manobras estonteantes,  como o sabe toda criança que já brincou com moscas daObtido em: www.eol.org família Calliphoridae). Isso significa que a sustentação do peso de uma mariposa no ar é dividida igualmente nos movimentos descendentes e ascendentes das asas. Um artigo de 2005 na Nature, porém, provou usando tecnologia de ponta que os movimentos descendentes sustentam 75% do peso do animal, contra 25% da batida descendente, igual a qualquer outra ave. Mesmo que a seleção sexual ou natural tenda a compelir os beija-flores a voos cada vez mais ousados, o animal não conseguirá voar como um inseto mais do que um humano conseguirá evoluir rodinhas nos pés. Somos cerceados por nossa estrutura física.

Este post teve sua pauta gentilmente oferecida pela Scientific American Brasil.

Enquete: Grandes nomes da Ciência contemporânea

Há tempos venho fazendo esta pergunta a colegas na mesa do bar, esta semana resolvi oficializar. Quero saber dos leitores quem é o maior cientista da atualidade no país. Aguardo nos comentários…

 

image
Preencha com seu cientista favorito
Fonte: www.nobel.org

I Biota

Alguns professores (auxiliados por um batalhão de estudantes incansáveis) aqui da Biologia do campus de Tangará da Serra estão organizando um evento científico para graduandos em biologia e áreas afins em comemoração ao dia do biólogo. O I Biota, uma brincadeira com as palavras Biologia e Tangará, será realizado de 31 de agosto a 4 de setembro por aqui mesmo e envolverá palestras, apresentação de painéis, mini-cursos, oficinas e mesas-redondas sobre diversos temas na área de ciências biológicas.

As inscrições a preços módicos já estão abertas e vão até 31 de agosto, porém a submissão de resumos para apresentação de painéis só ocorrerá até 1º de agosto. Para maiores informações sobre palestrantes, temas e cronograma visite o site do evento. O I Biota pretende oferecer aos acadêmicos e professores de Biologia do estado contato com temas atuais desta ciência, assim como integrar os diferentes agentes desta área, fortalecendo a Biologia no Mato Grosso.

Entre muitas outras atrações de outros palestrantes, eu apresentarei um mini-curso sobre jornalismo científico e uma oficina que todos irão se amarrar sobre nós para camping, escalada, náutica etc (ai que piadinha mais infame!).

Um pequeno passo para um peixe, um grande passo para os vertebrados!

<!–[if !mso]>

st1\:*{behavior:url(#ieooui) } <![endif]–>

40 anos da conquista da Lua

www.folha.com.br


Não foi confusão na digitação, aproveitei o aniversário de 40 anos da conquista da Lua para escrever sobre o aniversário de 370.000.000 de anos da conquista da terra pelos vertebrados. Da terra, não da Terra, claro. Numa ensolarada tarde de 20 de julho de 369.997.991 a.C. (licença poética pura, nada científica, só para a data bater) um simpático peixinho de nadadeiras carnosas e respiração pulmonar deu este pequeno passo para um peixe, mas um grande passo para a evolução dos vertebrados.

 

Por volta deste momento na história geológica da Terra, os vastos oceanos presentes até então começaram a se retrair e deixar mais terra exposta. Isto ocorreu por uma conjunção de fatores. Primeiro o eixo de rotação da Terra sofreu uma leve inflexão, levando a uma forte glaciação e à formação de extensas calotas polares, isto roubou parte da água do planeta deixando mais terra descoberta. Segundo, as plantas aquáticas e os vegetais terrestres que começavam a surgir fixaram muito do carbono atmosférico, levando a um revés de aquecimento global que resfriou toda a atmosfera do planeta, acelerando a ocupação das terras emersas por plantas formadoras de florestas e por artrópodos, os verdadeiros donos do nosso planeta, montando o cenário para a chegada dos vertebrados. Por fim, a colisão de placas tectônicas levou ao soerguimento dos continentes que antes estavam cobertos por mares rasos.

 

Vovó ictiostega, uma pioneira sobre a terra

http://www.cgg-online.de


Dentro da água havia menos espaço, muita competição e um ambiente em retração. Fora dela havia espaço de sobra, o alimento e a sobra das matas em formação e nenhum vertebrado com quem competir. Não é de surpreender que tenhamos mudado de habitat. Naquele tempo existiam muitas lagoas temporárias e com baixa concentração de oxigênio, o que favorecia dois fatores: os peixes deveriam ser capazes de utilizar oxigênio de fora da água para respirar e ser capazes de se arrastarem até outras poças quando a lagoa secasse. Aqueles que não suportavam estas condições simplesmente pereciam, seleção natural no doze (como dizem os matogrossenses).

 

Neste contexto havia alguns peixes que aproveitaram os mecanismos de inflar e desinflar sua bexiga natatória, um órgão ligado ao posicionamento dos peixes na coluna de água, para capturar ar atmosférico e transferi-lo para o sangue. Nosso pulmão nada mais é do que uma gambiarra evolutiva de aproveitamento de peças já existentes. A capacidade de resistir à dessecação é encontrada hoje em várias outras espécies como um peixe de manguezal australiano e algumas espécies de cascudos que habitam lagoas temporárias aqui no pantanal. Mas sustentar-se fora da água exigia membros possantes, algo que começava a aparecer nas nadadeiras carnosas dos sarcopterígios, um grupo de peixes numeroso naquela época. O passo que faltava para a conquista da terra veio com a capacidade de se sustentar sobre os membros, o que possivelmente surgiu de sarcopterígios predadores que se apoiavam nas nadadeiras para espreitar as presas. Nossos ancestrais estão representados até hoje no grupo dos Dipnoi, incluindo a pirambóia amazônica. Ainda levaria muito tempo para o corpo dos vertebrados ser resistente à dessecação e seus ovos conseguirem se desenvolver em terra, mas havíamos conquistado a terra.

                          

 

Para quem gostar do tema, não perca os livros À beira d’água, do Carl Zimmer e A história de quando éramos peixe, de Neil Shubin.

Correções

Não sei o que houve nos últimos tempos. Saíram três posts com erros que já corrigi, felizmente. Deve ser minha cyber-ignorância!
Bem, resolvi escrever este post com as correções para que os textos com erros não se perdessem no passado. O 1o é a Manchete comentada 18, agora com todas as figuras, inclusive a do quiz final
O segundo foi o 3o texto da série sobre orientação. Na pressa coloquei um título, mas colei o mesmo texto do 2o post outra vez. Agora já está arrumado.
FAIL!

Pensamento de segunda

 “Enquanto você estiver resolvendo um problema, não se preocupe. Agora, quando você tiver resolvido um problema, esta é a hora de se preocupar.” (Richard Feynman)